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terça-feira, 1 de março de 2011

Um vigia cego?

Um vigia cego?                                                                                                                
                                                                                                                  
*Padre David Francisquini


Lembro-me de ter comentado recentemente com meus leitores a doutrina moral da Santa Igreja Católica sobre o uso dos preservativos, seja como meio de contracepção seja como profilático, sobretudo com o advento letal da AIDS.
Para os cientistas, o preservativo não é 100% eficaz para a contracepção e sua falha tem como conseqüência o desenvolvimento de uma nova vida. Como profilático, em se tratando do HIV, qualquer falha representa morte certa. (Cfr. Aids e o preservativo por Mons. Michel Schooyans).
Ademais, quem pratica a luxúria torna-se escravo das paixões desordenadas, perdendo a consciência do bem e do mal; a memória fica atormentada e a inteligência obnubilada; perde a perspicácia e a segurança de julgamento; perde, enfim, o temor de Deus e o respeito para consigo mesmo.
Quanto à castidade, os teólogos tradicionais da Igreja – bem como todos os santos – recomendam a máxima cautela, seriedade e severidade tanto quanto for necessário, nunca fazendo concessão alguma, a fim de não se desviar do caminho de Deus.
Nas páginas dos Evangelhos, Nosso Senhor com toda severidade nos alerta a propósito dos escândalos: “Ai do mundo por causa dos escândalos, mas ai de quem ele vier, melhor atar uma pedra de moinho ao pescoço e ser atirado nas profundezas do mar”.
Prova disso foram os terríveis castigos infligidos pelo dilúvio e as conhecidas punições sobre as cidades de Sodoma e Gomorra, que incorreram na prática infame do vício da impureza. Se alguém quiser analisar com clareza as conseqüências que a depravação dos costumes acarretam, que veja certos doentes de hospitais e hospícios.
Não há como negar a correlação entre os vícios da impureza e o uso das drogas. E todos nós sabemos que as drogas vêm conduzindo a sociedade para a violência e para o seu corolário, o crime. Pelo caminhar da carruagem, não é preciso ser profeta para anunciar a ruína da sociedade moderna.
É bom que nossos governantes saibam que não será com preservativo que se vai sanar o flagelo da AIDS, mas na prática da pureza e da continência. E muito mais que a doença corporal, o mais grave será a perda da alma, como afirma as Escrituras: “Nada de impuro pode entrar no reino dos Céus”.
Jesus Cisto enalteceu a virtude da pureza colocando-a entre as bem-aventuranças: “Bem aventurados os puros de coração, porque verão a Deus”. Podemos, pois, concluir que a prática da castidade nos leva a um claro conhecimento de Deus, a uma morte santa e feliz, a uma especial honra e dignidade no Céu.
Como sacerdote, não quero sofrer a censura feita por Deus àqueles que deviam velar por Israel: "As suas sentinelas estão todas cegas, todos se mostram ignorantes; são cães mudos, que não podem ladrar, que vêem coisas vãs, que dormem e que amam os sonhos" (Is. LVI, 10).
Não quero, repito, ser vigia cego ou cão mudo. Se lhes digo isso, é para adverti-los da responsabilidade que alguns podem assumir diante de Deus ao favorecer a corrupção do povo, difundindo ou incentivando o pecado que cedo ou tarde conduzirá à ruína da sociedade.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

A vida não foi feita para o prazer (II)

A vida não foi feita para o prazer (II)
                                                                                                                     *Padre David Francisquini


