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segunda-feira, 8 de junho de 2015

Nobreza da graça e nobreza de sangue


Pe. David Francisquini

No Calvário, bem junto à Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, achava-se reunida não apenas a nobreza da graça, mas também a mais requintada nobreza de sangue. Maria Cleofas e São João, o discípulo amado, eram primos de Nosso Senhor. Maria Santíssima, pertencente à estirpe de David, era a mãe do Homem-Deus, o Redentor do mundo, até então escravizado pelo pecado e jazendo na mais completa pobreza espiritual.
Dentre os muitos atributos dos demagogos e populistas de nossos dias, talvez um dos mais salientes seja a pretensa ajuda às classes pobres em nome de princípios igualitários e revolucionários. A respeito desses demagogos, podemos repetir o dito segundo o qual “eles amam tanto os pobres, que os multiplicam quando chegam ao poder”. Na verdade, só se ama o próximo quando se ama a Deus! Demagogia e amor de Deus se excluem. Afinal, que gesto pode ser comparado ao do Homem-Deus e de todas as almas nobres que se aglutinavam naquela hora trágica da redenção do gênero humano?
Não há nada que engrandeça e eleve mais nesta terra de exílio do que a nobreza hereditária quando ela ama e teme a Deus. Jesus Cristo nasce de uma virgem da linhagem de reis e é chamado de filho de David, para ensinar a importância e a grandeza das elites junto aos desamparados e aos pobres de espírito. Maria Cleofas era prima de Nossa Senhora, grau muito próximo de parentesco que a distingue com a mais qualificada nobreza que jamais houve no mundo, não propriamente pelo fato de descender de David e de reis de Israel, mas por afinidade com o sangue do Redentor divino.
Cumpre ressaltar que a nobreza desse parentesco com o Homem-Deus era dobrada segundo o Pe. Antônio Vieira, pois Jesus Cristo não tendo pai na terra, sua linhagem provinha de sua Mãe. A nobreza de Maria Cleofas está acima de qualquer nobreza por parentesco com a Mãe de Jesus e com o Homem-Deus. Se o Evangelho ressalta a presença dela junto à Cruz, é para distinguir a sua nobreza de sangue e espiritual.
Quando um nobre é inteiramente católico e consciente de seus altos e grandiosos deveres, seus feitos – contrariamente a qualquer demagogo – enobrecem toda uma nação. O calvário foi por excelência um ato de heroísmo de valor incomparável para todas as classes sociais. Não entende o papel do nobre, a não ser contemplando o Homem-Deus, a sua Santa Mãe, Maria Cleofas, e São João Evangelista aos pés da Cruz.
Se houvesse reino em Israel, Maria teria sido a sua rainha e Jesus Cristo o seu rei. Nessa cena todos contemplam um rei e uma rainha conquistando a Terra para Deus. A redenção possibilitou aos homens trilhar as vias do bem, atingir um apogeu de civilização que foi a Idade Média, sobre a qual Leão XIII proclamou que naquele tempo a filosofia do Evangelho governava os povos. O requinte, as boas maneiras, a elevação, a distinção, o respeito, a dedicação, o zelo, o heroísmo foram os resultados dessa epopeia do Homem-Deus. Da cruz germina o espírito de cruzado e a militância. Desabrocham e desenvolvem a epopeia, o heroísmo e o desvelo  dos cruzados na defesa da Terra Santa.  
São João fala de Maria Cleofas como prima de Nossa Senhora, mas não menciona o parentesco dela com Nosso Senhor, para nos dar a entender quanto o Homem-Deus preza a graça, seja nobre ou plebeu, pois ela nos torna participantes da vida divina. 
Também aos pés da Cruz se encontrava Maria Madalena, a penitente. Ela se elevou da escravidão do pecado, da pobreza de alma, à vida divina pela penitência, pois sendo Nosso Senhor a luz verdadeira, ilumina todos os homens que vêm a este mundo.  "Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu e os seus não o receberam. Deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus a todos os que O receberam, esses que creem em seu nome e não nasceram do sangue, nem do desejo da carne, nem da vontade do homem, mas nasceram de Deus."
Deus, eterno e de natureza puramente espiritual, criou todos os seres e coisas para a sua glória e reverência. Na sua infinita sabedoria e ciência, criou primeiro os anjos e o reino material, e depois o homem com alma e corpo. Os anjos são puros espíritos dotados de inteligência e vontade, elevados à glória e à contemplação divina pela graça. Contrariamente aos homens, eles são incapazes de hesitar. Por isso a punição dos que se revoltaram foi irreversível.  Os homens, contudo, não tiveram pela infinita bondade de Deus a mesma sorte, tendo o Criador lhes enviado seu Filho para restaurar a honra divina ultrajada pelo pecado de nossos primeiros pais e abrir-lhes as portas do céu, dando a todos os meios de salvação.
Ao morrer na Cruz, Nosso Senhor Jesus Cristo tornou-se instrumento de salvação. Sendo Deus, quis nascer somente de uma virgem por obra do Espírito Santo. Como veio por meio d’Ela, quis tê-La bem perto de Si junto à Cruz, para partilhar com Ele a sua Paixão e Morte, e torná-La, assim, nossa Mãe a partir do momento em que A recomendou a São João Evangelista. A Nossa Senhora é atribuído o privilégio de corredentora do gênero humano.

É por isso que o melhor caminho para se chegar a Jesus Cristo é através da devoção a Maria, cuja intercessão nos alcança todas as graças de Deus. Confiantes, fixemos os nossos olhos no Coração Imaculado de Maria, pois é nele que se encontram a esperança e a certeza do triunfo do bem neste mundo tão conturbado pela pobreza de espírito.

sábado, 23 de maio de 2015

A Senhora da Graça


Pe. David Francisquini                               


Anunciação Fra Fillipo Lippi 1406-1469


Na linguagem da Igreja tradicional, Maio significa mês de Maria, a medianeira de todas as graças entre Deus e os homens, Aquela a quem o embaixador celeste São Gabriel anunciou que seria a Mãe do Messias, o esperado das nações. Cheio de reverência, o Anjo A saudou: “Deus te salve, cheia de graça; o Senhor é contigo”.

