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domingo, 24 de janeiro de 2010

Sem Maria Santíssima seremos órfãos da ordem sobrenatural



Pe. David Francisquini



Redigi numa série de artigos sobre os erros apontados por Nossa Senhora em Fátima. Com efeito, o tema além de muito extenso dá margem a outras considerações como a eutanásia, a eugenia e a dissolução dos costumes. E não poderia omitir a crise que atinge o próprio clero, sobre a qual fomos advertidos por Paulo VI: “A fumaça de satanás penetrou no recinto sagrado”.

Encaixaria no mesmo panorama a crise no Oriente Médio e toda a avalanche de males que vem soterrando o que ainda resta de Civilização Cristã na face da Terra. Em sua última aparição em Fátima, a Virgem Santa disse quem Ela era, o que veio fazer, o que os homens deveriam realizar para discernir o caminho certo, com vistas ao retorno à Civilização Cristã.

São suas as palavras colhidas pela vidente Lúcia: “Quero te dizer que faça aqui (Cova da Iria) uma capela em minha honra, que sou a Senhora do Rosário, que continue sempre a rezar o terço todos os dias...”. E mais adiante: “É preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados”. E assumindo um aspecto triste: “Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido”.

Cheia de bondade, a celeste Rainha volta-se para nós, apontando os meios que a Igreja sempre ensinou a seus fiéis: oração, penitência e emenda de vida, ou seja, as alavancas para mudar os rumos dos acontecimentos. Mais especificamente, Ela nos indica a recitação do terço todos os dias. Afinal, foi Ela quem nos ensinou esta oração, através de São Domingos de Gusmão.

O terço representa uma força com eficácia infalível para se conquistar o beneplácito de Deus, porque nos prende Àquela que O trouxe a este mundo, por obra do Espírito Santo. Como Mãe do Verbo Encarnado, Ela tornou-se também nossa mãe. Daí a apreensão d’Ela diante dos males que afligem a Igreja e seus filhos.

Como solução, Ela nos indica as vias sagradas da vida cristã, apresentando, como que num quadro, os três terços que compõem o santo rosário, rezado há séculos pelos fiéis, por tantos santos e recomendado por inúmeros Papas. E sempre aconselhado pela Igreja, especialmente nos momentos cruciais.

O rosário é apresentado aos três pastorinhos numa visão de cores variadas e repletas de luz, que se difundem no interior mais profundo da alma humana, pois é a própria Virgem Santíssima que aconselha: “Meus filhos, sigam este caminho e encontrareis a paz, a harmonia e a concórdia”.

“Maria é o elo que liga Deus aos homens”. Se foi por meio d’Ela que Ele veio a nós, será também através d’Ela que deveremos ir a Ele. Sair desse caminho equivale ao fracasso e à derrota. Ainda mais, sem Maria seremos órfãos da ordem sobrenatural.
O Rosário, nossa funda



Pe. David Francisquini


Um padre zeloso vivendo dentro de uma paróquia, ou mesmo um leigo que tenha uma vida religiosa comum, pode perceber na vida moderna as dificuldades e os obstáculos como que intransponíveis para a salvação das almas. Digo “como que”, pois, apesar dos obstáculos, a graça de Deus nunca falta. Mas trata-se de uma verdadeira engrenagem, de uma máquina de grande potencial, cujos fios entrelaçados quais teias de aranha, captam as almas com uma facilidade inacreditável.

Notam-se, aqui e acolá, as emboscadas, as armadilhas constantes que, desde a mais tenra idade, turvam o panorama com uma verdadeira avalanche de vícios e defeitos, propagados em profusão, impelindo as almas para caminhos contrários aos Dez Mandamentos. Nesta perspectiva, vamos mostrar como a Virgem de Fátima tinha toda razão ao se manifestar no século passado preocupada com o avanço da imoralidade, da perversidade e do endurecimento das almas.

Em Fátima, no dia 13 de julho de 1917, Nossa Senhora mostrou aos três pastorinhos o inferno, onde caem as almas dos pobres pecadores como chuva miúda, ou como uma torrente que despenca, formando uma cachoeira. Por que tudo isto? Para nos advertir dos perigos que nos espreitam com análogo destino, caso nos deixemos arrastar pela impiedade reinante e o ateísmo latente e difuso de nossa época.

Entretanto, como negar que tudo impele as almas nessa direção? Não é gritante e mesmo alarmante o relativismo moral, a indiferença, a acomodação e adaptação com o vício, um como que pacto profundo e secreto que une as pessoas entre si, em sentido contrário ao que pediu Nossa Senhora?


As pessoas vêem o problema, às vezes sentem-se inclinadas a um movimento bom de querer deixar a má situação em que vivem, mas encontram um obstáculo intransponível, muitas vezes, no próprio ambiente onde vivem. Este exerce sobre elas uma pressão ditatorial que as impede de se moverem no sentido do bem. É como se tivessem de nadar contra a correnteza, o que é árduo.


