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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

As aves do céu e os lírios dos campos


Pe. David Francisquini
 

 

Já revelei em outras ocasiões aos meus leitores o apreço que tenho pela vida campestre, a qual sempre nos remete à contemplação da arquitetonia do universo e aos ensinamentos de Jesus Cristo que estão contidos nas páginas dos Santos Evangelhos. Basta pensar na descrição tão poética quanto apropriada sobre as aves do céu e os lírios do campo.
Com a força física que lhe é própria, o homem prepara a terra e lança a semente, na esperança de tirar do seu trabalho o alimento material de cada dia. Com a sua força da vontade, ele deve procurar com afinco a luz, para entender a realidade mais profunda contida nas Sagradas Letras, haurindo assim sustento espiritual ao longo da vida terrena.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012


O cristão é outro Cristo


*Pe. David Francisquini


            A doutrina católica ensina há dois mil anos que christianus alter Christus. Com efeito, ao nos encontrarmos na amizade com Deus, isto é, em estado de graça, temos uma vida nova, toda divina, vida sobrenatural com todas as riquezas das virtudes e dons que nos elevam e nos fazem participar da vida própria e natural em Deus.
Vida participativa, portanto: divinae consortes naturae, ou seja, consorte, uma união que se nos dá pela graça com a natureza divina. Portanto, o próprio Deus habita em nós, tornando-nos templo do Espírito Santo, morada da Santíssima Trindade, no dizer de São Paulo.
Vivendo e cooperando com a graça e as virtudes infusas haverá um desenvolvimento e uma união da criatura com o Criador que poderá atingir alto grau de perfeição, preparando-nos para a vida eterna. As tribulações, os sofrimentos da vida presente não se comparam com a vida vindoura.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012


Limpar a poeira e tirar o mofo (II)

Pe. David Francisquini

Em recente artigo com o título em epígrafe, procurei analisar a causa mais profunda da baldeação em massa de católicos das hostes da Santa Igreja Católica Apostólica Romana para os renques protestantes, conforme as estatísticas e segundo podemos observar em nossa volta. Ao retornar ao tema, convido o leitor para considerarmos juntos alguns momentos da vida religiosa antes do Concílio Vaticano II.
No Paraná, onde eu cursava o seminário, ouvi no sermão de uma Sexta-feira Santa o bispo alertar os fiéis sobre a ação dos protestantes, que à época percorriam as cidades de sua diocese batendo de casa em casa, a fim de lançar dúvidas e sementes da cizânia na cabeça das pessoas.