Como vimos no artigo anterior sobre o candente assunto dos preservativos, o seu uso abre as portas para todas as libertinagens morais. Tomemos o caso de um jovem que passe a ter relação sexual precoce. Ele acabará logo por perder o domínio do seu instinto, tornar-se-á inescrupuloso, passará a encarar isso com naturalidade e não mais respeitará qualquer princípio ou regra de ética ou moral.
Infelizmente, o preservativo vem sendo distribuído a mancheias, espalhando o amor livre e a depravação dos costumes, o que provoca por sua vez desordens e chagas sociais que gangrenam toda a sociedade. Esse meio apenas serve para destruir os fundamentos da vida conjugal e da família. Com todo o propósito, Santo Agostinho afirma que a impureza de costumes – como a embriaguez – faz perder a inteligência e o bom senso.
Já São Tomás de Aquino assegura que o desonesto não vive mais conforme a razão. E São Pedro Damião acrescenta: Trata-se de uma peste que destrói os fundamentos da fé, desfibra as forças da esperança, dissipa os vínculos da caridade, aniquila a justiça, solapa a fortaleza, elimina a esperança, embota o gume da prudência.
Tal difusão em escala de preservativos pelos governos a pretexto de evitar a AIDS favorece o amor livre. E, longe de evitar as tais DST, representa a ruína da sociedade com o sexo livre, mas “seguro”. No entanto, a verdadeira segurança para não contrair tais doenças encontra-se unicamente na castidade.
Dentre os muitos tratadistas sobre o assunto do ponto de vista da doutrina católica, cito João Paulo II: “A pureza de costumes, disciplinadora da atividade sexual, é o único modo seguro e virtuoso para por fim à trágica praga da AIDS, que têm ceifado tantos jovens” (Cf. L’Osservatore Romano, 8-9/9/1993).
Como já nos referimos acima, uma vez desencadeadas no jovem as paixões, tendo ou não preservativo ele vai fazer uso do sexo. Além do mais, ele arrancará dos cofres públicos o dinheiro suado do contribuinte dos impostos, o qual deveria ser utilizado para fins honestos como a melhoria da saúde, da educação, da segurança e do amparo à velhice. Na verdade, tal política empurra a sociedade despenhadeiro abaixo da corrupção moral.
Chamamos a atenção que tal política contrasta diametralmente com a que vem sendo adotada com eficácia por alguns países da África. A Uganda, por exemplo, previne sua população através de recomendações e mesmo com o favorecimento de uniões estáveis, além de empenhar-se na prática da virgindade até o casamento. Essa é única e certeira política para conter a AIDS. Com efeito, não se conhece nenhuma doença proveniente da castidade, antes, há um sem-número de moléstias provenientes da depravação sexual, sendo a AIDS a mais devastadora delas.
No relatório do Professor Henri Lestradet, da Academia de Medicina de Paris (1996), lê-se: “Convém (...) assinalar que o preservativo foi inicialmente preconizado como meio contraceptivo. Ora (...) o índice de falha varia em geral entre 5 a 12% por casal e por ano de uso. O HIV – 500 vezes menor que um espermatozóide – se beneficiaria de um índice de falha maior”.
Entretanto, há uma grande diferença entre essas duas situações. Poderemos voltar uma vez mais ao assunto. Até lá.




domingo, 13 de fevereiro de 2011

A vida não foi feita para o prazer ( I )

A vida não foi feita para o prazer ( I )


*Pe. David Francisquini
     
Para mim, a década de 1960 não representou os “golden sixties”, como querem muitos formadores de opinião. Minha idade permite-me considerar em retrospectiva os anos de minha juventude e analisar os seus principais acontecimentos, bem como tudo aquilo que decorreu de lá para cá. Por exemplo, o papel da imprensa ao publicar certas declarações e/ou atitudes provenientes de personalidades, ora do mundo acadêmico ora do mundo eclesiástico, difundindo desconcerto geral na opinião pública.
Esperta e diabolicamente, tais declarações são noticiadas com lente de aumento – ou mesmo distorcidas – e amplamente propagadas pela mídia laica e anticristã, visando induzir as pessoas a pensar que a moral católica é capaz de mudar com o tempo [história] ou com o lugar [geografia]. Cingir-me-ei ao caso recente da grande divulgação dada pela mídia a propósito de uma possível mudança na posição da Igreja quanto ao uso dos famigerados preservativos.
Se isso proporciona de um lado verdadeiro escândalo nas consciências retas, nas famílias bem constituídas e nas pessoas honradas, de outro lado contribui poderosamente com aqueles que disseminam a imoralidade, os vícios e todas as formas de pecado contra a ordem natural criada por Deus em relação ao sexo.
          Ora, do ponto de vista da doutrina Católica, o uso do preservativo é intrinsecamente perverso, além de constituir pecado de luxúria e pecado contra a natureza. Com efeito, ele se reveste de uma malícia peculiar dentro do clima hedonista de que a vida foi feita para o prazer e, portanto, sem nenhum compromisso com a Santa Lei de Deus e a Lei Natural.
          Em decorrência do VI e IX Mandamentos da Lei de Deus e da própria Lei Natural, a Igreja sempre ensinou que tanto o homem como a mulher deve conservar-se perfeitamente castos, logo virgens, até o casamento. Isso pressupõe observar as regras postas por Deus na própria ordem da natureza.
O ato sexual, segundo a doutrina Católica, só é permitido e tem sua justificativa dentro do matrimônio com a finalidade principal da procriação, a qual todos os outros fins devem se subordinar. A relação conjugal do homem com a mulher é voltada para a propagação da espécie, educação da prole, o que não se dá retamente sem um estável vínculo conjugal. (Carta Encíclica de Pio XI sobre o casamento casto).
          Em nome da modernidade, a corrente liberal ou aggiornata dentro dos meios católicos pretende mudar a moral do magistério tradicional da Santa Igreja. No caso do uso do preservativo, a moral o enquadra entre os pecados que clamam aos Céus por vingança, pois se trata de um pecado de onanismo, o qual se caracteriza por duas malícias: a da luxúria e a do impedimento do processo normal de fecundação, ou seja, da transmissão da vida.
          Citado nas Sagradas Escrituras por violar as leis e as regras da procriação, Onan foi castigado por Deus no próprio ato infame para servir de exemplo aos casais futuros ao fazerem mau uso do ato transmissor da vida.
Em nossos dias, a malícia de certas pessoas que querem revolucionar a ordem criada por Deus as leva a impor um estado de coisas e um ambiente nos quais todas as suas paixões desregradas sejam satisfeitas, sem constrangimentos e riscos para a saúde, como é o caso específico da AIDS. Na verdade, o preservativo abre as portas para todas as libertinagens morais.
Num futuro próximo voltarei ao tema.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A luz do mundo