A partir do relativismo moral, estabelece-se a cidadania do vício, que no começo é mais deleitoso e atraente. Para isso concorrem poderosamente os maus exemplos propagandeados pelos meios de comunicação social, com suas novelas e filmes, exibindo verdadeiras cenas de alcova, sem falar dos sites de pornografia e pedofilia não pouco comuns na internet. Tudo, enfim, direcionando para o abismo.

Como não ver nessa conjugação de forças um intento de estabelecer o reino de satanás? Tudo isso explica a tristeza manifestada por Nossa Senhora em suas aparições, com o coração cercado de espinhos que os homens ingratos nele cravam sem piedade. O único meio para reverter tal situação é a devoção ao Imaculado Coração de Maria e o atendimento de seus pedidos.

Nada pode impedir a vitória do bem, ainda quando o mal pareça invencível e indestrutível. É eloqüente o exemplo de David com Golias: uma funda e cinco pedrinhas colhidas numa torrente foram suficientes para que ele prostrasse por terra o invencível gigante.

Nossa Senhora colocou em nossas mãos essas pedrinhas. Ela no-las deu na forma das contas do Rosário, que é a nossa funda para prostrarmos satanás, seus sequazes, suas pompas e suas obras. Com a oração, teremos forças para imitar os bons exemplos contidos na vida dos santos. Através da prece humilde e confiante veremos nossa vontade ser fortalecida, e obteremos de Deus a união dos bons contra o mal. Nascerá daí uma luz de esperança que iluminará este túnel escuro, no qual a humanidade se encontra.

Pretendo, no próximo artigo, estender-me um pouco mais sobre os meios que a Igreja coloca à nossa disposição para vencermos essa luta e alcançarmos nossa salvação.
A Rússia espalhou seus erros



Pe. David Francisquini


O mundo católico comemorou no dia 13 de maio mais um aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora em Fátima, Portugal. Conforme descrição da vidente Lúcia, a Celeste Peregrina não estava triste nem alegre, mas séria, e pedia a recitação diária do santo Terço pela conversão dos pecadores e em reparação dos pecados cometidos contra o seu Imaculado Coração.

Na aparição de julho de 1917, a Virgem após pedir a consagração da Rússia ao Seu Imaculado Coração, a comunhão reparadora dos primeiros sábados, e, sobretudo que os homens deixassem de ofender a Deus, disse: “Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas; por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará!”.

Para um observador superficial, com a queda do Muro de Berlim e com a falência da URSS, as profecias de Fátima perderam a atualidade, e, portanto, poder-se-ia desarmar o espírito diante dos erros aludidos por Nossa Senhora. Mas, lendo atentamente suas advertências, percebe-se logo que os erros da Rússia por Ela mencionados continuam mais atuais e mais ameaçadores que nunca.

Vivemos todos numa sociedade, cujo clima de ateísmo prático penetra pelos poros com a crescente dissolução dos costumes, com a prática do amor livre e o desmoronamento da família. Quem poderia imaginar, por exemplo, que mãos ungidas fizessem o contrário do que Nossa Senhora pediu? Vemos clérigos apoiando o MST, até mesmo participando de invasões de terra, visitando Cuba e defendendo Fidel Castro.

Na América Latina, assistimos a governos esquerdistas que sistematicamente vêm difundindo nos seus respectivos países erros contrários à mensagem de Nossa Senhora em Fátima, como a adoção do aborto, o incentivo ao controle de natalidade, o apoio ao movimento de legalização do assim chamado “casamento” homossexual, a estatização dos bens de produção, a Reforma Agrária socialista e confiscatória, o dificultar a livre iniciativa mediante pesadas cargas tributárias, um indigenismo antipatriótico e anticristão, a pressão pela liberalização das drogas, o aumento vertiginoso da criminalidade, etc.


Governos eleitos e escudados pela democracia, com base na Teologia da Libertação, vêm se afastando dos princípios do cristianismo por meio de uma legislação socializante, a fim de implantar um modo de vida tão parecido quanto possível ao do ideal marxista-leninista, são exemplos de como as advertências em Fátima estão atuais.


Com efeito, o que a Mãe de Deus predisse foi uma crise religiosa e moral que só será vencida pela oração, pela emenda de vida e pelo cumprimento inteiro dos Mandamentos da Lei de Deus.
São Miguel Arcanjo, Príncipe da milícia celeste



Pe. David Francisquini



Os anjos são puros espíritos criados por Deus para sua glória e serviço. Ao criá-los, Deus quis torná-los participantes da vida divina para glorificá-Lo, servi-Lo e serem felizes para sempre. Os anjos por si mesmos glorificam a Deus pelas suas perfeições. Como uma obra de arte revela e glorifica o artista que a compôs, assim os anjos glorificam a Deus com sua existência e com hinos de louvor e adoração. Daí se compreende que os anjos, cobrindo as planícies e os ares de Belém, cantaram o hino “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade”. No Céu, por sua vez, os serafins louvam a Deus cantando o eterno “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos”, a exemplo do que o sacerdote faz ao celebrar o santo sacrifício da Missa, no término do prefácio.