Esses disseminadores da divisão entre as fileiras católicas não tiveram ambiente para continuar seu proselitismo e acabaram por deixar a diocese. Para reconforto dos fiéis, esse mesmo hierarca organizava as tradicionais associações religiosas femininas e masculinas, e não raras vezes promovia, em torno da catedral diocesana, manifestações públicas com a presença de todas elas revestidas de suas respectivas insígnias.
Com entusiasmo, ouvi um zeloso padre contar-me ter feito um debate público com os protestantes, mostrando-lhes não terem conhecimento de Deus nem dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. As crianças de sua paróquia sabiam mais sobre os ensinamentos divinos que os seus dirigentes.
            Creio que falta hoje aos meus colegas do clero o espírito polêmico e militante da Santa Igreja Católica. Julgo oportuno trazer a lume o que diz São Pedro na sua primeira epístola, a fim de esclarecer a responsabilidade do ministério sacerdotal:
           “Apascentai o rebanho que Deus vos confiou, velando sobre ele, não por constrangimento, porém, espontaneamente, conforme a vontade de Deus; não por um ganho vergonhoso, porém, por dedicação. Não vos porteis como senhores sobre a herança [de Deus], porém, tornando-vos um exemplo para o rebanho do íntimo do coração. E quando aparecer o príncipe dos pastores vós obtereis a coroa incorruptível da glória; e vós também, ó jovens, submetei-vos aos mais velhos” (1Petr. 5, 1-11).
Podemos apalpar nessas santas palavras o reflexo e o esplendor com que o guia de almas deve se dedicar em função da vocação para a qual foi chamado. Aplica-se aqui a parábola do mau administrador que dissipou os bens de seu senhor, pois ao conceder o pão da verdade e da verdadeira doutrina, o sacerdote é na verdade o administrador dos mistérios de Deus.
Ademais, ele administra as águas que jorram dos sacramentos e das cerimônias religiosas realizadas com sacralidade. Ele é o bom exemplo de conduta digna e santa do seu estado sacerdotal; ele promove e cultiva a recitação do Rosário; ele santifica no momento solene da bênção do Santíssimo Sacramento; ele instrui na religião; ele entoa hinos e joga o incenso de bom odor a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Com rituais que mais se assemelham ao protestantismo – sem falar dos escândalos nos meios católicos – sacerdotes há que acabam preparando o espírito dos fiéis para aceitar a doutrina errada. Ora pregam pouco a devoção a Nossa Senhora; ora descuram da água benta e das devoções externas, como o uso da medalha de São Bento e da Medalha Milagrosa; ora não arranjam tempo para atender devidamente às confissões e preparar as instruções religiosas; ora enfim, omitem o dever de falar de Deus e da alma, do prêmio e do castigo, da mudança de vida e do combate aos trajes modernos e imorais que pervertem os costumes das famílias e invadem até os ambientes religiosos.
O que mais estarrece são as heresias e a perseguição àqueles sacerdotes que querem portar a sua batina e celebrar o rito tradicional da missa tridentina, o qual nunca foi proibido, como afirma Bento XVI no Motu Próprio Summorum Pontificum.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012


Limpar a poeira e tirar o mofo I
Pe. David Francisquini

 
A propósito de recentes estatísticas apontando o crescimento das facções protestantes em detrimento da religião católica, recordo-me que no final da década 1960 um jornalista muito arguto e pouco fiel à nossa santa fé chegou a afirmar que o Brasil não tardaria a se transformar no maior país ex-católico do mundo.
À época, eu cursava o Seminário Menor no Paraná e já podia perceber a transformação paulatina e persistente nos meios católicos através de sacerdotes ditos progressistas. Com ou sem pretexto, eles compareciam no Seminário a fim de fazer reuniões, acenando sempre para uma mentalidade nova a contrarrestar valores então vigentes, qualificados não sem alguma malícia de “empoeirados” ou cobertos de mofo.
Por ser conservadora, a diretoria do referido seminário começou a sofrer pressão de um órgão do Vaticano e do episcopado paranaense para se adaptar aos novos tempos, sob pena de abandonar aquela casa de formação sacerdotal. Seu ex-reitor deve possuir em seus arquivos os documentos que exigiam a sua cabeça e a dos demais sacerdotes que o coadjuvavam.
A diocese tinha cerca de cem seminaristas menores, doze mil congregados marianos e filhas de Maria, além de outras associações de leigos. Um sacerdote aggiornato do Rio Grande do Sul, encarregado pelo bispo, visitava uma a uma dessas associações, sempre propondo limpar a poeira e tirar o mofo através da modernização, mesmo que precisasse desautorar o sacerdote que dirigia as referidas associações.
Num ambiente assim hostil ao ensino tradicional, surgiu uma nova liturgia. O altar do santo sacrifício da Missa foi substituído por uma mesinha de frente para o povo, músicas profanas foram introduzidas nas celebrações, o espírito religioso dos fiéis cedeu lugar a uma mentalidade mundana, e muitas vezes se parodiavam os protestantes. Já no Seminário Maior em Curitiba, presenciei e ouvi de um sacerdote no sermão a apologia do protestantismo ao afirmar que a Igreja havia mudado sua posição.
            À noite daquele mesmo dia, com a presença de todos os seminaristas, católicos e protestantes se reuniram numa igreja da capital paranaense. No púlpito se revezavam padres e pastores. Houve padres que ousaram defender o fim do celibato. A partir daí, muitos sacerdotes passaram a sofrer de um mal que ficou conhecido como “crise de identidade”, outros ainda lamentavelmente abandonavam o sacerdócio em decorrência das novidades surgidas a partir do Concílio Vaticano II.
Para os avisados a notícia da redução do número de católicos no Brasil não chega a surpreender, pois o ambiente vinha sendo amplamente preparado, como se pode observar na leitura do livro “Em defesa da Ação Católica”, de Plinio Corrêa de Oliveira. Nessa obra, escrita em 1943, o autor mostra a mudança não apenas de comportamento, mas igualmente de doutrina, a partir de uma ala modernista que se tornou atuante já na década de 1930, não respeitando os tradicionais ensinamentos da Santa Igreja.
Às vezes me pergunto se o clero brasileiro, sobretudo o episcopado, está realmente preocupado com a defecção e apostasia dos católicos que passam a engordar as fileiras do protestantismo. Fala-se muito em ecumenismo nos meios católicos, mas como o clero teria deixado escapar tantas ovelhas de seu rebanho? São os católicos que estão fazendo proselitismo para esvaziar os ambientes das seitas protestantes, ou são estas que se aproveitam da decadência religiosa e do clero? Como fica o dogma de que fora da Igreja não há salvação?
            Essas perguntas me vêm ao espírito ao imaginar a situação alarmante daqueles que apostataram ao renegar a fé recebida no santo batismo. Qual teria sido a causa mais profunda desse abandono em massa – um terço dos católicos – da fé no único Deus verdadeiro e da religião única e verdadeira desse mesmo Deus que é a Santa Igreja Católica Apostólica Romana? Para responder tais interrogações, precisamos analisar a vida religiosa antes do Concílio Vaticano II, assunto que fica para um próximo artigo.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