Concebida sem pecado original, sem nódoa alguma que A maculasse, Maria foi o instrumento escolhido por Deus para comunicar aos degradados filhos de Eva a maior de todas as graças: “E o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós”. Este foi sem dúvida o meio mais conveniente e sublime excogitado pelo Criador para que seu Unigênito viesse à Terra.

E ante a surpresa da Virgem, o Anjo prosseguiu: “Não temas Maria, pois achaste graça diante de Deus; eis que conceberás no teu ventre e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Esse será grande, será chamado filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono do seu pai David, reinará na Casa de Jacó, eternamente, e seu reino não terá fim.”

São Gabriel disse ainda à Virgem que o Espírito Santo A cobriria com sua sombra, pois quem d’Ela nasceria seria chamado Filho de Deus. Maria se tornou assim Filha de Deus Pai,  Mãe de Deus Filho e Esposa do Espírito Santo.

Se a concepção do Filho de Deus representou um oceano incomensurável de graças, nem por isso Nossa Senhora deixou de receber e cooperar com novas graças. À guisa de ilustração, no Cântico dos Cânticos, a Escritura indaga: “Quem é esta que surge como a aurora, formosa como a lua, brilhante como o sol, terrível como um exército em ordem de batalha?”.

            Não obstante todas essas graças inigualáveis, o auge da missão de Maria se deu ao pé da Cruz, quando se tornou corredentora do gênero humano por consentir que seu Divino Filho morresse para a nossa salvação. Foi também ali que Nosso Senhor no-la deu, ao constituí-la mãe de São João Evangelista.

Se Eva nos transmitiu o maior dos males ao comer o fruto proibido, Maria, a nova Eva, nos fez o maior dos bens ao ser inteiramente fiel aos desígnios de Deus, contemplando e assentindo que o seu Filho expiasse os pecados do mundo para nos abrir as portas dos céus. Eis aí a grande estatura e envergadura de alma de Nossa Senhora.

Falando sobre a graça e a glória, o Pe. Antonio Vieira nos ensina que o mesmo Deus que nos apontou na graça a misericórdia, nos mostrará na glória a sua verdade ao nos agraciar com a coroa de que Se fez devedor.

Como Mãe e medianeira dos homens por vontade divina, Maria nunca deixa de atender seus filhos em todas as suas necessidades. Eis como A enaltece o Pe. Vieira:

“Perguntai aos enfermos para que nasce esta celestial menina, dir-vos-ão que nasce para a Senhora da Saúde; perguntai aos pobres, dirão que nasce para a Senhora dos Remédios; perguntai aos desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo; perguntai aos desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação; perguntai aos tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres; perguntai aos desesperados, dirão que nasce para Senhora da Esperança.

“Os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz, os discordes, para Senhora da Paz, os desencaminhados, para Senhora da Guia, os cativos, para Senhora do Livramento, os cercados, para Senhora do Socorro, os quase vencidos, para Senhora da Vitória.

“Dirão os pleiteantes, que nasce para Senhora do Bom Despacho, os Navegantes, para Senhora da Boa Viagem, os temerosos da sua fortuna, para Senhora do Bom Sucesso, os desconfiados da vida, para Senhora da Boa Morte, os pecadores todos, para Senhora da Graça, e todos os seus devotos, para Senhora da Glória.

“E se todas essas vozes se unirem em uma só voz, todas essas perguntas em uma só pergunta, e todas as respostas em uma só resposta, ou, mais abreviadamente, todos esses nomes em um só nome, dirão que nasce Maria para ser Maria, e para ser a Mãe de Jesus: Maria de qua natus est Jesus.”

terça-feira, 28 de abril de 2015

“Como é frequente esta cena!”


    Na sua infinita sabedoria, Nosso Senhor utiliza a parábola da vinha pertencente a um bom e honesto pai de família que a havia arrendado para alguns vinhateiros que se revelaram maus. De tempos em tempos ele enviava um de seus servos para receber o valor combinado do aluguel da propriedade. Mas seu representante era sempre escorraçado, apedrejado e morto pelos vis cultivadores, um tanto parecidos com os militantes do MST no Brasil de hoje.
    Acabrunhado com o que vinha acontecendo, ele resolveu enviar o seu próprio filho, na esperança de que fosse respeitado e recebesse a importância a que tinha direito por justiça. Mas em vão. Sabendo-o herdeiro da vinha, os lavradores o caluniaram, mataram-no e o lançaram fora da propriedade. Note o leitor que esta parábola o Divino Mestre a dirigiu aos sumos sacerdotes e aos fariseus no Templo, na semana que antecedeu a Sua crucifixão e morte.
    Os sacerdotes do Sinédrio – os maus lavradores – entenderam perfeitamente a parábola. O povo de Israel era a vinha mal administrada por eles... A grandeza da missão de cuidar desta vinha se vinculava ao fato de o pai de família a ter plantado, cercado de sebes, construído nela um lagar e edificado uma torre. Palavras candentes foram ditas por Jesus a respeito desta vinha predileta:
    “Jerusalém, Jerusalém, que mata os profetas e apedreja os que lhe foram enviados! Quantas vezes Eu quis reunir os seus filhos como a galinha reúne os seus pintainhos debaixo das suas asas, mas vós o rejeitastes! Eis que a vossa Casa ficará deserta. Eu vos digo que vós não me vereis mais até que digais: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor! ’” (Lc, 13, 34).
    Este pai de família do qual Jesus fala na parábola é Deus Pai, que trata o homem como filho. A vinha é a casa de Israel; a sebe que rodeava a vinha eram os anjos que a guardavam; a lei era representada pelo lagar; a torre simbolizava o Templo e os lavradores maus, os sacerdotes da época. Porque São Lucas nos ensina que é necessário cumprir em relação a Nosso Senhor tudo o que está na Lei, nos profetas e nos salmos.
    Com esta parábola Jesus quis ensinar aos sumos sacerdotes que por causa de suas infidelidades a vinha lhes seria tirada e oferecida a outros vinhateiros, que a fariam frutificar em tempo oportuno, pois no Antigo Testamento a vinha do Senhor era representada pela Igreja mosaica.
    A partir da Paixão e morte de Nosso Senhor, Ele fundou uma nova igreja, a verdadeira vinha, e A entregou aos apóstolos. A Igreja Católica se plasmou e percorreu os séculos por toda a face da terra. Em outra ocasião, Cristo confirma que por meio do batismo todos os Seus seguidores farão parte desta Igreja por Ele fundada.
    Ao dar a vinha a outros vinhateiros esparsos por toda a Terra, sentando-se à mesa com Abraão, Isaac e Jacob no reino de Deus, fica assim confirmada a verdade pregada por um dos profetas de que a pedra antes rejeitada tornou-se a pedra angular, coisa maravilhosa a nossos olhos.
    Nosso Senhor tornou-se a pedra angular, a cabeça do Corpo Místico que é a Igreja, pois sendo crucificado e morto por aqueles que O rejeitaram, dirigiu-se aos gentios, e juntos constituíram esta pedra angular. Dois povos, os da raça de Jesus e os da gentilidade, se tornaram uma só cidade fiel e um só templo.