Os anjos servem a Deus de um modo particular, auxiliando os homens a alcançar a vida eterna. Já o nome deles lhe indica a condição: vem do grego e significa mensageiro. A Sagrada Escritura fala de exércitos celestes e de bilhões de anjos, e que a categoria deles são de nove coros e três ordem a saber: Serafins, Querubins, Tronos; Dominações, Principados, Potestades; Virtudes, Arcanjos e Anjos. As Escrituras referem-se em diversas passagens aos anjos, mas foi São Paulo Apóstolo quem nos ensinou mais acerca deles, por que foi arrebatado até o terceiro Céu, como nos atesta ele próprio. E transmitiu isso a seus discípulos.

No início, todos os anjos eram agradáveis a Deus, mas, submetidos a uma prova –– como depois o foram nossos primeiros pais ––, parte deles se revoltou contra Deus, cometendo pecado de soberba e orgulho, ao pretender ser iguais a Deus. Satanás, o chefe dos anjos revoltosos, foi um anjo muito graduado –– lúcifer ––, o qual foi precipitado como um raio nos abismos infernais, juntamente com seus pérfidos sequazes: Houve no Céu uma grande batalha: Miguel e os seus anjos lutavam contra o dragão, e o dragão com seus anjos lutava contra ele. Porém, estes não prevaleceram, nem o seu lugar se encontrou mais no Céu. Foi precipitado aquele grande dragão, aquela antiga serpente, que se chama demônio e satanás, que seduz todo o mundo, foi precipitado na Terra e foram precipitados com eles seus anjos (demônios)” (Apoc. 12, 7-8). Na carta de São Judas, lê-se: “Quando o Arcanjo Miguel disputando com o demônio altercava sobre o corpo de Moisés, não se atreveu a proferir contra ele a sentença de maldição, mas disse somente: reprima-te o Senhor”.

O principal adversário de satanás e dos demônios na peleja que então se travou foi São Miguel, que significa: “Quem como Deus?” Foi São Miguel Arcanjo, todo abrasado no fogo e na luz de Deus, quem liderou os anjos bons nessa tremenda batalha contra os anjos maus, chamados doravante demônios. São Miguel é um fiel defensor e servidor de Maria Santíssima.

São Miguel é citado também no capítulo 12 do Livro de Daniel, onde lemos “Ao final dos tempos aparecerá Miguel, o grande Príncipe que defende os filhos do povo de Deus, e então os mortos ressuscitarão. Os que fizeram o bem, para a Vida Eterna, e os que fizeram o mal, para o horror eterno”.

A São Miguel atribuem-se três funções: a de guiar e conduzir as almas ao Céu como se lê na Missa dos defuntos; de defender a Igreja e o povo cristão; e de presidir no Céu o culto de adoração à Santíssima Trindade e oferecer a Deus as orações dos santos e dos fiéis. Invoquemo-lo sempre no combate contra as potestades infernais e as forças do mal que procuram desviar-nos do caminho do Céu.

Em minha experiência sacerdotal, tenho constatado o aumento vertiginoso do poder infernal sobre as almas, a sociedade e as instituições. E mesmo sobre os corpos, interferindo na própria saúde individual. Isto como conseqüência dos pecados contra o amor de Deus e do próximo: os pecados de homicídio, de libertinagem moral, do crescente consumo de drogas, de músicas dissolutas e imorais, com ritmo inebriante, às vezes com letras fazendo apologia do diabo e da violência, que estão presentes por toda a parte. Também pela proliferação de seitas satânicas. As principais vítimas do demônio são a infância e a juventude.

Para fazer frente a tantos males produzidos pelos demônios, é eficaz a oração que é rezada ao final das missas do rito tridentino: “São Miguel Arcanjo, protegei-nos no combate, cobri-nos com vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantemente o pedimos, e Vós, Príncipe da Milícia Celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno a satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém”.



O Perfil do Sacerdote na história I  e II

Pe. David Francisquini

Constitui fato inconteste na História dos povos –– por mais decadentes e selvagens que tenham sido –– a existência de uma religião com suas respectivas estirpes sacerdotais. O erro, o vício, a violência, a selvageria e mesmo a idolatria não os impediram da necessidade absoluta de ter uma religião e sacerdotes que cuidassem do culto. Portanto, foi sempre notória a estima pelo sacerdócio desde a mais remota antiguidade. Sua excelência explica-se talvez pelo fato de só os membros das famílias ilustres, e dentre eles os mais veneráveis, terem exercido esse ofício, que supõe a dignidade e a grandeza da missão sacerdotal. Revestida de tamanha autoridade, o múnus sacerdotal tinha força para entronizar e destronar reis.