IPCO enfrenta pela 4ª vez a intolerância de agitadores pró aborto e pró ...


A impiedade sobre um trono
                                                        
                                                             *Pe David Francisquini


Nosso Senhor Jesus Cristo deu aos seus apóstolos o mandato de anunciar o Evangelho, a fim de que suas palavras ressoassem pela Terra inteira: "Ide, fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Mt 28,19-20).
Fortalecidos com esta missão, os apóstolos "saíram a pregar por toda parte, agindo com eles o Senhor, e confirmando a Palavra por meio dos sinais que a acompanhavam" (Mc 16,20). Eles pregavam utilizando-se da linguagem clara e inequívoca que Jesus Cristo lhes ensinara, e cujas luzes eram destinadas a perdurar até a consumação dos séculos.

As letras sacras estão permeadas de figuras ricas de significados para descrever o que se passava no coração dos apóstolos: “Em verdade, em verdade vos digo que vos haveis de chorar e gemer enquanto o mundo se alegrará; haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há de converter-se em alegria”. Ao se depararem com a Paixão e Morte de Cristo, a tristeza e a angústia penetraram profundamente nos seus corações; ao ver Cristo ressuscitado, seus corações se converteram em alegria.
A tristeza que se apoderara do coração dos apóstolos não é ponderável. Para vislumbrá-la, Nosso Senhor recorre ao exemplo de uma mulher que está para dar à luz. Ela fica tomada de tristeza em razão do momento difícil, pois chegou sua hora. Mas, após ter dado à luz, ela já não se recorda de sua anterior aflição, pela alegria de ter trazido ao mundo uma nova criatura.
Se o exemplo deita luzes sobre a ressurreição de Cristo – um homem saindo vivo de sua sepultura –, ele ilumina igualmente a História inteira.
Se em conseqüência do pecado original a mulher dá à luz em meio às dores do parto, nesta seqüela a que o pecado de nossos primeiros pais a reduziu nós podemos, entretanto, ver a figura da Igreja através dos séculos. Quanto sangue, quantas perseguições, quantas heresias, quantas indiferenças, quantas frivolidades, em suma, quantas dores teve a Igreja de enfrentar ao longo de sua bimilenar existência!
Tomemos os nossos dias. Não há lugar do orbe onde não se trame contra a Igreja de Cristo. Costumes cada vez mais hostis aos Mandamentos de Deus grassam numa sociedade que se estadeia na luxúria e na opulência de viver, onde praticamente todos vivem privados da graça e da vida sobrenatural.
Leis ímpias contrárias à Lei Natural e à Lei Divina vão sendo aprovadas à revelia da opinião pública, como acaba de acontecer entre nós com a equiparação da união de pessoas do mesmo sexo com o casamento entre um homem e uma mulher. A aprovação do aborto de anencéfalos pelo Supremo Tribunal Federal abre as portas para a matança dos inocentes no ventre materno. Por sua vez, esta mesma lei abre espaço para a eutanásia...
Se passarmos para o campo político-social, quantos descalabros! Os leitores devem conhecer muitos deles. Se acrescermos a isso a crise interna que assola a Santa Igreja, tisnando a luz, descaracterizando o sal, desedificando a fortaleza para enfrentar os males que afligem o mundo hodierno, deparamo-nos com uma realidade profetizada por São Luis Maria Grignion de Montfort em sua Oração Abrasada:
Vossa fé é transgredida; vosso Evangelho, desprezado, abandonada vossa religião; torrentes de iniqüidades inundam toda a terra, e arrastam até os vossos servos; a terra toda está desolada; a impiedade está sobre um trono; vosso santuário é profanado, e a abominação entrou até no lugar santo.”
