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sábado, 3 de março de 2018


Bondade não significa fazer concessões

Pe. David Francisquini

A santidade infinita de Deus odeia o pecado e o persegue, pois este contraria as perfeições divinas. Em contrapartida, a sua insondável bondade ama o pecador e, por sua misericórdia, procura atraí-lo, utilizando-se de todas as gentilezas para extirpar do coração de seus filhos a maldade absoluta, para que vivam e se convertam de seus pecados.
Para isso o Filho de Deus se encarnou, tornou-se homem e “humilhou-se a Si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso também Deus O exaltou, e Lhe deu um nome que está acima de todo o nome; para que, ao nome de Jesus, se dobre todo o joelho no Céu, na Terra e no Inferno”, afirma São Paulo Apóstolo.
Com efeito, os sofrimentos pelos quais Nosso Senhor Jesus Cristo passou durante a Paixão são inexprimíveis e culminaram com a morte ignominiosa pelos nossos pecados. Ele, que já havia nos deixado os sacramentos e o Seu próprio corpo místico consubstanciado na Igreja como fonte de salvação.
Cabe-nos repetir com a tradição que Jesus Cristo deu os meios para um fim que é remédio para a nossa natureza corrompida, e não para que abusemos deles continuando na vida de pecado.
Jesus expulsa os vendedores do templo
Se Deus usa de misericórdia em relação ao pecador é para arrancá-lo do pecado, não sendo outro o objeto da súplica do Senhor da paciência, da calma e do silêncio enquanto pecamos, escreve o Pe. Tissot.
Deus age assim não para que a pessoa permaneça no pecado, mas para que o extermine completamente, porque, uma vez extirpado, o pecador abandona o mau caminho com bons propósitos de arrependimento e de emenda de vida. Ao mesmo tempo, Cristo sai triunfador, por ter-se aniquilado a Si mesmo e assim exterminado a iniquidade do pecado que se opõe ao fim do homem.
Bondade não significa fazer concessões, estimular a prática dos vícios, usufruir de sua liberdade para permanecer nas desordens morais do pecado. Nada disso. Representa o objeto da bondade e da misericórdia divinas.
Para tomarmos um exemplo gritante em nossos dias, bondade é o contrário do que vimos assistindo em relação à comunhão de recasados e de divorciados, ou ainda das segundas núpcias, ao se lhes permitir aproximar da mesa de comunhão. Isso não passa de protuberante abuso da misericórdia divina.
É lamentável constatar a sede e o afã de novidades de uma ala ponderável do clero, disposta a afrontar os ensinamentos multisseculares do Magistério da Igreja em nome da Misericórdia.
Ao se abrirem as portas dos sacramentos aos que vivem publicamente em estado de pecado sob a alegação de que Deus é bom e não condena ninguém, de que não somos juízes e que por isso não podemos julgar, e que cada qual siga a sua consciência, fica estabelecido o relativismo moral e religioso.
