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domingo, 6 de dezembro de 2015

Maria Imaculada, obra-prima de Deus

Padre David Francisquini



Ao considerar o universo em sua unidade e variedade, em sua perfeição e esplendor, em sua hierarquia harmônica e matizada, não se pode deixar de admirar nas criaturas a grandeza sem medida de uma ordem perfeita e equilibrada. Na sua simplicidade e alvura, o lírio, por exemplo, foi enaltecido pelo divino Salvador, quando disse que nem Salomão em toda a sua pompa e majestade se vestiu como um deles.
O sol no seu esplendor faz as criaturas ser aquilo que elas são: um encanto inigualável para o próprio Criador, para os anjos e para os homens.  A gota de orvalho, que não existiria ou não seria vista sem a luz, constitui um pequeno mundo de maravilhas, sobretudo quando repousam sobre graciosas e coloridas pétalas de rosa, que nenhuma troca amistosa de cortesias emula em beleza, leveza e graça. O cristal puro e alvo, atravessado pelos raios do sol é capaz de transformar um ambiente num mundo de fadas. Assim Deus, na sua infinita sabedoria, criou o mundo para cercar o homem de perfeições e de maravilhas que fossem luzes reflexas d’Ele e assim tributar-Lhe as devidas homenagens. Em outro patamar da hierarquia encontram-se as pedras preciosas e semipreciosas, como o jaspe, a esmeralda, a ametista, o brilhante, entre outras.




 Entre os metais, o ouro e a prata são símbolos que refletem realidades superiores, mais altas, mais nobres e distintas. Em seguida, podemos contemplar as flores, as plantas, os arbustos e as árvores. Em outro escalão as aves, os pássaros e tudo que enaltece a Deus e proclama a Sua magnificência dentro desta ordem inexcedível. Há, entretanto, algo mais além, pois tal ordem foi posta por Deus para refletir a Sua obra-prima, Maria Santíssima.



Para utilizar linguagem figurada e simbólica, a Mãe de Deus é um oceano de perfeições e de graças por ser Ela quem é. O grande devoto de Nossa Senhora, São Luís Maria Grignion de Montfort, ao descrevê-La assim se expressou: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e chamou-as Maria. Este grande Deus tem um tesouro, um depósito riquíssimo, onde encerrou tudo que há de belo, brilhante, raro e precioso, até seu próprio Filho; e este tesouro imenso é Maria, que os anjos chamam o tesouro do Senhor, e de cuja plenitude os homens se enriquecem”.


Convém ressaltar que Cristo, por ser Deus, não podia ter pecado original. Maria Santíssima foi isenta do pecado por um especial privilégio outorgado pelo próprio Deus, por ter sido eleita para d’Ele se tornar Mãe. Ao agir assim, a Santíssima Trindade fez o caminho inverso da primeira mulher que introduziu o pecado no Mundo por sua desobediência, dispondo que Maria fosse o contrário dessa mulher ao inocentá-La e isentá-La da nódoa do pecado original. O que Eva perdeu por orgulho e desobediência, Maria conquistou pela sua humildade e obediência, merecendo que o próprio Deus fizesse n’Ela maravilhas.
O Anjo Gabriel chamou-a de “cheia de graças” e Santa Isabel, de “bendita entre todas as mulheres”. A inteligência de Maria não se ofuscou, sua vontade não se enfraqueceu, e Ela nunca teve inclinação para o mal. Maria conquistou todas as graças e se tornou agradável a Deus. E pelo privilégio singular de ter sido concebida sem pecado, nasceu imaculada – portanto, com o direito, por nascimento e por conquista, à prerrogativa perfeita de ser Mãe de Deus, para que seu Filho redimisse o gênero humano das consequências do pecado original.
Após afirmar que todos pecaram em Adão, São Paulo sustenta com fundamento que, na vontade de Adão, como chefe e cabeça do gênero humano, estavam todas as vontades. Maria Santíssima, pertencendo à raça humana, pertenceu a uma raça pecadora, mas sem ter jamais pecado, pois Deus, por privilégio singular, A preservou no primeiro instante de contrair a nódoa original, já que era predestinada a ser a Mãe do Salvador do mundo. Repugna ao próprio Deus conviver e ser gerado por uma mãe pecadora, pois Jesus Cristo deveria ser a coroa e a perfeição de todas as criaturas.

Por isso a iconografia representa Maria Santíssima esmagando a serpente infernal e tendo os braços abertos para indicar que Ela trouxe o Autor da graça, o Redentor divino que nos deu a redenção e abriu as portas do Céu. No dia 8 de dezembro, o Papa Pio IX proclamou solenemente o dogma de sua Imaculada Conceição. Com estas palavras presto o meu tributo filial à Mãe de Deus, pedindo-lhe que vele por todos os leitores. 

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

“Ser ou não ser, eis a questão”


*Padre David Francisquini  



São Pio X fulminou o Modernismo como uma anátema.

O Modernismo se metamorfoseou no Progressismo.


Segundo a Palavra revelada e o Magistério perene da Igreja, para haver unidade familiar é imperativo que o vínculo matrimonial seja indissolúvel. Este princípio, vincado até cerca de cinco décadas atrás no espírito dos fiéis católicos, vem se evanescendo em decorrência da revolução cultural que se opera desde então na sociedade civil, bem como do tsunami progressista que faz devastações na esfera religiosa.

Como pároco de uma cidade de porte médio no Norte fluminense, o assunto vem constantemente à baila no meu dia-a-dia, quando fiéis me pedem uma palavra clara que lhes dissipe dúvidas e não poucas perplexidades diante do que vem ocorrendo ultimamente.

Devido a um difuso, mas não menos real patrulhamento ideológico de certos lobbies, não tem sido tarefa fácil para um pastor tratar de púlpito — ou seja, alto e bom som — a respeito do vínculo matrimonial.

Talvez seja essa a razão do silêncio enigmático de muitos confrades sacerdotes sobre matéria tão importante para a vida da Igreja e da sociedade.