    A pedra rejeitada pelos doutores da lei antiga e toda a cúpula judaica passou a ser a cabeça da Igreja, pedra angular da ogiva que une judeus e gentios. Eis o mandamento admirável: “Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. O que crê e for batizado será salvo; o que porém, não crê, será condenado”.
    A Igreja assim edificada passou a confirmar a sua doutrina por meio de milagres que acompanham os que creem: “Expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas, manusearão as serpentes, e se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará mal; imporão as mãos sobre os enfermos e serão curados.” (Mc. 16,15-18). A Igreja instituída por Jesus Cristo é divinamente santa, ainda que hoje seja difícil ver a Sua santidade em seu componente humano, pois o sal deixou de salgar.
    Encerro com um pequeno exame de consciência, que extraio de alguns trechos da Via Sacra escrita por Plinio Corrêa de Oliveira em abril de 1941 para o jornal “O Legionário”:
“No caminho de nossa vida, vemos a Igreja que passa perseguida, açoitada, caluniada, odiada, e, ó meu Deus, por vezes até traída por muitos que se dizem filhos da luz só para melhor poderem propagar as trevas. Vemos isto. Na aparência a Igreja está fraca, vacilante, agonizante talvez. Na realidade, Ela é divinamente forte, como Jesus. Mas nós só vemos a fraqueza com os olhos da carne.
    “E somos tão míopes com os olhos da fé, que discernimos a custo a invencível força divina que a conservará sempre e sempre. A Igreja vai ser derrotada. Vai morrer. Eu, pôr ao serviço dessa perseguida, dessa caluniada, dessa derrotada, a exuberância de minhas forças, de minha mocidade, de meu entusiasmo? Nunca! Distanciemo-nos.
    “Não somos Cireneus. Cuidemos só e só de nossos interesses. Seremos advogados prósperos, comerciantes ricos, engenheiros bem colocados, médicos de boa clientela, jornalistas ilustres ou prestigiosos professores. E só no dia do Juízo é que compreenderemos o que perdemos quando a Santa Igreja passou por nosso caminho, e nós não a ajudamos!”
     E o ardoroso líder católico apontava o caminho: “Apostolado! Apostolado saturado de oração, impregnado de sacrifício. É este o meio pelo qual devemos ser Cireneus da Santa Igreja.”