Razão para perdermos a esperança? – Jamais! Razão, sim, para confiarmos, com ardor sempre crescente, na promessa feita por Nossa Senhora em Fátima relativa à futura renovação da Santa Igreja e do mundo: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!”.
Eis o encanto e a alegria que nos aguardam, pois será em meio aos sofrimentos e às dores atrozes de nossos dias que a Igreja dará à luz a maior e melhor das civilizações que será o Reino de Maria.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

As prerrogativas da Mãe de Deus


*Pe David Francisquini

“Quem é essa que surge como aurora, bela como a lua, brilhante como o sol, terrível como um exército em ordem de batalha? (Cant 6, 8-10). A Virgem Maria, representada pela devoção dos fiéis também como Rainha e Mãe, nunca deixou de ser virgem ao conceber seu Filho, que é, ao mesmo tempo, o Unigênito do Eterno Pai unido à natureza humana por obra do Espírito Santo.
Os poucos textos referentes à Maria Santíssima encontrados nas Sagradas Escrituras são valiosos em ensinamentos para se avaliar as suas prerrogativas e de quão necessária é a devoção à Mãe de Deus e nossa. Ainda há pouco, a Igreja comemorou a maior festa da Cristandade, a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Com efeito, São Paulo sentenciou que se Cristo não tivesse ressuscitado, nossa fé seria vã.
Se ao deixar seu sepulcro selado Jesus Cristo pôde introduzir-se no Cenáculo com as portas trancadas, sua onipotência obteve que, gerado em Maria por obra do Espírito Santo, Ele deixasse o ventre materno preservando toda a sua integridade virginal. Daí a teologia concluir que Maria Santíssima é virgem antes, durante e depois do parto. Não há como ocultar tal verdade e dela duvidar sob pena de se perder a fé na Divindade de Cristo.
Se o Filho de Deus teve um sepulcro onde ninguém antes havia sido depositado, assim também foi o ventre de Maria. Mesmo depois de sua Ressurreição, a Escritura Divina narra que todos os seus seguidores tiveram uma veneração enorme ao seu sepulcro. Em outros tempos, quantas Cruzadas houve para libertar o Santo Sepulcro? Assim, por que não devotar a mesma veneração, honra, homenagem e amor Àquela que gerou o Redentor do mundo?
O anjo A saudou, ave, ó cheia de graça, o Senhor é contigo. Eva, a primeira mulher, ouviu de Deus que geraria seus filhos na dor por causa do pecado cometido. A Virgem Maria, pelo contrário, desterraria a tristeza por meio do júbilo que sentia ao ser Mãe d’Aquele que tudo criou. Com razão o anjo anuncia uma nova mensagem de paz e harmonia louvando Maria pela abundância das graças que Ela possuía.
É plena de graça Aquela que o Espírito Santo cumulou com uma chuva benfazeja de graças, inundando a sua alma muito acima de qualquer criatura. Deus está em seu coração, o Filho de Deus se forma em suas entranhas virginais; cheia de Deus está sua mente, plenos estão os seus sentidos. O filho de Deus recebe a natureza humana por Maria e por isso Ela se torna a bendita entre todas as mulheres.
Se de um homem e de uma mulher veio a maldição do pecado sobre a raça humana, de Maria e de Jesus nos vieram de novo a bênção, a salvação, a redenção, a alegria, a paz, o bem-estar e a harmonia. “Não te turbes Maria, porque achastes graça diante de Deus”. É como se o Anjo dissesse: Não venho te roubar a sublime e inviolável virgindade como fazem os homens enganosos e falsos.  Afinal, não sou o mensageiro da mentira.
E o Anjo poderia ter continuado: Quem merece graça diante de Deus não precisa temer, pois Tu estás adornada com as mais excelsas virtudes como o brilho da pureza e da santidade. Eu vim dos Céus não apenas para defender a tua inviolável virgindade, mas para custodiar e conservar tua consciência imaculada e reta. E eis que conceberás em teu ventre e darás à luz um filho e por-lhe-ás o nome de Jesus.