Santo Afonso Maria de Ligório
Digo-o com base e fundamento em Santo Afonso Maria de Ligório, que ensina:
“Não merece a misericórdia de Deus aquele que se serve da mesma para ofendê-Lo. A misericórdia é para quem teme a Deus e não para o que dela se serve com o propósito de não temê-Lo. Aquele que ofende a Justiça pode recorrer à Misericórdia; mas a quem pode recorrer o que ofende a própria Misericórdia?”.
Quem ofende a Deus confiante de ser perdoado porque Deus é bom e misericordioso tem uma malícia própria em escarnecer de Deus, em zombar de Deus para continuar a pecar e a usar dos sacramentos sem preencher as condições para recebê-los.
Receber os sacramentos sem estar em estado de graça é profanar o próprio sacramento. Quem recebe a sagrada comunhão em pecado mortal comete um sacrilégio, pois é preciso ter coração puro, recolhimento, espírito de fé, sem apego algum ao pecado.
Quem assim não procede imita o sacrilégio de Judas, que imediatamente após ter recebido a sagrada comunhão em estado de pecado, saiu do cenáculo impelido pelo demônio, como afirma São João Crisóstomo:
“Quem, utilizando-se de pretexto da misericórdia, vive em estado de pecado mortal sem deixá-lo, comete horrível sacrilégio, fica afastado do caminho do Céu que é o caminho reto, caminho de luz e de verdade, e não de trevas.
“Se tu, fiado na divina misericórdia, não temes fazer mal-uso dela em tempo oportuno, o Senhor vai retirá-la de ti, porque a Deus pertence a vingança. Chegada a hora da justiça, Deus não espera mais, cai sobre o pecador emperdenido como um raio justiceiro.”
A respeito do magnífico pensamento sobre a impunidade em que Deus deixa o pecador, assim expressa Santo Afonso: “Deus o deixará sem castigo nesta vida, e nisto consistirá o seu maior castigo. Compadeçamos do ímpio […] não aprenderá justiça” (Is 26, 10).
Referindo-se a esse texto, diz São Bernardo: “Não quero essa misericórdia, mais terrível que a ira. Terrível castigo, quando Deus deixa o pecador em seus pecados e parece que nem lhe pede contas deles” (Sl 10, 4).
Inferno
Desgraçados os pecadores que prosperam na vida mortal! É sinal de que Deus reserva para lhes aplicar sua justiça na vida eterna! Jeremias pergunta: “Por que o caminho dos ímpios passa em prosperidade?” (Jer. 12, 1).
E responde em seguida: “Reúne-os como ao rebanho destinado ao matadouro (Jer 12, 3). Não há, pois, maior castigo do que deixar Deus ao pecador amontoar pecados sobre pecados, segundo o que diz David: pondo maldade sobre maldade […]. Riscados sejam do livro da vida” (Sl 28, 28-29).
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domingo, 7 de janeiro de 2018