Muitos reis acumularam o poder sacerdotal em países como Egito, Pérsia e Etiópia. E quando não eram reis-sacerdotes, a classe sacerdotal ocupava lugar relevante, compondo uma aristocracia com seus ministros nobres. Distinguiam-se pelo fausto das vestes, das riquezas e do saber, com templos suntuosos, ricos em arte, ouro, prata e pedras preciosas.

Exemplos de membros de famílias ilustres antigas, que praticaram o múnus sacerdotal foram Noé, Abraão (quadro acima) , Isaac, Jacó e Jó. A figura legendária do sacerdote-rei Melquisedec, que ofereceu um sacrifício de pão e de vinho, era pré-figura do sacerdócio da Nova Lei. Com o advento do povo eleito, Deus passou a escolher os sacerdotes entre os membros da tribo de Levi.


Um exemplo faz ressaltar a grandeza, a elevação e a magnificência do sacerdócio. De Alexandre Magno se dizia que a Terra toda estremecia diante de seus exércitos. Em sua passagem pela Palestina, prometeu ele passar a fio da espada todos os seus habitantes. O Sumo Sacerdote Jaldo, reconhecendo a impotência do exército hebreu, revestiu-se –– juntamente com os demais sacerdotes –– de suas melhores vestes e foi ao encontro do conquistador. Para espanto de seu exército, Alexandre rendeu-se diante daquele aparato, apeou de seu cavalo e inclinou-se numa profunda reverência ao sacerdote. Ato contínuo, dirigiu-se até o Templo de Jerusalém para oferecer sacrifícios e incontáveis riquezas para o culto divino. O grande guerreiro explicou para seu camareiro que não reverenciou um homem, mas Deus na pessoa do sacerdote.


Se o sacerdócio na Antiguidade se revestiu de tanta grandeza e esplendor, o que dizer do sacerdócio da Nova Lei, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, como nos diz São Paulo Apóstolo na epístola aos Hebreus? O sacrifício que o sacerdote oficia no altar é o mesmo sacrifício da Cruz, de maneira incruenta e misteriosa, sob as espécies de pão e vinho.


Conto voltar ao assunto.
 
O perfil do sacerdote na História (II)



Se no Antigo Testamento o sacerdócio encontrava-se sempre aliado à realeza –– como vimos no artigo anterior ––, com muito mais razão deveria estar no Novo Testamento. Isto porque Jesus Cristo, Deus e Senhor de todas as coisas, quis unir-se à natureza humana a partir da família real de Davi, nascer de Maria Virgem por obra do Espírito Santo e cumprir em Si tudo o que Moisés e os profetas anunciaram.

O sacerdócio eterno foi instituído por Jesus Cristo, verdadeiro Sacerdote e Rei, segundo a ordem de Melquisedec. Sob este aspecto, o sacrifício da Nova Lei ultrapassa de longe o de todas as religiões e os sacrifícios por elas oferecidos. Ao receber o sacramento da Ordem, o sacerdote católico torna-se para sempre indelevelmente caracterizado.

Em vista do exposto, podemos perguntar: qual é o tamanho da dignidade do sacerdote? Em vão busca-la-emos entre os profetas do Antigo Testamento, dos quais o maior foi aquele que teve a insigne graça de colocar as mãos sobre a cabeça do Salvador do mundo, no rio Jordão, no Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo: São João Batista!

Mas o sacerdote da Nova Lei tem a dita de consagrar a hóstia com suas palavras e de tê-la diariamente em suas mãos. Ao ministrar a Eucaristia, ele diz: “Eis o Cordeiro de Deus, eis Aquele que tira os pecados do mundo”. Este é um privilégio tal, que não é concedido nem mesmo aos anjos.

Malaquias chama os sacerdotes de anjos que falam em nome de Deus. Portanto, desprezá-los é desprezar o próprio Deus. Ao administrar os sacramentos –– pelo poder de que os reveste a ordenação sacerdotal ––, eles fazem as vezes do próprio Deus.

Consideremos que Nossa Senhora, ao conceber o Menino Jesus em suas entranhas puríssimas, concebeu-O uma única vez, o que não poderia ter sido de modo diferente. Com o sacerdote isso vai além: todas as vezes que celebra o Santo Sacrifício, ele traz Jesus Cristo sobre o altar, toma-O em suas mãos e O sacrifica misteriosa e incruentamente ao Pai.


Uma pessoa que sinta vocação para tal dignidade precisa examinar-se bem se foi mesmo chamada por Deus, e se está disposta a imolar-se por Ele; se está disposta a levar vida digna e santa, praticando as virtudes da ciência, prudência, mortificação, responsabilidade, castidade impoluta e amor de Deus; se é impelida por um ardente e desinteressado desejo de salvar almas, totalmente desapegada dos bens e dos prazeres do mundo.