sábado, 11 de abril de 2015

O vencedor da morte
Pe. David Francisquini

Tal é o temor dos inimigos de Nosso Senhor que, mesmo depois de Lhe infligir morte de cruz, arrancaram de Pilatos autorização para que o Seu sepulcro fosse selado e vigiado por guardas. Mas o ódio deles era perfeito. Não se contentaram com aquilo. Era preciso difamar, acusar o Inocente de sedutor; acusar os seus discípulos de embusteiros, capazes até de violar o sepulcro e roubarem o corpo do Senhor. Com efeito, a situação de todos aqueles que tramaram a Sua morte ficaria pior do que antes caso Cristo ressuscitasse.
Além de matar o Divino Salvador, era preciso conspurcar a sua honra. Quanto aos discípulos, tímidos e medrosos, jamais fariam por si mesmos aquilo que os inimigos lhes atribuíam. Eles, os algozes, conheciam os milagres de Nosso Senhor, inclusive a ressurreição de Lázaro. Conheciam a Sua vida exemplar, constante censura para eles. Jesus Cristo era a própria vida! Caso Ele ressuscitasse, pairaria sobre os criminosos uma séria ameaça. Seria o fim de uma vida fácil e despreocupada advinda do prestígio do mando.
Deus Pai, depois de criar o Céu e a Terra, criou numa sexta-feira o homem à Sua imagem e semelhança, e no sábado descansou. Cristo, por sua vez, morre numa sexta-feira e descansa tranquilo o sono dos justos no repouso do sepulcro. Como o profeta Jonas, que fica três dias e três noites no ventre da baleia, Cristo enquanto homem fica no seio da terra. Não há como contestar!
Posto que a nação judaica O rejeitara por infidelidade e incredulidade, os discípulos de Jesus tomaram o Antigo e o Novo Testamento e estabeleceram a Igreja Católica Apostólica Romana, fundada por Ele com as palavras: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Ela frutificou entre os povos pagãos, sobretudo pela ação dos apóstolos, ao levar-lhes a boa-nova de Cristo ressuscitado para que pudessem crer. Assim nasceu e foi moldada a civilização cristã.
Ao imaginar a Ressurreição de Cristo, aqueles que tramaram a Sua morte temeram, pois sua situação ficaria muito pior do que antes... Ao reconhecerem a verdade da Ressurreição pela boca dos guardas, desprezaram o arrependimento e a contrição do crime, e não fizeram penitência.
São Mateus, em sua narração evangélica, afirma que alguns guardas foram até à cidade dar a notícia da Ressurreição. Apenas tomaram conhecimento dela, os príncipes dos sacerdotes se reuniram e deliberaram subornar com grande soma de dinheiro aqueles guardas, para que dissessem que enquanto dormiam os discípulos roubaram o corpo do Senhor...
Foi por meio do dinheiro que os inimigos de Jesus manifestaram a sua ignomínia comprando Judas, o infame que entregou Jesus à morte. Foi também pelo dinheiro que os guardas se venderam para satisfazer os seus interesses mesquinhos e escusos. Tratava-se de dinheiro sagrado do Templo, mas os príncipes dos sacerdotes não tiveram escrúpulos ao desviar grande soma dele para propalar a mentira e negar a Ressurreição.
Não se contentaram, diz São Severo, em matar o Mestre, mas procuraram um meio de perder os discípulos, fazendo-os passar por criminosos diante do poder estabelecido. É incontestável que os soldados se deixaram corromper; os judeus haviam perdido a sua vítima e os discípulos recobrado o seu Mestre, não através do furto, mas pela fé; não pelo engano, senão pela virtude; não pelo crime, senão pela santidade; não morto, senão vivo.
Em sua maldade, a cúpula judaica acabou por fazer brilhar ainda com mais esplendor a grandeza do mistério que a Igreja comemora, pois o dinheiro para silenciar a Ressurreição de Cristo ressaltou a verdade. O verdadeiro Cordeiro Pascal imolado Se levanta glorioso e triunfante do sepulcro como vencedor da morte, do demônio, do mundo e da carne, para brilhar como um sol que espanca as trevas que cobrem o mundo e assentar sobre os escombros deste uma nova civilização marcada pela cruz.

Cristo ressuscitado, ao sair vitorioso do sepulcro, nos dá a esperança de uma nova civilização que raiará sobre o mundo descomposto em que vivemos. Os que permanecerem inabaláveis nos princípios perenes, unidos à Maria Santíssima, não terão o que temer, pois contam com a promessa de que as portas do inferno não prevalecerão.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

A maior tragédia da História 

Pe. David Francisquini

Não conseguindo incriminar Jesus, os sacerdotes contaram com a figura sinistra de Judas Iscariotes, um dos doze apóstolos, que nutria a pior das intenções em relação ao Mestre”
Sem temer a Deus e cometendo o maior crime de todos os tempos, a única preocupação dos príncipes dos sacerdotes ao se aproximar a Páscoa era de condenar Jesus Cristo à morte de Cruz. E procuravam afanosamente um meio para fazê-lo, cuidando para que o povo não soubesse de seus desígnios, pelo receio de uma sublevação.
Com os olhos postos apenas no campo temporal e político, a inveja dos sacerdotes lhes carcomia o coração. Procuravam uma justificativa para o crime como meio de aliviar suas consciências ímpias, agitadas pelo ódio diante dos grandes milagres de Jesus e da correspondente manifestação de afeto que o povo Lhe votava.
A ressurreição de Lázaro os deixou ainda mais perturbados, pois tendo Jesus encontrado seu amigo jazendo havia quatro dias na sepultura, ergue Sua voz de poder infinito e ordena a Lázaro que venha para fora. Compreende-se com facilidade a multidão que acorreu às ruas no Domingo de Ramos para aclamá-Lo filho de David, portanto, Rei.
Não conseguindo incriminar Jesus, os sacerdotes contaram com a figura sinistra de Judas Iscariotes, um dos doze apóstolos, que nutria a pior das intenções em relação ao Mestre. Ficou acertado de parte a parte que Judas receberia trinta dinheiros como paga de seu ofício sacrílego. As portas se abriram para que se consumasse a traição.
Judas abriu então seu coração a satanás. Com efeito, o Evangelho afirma que o demônio apossou-se dele por causa de sua ganância, insensibilidade e cobiça. Havia muito que Judas se voltara tão-só para a satisfação de seus próprios interesses e caprichos, pois sonhava em ocupar alta posição no Reino do Divino Mestre.
Nele não havia admiração ou enlevo pelo Divino Mestre, que conduziria ao desapego e à dedicação, mas seu arraigado desamor fazia com que tudo aquilo que era lançado na bolsa para o bem comum de todos, ele apropriava para si. Muitos ficavam perplexos diante da brutalidade de Judas, não entendendo por que Jesus o tolerava entre os seus escolhidos. Sendo Deus, como poderia ter escolhido um homem tão vil para evangelizar a Terra?
Isso não quer dizer que Judas, o traidor infame, tenha se corrompido de uma hora para outra. Ao entrar no Colégio Apostólico, ele certamente teve verdadeira admiração pelo Divino Mestre. Mas à medida que se deixava aliciar pela avareza foi paulatinamente se distanciando, até perpetrar a traição mais abjeta da História.
 Percebendo a decadência de Judas e sabendo que ele era o homem previsto pelos profetas para consumar a sua traição, Jesus fez de tudo para dissuadi-lo. E São João narra que Iscariotes, ao receber um pedaço de pão molhado no vinho, sinal de distinção e apreço, renunciou esta última graça, e satanás entrara em seu coração.
Segundo Santo Agostinho, ao tolerar Judas no Colégio Apostólico, Jesus quis ensinar às gerações futuras que poderia haver bispos e hierarcas que incorreriam em deslizes, maus exemplos e mesmo em heresias, facilitando assim ao povo fiel a compreensão das tramas que se dariam no seio da Igreja.
Assim, vislumbramos as traições perpetradas por heresiarcas dentro das fileiras católicas ao longo dos séculos. Judas, escolhido pelo próprio Nosso Senhor, aliou-se aos inimigos e decidiu liquidar com Aquele que veio à Terra fazer o bem. É triste recordar essa verdade, na mesma noite em que Cristo quis permanecer entre nós pela Eucaristia.
A palavra de Nosso Senhor ecoou entre os apóstolos... “Ai daquele por quem o Filho
do homem será entregue; melhor fora que não tivesse nascido”. Sua profecia deixou a todos desconcertados. Mas, ao mesmo tempo, Ele nunca deixava de lhes fazer sentir sua grande bondade e poder para tirar as almas pecadoras do vício e do mal.
Ao proferir essas palavras relativas a Judas, Cristo nos faz compreender a malícia do traidor, que não se dissuadiu e consumou a sua perfídia. Mesmo participando do mais elevado mistério daquela noite, a Eucaristia, ele não se converteu, tornando-se sua culpa por isso ainda maior, pois se aproximou da Sagrada Mesa com o intuito de entregar Jesus aos seus algozes.
Nosso Senhor não declinou o nome de Iscariotes para que este não ficasse espiritualmente ainda pior. Apenas assinalou o crime e o castigo ao qual incorreria quem o praticasse, para que a ameaça levasse Judas a afastar-se de sua má conduta.
Osculando-o no Jardim das Oliveiras, Jesus o trata como amigo: “Amigo, a quê vieste? Com um ósculo trais o Filho do homem?”. Jesus o disse com tanta bondade e censura, que era para Judas ter-se ajoelhado diante d’Ele e pedido perdão. No entanto, permaneceu insensível em relação à ferocidade do crime que acabava de cometer.