A luz do mundo




*Padre David Francisquini


Em precedentes artigos, ao tratarmos da Sagrada Família apontamos as virtudes de São José, casto esposo de Maria e Pai adotivo do Menino-Deus, além de salientarmos as excelências de Nossa Senhora, exemplo das mais sublimes virtudes maternas, dignas da Mãe de Deus. O Menino Jesus não poderia deixar de ser o centro dessa santa família.
O que dizer do Filho de Deus feito homem? O criador do Céu e da Terra, dos anjos e dos homens, quis viver como criança dentro de uma família para ser o exemplo de todos os filhos. Chamava com naturalidade São José de “pai” e Nossa Senhora de “mãe”, e estava sempre pronto para atender a todas suas vontades e ordens.
Sendo o Deus encarnado, enobreceu a tal ponto a família de Nazaré, que todas as crianças do mundo vão abeberar-se das águas cristalinas de suas virtudes. O Menino-Deus não apenas cativa e atrai admiração sobre Si, mas é exemplo para todos, grandes e pequenos, pois é a própria inocência! Deus e homem, Ele obedece aos que são menos.


Ele gosta de conviver com seus pais, admirá-los, reverenciá-los e conversar com eles, ademais de participar dos afazeres da casa e da carpintaria. Oriundo da real estirpe de David, na humilde casa de Nazaré nasceu o nobre por excelência, exemplo para todos os nobres e pobres da terra.
Com a onisciência própria à sua divindade, o Menino Jesus sabia apreciar de modo absoluto tanto os valores do Céu como as grandezas de seu sangue. Sabia utilizar sua posição – nobre e filho de carpinteiro – para cristianizar a terra inteira, nobilitando a todos pelo valor e destemor de seus atributos e preparar o seu reino sobre esta terra.
Ao nascer nobre e de uma família pobre, quis ensinar aos pobres a não se revoltar contra a situação em que vivem. Os seus antepassados gozavam de grandes riquezas, mas essa humilde família vivia de seu próprio trabalho, sem se revoltar com tal situação nem cobiçar os bens alheios, como denota em nossos dias a luta de classes marxista.
Reflexos dessa luta igualitária se manifestam em quase todos os setores da sociedade hodierna, com o advento de leis positivas cada vez mais socialistas que atentam sistematicamente contra a Lei divina. Leis atentatórias à moral – consubstanciada nos Dez Mandamentos da Lei de Deus – conduzem a luta de classes com invasões de propriedades alheias.
Cumpre voltarmos os olhos para a Sagrada Família, sol que ilumina o mundo, e pedir filialmente auxílio celestial para que pais, mães e filhos cumpram dignamente as suas vocações respectivas. Pois só o auxílio celeste evitará que a família já tão combalida deixe de existir, além do direito de propriedade particular e tantos outros valores da civilização cristã.
O PNDH-III – por exemplo – subverte todos os valores cristãos, como a família e a propriedade privada, e deseja implantar a sodomia com direitos à adoção de filhos, legalizar a prostituição como profissão, matar os inocentes através do aborto, dentre outras aberrantes propostas visando arrancar do Brasil a Cruz aqui implantada no dia de seu descobrimento!





quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Modelos de santidade e perfeição

Modelos de santidade e perfeição
Padre David Francisquini


Ao escrever faz algum tempo o artigo “Até que a morte os separe”, sobre o matrimônio indissolúvel, prometemos comentar o papel de São José e de Nossa Senhora na Sagrada Família. Ele como modelo exímio de todas as virtudes paternas, e Ela como exemplo das mais sublimes virtudes maternas, dignas da Mãe de Deus.
Com efeito, um aspecto simbólico de São José é a sua vigilância e cuidado em relação à Sagrada Família. Pai adotivo do Menino Jesus e esposo de Maria Santíssima, ele tinha todo o direito que um pai tem sobre o filho. Seu amor, sua dedicação, seu desvelo, sua integridade de chefe de família, seu temor de Deus, eram características salientes de sua vida familiar.
Ao prover com sabedoria às necessidades da mais excelsa das famílias da qual ele era o chefe, São José passou a representar a luz que brilha sobre todos os lares cristãos disseminados pela vastidão da terra. Nunca se ouviu dizer que algum chefe de família tenha a ele recorrido e não tenha encontrado solução para os reveses deste vale de lágrimas.
Impossível olhar para o casto esposo de Maria Virgem e não encontrar nele força, constância e perseverança de remover montanhas, predicados necessários e indispensáveis para um chefe de família de nossos dias em face de um mundo “todo posto no demônio”, que se lança contra a instituição da família para abater esta obra-prima de Deus.
As mães poderão encontrar na humilde Virgem de Nazaré, Mãe de Deus e Mãe das mães, a excelência das mais sublimes virtudes para enaltecer o seu lar com dignidade e heroísmo de verdadeira mãe cristã. A Santíssima Virgem é uma fonte inexaurível onde todas as mães sorvem os mais salutares e eficazes ensinamentos de fé, respeito, amor, modéstia, resignação, desvelo na educação dos filhos, e tantas outras virtudes que engrandeceram o lar de Nazaré.
Ela – Mãe de Deus porque Mãe de Jesus Cristo que é Deus – obedecia a São José, que era menos do que Ela em santidade e perfeição. Imaculada, sem qualquer nódoa do pecado original, gerou o Filho de Deus e Lhe tributou o mais perfeito amor de que uma criatura seja capaz. Eis o exemplo de mãe e esposa!

Tomei o espaço de meu número habitual de linhas e não tratei ainda figura central da Sagrada Família que é o Menino Jesus!




domingo, 23 de janeiro de 2011

Até que morte os separe

Até que morte os separe


                                                                                                                        (*) Pe. David Francisquini


Ao criar o homem, Deus disse: - É bom que não viva só; façamos para ele uma companheira. Estava constituído pelo Criador o primeiro casal, e assegurada, a partir desse núcleo social, a propagação da espécie humana. Vivendo em sociedade, os homens educariam retamente sua prole, preparariam os caminhos para a salvação, e gozariam por fim da eterna bem-aventurança na pátria celeste.

Com efeito, este primeiro casal simbolizava a família monogâmica e indissolúvel criada por Deus, a qual se tornaria o fundamento indispensável e nobilíssimo da sociedade na qual os homens deveriam viver. E o próprio Cristo Nosso Senhor recordou aos judeus que, com a Sua vinda, as coisas voltariam a ser como no início - ou seja, um homem e uma mulher.
Se Moisés, à época, deu permissão ao libelo de repúdio dos homens às suas mulheres foi em razão da dureza daqueles corações, pois não separe o homem aquilo que Deus uniu. Na verdade, a convivência entre um homem e uma mulher pelo matrimônio indissolúvel exige de ambos um completo domínio, pois o casamento é para sempre, ou seja, até que a morte os separe.
Tendo Jesus Cristo elevado tal união à dignidade de sacramento, os cônjuges devem se comprometer a conviver juntos. Eles são assistidos com as graças necessárias para permanecerem fiéis uns aos outros e cumprir os deveres de seu próprio estado, educando dignamente sua prole para a vida presente e futura. Sendo o casamento de instituição divina e santificado pelo próprio Jesus Cristo nas bodas de Caná, ele representa precioso instrumento de santificação para a maior parte dos homens.
Com tais atributos, o matrimônio deve ser edificado sobre a rocha inabalável da fé, dos bons costumes, da prática de nossa santa religião, da frequência constante e persistente dos sacramentos - sobretudo da confissão e da comunhão -, e da devoção a Sagrada Família, modelo de virtudes para todos os membros da família.
Caso contrário, o casamento desmoronará no primeiro obstáculo que sobrevier ao casal, como vem acontecendo de maneira crescente em nossa sociedade neo-pagã, onde ele passou a ser construído sobre a areia movediça do sentimentalismo romântico, uma paixão desordenada que priva a pessoa da visão clara e objetiva das coisas.
Em próximo artigo pretendo falar sobre o papel de São José, modelo exímio de todas as virtudes que os pais devem admirar e assimilar em suas vidas no governo familiar. Enquanto as mães poderão encontrar na humilde Virgem de Nazaré, mãe de Deus e Mãe das mães, o exemplo das mais sublimes virtudes para enaltecer o seu lar com dignidade e heroísmo de uma verdadeira mãe cristã.




quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O anjo da guarda, nosso melhor amigo (II)

O anjo da guarda, nosso melhor amigo (II)


Pe. David Francisquini*


Hoje retorno à matéria sobre o Anjo da Guarda, que Deus criou para sua glória e seu serviço, tendo-o colocado como guarda de cada criatura humana no seu peregrinar pela terra. Dada a sua união conosco nesse vale de lágrimas, certamente permanecerá conosco no Céu como cicerone dos insondáveis tesouros e mistérios de Deus por toda a eternidade.
Contudo, ele não acompanhará o precito no caminho das trevas, pois se ele escolheu com pleno conhecimento e pleno consentimento as sendas do Inferno é por que rompeu com o celestial amigo e advogado. O Anjo da Guarda faz de tudo para evitar que a pessoa a ele confiada se condene, mas o livre arbítrio poderá levá-la a glorificar a Deus na sua Justiça...
Procuremos em todas as ocasiões honrar, amar e obedecer as suas inspirações, além de recorrer a ele com devoção e confiança. Dotado de excelentes qualidades e perfeições, este Anjo nos guia nas vias do bem, no combate renhido contra o mal, o demônio, o mundo e a carne corrompida pelo pecado original.
Com efeito, não há combatente mais destro, mais hábil, mais corajoso e destemido que o nosso Anjo da Guarda. Durante a guerra travada no Céu contra Lúcifer e os anjos rebeldes, nosso Anjo da Guarda lutou bravamente sob o comando do generalíssimo São Miguel Arcanjo. Foi o suficiente para habilitá-lo a combater com igual denodo aqui na terra.
É doutrina dos doutores da Igreja que a paróquia, a diocese, as cidades, as nações, as famílias, as instituições possuem também o seu Anjo da Guarda para dar combate àqueles que trabalham para o demônio e para a perdição das almas. Onde quer que estejamos aí estará o Anjo para dar testemunho de nossas obras, para nos defender das ciladas e dos embustes do demônio.
Aproveito a ocasião para esclarecer a idéia falsa, aliás, muito propagada de que o anjo da guarda só protege as criancinhas. Convém ressaltar que os demônios – anjos rebelados – nos são sempre hostis, procurando de todas as formas nos fazer o mal tanto na alma como no corpo. Invejosos, cheios de ódio e fúria, procuram nos seduzir ao pecado.
Eles chegam mesmo a ter poder – com a permissão divina – de nos prejudicar na saúde e nos bens espirituais e materiais, como aconteceu com o bom servo Jó. Daí a importância de sempre recorrermos a São Miguel Arcanjo e ao anjo da guarda. Alerta-nos São Pedro que o demônio está ao nosso redor, como um leão furioso, procurando a nossa perdição, (1 Petr. V, 8-9).
Por outro lado nesta ferrenha luta nos chama atenção São Paulo de estarmos atentos na peleja “contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares,“ (Efe. VI, 12). É bom termos sempre diante dos olhos o Anjo da Guarda, pois não nos abandonará nessa batalha que só terminará com a morte.
Coloco à disposição dos leitores duas orações preciosas dirigidas uma a São Miguel Arcanjo:
– São Miguel Arcanjo, protegei-nos no combate, cobri-nos com vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantemente o pedimos. E Vós Príncipe da Milícia Celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno satanás e os outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas.
– A outra, ao nosso Anjo da Guarda particular: Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarda e ilumina. Amém.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

E a luz brilhou nas trevas

E a luz brilhou nas trevas

Pe. David Francisquini

O Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo é sem a menor sombra de dúvida o maior acontecimento da História. Nos arredores de Belém, radiante de luz, o Menino-Deus jaz na manjedoura diante de Nossa Senhora, São José e alguns pastores. Os próprios animais se acercam daquela gruta fria para aquecer o Deus que se fez homem e veio habitar entre nós.