terça-feira, 8 de maio de 2012


Ai dos vencidos!

*Pe. David Francisquini

Os limites de meu mais recente artigo (Santo Agostinho, Bento XVI e Cuba) fazem-me retornar hoje ao tema, a fim de expor mais algumas considerações que considero oportunas. Tínhamos já visto que o regime cubano, porque profundamente ditatorial e persecutório – e, sobretudo, por importar num pecado coletivo e oficial –, é contrário à Revelação e ao Magistério da Igreja.
Com efeito, o Estado comunista cubano impõe leis que propagam o amor livre, eliminam a família indissolúvel, instalam o divórcio e promovem o aborto, além de facilitar toda sorte de aberração, por mais antinatural que seja, como corromper a inocência das crianças e dos jovens ao pregar a negação de Deus e da alma.
Uma das conseqüências imediatas dessa iniqüidade coletiva é a criação de um ambiente nefasto e próprio a conduzir as pessoas a cometerem pecados individualmente. Pois os maus exemplos instalados na sociedade constituem matéria-prima para se esquecer de Deus, da fé e da religião e de tudo que Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu em sua Paixão e Morte.
Ao negar os frutos da Paixão de Cristo – tão bem assinalados por Santo Agostinho, conforme mostramos no artigo anterior – é a sociedade cubana inteira que tenderá naturalmente a rolar precipício abaixo rumo ao caos e à miséria. Ao proibir os cidadãos de cumprir seus deveres para com Deus e para com o próximo, o Estado concorre em larga medida para a perdição das almas.
 O regime cubano se encontra nos antípodas do ensinamento de Leão XIII quando nos fala sobre os tempos áureos da Santa Igreja na Idade Média: “A filosofia dos Evangelhos governava os povos. E graças ao favor dos príncipes e a proteção dos magistrados, havia entre a Igreja e o Estado uma feliz concórdia e uma permuta amistosa de bons ofícios e por isso mesmo houve um florescimento que artifício algum dos inimigos da Igreja pode negar e subestimar”.
Diante da realidade vigente em Cuba, algum leitor poderia me perguntar: – Qual deveria ser a atitude das autoridades eclesiásticas? – Pactuar? – Recuar? – Ou seguir as pegadas dos mártires que preferiram seguir as Leis de Deus à lei dos homens? A este hipotético leitor eu respondo colocando inicialmente outra pergunta: – Afinal, o que pudemos constatar de fato durante a viagem de Bento XVI a Cuba?
Tomamos conhecimento, entre outras coisas, de que o Cardeal Ortega mandou a polícia prender os que reagiam contra o regime castrista rezando no interior da Catedral de Havana... E o próprio Núncio Apostólico se negou a receber aqueles que desejavam lhe expor, enquanto representante do Pastor dos pastores, a situação desumana em que se encontram na Ilha-cárcere... 
Triste o paradoxo de pastores que entregam ao lobo suas ovelhas! Como na época dos imperadores romanos, as ovelhas talvez ainda possam exclamar “Vae victis!” (Ai dos vencidos!)