Numa palavra, o sacerdote precisar estar disposto a ser santo, pois ele é como uma luz de candeeiro colocada sobre o mais alto de uma fortaleza. Ou ainda como um exército pronto para o combate. Um padre nunca se salva ou se condena sozinho, pois necessariamente levará consigo muitas das ovelhas que lhe foram confiadas.
Nossa fé não é vã! (I)



Pe. David Francisquini



No sábado de Páscoa – a maior festa dos judeus – Jesus repousa no túmulo. No Antigo Testamento, o tempo pascal era celebrado em memória da liberdade do povo judeu da escravidão do Egito, tarefa levada a cabo por Moisés. Nosso Divino Salvador fora crucificado na Sexta-feira, expirando às três horas da tarde. Segundo a tradição, ele morreu voltado para o Ocidente, onde se daria a grande expansão do cristianismo.

Ao abençoar as casas no tempo pascal a Igreja recorda, através de seus ministros, a saída dos hebreus do Egito, quando Deus poupou do Anjo exterminador as casas dos hebreus que haviam sido marcadas com o sangue do cordeiro. Este prefigura o verdadeiro Cordeiro de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, cuja imolação obteve nossa salvação, livrando-nos da morte eterna e se oferecendo a nós na Eucaristia.

No terceiro dia depois de sua morte, na manhã de domingo, 20 de março do ano 782 da fundação de Roma, e 34 da era cristã, Jesus Cristo, por um ato de seu próprio poder, reuniu ao corpo sua alma e, ressurecto, saiu glorioso do sepulcro. Houve grande abalo na Terra, e quando os guardas amedrontados voltaram a si do seu espanto e desmaio, a laje que fechava a entrada do sepulcro estava afastada. Sobre ela estava sentado um anjo, e o túmulo estava vazio.

As santas mulheres, vindas para os cuidados de sepultura, foram as primeiras a averiguar o acontecimento, seguidas dos apóstolos Pedro e João, que acorreram pressurosos ao túmulo ao saberem da ressurreição de Cristo. Até os guardas romanos que selavam o sepulcro correram para relatar aos sacerdotes o acontecido, tendo recebido deles oferta de dinheiro para propagar a mentira de que o corpo havia sido roubado.

Todos os anos, no domingo de Páscoa, celebra-se o aniversário desse memorável acontecimento que culminou a missão do Divino Salvador na Terra e, ao mesmo tempo, provou a divindade de sua pessoa e de sua obra. São Paulo nos adverte que se Cristo não tivesse ressuscitado, a nossa fé seria vã. Chamo a atenção dos leitores para o fato de o domingo de Páscoa ser uma festa móvel que ocorre entre os dias 22 de março a 25 de abril.

Assim como a morte de Cristo é coisa certíssima, também o é a sua Ressurreição, pois Ele foi visto não só uma vez, mas durante os 40 dias que passou na Terra – os Evangelhos mencionam dez diferentes aparições d’Ele, antes de subir triunfante ao Céu.


Voltarei ao tema.
Quantos hoje imitam Pilatos!



Pe. David Francisquini


Por que Jesus Cristo padeceu e morreu pregado numa Cruz? Se Ele é a inocência por excelência, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, por que os homens O cobriram de ultrajes, de ignomínias e de dores? Para entender o que se passou com o Filho de Deus, devemos remontar ao momento no qual Deus foi ultrajado pela desobediência e soberba de nossos primeiros pais.

Para reparar tamanha infâmia e suas conseqüências para a humanidade, Deus prometeu ao mundo um Redentor. O pecado original privara o homem da graça de Deus, as portas do Céu se fecharam para ele, a cegueira grassava em seu espírito, a inclinação para o mal o conduzia ao vício e à desordem dos sentidos, à doença, à morte, enfim, a todas as misérias deste mundo.

Se quem pecou foi o homem, não deveria ele pagar por esse medonho pecado? Mas como poderia ele, dotado de natureza limitada e finita, reparar uma ofensa infinita feita a um Deus infinito? A ofensa se mede pelo ofendido, e não só pela própria ofensa e pelo ofensor. Tão-só um Deus-homem seria capaz de remediar as conseqüências de tal pecado. Donde a Redenção prometida por Deus Pai e consumada por Deus Filho no alto do Calvário ao morrer crucificado entre dois ladrões. Se Jesus Cristo não tivesse se encarnado e morrido para pagar a dívida infinita dos pecados dos homens, todos seríamos escravos do demônio e excluídos da visão beatífica, do Céu para onde vão os justos após a morte.

A despeito da pregação da doutrina cheia de unção e de força do amor a Deus e ao próximo confirmada pelos mais portentosos milagres, o ódio e a perseguição ao Divino Redentor foram num crescendo até atingir o paroxismo. “É preciso que um homem morra para salvar o povo”, disse Caifás em sua casa, onde se encontravam sacerdotes, escribas e anciãos.