         Qual lírio que desabrocha num árido descampado - símbolo da situação na qual a humanidade se encontrava - o Deus encarnado exala celestial aroma. A atmosfera toda fica perfumada pelas suas virtudes. Além de se encarnar por obra do Espírito Santo no ventre virginal de Maria Santíssima, Ele quis vir ao mundo como débil criancinha para manifestar alguma proporção conosco.
As circunstâncias de Ele ter nascido pobremente e numa noite de inverno não nos impedem de imaginar que toda a natureza tenha se revestido de júbilo, e os instintos mais grotescos e ferozes dos animais, serenado. O espírito dos homens justos foi tomado de movimentos de felicidade, enquanto o coração dos ímpios se abrandava.


A neve que caía encantadoramente em Belém criava um ambiente de paz, de bênção e de inocência. Tal ambiente não poderia ter passado despercebido dos Anjos da milícia celeste que não se contiveram em seu louvor a Deus, entoando talvez o mais belo hino que jamais haviam cantado: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”.
         Conforme revelações particulares de muitos santos, no momento mesmo em que a “Luz brilhou nas trevas”, os maus tremeram e rangeram os dentes de pavor. Muitos tiranos, opressores, sodomitas, violadores da ordem natural, cultuadores dos demônios e satanistas morreram desesperados. A humanidade inteira percebera a glória de Deus entre nós.
Nas catedrais, nas igrejas e nos mosteiros, há dois mil anos que se ouve o bimbalhar dos sinos, o ecoar das vozes nos cânticos natalinos como Noite Feliz, o crepitar do incenso perfumado. Os presépios armados dentro dos recintos sagrados, as árvores e as ceias natalinas evocam incontáveis recordações que tocam no próprio Deus que se fez homem para a nossa eterna recompensa. 
Com efeito, tal alegria, paz, serenidade, sentimento de bem-estar e de harmonia só se explicam em função do Natal do Divino Infante.  Entretanto, como esses atributos vêm se empalidecendo e se tornando cada vez mais insossos em nossos dias! A causa disso é o fato de o homem contemporâneo pautar sua conduta pelo lado puramente material de gozar a vida.
O mundo moderno se desviou da prática da virtude e do cumprimento da santa lei de Deus, paganizou-se e se afastou dos rumos traçados por Nosso Senhor Jesus Cristo, consignados nas páginas dos Santos Evangelhos. O Natal se tornou vazio, sem sentido, sem esperança e, por isso mesmo, sem o bem-estar de outrora.
         A atmosfera natalina é própria a evocar da inocência que evola das almas ao comemorar o nascimento do Messias, do Leão de Judá, do Filho da sempre Virgem Maria, do Emanuel, do Filho Unigênito de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo.