Por exemplo, o fato de se deixar aberta a porta dos fundos de uma igreja para que pessoas recasadas ou divorciadas possam entrar para receber a eucaristia — conforme disse recentemente em sólida e corajosa declaração de D. Athanasius Schneider (bispo de Astana, Cazaquistão) — parece-me procedimento análogo ao de alguém que deixa semiaberta a porta de sua casa, facilitando assim a vida do assaltante.

Tal procedimento equivaleria a sujeitar a verdade a conviver com o erro, a lealdade com a mentira e a virtude com o vício. Nesse conúbio espúrio, a verdade perderá o seu direito de se mostrar à luz do dia, do mesmo modo como uma moeda verdadeira é posta fora de circulação pelo advento de uma moeda falsa.

Se recorrermos à filosofia, essa convivência viola cabalmente o princípio de não- contradição, o qual afirma que uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Nosso Senhor disse que ninguém pode servir a dois senhores, pois cedo ou tarde haverá de amar um e odiar o outro, e vice-versa.

A essência de toda a verdade nos obriga a nunca tolerar o princípio que a contradiz, pois afirmar uma coisa equivale a rejeitar a que se lhe opõe. Assim como a luz recusa as trevas, a verdade exclui o erro.
Sínodo sobre a família


Fala-se muito hoje de pastoral. O Concílio Vaticano II pretendeu-se tal, e não dogmático. O recente Sínodo sobre a família, realizado na Cidade Eterna em outubro último, transcorreu sob o signo da pastoral, mas certo número de seus participantes procurou valorizar vivências contrárias à doutrina católica, considerada muitas vezes uma espécie de letra morta.

Com efeito, a verdadeira pastoral não constitui um alheamento das questões relativas à fé, à moral e à doutrina, mas visa sempre resgatar o pecador da má vida. É a procura da ovelha desgarrada para trazê-la de volta ao redil.

Como sempre ensinou a Igreja, a moral não varia com a história e a geografia. E não podendo Ela fazer abstração da vida do pecador, impõe-lhe condições para se aproximar da sagrada mesa — fonte da vida —, como a necessidade de se encontrar em estado de graça, isto é, na amizade com Deus. A Igreja, como mãe, coloca-se dia e noite à disposição do pecador através do sacramento da confissão.

Não se pode alegar simplesmente a misericórdia e o perdão de Deus para que os pecadores comunguem sem a confissão e o propósito de emenda, pois seria induzi-los a práticas sacrílegas, considerando que o estado de graça é condição sine qua non para a recepção da comunhão. Esta máxima valeu, vale e valerá sempre em todos os tempos e lugares. Portanto, a afirmação de algo que contradiga a própria verdade objetiva, ou insinue algo diferente dela, equivale a negar o princípio de não-contradição.

A inflexibilidade em matéria religiosa é norma elementar, enraizada e profunda, pois se não estivéssemos com a verdade não seríamos inflexíveis em relação ao erro. Não podemos ao mesmo tempo agradar o mundo e seguir a Igreja, sob pena de sofrermos a recriminação e a ameaça feita ao servo infiel da parábola dos talentos. O mundo está todo posto no maligno, alerta Nosso Senhor.

A verdade é filha do Céu, ela não pode capitular diante do erro e dos vícios. Não obstante, percebo que causou estranheza e perplexidade ao comum dos fiéis a insistência de certo número de Bispos, no recente Sínodo, em distribuir a sagrada Eucaristia aos divorciados e recasados, e até, em alguns casos, a escancarar as portas para duplas do mesmo sexo. Segundo alguns, é o fim do mundo. Para outros, em vez de defender, sem meios termos, a família, o pouco claro Relatório Final do Sínodo passou a representar uma ameaça para ela e para os bons costumes. Outros ainda viram nele mais um desmoronamento no longo processo de autodemolição da Igreja. Os fiéis, de modo geral, não têm claro que esse documento não é magisterial.

Mais do que o próprio Sínodo, foi o acontecimento em si que desfigurou e contradisse o comportamento da Igreja para com o pecador público, pela falta de equilíbrio ao ressaltar muito mais a misericórdia do que a justiça. Os inovadores opinam que diante de diferentes realidades e culturas, torna-se impraticável a observância de um princípio geral, pois para que cada princípio possa ser observado, antes ele deve ser inculturado. Isto nos leva a concluir que tais inovadores desejam a consolidação de um princípio relativista.

Se cada bispo aplicar o princípio e a doutrina apenas segundo determinado contexto dos hábitos e costumes vigentes em seus respectivos continentes, povos, países ou dioceses, a Santa Igreja perderá,ipso facto, duas de suas características essenciais: Ela deixará de ser una e de ser católica, isto é, universal. E as dúvidas e perplexidades do “menu peuple de Dieu” só aumentariam: A Igreja teria mudado? Os seus princípios, a sua doutrina, a suas leis deveriam adaptar-se a cada lugar, a cada povo?

Como ficaria a universalidade da Igreja, que possui a mesma doutrina, a mesma fé, os mesmos sacramentos, os mesmos ensinamentos, e uma pastoral coerente com esses princípios? Afinal, Ela não pode e não deve discrepar daquilo que Jesus Cristo sempre ensinou pelo Magistério perene. Jamais se poderá, em nome da misericórdia, contrariar a Igreja instituída por Jesus Cristo: “As portas do inferno não prevalecerão contra Ela. Dar-te-ei as chaves do Céu, tudo o que ligares na Terra será ligado no Céu, e tudo o que desligares na Terra será desligado no Céu”.
Padre Pio Brunone Lanteri


Alguém poderia objetar que, caso o Papa quisesse, ele poderia mudar tudo na Igreja. A essa pessoa, pouco versada na teologia católica, eu lembraria as sábias palavras do venerável Padre Pio Brunone Lanteri [quadro ao lado]: “Mas objetar-se-á que o Santo Padre tudo pode: ‘quodcumque solveris, quodcumque ligaveris etc’. É verdade, mas ele não pode nada contra a divina constituição da Igreja; ele é Vigário de Deus, mas não é Deus, nem pode destruir a obra de Deus” (Scritti e documenti d’Archivio,II, “Polemici-Apologetici”, Edizione Lanteri, Roma-Fermo, 2002, p. 1024).