Bendito seja o seu santo nome

Pe. David Francisquini

O nome de Jesus está no íntimo do próprio Deus, cheio de sabedoria e bondade,  de doçura e amabilidade. Sua origem é divina, pois veio a nós da parte de Deus para ser como uma aurora que anuncia todo bem, ou como um sol que ilumina, aquece e retempera as almas.
O  Santíssimo Nome de Jesus se acha ligado à natureza humana, pela  Sua grande missão de redimir e salvar o gênero humano. Além de ser Deus, por ser a segunda pessoa da Santíssima Trindade,  é também homem. Portanto, o Seu nome é superior a todos os outros pelo fato de ser o Verbo de Deus encarnado, reconciliador dos homens com o Criador.
Diz o Apóstolo São Paulo: "Ao nome de Jesus Cristo dobra-se todo o joelho, no Céu, na terra e nos infernos". O nome de Jesus Cristo é também comparado a um óleo que ilumina, alimenta e unge, pois é luz, alimento e medicina.
Com efeito, Seu nome ilumina os espíritos, alimenta os corações, e, como remédio, alivia e dulcifica as feridas de nossa alma. Sim. Seu nome ilumina o nosso espírito, pois pelo batismo, recebemos o dom precioso da fé que nos arrebata das trevas e da barbárie do paganismo.
Imaginemos por um instante regiões outrora pagãs, cujos habitantes cultuassem falsos deuses e grassasse entre eles a barbárie, sacrifícios até de seres humanos. A História registra que bastou a fé católica ter penetrado naquelas trevas para que o nome de Jesus Cristo passasse a brilhar nas instituições, na vida individual das pessoas, no sadio progresso que artifício algum pode contradizer e negar.
E desse sadio desenvolvimento surgiram hospitais, escolas, orfanatos, obras de benemerência e caritativa. Sem dúvida, um avanço rumo ao bem que se deu em todos os campos da vida humana, amenizando em alguma medida os estragos do pecado original.
Nosso Senhor tendo nascido na gruta de Belém e morrido na Cruz, no monte Calvário, redimiu o gênero humano, além de proporcionar todos os meios para a sua salvação. Na verdade, instituiu a civilização cristã. É de Nosso Senhor a afirmação de quem não crer será condenado. E não basta crer, mas precisa ser batizado e professar a doutrina de Jesus Cristo, pois só assim obteremos a vida eterna.
Se outras trevas deitaram seu negrume sinistro sobre o mundo contemporâneo em razão da apostasia e do pecado de Revolução, o nome de Jesus continua como o sol a espargir seus raios sobre os que têm fé e estão dispostos a lutar pelo seu reino, que será um reino dedicado à Sua Mãe. Afinal, foi Ele mesmo quem afirmou também que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja.
A recordação do nome de Jesus Cristo nos faz lembrar os benefícios da Redenção e nos consola nas tribulações. Este santo nome nos concede forças para trilhar o caminho da salvação, reanima-nos e confirma-nos na virtude da confiança em meio às trevas características dos dias atuais. O Seu nome nos inflama de amor para conhecer, amar e servir a Deus com paciência e júbilo.
O nome de Nosso Senhor é como um perfume suave e atraente que nos cativa e nos enaltece, faz-nos um outro Cristo. Como bálsamo, o Seu nome nos vivifica contra os ataques e as emboscadas das potestades infernais. Quem se vir tentado, e invocar o nome de Jesus, não cairá nem sucumbirá sob o peso da fúria infernal.
Quem evoca o Seu nome será salvo. Ninguém se desviou do bom caminho por ter invocado o nome de Jesus, pois nome algum debaixo do céu tem tanta virtude de salvação quanto o nome de Jesus Cristo. Seu nome indica glória e majestade. Ao ser circuncidado recebeu este nome como verdadeiro filho de Abraão. Jesus é chamado o Filho de Deus feito homem, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade. 
Descrevendo as grandezas desse nome santíssimo, Santo Afonso faz um admirável pedido a Jesus Cristo:
"Gravai, meu Salvador, gravai em meu coração o vosso poderoso nome de Jesus, a fim de que, tendo sempre no coração pelo amor, eu O tenha também nos lábios e O invoque nos assaltos com que o inferno me ameaça para tornar-me novamente seu escravo e separar-me de vós.
No vosso nome acharei todo os bens: se eu estiver aflito, me consolará, recordando-me que muito mais vos afligistes por meu amor; se os meus pecados abalarem a minha confiança, me animará lembrando-me que viestes ao mundo para salvar os pecadores; se for tentado, me fortalecerá recordando-me que, se o inferno é poderoso para vencer-me, Vós o sois mais para socorrer-me; se enfim me sentir frio no vosso amor, despertará o meu fervor, lembrando-me o quanto me amais. Amo-vos, meu Jesus!” (...)

Ó Maria, se me amais, espero de vós uma graça, a de invocar sempre o vosso santo nome com o nome de vosso divino Filho. Fazei que esses doces nomes sejam a respiração de minha alma, que repita sempre durante a vida, para redizê-lo ainda no último suspiro: Jesus e Maria socorrei-me; Jesus e Maria, eu vos amo; Jesus e Maria, em vossas mãos entrego a minha alma”.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Se pudéssemos Vos dar o sol e todas as estrelas