quarta-feira, 25 de abril de 2012


Santo Agostinho, Bento XVI e Cuba
  
                                                                                                        *Pe. David Francisquini

Hoje é evidente que a ideologia marxista, na forma em que foi concebida, já não corresponde à realidade(S.S. Bento XVI, in OESP 24/3/12, pg. A26).
Perplexo, um amigo me procurou e disse: “Padre, o que se conclui das palavras de Sua Santidade é que se hoje é evidente que a ideologia marxista já não corresponde à realidade, antes não era evidente, portanto, ela correspondia à realidade”.
E acrescentou: “Ora, tendo diversos predecessores de Bento XVI condenado essa ideologia como intrinsecamente perversa e oposta per diametrum à doutrina católica, eu simplesmente não compreendo como ela pode ter sido em algum momento aceitável e correspondido à realidade das coisas”.
Pus-me então a refletir e concluí que não tinha como discordar, pois de fato muitos Papas afirmaram que o marxismo – ideologia que nega a Deus e os frutos da Redenção ao pregar o materialismo como ideal metafísico – é intrinsecamente perverso. E os regimes que o adotam não apenas pregam, mas combatem por todos os meios, a civilização cristã e os valores emanados do Supremo Magistério da Igreja.
Enquanto refletia, passavam pela minha mente algumas notícias que eu acabava de ler nos jornais. Uma delas informava que o cardeal de Havana, D. Jaime Ortega, chamou a polícia comunista para expulsar de uma igreja os católicos que ali estavam em vigília de orações para protestar contra o regime opressor. Outra notícia dizia que o Núncio Apostólico se negou a receber uma comitiva de católicos perseguidos pelo comunismo que lhe fora pedir para ter um breve encontro com Bento XVI.
Pensei comigo: se os próprios prelados cuja obrigação é defender o seu rebanho o tratam deste modo, o que dizer então dos ditadores comunistas e de seus sequazes?
Entre uma declaração perplexitante e dois fatos concretos angustiantes recorri a Santo Agostinho. Nele encontrei estas considerações sobre a Santa Igreja repassadas de unção, que me muito me consolaram.
 “Ó Santa Igreja de Deus, tu conduzes e instruis as crianças com ternura, os jovens com força, os anciãos com calma, como comporta à idade, não apenas do corpo, mas ainda da alma. [...] Tu ensinas aos reis que se devem dedicar a seus povos, e prescreves aos povos que se submetam aos reis. Tu ensinas com cuidado a quem se deve a honra, a quem o afeto, a quem o respeito, a quem o temor, a quem a consolação, a quem a advertência, a quem o estímulo, a quem a correção, a quem a repreensão e a quem o castigo. Tu fazes saber como, se nem todas as coisas são devidas indistintamente a todos, a todos se deve a caridade e a ninguém a injustiça” (De moribus Ecclesiae, cap. XXX, nº 63).
Com efeito, após essa bela apóstrofe de Santo Agostinho, basta um breve exame da doutrina da Igreja e de sua História para nos darmos conta de até que ponto ela é verídica para todos os povos e em todas as épocas.
Haveria para o Estado interesse mais fundamental, mais indispensável, mais sagrado do que se enriquecer com os inestimáveis benefícios que só da ação da Igreja — acentuamos a palavra “só” — lhe pode provir? Só a Igreja é capaz de unir, não só em sociedade, mas numa espécie de convivência pacífica, os cidadãos aos cidadãos, as nações às nações e os homens entre si pela lembrança de nossos primeiros pais.
Ressalta ainda o grande Santo Agostinho que, se seguir o que Nosso Senhor nos ensinou, a sociedade inteira tenderá naturalmente ao progresso, ao bem-estar e à harmonia.
Exatamente isso é que não existe em Cuba após mais de 50 anos de comunismo, pois seu regime proíbe a propriedade particular assegurada em dois Mandamentos da Lei de Deus, coíbe a livre iniciativa, nega a família e a liberdade enquanto direitos fundamentais da pessoa humana. Em suma, Cuba é a própria injustiça que tornou a vida desumana, fruto da ideologia marxista – tanto de ontem como de hoje.