Vindo de encontro aos funestos desejos dessa assembléia, Judas Iscariotes foi a peça-chave para que Jesus Cristo fosse entregue nas mãos de seus algozes. Sua pergunta infame –– “Quanto me dareis se eu vo-lo entregar?” –– causou alegria e foi prontamente aceita. Depois da última ceia, quando celebrou a primeira Missa, Cristo dirigiu-se com seus Apóstolos para rezar no Horto das Oliveiras.

Não tardou Judas a chegar com uma turba portando archotes, lanças, espadas e varapaus. Jesus foi amarrado e arrastado até os tribunais de Anás e Caifás. O príncipe dos sacerdotes lhe disse: “Conjuro-te pelo Deus vivo, que nos diga se és o Cristo, o Filho de Deus”. Respondeu-lhe Jesus: “Sim, eu sou. Digo-vos, porém, que de ora em diante vereis o filho do homem sentado à direita do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do Céu”.

Então o príncipe dos sacerdotes rasgou suas vestes, dizendo: “Blasfemou, que vos parece?”. E os presentes bradaram: “É réu de morte!” Conduzido ao pretório de Pilatos, Jesus Cristo foi cruelmente açoitado, coroado de espinhos, vestido com um manto de irrisão e condenado à morte de cruz. Diante daquele populacho açulado, que preferiu a liberdade do criminoso à do Justo, foi cometido o crime mais hediondo de toda a História. E quantos hoje a seu modo imitam Pilatos, o proconsul romano, autor da iníqua sentença que condenou nosso Redentor!

Percorreu Jesus Cristo a Via dolorosa até o Calvário, onde Se deixou crucificar e morrer pela salvação dos homens, por este homem que sou eu. “Tudo está consumado” –– foram suas últimas palavras, e, inclinando suavemente a cabeça, entregou o seu espírito.


Aos pés da Cruz estava sua Mãe Santíssima acompanhada das santas mulheres. Por Eva, o pecado entrara no mundo. Por Maria, nos adveio o Salvador e Redentor da humanidade.
Do mirante de Deus



Pe. David Francisquini


O leitor deve se lembrar que estávamos nos umbrais do belvedere de Deus, onde meu interlocutor camponês e eu acabávamos de chegar, num exercício de transcendência a propósito da seca, pois é exatamente desse mirante que pessoas sérias filosofam e fazem metafísica. É na perspectiva de Deus que se pode meditar seriamente sobre a ordem sobrenatural, e dela tirar lições valiosas e ricas de significados para a ordem natural, sobretudo num momento histórico em que a sociedade se encontra em plena secura, sem viço, o que parece pressagiar sua própria morte.

Mas, “bem aventurado o homem que põe sua confiança no Senhor, para o qual o Senhor é a esperança. Ele será como uma árvore transplantada para perto das águas, que à umidade estende suas raízes, que não terá receio de calor quando vier. Suas folhas serão sempre verdes, e em tempo de seca não ficará necessitada, e nunca deixará de produzir frutos”. (Jer. XVII, 5 a 10). E “todo aquele que bebe desta água tornará a ter sede, mas o que beber da água que eu lhe der, nunca terá sede, mas a água que eu lhe der virá a ser nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.” (Jo III, 13-14).

A hagiografia de São Pio X (foto) narra que, certa vez, ele perguntou a um grupo de cardeais que o rodeava, qual seria, naquele tempo, a obra mais necessária à salvação da sociedade temporal. –– “Edificar escolas católicas”, respondeu um deles. –– “Não”, respondeu o Papa. –– “Multiplicar as igrejas”, acrescentou outro. –– “Ainda não”. –– “Fomentar as vocações sacerdotais”, emendou um terceiro. –– “Não, não”, replicou São Pio X. –– “O mais necessário no momento é que cada paróquia tenha um grupo de leigos virtuosos, esclarecidos, resolutos e apostólicos”.

Ele se referia à criação de elites espirituais, com almas profundamente cristãs. A restauração da sociedade supõe, necessariamente, uma intensa irradiação da santidade da Igreja. A pregação pelo exemplo é e será sempre a principal alavanca da Igreja. Só os exemplos arrastam. Os sacerdotes devem dar o bom exemplo de oração, de vida interior profunda, passar boa parte de sua vida diante do Santíssimo Sacramento, manter intacto seu celibato, ter devoção intensa a Nossa Senhora, propagar a devoção do Santo Rosário e, sobretudo, não dar mau exemplo a seus fiéis. O sacerdote deve ser o sal que salga, e a luz que ilumina.

Por outro lado, ao fundar um grupo fervoroso de fiéis, bem instruído, com intensa vida sacramental, de oração e de sacrifício, o sacerdote faz com que o sal que salga a Terra e a luz que ilumina transbordem de si para o seu rebanho, vivificando assim o ambiente onde ele vive e trabalha, evitando que em seu território paroquial penetrem os erros dominantes. Isso, caro leitor, não se faz de um dia para o outro. É indispensável paciência, disposição para a luta, resolução, método, conhecimento das dificuldades e jeito para enfrentá-las.