Se o nosso objetante conhecesse um pouco melhor a doutrina católica, saberia que também o Papa, os bispos e os sacerdotes devem, como todo fiel, respeitar as leis natural e divina, das quais o Papa é o guardião supremo por mandato divino.Ninguém pode mudar a regra da Fé nem a constituição divina da Igreja — os sete Sacramentos, por exemplo — da mesma forma como os soberanos temporais não podem mudar as leis fundamentais do reino. Ao violá-las, como lembra Bossuet, “abalam-se todos os fundamentos da terra”.

Cabe indagar a razão pela qual tanto se faz para regulamentar, no âmbito da Santa Igreja, muitas situações de desajuste referentes à vida conjugal. Para tanto, procura-se alargar e atualizar o conceito de família em detrimento do ensinamento deixado por Nosso Senhor: “Não separe o homem o que Deus uniu”.

A união de um homem com uma mulher, perante a Igreja, tem o caráter de indissolubilidade sacramental. Ninguém pode dissolver o vínculo entre batizados. O que se pode é verificar se alguma causa fez com que o vínculo não existisse; então a Igreja declara que o casamento é nulo (é uma declaração e não uma anulação), pois nem o Sínodo dos bispos nem qualquer outra instância eclesiástica tem autoridade para mudar a doutrina da Igreja.
O que Deus uniu não separe o homem


Ademais, é oportuno aduzir o que explana o bem fundamentado trabalho a respeito do Sínodo Opção preferencial pela Família:


“O Sínodo não tem autoridade para alterar a disciplina da Igreja em matéria de casamento e de família. Somente o Romano Pontífice pode fazê-lo, e em todo caso sempre em coerência com a Verdade revelada e para a salvação das almas.

“A disciplina não pode ser tida como realidade meramente humana e mutável, mas tem um significado muito mais amplo. A disciplina inclui também a Lei divina, como os Mandamentos, que não são sujeitos a alterações, ainda quando não sejam de natureza diretamente doutrinária; o mesmo pode ser dito de todas as regras do direito divino”.

“A disciplina compreende muitas vezes tudo o que o cristão deve considerar como compromisso de vida para ser um discípulo fiel de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Opção Preferencial pela Família – 100 perguntas e 100 respostas a respeito do Sínodo, pp. 9 e 11, Edizioni Supplica Filiale, Roma, 2015).

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

                Crise da Igreja, crise do Brasil

Padre David Francisquini

São José de Anchieta
Com a perceptibilidade própria de um profeta, José de Anchieta, o Apóstolo do Brasil, assim vaticinou o papel de nosso país no concerto das nações sul-americanas: “A terra em que sopra o Sul conhecerá o Teu nome, e ao mundo austral advirão os séculos de ouro, quando as gentes brasílicas absorverem Tua doutrina”. Com efeito, pode-se dizer que o Brasil nasceu à sombra da Cruz e com ela cumprirá a sua missão.