Pe. David Francisquini

Reclinado no presépio, contemplemos o Menino Jesus.  Diante d’Ele – em atitude de adoração – está sua Mãe, cujos olhos doces e maternais cintilam, tributando ao Homem-Deus a mais alta homenagem possível a uma criatura. Ao seu lado, encontra-se maravilhado e vigilante São José, prestando seu preito varonil ao recém-nascido. No mais alto do Céu brilha a estrela, anunciando a grande Novidade: o Verbo encarnado nasceu e está no meio de nós.
             Em torno da manjedoura, os anjos cantam as mais belas harmonias celestiais para aquele Santo Nascimento. Afanosos, chegam os reis magos, simbolizando a vassalagem de todos os reis da terra ao Divino Infante, verdadeiro Deus, Rei dos reis e Senhor dos senhores. E como demonstração da fé que enchia seus corações, ofereceram-Lhe ouro, incenso e mirra, para salientar as virtudes daquele Sacerdote, Rei e Vítima que vinha ao mundo.
            Os pastores não permaneceram insensíveis e acorreram à sagrada gruta. Até os animais reconheceram o seu Senhor, aproximando-se submissos da manjedoura, enquanto o anúncio da boa nova de que Cristo havia nascido em Belém de Judá ecoava pelos campos. Estava inaugurado o marco histórico da Civilização Cristã, que proporcionou tantos frutos aos homens e que artifício humano algum conseguirá apagar.
Ao se aproximar mais um Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, olhemos para o mundo contemporâneo. Ergue-se ele borrascoso e caótico a expelir ameaças, incertezas, incredulidades, blasfêmias e vícios de toda espécie. Mundo vacilante e incrédulo por negar a sua origem e o seu fim, e por isso mesmo tirânico em relação aos valores cristãos, empenhando-se em destruir a família e implantar a nefasta ideologia de gênero, além de todas as dissoluções morais que visam macular e destruir o que resta de cristão na face da terra.
Aquele que nasceu em Belém foi o mesmo que fundou a Santa Igreja Católica Apostólica Romana e a Ela prometeu a indestrutibilidade. É por esta razão que, remando contra a maré, surgem verdadeiros católicos dispostos a lutar pela pureza da fé, pela integridade da lei divina, pela prática do amor de Deus, pela perfeição da vida espiritual, pela fidelidade aos ensinamentos perenes da Santa Igreja.
Como é bom recordar tudo isso ao rezar diante do presépio do Divino Infante na igreja ou em casa, a fim de implorarmos misericórdia e perseverança para aqueles que lutam contra a impiedade insolente e orgulhosa, contra o vício que estadeia com ufania e escarnece da virtude.
Pela vastidão imensa da terra rezemos pelos que se encontram oprimidos, abandonados, escarnecidos, pelo fato de permanecerem fiéis à Lei de Deus, para que perseverem cada vez mais. A mesma oração deve-se dirigir a Deus feito homem para apressar a vinda do Reino de Maria, conforme pede São Luís Maria G. de Montfort.
Pedir empenhadamente pela Igreja Santa e Imaculada. Para isso o leitor poderá utilizar-se das palavras do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
"Estes são, Senhor, os que no momento presente, dispersos, isolados, ignorando-se uns aos outros, entretanto, agora, se acercam de Vós para oferecer o seu dom, e apresentar a sua prece. Dom tão esplêndido na verdade, que se eles vos pudessem dar o sol e todas as estrelas, o mar e todas as suas riquezas, a terra e todo o seu esplendor, não Vos dariam dom igual.
"É o dom de si, íntegro e feito com fidelidade. Quando eles preferem a ortodoxia completa às palmas dos fariseus; quando preferem a pureza à popularidade entre os ímpios; quando escolhem a honestidade de preferência ao ouro; quando permanecem na vossa Lei ainda que por isto percam cargos e glória, praticam o amor de Deus sobre todas as coisas, e atingem a perfeição da vida espiritual, rija e verdadeira dileção. Não, por certo, do amor como o entende o século, amor todo feito de sensibilidade esparramada e ilógica, de afetos nebulosos e sem base na razão, de obscuras condescendências consigo mesmo, e escusas acomodações de consciência. Mas o amor verdadeiro, iluminado pela Fé, justificado na razão, sério, casto, reto, perseverante, em uma palavra o amor de Deus.
"E eles vos formulam uma prece. Prece, antes de tudo, por aquilo que mais amam no mundo, que é vossa Igreja santa e imaculada. Que vossa Igreja, que geme e cativa nas masmorras da civilização anticristã, triunfe por fim desse século de pecado, e plasme para vossa maior glória uma nova civilização. Pelos Santos, para que sejam mais santos. Pelos bons, para que se santifiquem. Pelos pecadores para que se tornem bons, pelos ímpios para que se convertam. Que os impenitentes, refratários à graça e nocivos às almas sejam dispersos, humilhados e aniquilados por vossa punição. Que as almas do Purgatório o quanto antes subam ao Céu.
"Prece, depois, por si mesmos. Que os façais mais exigentes na ortodoxia, mais severos na pureza, mais fiéis na adversidade, mais altivos nas humilhações, mais enérgicos no combate, mais terríveis para com os ímpios, mais compassivos para com os que, envergonhando de seus pecados, louvem de público a virtude e se esforcem sinceramente por conquista-la".