Apanhou o dinheiro das mãos dos inimigos em paga de sua traição... e foi se enforcar.

domingo, 22 de março de 2015

Inferno: os tempos mudaram?

*Padre David Francisquini

Imaginemos um teólogo em cujo espírito germinasse uma ideia nova sobre uma doutrina já consagrada e sempre ensinada na Igreja Católica, qual seja a da existência do inferno e de sua eternidade. Era de se supor que ele bem poderia colocar em risco seu futuro e cair no ostracismo.
Em não longínquo passado o ex-frei Leonardo Boff foi condenado pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé e reduzido ao silêncio por defender erros teológicos. Ele voltou a ensinar o erro ao afirmar, a respeito de um poeta pernambucano prestes a morrer, que Deus não condena ninguém para sempre.
Ora, a fé nos assegura que o fogo do inferno e os tormentos dos condenados são eternos. Não se trata de opiniões controvertidas entre os teólogos e estudiosos. A eternidade do inferno é uma verdade de fé que nenhuma autoridade pode mudar — nem sequer o Papa —, pois está expressa nas próprias Sagradas Escrituras, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento.
As Escrituras opõem-se à ideia de que o inferno não seja eterno ao afirmar: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno” (Mt 25, 41). De onde se segue que, se o fogo é eterno, também o é o suplício do condenado. Não haveria razão para Deus ter criado um fogo eterno se não fosse para castigar eternamente os condenados.
Em outro lugar nas Escrituras pode-se ler: “Irão estes para o fogo eterno” (idem 46). “Ir para a geena, para o fogo inextinguível, onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga” (Mc 9, 43 a 44). No Apocalipse 14, 11 está escrito: “A fumaça dos seus tormentos subirá pelos séculos dos séculos. Não terão descanso algum, nem de dia nem de noite, esses que adoram a besta e a sua imagem, e todo aquele que acaso tenha recebido o sinal do seu nome”.
Uma pena que não fosse eterna — e durasse pouco — faria com que o inferno deixasse de ser inferno e Deus deixasse de ser Deus. Ao meditar sobre a eternidade do inferno, Santo Afonso Maria de Ligório nos sugere multiplicar todos os milhões de anos em infinitas vezes. O resultado dessa multiplicação mostraria que o inferno estaria apenas começando…
Uma coisa é a bondade de Deus, que persegue o pecador para convertê-lo, afastá-lo do mau caminho, concedendo-lhe graças, dons, e até mesmo castigos. Outra coisa é a bondade e a misericórdia da Igreja, sempre de coração aberto e mãos estendidas para receber e perdoar o pecador convertido.
Não podemos confundir esse pecador com aquele que não abandona o seu mau procedimento e morre empedernido. Se assim viveu e morreu foi por sua própria culpa. Escolheu livre e espontaneamente o lugar que se chama inferno. Deus dá o prêmio aos bons e o castigo aos maus.
Como Deus é eterno, também eternos são o prêmio e o castigo. Deus deixaria de ser Deus se fosse apenas misericordioso e não desse o prêmio e o castigo de acordo com as obras. Deus é misericordioso porque justo.  Esta eternidade é de fé, porque revelada por Deus, e não uma simples opinião.
 “Apartai-vos de Mim malditos para o fogo eterno. Irão estes ao suplício eterno. Pagarão a pena da eterna perdição. Todos serão assolados pelo fogo” (Mt 25, 41. 46; 1Ts1,8; Mc 9,48). Assim como o sal conserva o alimento, o fogo do inferno atormenta os condenados, mas ao mesmo tempo tem a propriedade do sal ao conservar-lhes a vida.
“Ali o fogo consome de tal modo — disse São Bernardo — que conserva sempre”. Santo Afonso ensina:“O poço não fecha a sua boca, porque se fechar a abertura em cima, se abrirá em baixo para devorar os réprobos”. Continua ele: “Enquanto vivo, o pecador pode ter alguma esperança, mas, se a morte o surpreender em pecado, perderá toda esperança” (Pr 11,7).
Continua ainda mais: "Se os condenados pudessem ao menos embalar-se em alguma enganosa ilusão que aliviasse o seu desespero horrível… Afinal, um infeliz delinquente condenado à prisão perpétua também procura alívio em seu pesar, na esperança remota de evadir-se e obter assim a liberdade.
Mas o condenado não pode sequer ter a ilusão de que um dia poderá sair de sua prisão! Não, no inferno não há esperança. O desgraçado réprobo terá sempre diante de si a sentença que o obriga a gemer perpetuamente nesse cárcere de sofrimentos."
“Uns para a vida eterna, e outros para o opróbrio que terão sempre diante dos olhos” (Dn 12,2). Para Santo Afonso, o réprobo não sofre somente a pena de cada instante, mas sofre a cada instante a pena da eternidade.
Eis o que está escrito no Eclesiastes: “Quando as nuvens estiverem carregadas, derramarão chuvas sobre a terra. Se a árvore cair para a parte do meio dia, ou para a do norte, em qualquer lugar onde cair, ficará” (Ecl. 11, 3).
Tal é a sorte do justo e do pecador: ficará para sempre, no Céu ou no inferno.