Qual pêndulo que move a engrenagem que marca as horas da História, desde seu nascedouro o Brasil teve de enfrentar lutas, guerras, batalhas de toda ordem para manter-se fiel à sua vocação. Ora contra os calvinistas franceses que desejavam implantar aqui a França Antártica, ora contra os holandeses tomados de ódio ao catolicismo, ora opondo-se à resistência de nativos que tentavam formar uma corrente contrária à evangelização.
Esquadra de Cabal
Fiel ao mandato de Portugal – que apesar de pequenino se destacara como nação propagadora da fé e do império –, Pedro Álvares Cabral, sob a égide da Cruz de Malta, avistou o Monte Pascoal no litoral da Bahia e ali aportou, chamando a terra descoberta de Vera Cruz, e, depois, Terra de Santa Cruz. O Brasil nasce sob o influxo da Cruz e diante dela foi celebrada a primeira Missa.
Os indígenas se avolumavam em torno de grande cruzeiro e do franciscano, e seguiam juntamente com os descobridores os movimentos do rito sagrado da Missa, que renovava de modo incruento o sacrifício da Cruz. A partir de então começaram a chegar evangelizadores para difundir a fé, os bons costumes e a doutrina deixada por Jesus Cristo, povoando a nova terra de cristãos para a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Desembarque de Cabral em Porto Seguro
O objetivo principal dos evangelizadores era fazer dos silvícolas novos cristãos e com isso lhes conceder a maior nobreza que um homem pode receber nesta terra. Batizavam, aproximavam as crianças e os jovens dos sacramentos da confissão e da eucaristia, da assistência frequente à Santa Missa, ensinavam hinos aos índios, que assim alimentavam sua piedade e sua fé, ministravam o catecismo, enfim, pregavam o Evangelho de Jesus Cristo.
Os ministros de Deus se preocupavam em ensinar, formar e educar os indígenas na santa religião, para que pudessem viver bem nesta terra e depois conquistar o Céu. Recurso de grande importância enquanto instrumento da propagação da fé e da boa doutrina, bem como para saber portar-se com nobreza e distinção no convívio social, foi a representação de pequenas peças de teatros promovidas por Anchieta.
Primeira Missa celebrada no Brasil pelo Frei Henrique de Coimbra
Com tal obra de apostolado, os evangelizadores criavam um ambiente psicológico para que os índios pudessem compreender o esplendor e a grandeza do nome cristão. Além da religião, eles procuravam constituir povoados por onde passavam, a fim de contribuir para a vida social civilizada, mesclando-se portugueses e indígenas pelo laço do matrimônio indissolúvel. Os missionários procuraram extirpar a poligamia, a libertinagem, o infanticídio, o canibalismo, as superstições e os cultos satânicos.
Jesuítas catequizando os índios
Os autóctones começaram a viver de maneira digna e nobre. Com isso, em todos os lugares foram constituídos igrejas, capelas, basílicas, mosteiros, casas religiosa e conventos, onde todos podiam cultuar o verdadeiro Deus. Pode-se compreender que por tão grandes feitos o Papa Leão XIII, em 1892, na encíclica “Quarto abeunte saeculo” (Transcorrido o quarto século), tenha qualificado de “façanha mais grandiosa que hajam podido ver os tempos”.
Com efeito, as sementes lançadas pelos evangelizadores da religião cristã vicejaram e frutificaram ao impregnar a atmosfera de uma brasilidade sacralizada que só a Igreja Católica podia proporcionar. Ou seja, os brasileiros foram agraciados por um clima de bênção, de bondade, de doçura, de bem-estar, de harmonia, de equilíbrio, de valor, de empreendimento e de esperança, sem lhes faltar vigor e espírito de luta.
Evangelização dos silvícolas  
Nóbrega e Anchieta foram os expoentes da verdadeira evangelização que fez do Brasil a maior nação católica do mundo. Há muita felicidade em ser brasileiro e muito bem-estar entre os que aqui escolheram para residir e viver. Anchieta e Nóbrega estão nas antípodas da ‘nova evangelização’ empreendida pelo Conselho Indigenista Missionário-CIMI, que não faz senão descaracterizar a identidade e o temperamento nacionais.
Na verdade, tal evangelização não evangeliza, pois seus “missionários” fazem parte de um movimento revolucionário católico-progressista incrustado no seio da Igreja, o qual não visa mais converter, e sim incrementar a luta de classe, violar os mandamentos ‘não roubarás’ e ‘não cobiçarás as coisas alheias’; numa palavra, visa apenas esborrifar gases venenosos do ateísmo marxista. Não seguem a filosofia de Jesus Cristo, mas a de Marx.
Em seu célebre livro Tribalismo Indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil do Século XXI, Plinio Corrêa de Oliveira denuncia o desvirtuamento e a meta da nova evangelização, ao afirmar que “em nossos dias, uma poderosa corrente missionária [...] visa precisamente o contrário: proclama o estado dos silvícolas como a própria perfeição da vida humana, opõe-se à integração dos silvícolas na civilização, afirma o caráter secundário – quando não a inutilidade – da catequese, e não poupa crítica à ação dos grandes missionários de outrora, nem mesmo a de Nóbrega e Anchieta, os quais o Brasil todo venera”.
E prossegue o atilado e combativo líder católico: “Do fundo de nossas selvas, esses neomissionários lançam apelos em prol da luta de classes, que desejam ver corroendo, até às entranhas o Brasil civilizado. O estudo do pensamento dessa corrente neomissiológica é indispensável para quem queira conhecer a grande crise da Igreja no Brasil e compreender de que maneira essa crise tende a contagiar o país, transformando-se, de crise da Igreja, em crise do Brasil”.
Dom Tomas Balduíno, que foi bispo de Goiás e presidente do CIMI, chegou a apregoar: “A convicção profunda dos missionários ligados à Igreja é que estes povos (e eu estou pensando, por exemplo, nos povos indígenas) são os verdadeiros evangelizadores do mundo. Nós, os missionários, não vamos a eles como quem leva uma doutrina ou uma evangelização que o Cristo nos trouxe e confiou, e que nós revestimos com ritos civilizados e cultos”.
Dom Tomás Balduíno com sua nova missiologia 
Prossegue Dom Balduíno: “Vamos a eles sabendo que o Cristo já nos antecedeu no meio deles, e que lá estão as ‘sementes do Verbo’. Temos a convicção de que eles vivem o Evangelho da Boa-Aventurança. E de que por isso se impõe a nós uma conversão às suas culturas, sabedores de que a Boa Nova do Evangelho se encarna em qualquer cultura”.

Que o leitor tire as suas próprias conclusões.