A preocupação primordial do educador católico é formar católicos eficientes, tão perfeitos quanto possível nesse vale de lágrimas, para que eles possam agir sempre e em toda parte como verdadeiros católicos. Não bastam idéias e sentimentos. Faz-se necessário ter convicções e idéias inabaláveis, que absorvam seu entendimento, que corrijam as próprias paixões, para que se passe a pensar e sentir com a doutrina católica.

Para isso, é indispensável ter uma vontade radicada em princípios, pois só assim o homem torna-se capaz de realizar uma obra com dinamismo, força e “garra”. Se as paróquias não têm isso, estão prestes a sofrer a derrota e o fracasso. “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância”, disse Nosso Senhor. Para regenerar a sociedade dita moderna, é preciso recristianizá-la.
Vestibular para Eva e seus filhos

Pe. David Francisquini



Adão e Eva foram submetidos, a seu modo, a um vestibular, e não passaram na prova. Com isso, todos os homens pecaram em Adão, segundo São Paulo. Com efeito, tendo o demônio falado através da Serpente, seduziu Eva e esta por sua vez levou seu marido a comer também do fruto proibido. A essa tentação seguida da desobediência, chamamos de pecado original.

Além da expulsão do paraíso terrestre, da sujeição aos sofrimentos, da fadiga no trabalho, das discórdias, das guerras, das doenças e da propria morte, o pecado original ainda deixou nossa natureza corrompida, com três inclinações particularmente más: o orgulho ou soberba, a sensualidade e a avareza. Essa malícia acompanha o homem do berço à sepultura.

Mas por que Deus permite que seus filhos sejam tentados? Tendo Ele nos criado livres dá-nos ocasião, por meio de repetidas provas, de exercitarmos o espírito de luta contra os nossos defeitos, para assim adquirirmos méritos. No mais das vezes, os mais amados são os mais provados. O Arcanjo Rafael disse a Tobias: “Porque era agradável a Deus, foi necessário que a tentação te provasse”.

São Paulo nos consola ao ensinar que não existem tentações acima de nossas forças, pois a vontade de Deus é que tiremos proveito da própria tentação para alimentarmos em nós o espírito de humildade, de oração e de vigilância. No Padre-Nosso se afirma: “E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos de todo o mal”.

Para vencer as tentações temos que fazer de nossas almas como que cidadelas no alto das montanhas. O castelo forte representa os princípios enraizados na alma, enquanto os píncaros simbolizam as leituras e estudos das verdades eternas, seguidos da reflexão constante em descobrir os ataques do adversário e os meios mais eficazes para as batalhas.

As muralhas da fortaleza significam as virtudes que protegem a alma, à maneira do trabalho, que afugenta o ócio, causador de maus pensamentos e das más imaginações. São João Crisóstomo nos ensina que a ociosidade é a mãe de todos os vícios e o nosso Divino Mestre nos encareceu com a seguinte exortação: “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação”.


Quem reza evita cair em tentação e, conseqüentemente, deixa de ofender a Deus. Como a cidade fortificada encontra-se preparada para resistir à investida de um exército inimigo, nossas almas, através de batalhas constantes e renhidas, devem estar fortalecidas, para vencermos em primeiro lugar a nós mesmos, pois quem não combate os seus defeitos ficará desguarnecido, tornando-se presa fácil das tentações.
“Lembra-te, ó homem, que tu és pó e em pó hás de tornar”

Pe David Francisquini

A Quaresma encerra em sua liturgia dois elementos primordiais. Primeiramente, os fiéis culpados devem reparar as suas faltas por meio da oração e da penitência. Em segundo lugar, este tempo litúrgico visa arrancar os fiéis das trevas do paganismo para a vida da graça, vivificando-os como filhos de Deus.

Enquanto o batismo nos transforma na vida divina, a penitência nos restaura essa mesma vida, perdida pelo pecado. Ao começar a Quaresma, a Igreja nos cobre de cinzas lembrando-nos que somos criaturas sujeitas ao sofrimento e à morte: “Lembra-te, ó homem, que tu és pó e em pó hás de tornar”.

Ao ensinar sobre a Quaresma, no século V, São Leão Magno concita os cristãos a elevar seus pensamentos para os grandes mistérios de nossa Redenção, e ao mesmo tempo desapegar-se dos laivos que os prende a satanás e ao mundo. E Bento XV, no século XVIII, acrescenta: a observância da Quaresma é o vínculo da nossa milícia.

Ao estabelecer um tempo tão santo e rico de significado como a Quaresma, a Igreja ensina a seus fiéis que eles devem se purificar de seus pecados por meio das boas obras como a oração, o jejum e a esmola. Mas de nada adiantarão jejuns, abstinências e esmolas se os corações permanecerem apegados ao pecado.