domingo, 1 de março de 2015

Armadura de Deus e couraça da justiça


Primeira tentação transformar as pedras em pães
Nosso Senhor Jesus Cristo veio à Terra como verdadeiro Deus-Homem, porque revestindo-se toda ofensa ao Criador de uma gravidade infinita, somente outro Ser infinito seria capaz de resgatar a humanidade pecadora.
 Se Jesus foi tentado pelo demônio no deserto, tal não se deveu às suas paixões ou más inclinações, absolutamente inexistentes, mas à argúcia e experiência do Maligno, que queria saber quem era aquele homem, se era realmente o Filho de Deus.
            São Mateus narra que Nosso Senhor foi conduzido pelo Espírito ao deserto, onde foi tentado pelo diabo ao final dos 40 dias e 40 noites de jejum, quando teve fome. Com inteligência angélica, o demônio arquitetou um plano nefasto para tentá-Lo através de três seduções. Serviu-se assim da fome, do prestígio e honrarias do poder e, das riquezas que costumam levar os homens a se distanciarem da Lei de Deus.
       O que estava nos sinistros e monstruosos cálculos do demônio era transferir para si a fidelidade de Jesus a Deus. O Divino Mestre agiu com sabedoria e perfeição, inteligência e habilidade, deixando o demônio confuso, humilhado e destronado, pois só Deus deve ser amado e conhecido. Numa grande missão, Ele veio aniquilar o reino que satanás edificara havia tantos séculos.
Segunda tentação lançar daqui abaixo
No mesmo lugar em que os nossos primeiros pais foram infiéis e derrotados, Jesus Cristo venceu a batalha contra satanás e os anjos rebeldes. Concedeu-nos Ele assim o remédio eficaz e salutar para que também nós pudéssemos lu

Deus permite as tentações para nos dar ocasião de granjear méritos e manifestar o nosso valor no manejo das armas que Jesus Cristo nos conquistou. Diz o arca
njo Rafael a Tobias: “Por seres agradável a Deus, foi necessário que a tentação te provasse”. Com efeito, ensina-nos Nosso Senhor no Pai-Nosso: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”. tar e vencer os inimigos. A tentação é um encanto interior provocado pela nossa natureza depravada ou pela influência do demônio para que violemos a Lei de Deus.
Conseguimos essa força para combater as tentações pela oração, pelo trabalho constante, pelo pensamento frequente em Deus, pelo exercício de domínio sobre as nossas inclinações e paixões desordenadas, bem como pela devoção à Virgem Imaculada, tão recomendada pela Igreja, enaltecida pelos santos, Àquela que é o terror dos demônios.
Terceira tentação oferece os Reinos do mundo e suas
riquezas
A perseguição mais frequente e habitual do espírito das trevas constitui em desviar a alma do bom caminho servindo-se do mundo e da nossa natureza corrompida. São Pedro alerta a todos para vigiar e orar, porque o demônio, como um leão voraz, está ao nosso redor procurando nos devorar pela tentação.
Por sua vez, São Paulo Apóstolo nos convida a resistir às ciladas do demônio, porque nossa luta não é contra a carne e o sangue, mas contra os principados e as potestades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares. Aconselha-nos ainda a tomar a armadura de Deus para resistir no dia mau.
Inspirado pelo Divino Espírito Santo, ele compara cada combatente a um soldado revestido da armadura de Deus e a couraça da justiça, que guiado pela fé e pelo espírito guerreiro sai sempre vitorioso.  O cristão diligente na observância da lei do Altíssimo está revestido do poder de Deus, que é a graça divina e os princípios cristãos.

Pretendo retomar o tema tão logo me seja possível. Até lá.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Odeio a classe média