sábado, 26 de setembro de 2015

Como se acaba com a brasilidade

Padre David Francisquini

Por pouco que analise o panorama político brasileiro nos seus desdobramentos político, psicológico e moral, o observador fica perplexo com a envergadura do programa do PT. É dele uma síntese o Plano Nacional de Direitos Humanos – 3, promulgado no fim do governo Lula.  A extensão e a radicalidade desse Plano são tais, que a sua aplicação equivaleria à destruição da alma do Brasil.
Um leitor desavisado talvez não perceba que o PNDH-3 faz parte de uma revolução com “R” maiúsculo, que pretende desmantelar a sociedade desde os seus fundamentos, como o direito de propriedade, a família e os valores morais multisseculares que regem e governam uma organização social sadia.
Com a deterioração dos costumes e da maneira de pensar, de querer e de sentir, é a libertinagem que grassa através do amor livre e da rejeição da honra; é a descaracterização de um povo plasmado pela civilização e pela cultura católica, de cuja feliz conjunção de raças e circunstância nasceu a brasilidade.
Mas o povo está deixando de ser brasileiro por ação dessa Revolução?  Ouso afirmar que sim, pois a meta deste processo é atingir o homem no seu próprio ser, desequilibrando-o paulatinamente, em contraposição às virtudes cardeais, sobretudo a da temperança, que regula e equilibra as suas paixões desordenadas.
Essa Revolução é imposta através da introdução de desenhos animados, de brinquedos eletrônicos, de certos aplicativos, quando não dos próprios celulares, até a exacerbação da criança, que perderá a calma, a disciplina, o bem-estar, a obediência, o acatamento, o respeito, a reflexão, a admiração, entre tantas virtudes. Mas, afinal, a criança não ganha nada com isso? – Ela se empanzina de egoísmo, só encontrando satisfação em si mesma.
A criança vai se tornando desatenta a tudo, alheia aos deveres, aos compromissos assumidos ou a assumir, ao próprio ambiente e aos circunstantes, pela incapacidade de prestar atenção em algo que não seja ela mesma. Passa a viver na agitação e no frenesi, portanto longe de seguir a axiologia rumo à perfeição, ou seja, os compromissos para com Deus, para com o próximo e para consigo mesma.
Há um trabalho sistemático para descaracterizar a identidade infantil desde a mais tenra idade e com isso descristianizar a criança, sobretudo pela intemperança, como dissemos acima. Em contraposição aos germes ou às sementes que, obedecendo à boa ordem criada e desejada por Deus, vão desabrochando aos poucos e conduzindo a criança rumo ao seu amadurecimento.
Não seria exatamente para quebrar psicologicamente as pessoas de amanhã que os revolucionários pretendem introduzir desde o berço a maldita igualdade de gênero? Em certo sentido, parece-me pior a atitude daqueles que se silenciam diante disso, quando deveriam clamar e mesmo promover uma cruzada de ideias para impedi-lo.
 É muito triste, por exemplo, ver pessoas do clero irmanadas com esquerdistas revolucionários e colaborando com esse processo de aniquilação do homem de amanhã. É oportuno recordar a frase ameaçadora de Jesus Cristo: Quem escandalizar um desses pequeninos, melhor fora que se amarrasse uma pedra de moinho ao pescoço e se arremessasse ao fundo do mar.
Todas as sociedades dignas deste nome nasceram e desabrocharam lastreadas na unidade familiar, constituída por um homem e uma mulher no casamento indissolúvel. Entre os bens do matrimônio, ocupa primeiro lugar a prole, pela própria ordem natural das coisas. Quem fugir deste parâmetro estará contrariando a vontade de Deus e da Igreja.
Hoje, as Secretarias de Saúde estão abarrotadas de preservativos, contraceptivos, além dos meios de esterilização. Ora, num lar onde seja introduzida qualquer depravação da ordem natural, se estará violando necessariamente as leis da caridade e da justiça. Numa palavra, a perversão do matrimônio traduzida num ato destituído da virtude geradora faz dos cônjuges réus de culpa grave.  
Mas o divórcio não poderia dissolver a ligação que vincula o homem à mulher até a morte? – Com efeito, rompido este laço, não haverá lugar para os filhos, pois não tendo eles culpa e sendo frágeis e vulneráveis, constituem um obstáculo difícil de transpor para a separação e a busca de uma aventura.
Contudo, a mentalidade materialista, para não dizer marxista, de nossos governantes, pela sua própria concepção ateia do universo, não valoriza a família, nem a fragilidade das crianças, nem mesmo a sua educação ou o apoio e a confiança que só os pais podem oferecer aos filhos. 
A separação dos pais representa uma espécie de morte dos mais íntimos e delicados sentimentos que os filhos possam depositar em seus pais, um golpe mortal, portanto, na psicologia e na moral deles. Enquanto sacerdote já amadurecido pelos anos, quantos exemplos já se me depararam ao longo da vida!
Dentro do lar, a criança vê Deus na autoridade do pai, enquanto na mãe, pela sua bondade, dedicação e desinteresse, ela vê a Igreja e Nossa Senhora. Nesse ambiente sacral, a criança aprende a amar a Deus e a Maria Santíssima, a respeitar e acatar as autoridades constituídas. Afinal, não será esta a razão diabólica para se acabar com a família? – Eis uma das grandes metas do PT no Brasil de hoje.
Sem falar do aborto, do pseudo-casamento entre pessoas do mesmo sexo, do incentivo à prostituição, da descriminalização das drogas, da violência, dos maus hábitos, da contínua decadência dos ambientes, dos maus exemplos da classe política, enfim, de tudo o que leva à derrocada da sociedade hierárquica e sacral estabelecida por Deus.

O caos em que se acha afundado o Brasil não é senão o resultado dessa crise religiosa e moral, da qual o PT é, a uma só vez, o fruto péssimo e o grande propulsor.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

E o fogo devorou os cedros da floresta
Padre David Francisquini

A devoção ao Imaculado Coração de Maria, cuja festa era celebrada no dia 22 de agosto, havia sido referida por Nossa Senhora em Fátima, quando Ela disse à Irmã Lúcia que Deus desejava estabelecer no mundo a devoção ao seu Imaculado Coração. Para em seguida acrescentar: “Se abraçarem essa devoção, salvar-se-ão muitas almas”.


A fim de a compreendermos melhor, recorramos por um instante ao Livro dos Juízes.
Trata-se da referência à proclamação do rei Abimeleque pelos habitantes de Siquém e de Bet-Malo, reunidos à sombra de um carvalho.  Informado do acontecimento, o profeta Joatan se pôs a gritar do cume do monte Garazin: “Ouvi-me, moradores de Siquém, e que Deus vos ouça”. Era o mesmo profeta que, por meio de poética parábola repleta de ensinamentos, havia revelado que certo dia as árvores deliberariam entre si a escolha de um rei.


Todas as árvores se voltaram então para a oliveira, implorando-lhe que reinasse sobre elas. Mas ela replicou, dizendo que não renunciaria ao seu azeite para ficar acima de todas as demais. Recorreram então à figueira, que disse por sua vez que não renunciaria à doçura e aos sabores de seus frutos – algo extraordinário, de peculiar suavidade – para ser a rainha do bosque.


 Espinheiro branco (Acacia albida)
A videira também renunciou, pois não iria deixar de produzir com os seus frutos o vinho que alegra o coração dos homens. Nesse momento, as árvores se voltaram para o espinheiro, pedindo-lhe que reinasse sobre elas. E ele respondeu que, para ser constituído rei, implorava a todas as árvores que viessem repousar à sua sombra, pois do contrário sairia dele um fogo que devoraria os cedros do Líbano.


Projetando esta figura para os nossos dias, constatamos o que significa negar os apelos de Nossa Senhora de Fátima para a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração. Com efeito, hoje não há lugar na Terra onde reine a paz, pois, a partir da Rússia, o comunismo espalhou a dissolução moral, as guerras e a irreligião.