terça-feira, 10 de abril de 2012


Meus votos de Páscoa
 *Pe. David Francisquini

Jesus Cristo Nosso Senhor não veio destruir a antiga Lei, mas cumpri-la e aperfeiçoá-la. Com a sua gloriosa Ressurreição no Domingo de Páscoa, Ele fez brilhar nova luz para que na Igreja resplandecesse o que havia sido obscurecido pela Sinagoga. De sábado, o dia do Senhor passou para domingo.
O sol ainda não havia raiado naquele domingo quando Maria Madalena – aquela que obteve o perdão de seus muitos pecados porque muito amou e, por isso mesmo, teve a sua alma purificada de toda culpa – saíra para visitar Cristo em seu sepulcro. O Evangelho narra que ela estava acompanhada de outra Maria e ambas portavam os aromas próprios para embalsamar o corpo do Salvador.
Ao encontrarem a tumba vazia, Maria Madalena sai pressurosa ao encontro dos apóstolos Pedro e João para avisá-los do grande acontecimento. Quem perdoa pouco, ama pouco, e quem perdoa muito, ama muito. Maria Madalena, que havia recebido um grande perdão, se resplandece ao rever Cristo com vida nova, sendo naquele momento mesmo confirmada na fé da Ressurreição.
E as duas Marias que precederam os apóstolos na visita à sepultura do Senhor representavam a gentilidade e o judaísmo, povos que fariam parte da Igreja Católica fundada por Jesus Cristo. Até aquele momento, foi Maria, a Mãe do Salvador, quem assistiu a Igreja, quem A compendiou em meio às densas trevas de deserção que grassou naqueles três dias. Nela, a virtude da fé brilhava com tal intensidade, que salvou e iluminou as almas escolhidas para serem o fundamento do mundo regenerado.
Cristo com a sua Ressurreição como que renascera do Sepulcro, pois do que adiantaria ter fé se Ele não tivesse ressuscitado? Eis o maior milagre da divindade do Salvador do mundo, que não só ressuscitou Lázaro, mas com seu poder infinito ressuscitou a Si mesmo.
Aquele que havia sido gerado num ventre virginal sem detrimento da integridade da Mãe, porque Deus tudo pode, até ter uma Mãe Virgem; Aquele que a virgindade havia encerrado no ventre materno veio à luz da vida, e o sepulcro cerrado O devolvia agora à vida imortal.
Tendo saído íntegro, manifesta Cristo todo o seu poder, toda a sua glória, toda a sua grandeza da mesma forma em que havia deixado o corpo virginal de Maria. Sai do sepulcro deixando-o selado, para que um anjo do céu removesse a pesada pedra da sepultura, e assim confundisse os inimigos.
A terra estremecida presta homenagem ao vencedor da morte, porque tudo n’Ele é vida e, como um sol, difunde sobre a terra a claridade de todas esperanças.  Ao sair do sepulcro Cristo deu o maior argumento apologético de sua divindade, de que Ele é o Rei e travou a batalha contra a morte, contra o demônio, contra o mundo e a natureza corrompida.
Nuvens espessas pairam sobre grande parte da humanidade neste início de milênio, com o desespero parecendo bater-lhe à porta. Que a Ressurreição de Cristo console e dê esperanças redobradas às almas aflitas! Estes são os meus votos nesta Santa Páscoa de 2012.