sábado, 11 de dezembro de 2010

O anjo da guarda, nosso melhor amigo

O anjo da guarda, nosso melhor amigo
Pe. David Francisquini


Ao criar o homem com corpo e alma – com idéias, desejos e sentidos –, Deus o dotou de qualidades e perfeições para que fosse o rei e a obra-prima da Criação. Contudo, tendo nossos primeiros pais sido induzidos pela serpente a comer do fruto proibido para se tornarem iguais a Deus, romperam com Ele e trocaram o Paraíso pelo vale de lágrimas.
A Escritura Sagrada mostra o efeito desastroso daquele pecado de orgulho e desobediência, conhecido como pecado original: “Disse (Deus) à mulher: multiplicarei os teus trabalhos e os teus partos, darás à luz com dor os filhos.
“E disse a Adão: porque destes ouvidos à voz da tua mulher, e comeste da árvore, de que eu te tinha ordenado que não comesses, a terra será maldita por tua causa; tirarás dela o sustento com os trabalhos penosos todos os dias da tua vida.
“Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra, de que fostes tomado; por que tu és pó e em pó hás de tornar”. (Gn, III, 16 e sg.)
Dificilmente poderia a humanidade salvar-se nessa nova situação, pois o castigo que a partir daí pairou sobre ela poderia levá-la à revolta e ao desespero. Mas o Deus de justiça é também o Deus de bondade. Utilizou-se de sua infinita misericórdia e prometeu socorrer o gênero humano através de um futuro Redentor.
E amaldiçoou a serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela e Ela te esmagará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar”. Por isso mesmo, o homem sempre foi alvo da fúria e perseguição do demônio.
Ai de nós, degredados do Paraíso, se não fosse o auxílio constante de Deus, de sua Mãe Santíssima, dos Anjos e dos Santos! Sucumbiríamos sob o peso dos nossos pecados. Os Livros Sagrados sempre nos apresentam os anjos vindo em socorro e defesa do gênero humano.
Este mesmo Deus, que expulsou com toda a sua justiça os nossos primeiros pais do Paraíso, se ofereceu em holocausto para salvar cada homem, para salvar este homem que sou eu! Fez-nos herdeiros d’Ele e de todo seu tesouro. Para velar sobre cada um de nós, deu-nos um anjo protetor que se chama Anjo da Guarda.
Ele nos foi dado para nos proteger nesta terra e nos conduzir ao Céu. “Porquanto mandou aos Anjos acerca de ti, que te guardem em todos os teus caminhos” (Sl. 90, 11). Os espíritos celestes que louvam e servem a Deus, também nos amam e nos querem bem, intercedem por nós e nos protegem a alma e o corpo.
O Anjo da Guarda é o Anjo que Deus deu a cada um de nós, “Vede, não desprezeis nenhum destes pequeninos: porque, digo-vos, os seus anjos no Céu vêem incessantemente a face de meu Pai” (Mt. XVIII, 19).
Retornarei ao tema proximamente. Até lá.


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

À procura de almas (final)

À procura de almas (final)
Pe. David Francisquini (*)


Cumpro a promessa feita e retomo o tema da procura de almas em nossos campos – hoje tão desfigurados em relação a um passado não muito remoto – onde patrões e empregados viviam em perfeita harmonia na troca amistosa de bons ofícios do compadrio reinante. Tal concórdia não era fruto espontâneo da natureza, mas da fé religiosa que a todos iluminava.
Dada a situação em que vive infelizmente a maior parte das pessoas que se mudou para as cidades, os pais deixaram de ensinar o catecismo e a história sagrada a seus filhos, pois nem eles mesmos dão exemplo de vida religiosa, temperante e temente a Deus. Confinados em casas populares, sofrem pressão do ambiente para limitar o número de filhos.
Os pretextos se encontram numa “cartilha” na qual os novos citadinos “aprendem” que a vida se tornou implacável e não comporta mais uma prole numerosa a ser educada e alimentada. Enquanto moravam no campo eles usufruíam da fartura de alimentos, da largueza retratada no espaço, além do ganho, resultando em bem-estar, tranqüilidade e alegria de situação.
Contudo, ninguém está disposto a trocar a vida – ainda que precária – da cidade pela vida temperante do campo, mesmo com todas as condições de conforto da cidade. No vazio de nosso interior, até há pouco estuante de vida e símbolo de abundância e fertilidade, repercute o eco das desastradas políticas que resultaram no enorme êxodo rural.
Enquanto pastor e orientador de almas, não creio poder inocentar de culpa os promotores de tal política. Com justa razão reclamam os nossos proprietários de terra dessa política agrária que mantém as mãos estendidas para os ditos sem-terra, oferecendo-lhes toda sorte de regalias, enquanto aqueles que têm vocação agrícola ficam abandonados e até ameaçados.
Um ruralista autêntico reclamou comigo que trabalha mais para o governo que para seu próprio sustento. Alega ter virado praticamente um concessionário do Estado e não mais um legítimo proprietário. A todo o momento recebe visitas de órgãos governamentais para cobrar isso ou aquilo, além de lhe impor mil e uma obrigações sem nenhuma contrapartida.
Aliás, parece que tudo se encontra assim nesse pobre Brasil. A figura do proprietário vai desaparecendo em detrimento da figura de mero concessionário do Estado. Qual um deus laico e impostor, o Estado se apresenta como onisciente, onipotente e onipresente ao querer saber de tudo, abarcar tudo e controlar tudo.
Outro camponês me lembrou a figura do chupim – pássaro símbolo da preguiça, da depredação e do aproveitador – que ao “chupar” os ovos do tico-tico e botar lá os seus, faz com que o tico-tico os incube para ele, além de criar os filhotes os alimentando por longo período. Só depois de muito adultos que eles vão sair da tutela do tico-tico para novas patifarias.
Vai celeremente desaparecendo a verdadeira liberdade dos filhos de Deus. A ferrenha escravidão imposta pelo Estado faz aumentar dia-a-dia o crescente desânimo entre os produtores rurais, e também urbanos, obrigados tanto uns como os outros a carregar nas costas uma máquina estatal cada vez maior.
A classe média dá mostras de cansaço, e, sem desmerecer a nobreza do legítimo funcionalismo público, o que vemos são as filas sem-fim dos concursos a um cargo municipal, estadual ou federal. Afinal, todos querem fazer parte da nova aristocracia, a nomenklatura, que pouco produz e leva a maior parte dos frutos e dos esforços de quem trabalha.
Com a livre iniciativa cerceada, as mentalidades vão mudando a ponto de quase todos reclamarem da presença do Estado na solução dos problemas do cotidiano na segurança, na saúde, na educação, enfim, na solução de todos os problemas, inclusive na eliminação da pobreza. A conseqüência só pode conduzir ao acomodamento e ao torpor das individualidades.
Ao promover o bem comum, o Estado jamais poderá ser um fardo para a sociedade. Seu papel é criar condições para que os indivíduos desenvolvam seus talentos e contribuam para o sadio progresso da nação, e não como vimos assistindo no Brasil. Por ocasião das eleições, jornais noticiaram que os “dependentes” do Estado seriam capazes de eleger o presidente.
O que me faz levantar uma pergunta: – Que autenticidade tem uma democracia baseada nesses termos?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