Seus erros se infiltraram em todos os ambientes, inclusive nos meios católicos. As pessoas perdem a cada dia o senso moral, e males como a ideologia de gênero, o falso casamento homossexual, o divórcio, o aborto, a eutanásia, o amor livre, enfim, todos os vícios e depravações vão adquirindo direito de cidadania, com leis que os protegem. Multiplicam-se os atentados contra a família, a propriedade particular e a livre iniciativa.


Sem dúvida, são os espinhos da parábola do profeta Joatan, porquanto o Ocidente capitulou diante dos erros da Rússia, que se apresenta sinistra e ameaçadora para com a humanidade pecadora. Se tivéssemos levado a sério os apelos de Nossa Senhora e abrigado sob o seu manto, mudado de vida, rezado diariamente o terço e praticado a devoção dos cinco primeiros sábados, o Brasil não estaria na encruzilhada em que se encontra.



Nosso Senhor disse: “Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração”; “o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. O Coração Imaculado de Maria é o símbolo perfeito do Coração de Jesus, puro e íntegro como um facho de luz que irradia luzes de esperança e de certeza. Sejamos fiéis às suas palavras e às de seu divino Filho e a suavidade e a bondade voltarão a reinar nos corações dos homens.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Zelo pelo Senhor Deus dos exércitos

*Pe. David Francisquini

Ao chegar às cercanias de Ars, no vale do Saône, na França, o peregrino descortina um panorama grandioso e fascinante, evocativo de muita paz e muita bondade, que coexiste harmoniosamente com o heroísmo decorrente de grandes feitos de seu glorioso passado. Apenas mais um cenário francês?  – Não! Ali viveu e santificou-se um homem que foi proclamado padroeiro de todos os párocos do mundo, São João Maria Vianney, o Cura d’Ars.
Impossível não imaginar que naqueles belos campos cultivados, onde prepondera o trigo, camponeses não contemplassem a figura do Pe. Vianney caminhando por ali e desfiando as contas de seu rosário em conversa com Deus, com sua Mãe Santíssima, os Anjos e os santos, louvando e pedindo pelo bem das almas a ele confiadas.
Numa circunstância dessas, uma jovem passa por ele na estrada. Com perfil ascético, esquelético mesmo, olhar profundo, observador sutil, capaz de penetrar os corações e as consciências dos interlocutores, ele se dirigiu a ela e admoestou-a de modo peremptório, dizendo-lhe que se não mudasse de vida certamente se condenaria. Ao que ela respondeu: – Mas eu não quero ir para o inferno. Vou me confessar.
O santo retrucou: – Não adianta se confessar se você não fugir das ocasiões próximas de pecado. Confessando-se, você vai voltar para a sua região e continuará levando a mesma vida pecaminosa. Assustada, ela lhe perguntou: – Então, para mim não há mais jeito? O padre Vianney aconselhou-a a vender o que possuía e se mudasse para Ars, pois só naquelas condições ele a atenderia em confissão. Assim ela fez, e seguramente encontrou o caminho da salvação.
Em outra ocasião, um camponês violador do preceito do descanso dominical, ao perceber que o Cura d’Ars vinha pelos campos na sua direção, procurou quase instintivamente esconder-se atrás de sua carroça cheia de feno, na tentativa vã de defender-se do olhar contrafeito do santo, pois tinha consciência de que violava a Lei de Deus não guardando o dia do Senhor.
Com bondade paternal, o virtuoso padre chamou sua atenção, dizendo-lhe que aquela carroça simbolizava o transporte de sua alma para se queimar nas regiões eternas... E prosseguiu silencioso seu caminho por aquelas paragens, sempre rezando, meditando na bondade de um Pai que tudo criou para o bem dos filhos, e destes que se esquecem dessa infinita bondade.
Enquanto isso, na sua pequena igreja, com os poucos fiéis que a frequentavam, ele podia avaliar a decadência religiosa advinda de outros tempos, de maus pastores que por ali passaram, de padres pouco zelosos e sem interesse de povoar o céu, de instruir as almas dos jovens, de formar as consciências para mais bem cumprir os desígnios de Deus e da santa religião.
Segundo seus biógrafos, sua grande luta foi contra a indiferença e a ignorância religiosa reinantes em sua paróquia. Às noites de sábado para domingo os jovens se aglomeravam numa taberna para beber, se divertir num salão de baile.
Para o Cura d’Ars não havia mandamento que o baile não violasse, pois assim como um muro cerca o jardim, assim os demônios estão em torno do baile. Para ele há tantos demônios quantos são os dançadores.
À época, poucos padres combatiam tão pernicioso divertimento. No dia a dia, o trabalho, sem descanso e intermitente, duro e exigente, preenchia a vida daquela gente, tão acomodada aos bens da terra. Quanto às coisas do alto, estavam longe de suas cogitações. O sino do campanário tocava em vão para aqueles ouvidos insensíveis e a igrejinha de Ars continuava vazia, ou quase tanto. O que poderia fazer um vigário que pregasse e desse o exemplo ilibado de vida sacerdotal?
Os habitantes de Ars tinham uma fala vagarosa que revelava uma vontade entorpecida, ávidos de bem estar, inflamados pelo prazer. Tudo era pretexto para se reunirem em torno de um violão ou uma sanfona e ali passarem horas em bebedeiras, cantigas, gargalhadas e danças. Padre Vianney não se conformava e fez propósito de não descansar enquanto não extirpasse as ocasiões de pecado de sua paróquia.
O zelo pastoral do Cura d’Ars fez com que em Ars o respeito humano fosse invertido: tinha-se vergonha de não fazer o bem e de não praticar a Religião. O que é um auge de vitória de seu apostolado! Ars tornou-se também um centro de piedade e religiosidade.