*Pe. David Francisquini


Circulou e ainda circula pela internet um vídeo no qual a Profa. Marilene Chauí – sob os olhares complacentes, gargalhadas e aplausos do Sr. Lula da Silva –, afirmou odiar a classe média pelo fato de a mesma ser conservadora, fascista, terrorista, petulante, estúpida, ignorante, de ser um atraso de vida, e outras coisas mais http://www.youtube.com/watch?v=uhpsgGjDuI4
Referiu-se ainda ao programa ‘bolsa família’ como representando grande avanço na liberdade e emancipação da mulher em razão de ter contribuído para mudar o conjunto de relações interpessoais ao alterar a maneira tradicional de configurar a família trabalhadora no Brasil, e em consequência deixou a mulher financeiramente autônoma do marido.
Para a intelectual revolucionária apresentada como figura exponencial do pensamento filosófico do PT, tal conquista da mulher configurou uma vitória mais importante do que 60 anos de luta feminista, portanto uma ação ‘maravilhosa’ do governo petista na mudança de mentalidade da conservadora sociedade brasileira a justo título herdeira dos princípios cristãos.
O que se depreende de sua conferência é a luta de classes condenada pelos papas de Leão XIII a Bento XVI, pois o mandato divino que impõe ao casal a união em um só corpo para constituir uma só família ficou fragmentado em decorrência da ideia de o Deus transcendente, regulador de todas as coisas, ter deixado de ser o centro da vida do homem.
São Paulo afirma que a mulher não deve se separar do marido e que, se o fizer, fique sem casar ou se reconcilie com ele. Por sua vez, o marido não deve repudiar a sua mulher. Mas, com a nova doutrina do PT, a mulher deve ser independente, dona de seu próprio dinheiro, totalmente livre, e não deve dizer ao marido o que ela faz ou deixa de fazer.
A proposta da professora da USP e amiga do PT se contrapõe ao ensinamento contido na Sagrada Escritura, que manda a mulher estar sujeita ao marido, e este de amar a sua esposa, como Cristo faz com a Igreja. Fácil concluir que a mulher acaba por se tornar um corpo estranho dentro do lar quando declara sua rebeldia e sua revolta a um ditame divino.
Irrisão! Ao introduzir o programa ‘bolsa família’, o PT não faz senão fragmentar a família, instituída por Deus para a perpetuação da espécie humana e comparada por São Paulo à figura e imagem da Igreja em relação a Jesus Cristo. Disto a professora petista não só passa recibo, mas se gaba, regozijando-se em destruir. 
Ela odeia a classe média por ser veículo da tradição e de valores morais e psicológicos, por constituir um fator de equilíbrio da sociedade. Na epístola aos efésios, São Paulo pede mais uma vez que todos obedeçam aos seus senhores temporais com reverência e solicitude, com sinceridade de coração, como se servissem ao Senhor, e não aos homens.
 “E vós, os senhores, fazei o mesmo com eles, pondo de parte as ameaças, sabendo que o Senhor, tanto deles quanto vosso, está nos Céus e que não faz acepção de pessoas” (Efésios, 6, 1-9). Nota-se que o PT ensina, pela palavra e pelo exemplo, o ódio, a desarmonia, a rixa, a falcatrua e a libertinagem; um partido ateu, materialista, que prega o ódio e a luta de classes.

domingo, 1 de fevereiro de 2015


O exorcista
*Pe. David Francisquini

jesus liberta um possesso
As Sagradas Escrituras apresentam muitos casos de possessão diabólica, quando um ou mais demônios se apoderam das pessoas. No Novo Testamento, o evangelista São Mateus cita o mandado de Jesus Cristo: “Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios” (Mt 10,8).
Para São Boaventura, a argúcia e a espiritualidade dos demônios os levam a penetrar nos corpos e neles se fixarem; por sua força angélica, eles podem atormentá-los, a menos que o impeça um agente superior, ou seja, um padre exorcista. Adolphe Tanquerey, teólogo francês, assim explica a ação do demônio sobre os homens:
“Cioso de imitar a ação divina na alma dos santos, esforça-se o demônio por exercer também o seu império, ou antes, a sua tirania sobre os homens. Às vezes (...) instala-se no corpo e move-o a seu talante, como se fosse senhor dele, a fim de lançar a perturbação na alma”. A este fenômeno se chama possessão.
Os porcos se lançam nas profundezas do mar, após N.S.
ter expulsado o demônio
O possuído, às vezes se contorce, fala palavrões, se movimenta como se fosse uma serpente, se debate, quebra tudo ao seu redor, seus olhos se movimentam desordenadamente, entende a língua latina com perfeição, exerce uma ação demasiadamente grande, que usa da força que um ser humano é incapaz. Na residência onde vive ele impõe a desordem e o desequilíbrio.
A sua atuação, na cidade ou na região, é como se fosse uma cabeça de ponte para as influências malignas, em oposição à ação benfazeja da Eucaristia no sacrário. Sem dúvida, exerce uma ação diametralmente oposta à influência sacralizante da Igreja na sociedade.
Isso explica a razão pela qual as tendências, os humores, os pendores e as inclinações das pessoas da região onde vive o possesso fiquem mais vulneráveis às tentações e às infestações, bem como à aceitação de certas ideias, chavões, mentiras, boatos e pecados. Trata-se de uma ação sobre a opinião pública, criando clima psicológico favorável a atuação dos maus. O Ritual Romano – livro oficial do cerimonial eclesiástico – explica os sinais pelos quais se conhece a possessão.
O antídoto eficiente para combatê-la é o exorcismo, feito em nome de Deus e da Igreja. Ele
São Francisco de Assis no ministério do exorcitato,
expulsa os demônios pelas suas virtudes e oração em Arezzo
não apenas põe em fuga o demônio, devolvendo a paz à alma, mas abala todo o edifício satânico. A doutrina da ‘comunhão dos santos’ ensina que há comunicação espiritual entre os membros da Igreja. Por que não haveria a ‘comunhão dos condenados’?
Uma figura adequada para retratar esta realidade é a dos vasos comunicantes. Na comunhão dos santos, uma alma que faça um ato de virtude potencializa todas as virtudes dos fiéis e dos santos. Na ‘comunhão dos demônios’, um demônio que se apodera do corpo comunica a sua perfídia a todos os seus congêneres da terra, dos ares e do inferno. 
A possessão de um corpo equivale, portanto, a uma torre de comando através da qual os demônios exercem a sua ação malfazeja para destruir a sociedade. Só o exorcista tem o poder de quebrar esta comunicação entre os demônios e os homens, pois não basta uma simples pregação, um conselho ou uma admoestação. Isto ajuda, mas não basta.
Pela comunhão dos santos, o exorcista enxota o demônio com essas palavras: “Conjuro-te diante de Deus e pela autoridade a mim concedida pela Igreja, retira-te espírito maligno desta pobre criatura, em nome de Deus Pai, em nome de Deus Filho, em nome de Deus Espírito Santo, em nome da Santíssima Virgem e de todos os anjos e santos da Corte Celestial, retira-te espírito maligno e não o apoderes mais”.
Beato Palau, Exorcista
Esta ação do sacerdote, investido do poder divino e agindo em nome da Igreja, obriga o demônio a se retirar. Aparentemente ignorada, tal ação repercute na Corte celeste, na luta dos bons contra os maus. Pois se ao vicejar um vício todos os demais vícios ficam motivados e abalam as virtudes que se lhes são opostas, assim também se passa com a virtude: quando uma boa ação é praticada, todas as demais se revigoram.