Como um retiro espiritual, a Quaresma traz enorme bem para as almas. E a Igreja tem o método de como conduzir os fiéis a essa fonte inesgotável, em que todos beberão do coração chagado de Cristo, pela meditação, reflexão, oração, confissão e comunhão, como ainda pela vida de recolhimento que este tempo pede.

Tal retiro termina com a confissão e comunhão no tempo da Páscoa, verdadeira transformação espiritual em que o cristão ressurge com Cristo para uma vida nova. Tais práticas exteriores, além de desenvolver o espírito de Cristo, nos unem a Ele nos sofrimentos, na oração e no jejum.

Nesse tempo a Igreja estabelece jejum e abstinência de carne na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira da Paixão. O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo deu o exemplo de jejum e abstinência para começar sua vida pública, permanecendo durante quarenta dias no deserto em rigoroso jejum.


Pela oração entendemos todos os atos de piedade, como freqüência à missa, comunhão, leitura de bons livros, meditação sobre a Paixão de Cristo e a Via Sacra –– meditações acompanhadas de orações diante das catorze estações que representam os sofrimentos da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A Via Sacra deve sua origem à Virgem Maria. Segundo a Tradição, Ela –– após o sepultamento e a Ascensão de Jesus Cristo –– percorreu muitas vezes o caminho feito por seu divino Filho até o Calvário. A Via Sacra é um dos meios mais eficazes para converter os pecadores e tornar os justos mais perfeitos.
A lição da águia


Pe. David Francisquini



Como a águia provoca seus filhotes a voar, e esvoaça sobres eles, assim o Senhor estendeu suas asas, tomou-o e o levou sobre seus ombros. (Deut. 32, 11). Ao perceber que chegou o momento de os filhotes alçarem vôo, instintivamente a águia retira do ninho toda a parte macia que o acolchoa, deixando tão-só os pontiagudos gravetos. Incomodados, os filhotes se lançam sobre as asas dela. É o momento de a águia se lançar pelos ares, para que as aguiazinhas percebam, pela primeira vez, os espaços de que são possuidoras.

Após o vôo de reconhecimento, sempre atenta e sem perder o instinto materno, a águia os força ao vôo livre. Se acontecer de algum filhote encontrar dificuldade neste primeiro teste, a águia se lança prontamente em vôo picado, a fim de se colocar sob ele à maneira de uma pista de pouso, e o recolher assim são e salvo. Vai repetir o exercício até sentir segurança no filhote; ensiná-lo-á a caçar e a fugir dos perigos até o momento de dar sua missão por cumprida.

Mutatis mutandis, na educação de uma criança, na formação de um jovem ou na condução de um povo, tudo deve ser empreendido para lhes proporcionar proteção, carinho, conforto, segurança, alimentação, saúde e bem-estar. Mas isto não basta. Sobretudo importa desenvolver nas pessoas as aptidões que Deus depositou no vaso precioso de suas almas: as virtudes infusas e o querer da vontade para que possam viver retamente.

À maneira da águia com seus filhotes, pais e educadores devem exercitar os jovens com disciplina e método a trilhar os caminhos deste passageiro mas perigoso peregrinar pela terra. Embora o pecado original tenha privado o homem da graça divina e despertado nele a concupiscência, todavia não tirou as faculdades essenciais relativas à sua vida exterior.


A nós, homens decaídos, restam sempre a inteligência, a vontade e a liberdade. Cabe-nos dominar as paixões desordenadas com a ajuda da graça e tornar-nos virtuosos. Para isso possuímos os tesouros sobrenaturais que Deus concedeu à sua Igreja através dos sacramentos. “Vigiai e orai para não cairdes em tentação”, é o conselho divino. Será, com efeito, uma batalha para a vida toda, que só terminará com a morte. Se formos fiéis aos seus ensinamentos, atingiremos a perfeição querida por Deus.

Autores que tratam de questões de vida espiritual dão um princípio sábio e profundo, isto é, para a prática do bem não basta ao homem a força coercitiva externa. Ele precisa ser formado em seu interior para ter sede e fome de justiça, para amar e obter o santo temor de Deus,para fazer o que se deve livre e espontaneamente, com alegria de coração.


Este poder e esta força para formar e dirigir o caráter do homem e civilizar a sociedade são simbolizados pelas chaves dadas a Pedro e à Igreja Católica Apostólica Romana. Daí a necessidade de padres santos, missionários virtuosos, freiras dedicadas, leigos bem formados e instruídos para ser formadores de opinião em seus respectivos ambientes.


Assim o sal salgará e a luz iluminará. Bendito os pés que trilharam as vias dos Mandamentos. Benditos os olhos que contemplaram a Lei do Senhor. Bendito o coração que fez a delícia dos seus dias em amar o seu Deus e Senhor. À maneira da águia, poderemos contemplar o Sol da justiça e da misericórdia.