Por isso, os peregrinos admiravam nas ruas da cidade a serenidade de certos semblantes, reflexo da paz perfeita de almas que vivem constantemente unidas a Deus. A cidade de Ars continua pequena, com cerca de 1.200 habitantes. Mas sua fama é demasiadamente grande mundo a fora, pois mais de 400.000 peregrinos a vistam anualmente. Com efeito, a verdadeira glória é a dos heróis e dos santos.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Não sem muita perplexidade

Pe. David Francisquini


A recente viagem de Dilma à Rússia
Submersa no volume morto da crise institucional brasileira, a presidente Dilma procura alívio em viagens ao exterior. Assim, ela acabou de visitar a Rússia, onde teria ido tentar consolidar acordos comerciais. Logo na Rússia de onde não se pode esperar muito além de suas aventuras expansionistas ideológicas – e mesmo militares, como aconteceu há pouco com a Ucrânia – mundo a fora.
Na sua comitiva se encontrava a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, representante da classe ruralista que numa circunstância da viagem pôs o gorro vermelho dos comunistas com a foice e o martelo... Mas o que teria levado a representante da nossa laboriosa classe rural a imitar Lula, Dilma, Marina quando colocaram o boné do MST?
Por acaso a nossa faceira ministra desconhecia a sentença de Lenine contra os proprietários rurais quando arengava que “a palavra de ordem difusa na massa sobre a repartição da terra serve a nós comunistas para tornar mais próximo o comunismo. Quando a vitória da revolução se completar, substituiremos aquela palavra de ordem por outra da ditadura comunista"?
Com efeito, o comunismo nega a propriedade privada, sobretudo a da terra, pois é nela em que manifesta de modo mais arraigado o senso de propriedade,. Por isso, o proprietário de terras costuma ser comparado a uma árvore, onde ele deita raízes e, de lá, só sai morto...  Foi por isso que o comunismo na Rússia fez milhões de vítimas para implantar a sua desastrada Reforma Agrária.
Será num país como a Rússia – com um regime político e econômico corroído e decadente que, para a própria autoafirmação, tenta se apoderar da Ucrânia e de outros países vizinhos e, assim, reconstituir a antiga União Soviética – que o nosso governo vai procurar apoio? E o que fez lá a ministra da Agricultura senão o agourento papel de garota propaganda do comunismo?
Para informação do leitor, no site da revista Veja se encontra: Kátia Abreu se aproximou tanto de Dilma Rousseff que ganhou o cargo de ministra da Agricultura. Agora, em viagem à Rússia, ela deu mostras de que a guinada ideológica [...] é ainda mais radical. [...] Fez questão de exibir uma foto com o gorro típico dos líderes soviéticos”.
Ao me deparar com aquela que deveria representar a nossa laboriosa classe rural com o gorro comunista, e, não sem muita perplexidade, com o gesto do presidente boliviano Evo Morales presenteando o Papa – e ele recebendo o “presente” – com um crucifixo em forma de foice e martelo...  Isso me traz à memória mais uma vez as candentes palavras de Nossa Senhora em Fátima de que a Rússia espalhará os seus erros pelo mundo.
Recordemo-las: "Para salvar as almas dos pobres pecadores que vão a caminho do inferno, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração. Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz. [...] Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes [...].
A teologia da libertação reabilitada voltou a pregar a luta de classes, as reivindicações sociais, econômicas e políticas, o que agravará ainda mais o cenário nacional e internacional. Que novas revoluções poderão ainda medrar deste contubérnio religioso-comunista para aflição dos homens que creem e temem a Deus?
Estas mesmas forças revolucionárias insistem em impor a chamada ideologia de gênero entre os brasileiros, a fim de golpear ainda mais a já combalida família. Com efeito, eles já não suportam sequer a desigualdade entre homem e mulher imposta por Deus através da natureza.
Até onde irão os revolucionários em sua sanha igualitária? De requinte em requinte esta metamorfose se processa do comunismo dito científico às investidas mais sorrateiras contra a ordem estabelecida pelo Criador.
Diante de tudo isso, o que pensar dos incautos e dos otimistas que acreditaram na morte do comunismo após o show midiático em torno da queda do muro de Berlim, da perestroika e congêneres?

quinta-feira, 2 de julho de 2015



ESTRANHA IDEOLOGIA

Pe. David Francisquini

       
 Plínio Corrêa de Oliveira, em sua obra-prima Revolução e Contra Revolução, desenvolve as noções de igualdade absoluta e liberdade completa, concebidas enquanto valores metafísicos. Elas exprimem o espírito da Revolução, movimento que visa destruir um poder ou uma ordem legítima e pôr em seu lugar um estado de coisas ou um poder ilegítimo.
         Para o revolucionário, o homem deve concorrer em tudo para que haja igualdade completa em todos os níveis, anciãos e jovens, patrões e empregados, professores e alunos, esposo e esposa, pais e filhos. Ele prega a igualdade absoluta, e a própria crença em Deus está descartada, negada e combatida, pois a desigualdade aponta para Deus.
         Chegou o momento de a Revolução dar mais um passo na sua sanha igualitária, impondo ao mundo inteiro a igualdade de gênero  a absoluta igualdade entre homem e mulher. A ideologia de gênero pretende estabelecer que ninguém nasce homem ou mulher, daí o absurdo de ninguém ser identificado como homem ou mulher. Cada criança deve escolher para si uma identidade sexual, e os pais não poderão se opor a isso, sob pena de serem incriminados. 
         O melhor caminho para isso é fazer a cabeça das crianças, e o governo brasileiro pretende implantar entre nós esse absurdo por meio delas. Sob a égide do PT – um partido revolucionário – pesa contra a Nação a ameaça de impingir a ideologia de gênero às cabeças inocentes das crianças.
         As diretrizes da educação, elaboradas pelo Ministério da Educação,
previam o ensino da ideologia de gênero nas escolas, mas foram rejeitadas pelo Congresso Nacional. O Ministério da Educação as reeditou, tornando-as meta obrigatória para todos os municípios. Por isso, todos os estados e municípios brasileiros estão sendo obrigados a apresentar os seus “planos” de educação, nos quais consta a ideologia de gênero. 