Com efeito, nenhuma ação do homem é indiferente. Ao deixar o possuído, o demônio se contorce, estertora, lança-se de um lado para o outro; a estrutura dos demônios fica abalada pelas consequências daquela derrota. Em contrapartida, os fiéis se sentem fortalecidos nas suas virtudes, e Deus, Nossa Senhora e a Santa Igreja são glorificados.

domingo, 11 de janeiro de 2015


Maria e José: corte e serviço régios

Pe. David Francisquini
São Pedro Julião Eymard comenta que Deus Pai, ao enviar seu Filho à Terra, quis fazê-lo com honra, pois Ele é digno de toda honra e de todo louvor. Por isso Lhe preparou uma corte e um serviço régios. Deus desejava que seu Filho encontrasse recepção digna e gloriosa, se não aos olhos do mundo, pelo menos aos seus próprios olhos.
A corte do Filho de Deus compõe-se de Maria e de José. Com efeito, São Bernardino de Siena afirma que Maria foi a mais nobre das criaturas que jamais houve e haverá. São Mateus mostra que Ela é descendente de catorze Patriarcas, catorze Reis e catorze Príncipes. Também em São José desfechou toda a dignidade patriarcal, régia e principesca.
Jesus, Maria e José constituem o mais luminoso exemplo de vida e de instituição familiar, civil e religiosa. Ao lermos nos Santos Evangelhos e nos escritos dos Santos o que a piedade popular convencionou chamar com toda propriedade de Sagrada Família, podemos tirar lições profundas que à maneira de farol nos servem de guia em meio à tempestade.
Sim, em meio à procela que se abate hoje sobre os verdadeiros seguidores de Jesus Cristo, pois até Ele foi odiado no seu Presépio e ameaçado de morte, a ponto de a Sagrada Família se vir obrigada a buscar refúgio no Egito. “Que José tomasse o Menino e partisse para o Egito”, porque Herodes O procurava para matá-Lo.
Quando o anjo apareceu, José dormia, distante dos cuidados da terra e das preocupações mundanas. Somente ele, como chefe da casa, era digno de gozar das visões do alto. O embaixador celeste então lhe diz: “Levanta-te, toma o menino e a Sua Mãe”. Com estas palavras, o anjo reconhece outro título de Maria: Mãe de Jesus, que é Deus.
Como chefe da família de Nazaré, José se apresenta incumbido de preservar os fundamentos de sua família, e com isto torna-se exemplo para todos os casais.
Ao levar Jesus e Maria para o Egito, José cumpria o que estava escrito na Escritura: do Egito chamei meu Filho. O próprio Jesus teve de fugir de seu povo para se abrigar junto a outro povo que outrora fora perseguidor dos hebreus. Assim agindo, José levava um remédio para curar os males que afligiram o Egito, como as dez pragas.
Nosso Senhor levou a luz para esses povos que estavam submersos nas trevas. José, ao partir com Jesus e Maria, saiu durante a noite, no meio das trevas. Ao voltar para a Judéia, ele o fez durante o dia porque aquelas preocupações haviam passado.
Como pai adotivo e esposo de Maria, competia a São José por direito conduzir o Menino Deus a diversas regiões, prefigurando os apóstolos que deveriam levá-Lo ao o mundo inteiro por meio da pregação. São Lucas descreve a ida do Menino, aos 12 anos de idade, com os pais a Jerusalém, ocasião em que se manifestou n’Ele a sabedoria.
Tendo a sabedoria se manifestado no Menino, e com ela a expressão da universalidade das coisas e dos tempos, a luz de Cristo chegou a todos os lugares em todos os tempos. Acabada a festa, o Menino deixou-se ficar em Jerusalém.
Ele quis assim Se ocultar, não para contrariar seus pais e deixá-los preocupados, mas para fazer a vontade do Padre Eterno. Sendo Jesus o Filho de Deus, objeto de tanto cuidado por parte de seus pais, como pôde ter sido esquecido? Cabe, porém, ressaltar o costume que há entre os judeus de que os homens e as mulheres podiam ir em comitivas distintas, enquanto os meninos podiam ir com o pai ou com a mãe.
Após três dias que pareceram uma eternidade, Jesus e Maria encontraram por fim seu Divino Filho. Ele estava no Templo, sentado entre os Doutores da Lei, que ora O escutavam, ora Lhe perguntavam, pasmos com a Sua sabedoria.
Maria manifesta a dor que sentia em seu coração: Teu pai e eu te procurávamos aflitos. E Ele disse: Não sabias que devo me preocupar com as coisas que são de Meu Pai? Para dar a entender que há em Jesus duas naturezas distintas: a divina e a humana.
Buscam e encontram o Menino no Templo, para amá-Lo e seguir os Seus ensinamentos. Saindo do Templo, encontramo-Lo no lar de Nazaré, levando a vida como um filho exemplar, ensinando-nos a humildade e a obediência, pois a obediência é o fundamento da vida cristã.
Assim se resume o restante da vida de Jesus na casa de Nazaré. Na obediência aos pais, ensinava a todos os homens que todo aquele que se aperfeiçoa na vida da graça e da virtude deve abraçar a obediência como meio infalível de se chegar ao bem. Ele se submeteu humilde e respeitosamente ao trabalho corporal.

Embora honestos e justos, seus pais eram pobres e tinham de buscar sustento para a vida com o próprio suor. E Jesus tomava parte nos trabalhos de seus pais obedecendo-lhes em tudo. A propósito, disse Santo Agostinho:o jugo de Nosso Senhor tem asas que nos elevam acima da terra”.