À procura de almas

À procura de almas
                                                                                                                                Pe. David Francisquini

Ao observar um passarinho fazer seu ninho, vemos como Deus o dotou de um instinto muito apurado, pelo qual ele o arranja de tal modo que proporciona segurança e conforto aos filhotes, ademais de abrigo para a mãe. Depois de ter criado a ‘prole’, voa para outros lugares, enquanto sua descendência tocará a própria vida.
Com o homem, rei da criação, é diferente. Dotado por Deus de qualidades e perfeições muitíssimo superiores às dos pássaros, além da sensibilidade ele possui faculdades espirituais que são a razão e a vontade, as quais dão rumo à sua existência. Sua natureza pede que ele trabalhe e acumule, para assegurar seu futuro e o de sua família.
Construtor não só do lar, mas de culturas e civilizações, quando procedente do campo costuma o homem civilizá-lo, tornando-o aprazível, acolhedor e encantador. Como o eram outrora as fazendas, pequenas cidades campestres que, sem dispensar o conforto e bem-estar proporcionados às condições da época, irradiavam um ambiente católico.
Nas minhas idas e vindas pela região rural da minha paróquia, situada ao norte do estado do Rio de Janeiro, pude constatar tal realidade, hoje infelizmente desaparecida. Dela só subsistem escombros. O êxodo rural devastou o campo. Acabaram as lavouras de café, de milho, de arroz e de feijão. A figura lendária do meeiro ficou relegada aos anais da história.
Detentor de direitos e de uma carteira de trabalho – contrapartida oferecida pelo getulismo ao afeto e à proteção de que então gozava –, o trabalhador braçal foi se despojando de um e de outro para cair na pobreza moral resultante da substituição do patrão pelo Estado.
Iludido muitas vezes pelo faiscar de lantejoulas das metrópoles e dos costumes corrompidos com as quais a televisão o enleia, já não mais suporta o campo – nem, muitas vezes, podendo o patrão suportar o ônus de mantê-lo –, vem aninhar-se nas periferias das cidades, onde infelizmente proliferam as drogas, a violência e a depravação geral dos costumes.
Trocou a vida regrada, silenciosa e contemplativa do campo, sua dura e heróica labuta – que começava com o nascer do sol e o cantar dos pássaros, e que com o sol e os pássaros se encerrava –, para viver no anonimato de um conglomerado desumano onde fervilham as cacofonias e não raro os maus odores, símbolos das más paixões que nele imperam.
De um patamar superior de reflexão e análise oferecido pela natureza virginal desceu para a irreflexão, a indolência e a imprevidência com que se contentam os que se acomodam com o pouco que ganham, mal dando para sustentar e atender às outras necessidades prementes que não seja a comida.
Quando vivia no campo ele praticava a religião. Hoje, dada a situação em que vive infelizmente ele não ensina mais o catecismo e a história sagrada a seus filhos e nem ele mesmo dá exemplo de vida religiosa, temperante e temente a Deus. Confinado em casas populares, há uma pressão da própria situação e do ambiente para limitar o número de filhos.
Pretendo continuar a matéria em posterior artigo. Até lá.