         Sendo uma questão religiosa e metafísica, ela é extremamente delicada, atingindo o homem no que tem de mais profundo do seu ser. Só mesmo pessoas com mentalidade perversa, igualitária, anárquica, revolucionária, podem querer subverter a esse ponto a noção de família, conduzindo-a à sua destruição, e com ela a de toda a sociedade.
         Com mais esta inadmissível ingerência do governo na instituição familiar, nossos filhos e netos poderão perder para sempre a noção filosófica da identidade do ser. Esta foi a identidade desejada por Deus ao criar homem e mulher, para a missão altíssima de propagar a espécie humana, povoar a Terra e o reino do Céu.
         A função principal do Estado é dar condições para o aperfeiçoamento e desenvolvimento dos planos divinos. No entanto, agindo em favor da ideologia do gênero, ele se volta contra o seu próprio fim, de modo totalitário. Alterando o próprio conceito que governa o homem, distorce os planos de Deus e abre o caminho para o que há de mais satânico – a imposição tirânica de uma ordem de coisas violentamente contrária à ordem natural.
         Vi recentemente alguns vídeos envolvendo a discussão do plano imposto pelo MEC às Câmaras Municipais, e pude perceber o rancor dos homossexuais contra a família tradicional. Ante as agressivas manifestações antirreligiosas de grupos favoráveis à revolução sexual, os vereadores parecem não saber como conduzir as reuniões sobre o assunto.
        
No horizonte, a perspectiva é de uma verdadeira guerra religiosa e moral, em que os revolucionários negam e procuram substituir conceitos consagrados em todos os tempos. Por ódio a Deus, que criou o ser humano com perfeição e para um altíssimo fim, querem afastar-nos do Criador e implantar em toda a Terra o que há de mais contrário a Ele.

         Os revolucionários querem suprimir a noção de bem e de mal, de verdade e erro, derrubar os fundamentos da religião e do próprio Deus. Pretendem suprimir o Decálogo, a própria expressão do que é a natureza humana. É o que estamos assistindo em nossos dias, nos debates do plano da educação municipal e estadual. E os prezados leitores são convidados a participar ativamente na rejeição a essas medidas inadmissíveis.

domingo, 14 de junho de 2015

Senhor Deus, a quem a vingança pertence

*Pe. David Francisquini

São Pedro Damião - Afirma que a Sodomia corrompe tudo,
mancha tudo, polui tudo. Obscurece a mente humana.
Ao ser ordenado pelo bispo com o sacramento indelével da Ordem, o sacerdote recebe um poder extraordinário de Deus, tornando-se ao mesmo tempo pontífice e vítima, ministro de Cristo e continuador de Sua obra. Ou seja, passa a ter um enorme poder de fazer bem às almas e combater o mal, com vistas a implantar na Terra a verdadeira ordem desejada pelo Criador e conduzir as almas ao Céu.
Sob a direção de seu bispo e em união com o Papa, o padre atua assim como representante de Cristo para propagar a Fé e o Evangelho, defender as almas e imolar-se por elas, as vinhas do Senhor, não poucas vezes atacadas por vespas e insetos, por feras e ventos adversos, por tempestades e furacões, com escândalos e desregramentos que as golpeiam satânica e impiedosamente.
É por isso que o sacerdote – e a fortiori o bispo ou o Papa – não pode ser indiferente a tudo que diga respeito à glória de Deus e à salvação das almas. E não pode se calar quando símbolos religiosos são publicamente escarnecidos, profanados ou quebrados, como aconteceu na recente manifestação homossexual realizada em São Paulo com o escandaloso apoio das autoridades municipais, estaduais e federais.
 O representante de Deus não pode omitir-se quando os protagonistas dessa causa espúria pretendem implantar a ditadura da violência e da intolerância em relação a todos os batizados que creem e professam a doutrina e a lei de Jesus Cristo. Se o fizer, tornar-se-á cúmplice deles pelo silêncio.
E se ele por acaso pensar que a família tradicional constituída por um homem e uma mulher será a única golpeada, e a parceria antinatural e infecunda promovida, equivoca-se, pois os inimigos da família a atacam por ódio a Deus e à Santa Igreja, cujos membros não serão poupados a certa altura do processo, a menos que prefiram a apostasia. Esta é a terrível lição da História!
Caindo fogo do céu sob Sodoma e Gomorra
O pecado perpetrado pelos homossexuais em São Paulo contra os principais símbolos da nossa Fé ofendeu particularmente a Deus. Por muito menos a mesma e irredutível História registrou o episódio do Levante das Estátuas, ocorrido em Antioquia sob o imperador Teodósio, que ao tomar conhecimento da mutilação das estátuas erigidas em honra dele e de sua esposa, enfureceu-se e puniu duramente aquele levante, qualificado por ele de lesa-majestade.
Se assim procedeu um rei em defesa de sua honra, o que imaginar do procedimento do Senhor Deus, a quem a vingança pertence, em relação aos
O blasfemo profere seus ultrajes contra Deus e os santos através de palavras, exemplos e atitudes, misturando a luxúria e o pecado contra a natureza com as coisas sagradas para golpear a Igreja, os cristãos e o próprio Deus. Ao exibir em via pública objetos sagrados do culto, como ocorreu nesse infeliz desfile, depreende-se o enorme pecado de blasfêmia cometido.

A fuga de Lot coma família e a destruição de Sodoma e Gomorra
Os seus fautores não ultrajaram apenas os homens, mas o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei dos reis. Este ultraje é crime contra a Sua bondade e grandeza, majestade e soberania, pois os blasfemadores chegaram a vomitar satanicamente que Ele também era homossexual. A maior parte dos pecados tem sua origem na ignorância ou na fraqueza humana, mas a blasfêmia vem da maldade do coração.

Deus perdoa o pecador, mas castiga terrivelmente o ímpio, o blasfemo e o profanador com a pena eterna do inferno; e muitas vezes a punição já começa nesta vida. Permaneça diante de nossos olhos o exemplo de Sodoma e Gomorra, uma lição viva da História a nos ensinar como Deus é justo ao premiar os bons e castigar os maus.