            A todos, um Santo e Feliz Natal, e um Ano Novo repleto de conquistas para a causa Católica, sob a bênção maternal de Maria Santíssima. 

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Ninguém pode servir a dois senhores
Pe. David Francisquini


A avassaladora demolição atual das instituições e dos usos e costumes vigentes até há pouco escancaram para o leitor uma crise sem precedentes, ampla e universal que atinge todos os setores da vida social. Ainda que para efeito didático dessas linhas, ouso dar-lhe um nome: apostasia. Por sua natureza, tal crise se reduz a um sistema doutrinário que procura conduzir o desregramento das paixões ao seu mais alto grau.
 Basta considerarmos a tão propalada ideologia de gênero, inserida na revolução cultural, que surge para demolir nos seus aspectos mais transcendentes o próprio ser, ao negar que nascemos homem e mulher para propagação da espécie. Essa nova ideologia parece ter saído dos antros infernais, pois traz em seu bojo um verdadeiro ódio a Deus, o sumo bem, Autor da diversidade das criaturas e de sua hierarquização.
Ao criar, Deus manifestou sua suma bondade e sabedoria, pois quis comunicar suas perfeições às criaturas para que elas fossem um reflexo d’Ele, e ao refleti-Lo Ele pudesse ser mais conhecido e contemplado pelos homens enquanto Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis, como nós rezamos no Credo. Neste movimento de conhecer e amar nós teríamos todas as predisposições para bem servi-Lo.
Historicamente isso aconteceu. Como nos ensinou o Professor Plinio Corrêa de Oliveira, “a Cristandade medieval não foi uma ordem qualquer, possível como seriam possíveis muitas outras ordens. Foi a realização, nas circunstâncias inerentes aos tempos e aos lugares, da única ordem verdadeira entre os homens, ou seja, a civilização cristã”. Com toda razão, Leão XIII pôde afirmar que naquele tempo a filosofia do Evangelho governava os Estados.
Para os incréus, basta contemplar tudo que a Cristandade foi capaz de fazer: as catedrais, os castelos, as universidades, os hospitais, enfim tudo aquilo que ainda atrai os viajantes à Europa. A vida terrena para o homem era uma espécie de antecâmara do céu. E não foi por outro motivo que o demônio desencadeou uma Revolução a fim de destruir até os fundamentos a ordem por excelência que reinava naquela doce primavera de fé.
Odiar em princípio toda e qualquer desigualdade é colocar-se filosoficamente contra os elementos que há entre a criatura e o Criador, e, portanto, representa um ódio metafísico contra o próprio Deus. Infelizmente, foi o que se passou com a decadência da Idade Média, com o advento de Lutero e sua revolução protestante, com a revolução francesa, com a revolução comunista que agora, nos seus estertores, parece caminhar para o seu trágico fim.
Com efeito, a fúria que se manifesta contra os símbolos de nossa Redenção, contra o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo e Sua Mãe Santíssima se concretiza em peças blasfemas como "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu", exibido em unidades do Serviço Social do Comércio – SESC com o patrocínio de órgãos como Itaú Cultural e Instituto Tomie Ohtake. Outro exemplo foi a exposição denominada “Queermuseu: Cartografias da diferença na arte brasileira”, patrocinada pelo Banco Santander.
Tais iniciativas vão muito além de simples quedas a que a fragilidade humana está sujeita depois do pecado original, mas estão revestidas de um ódio que gera erros doutrinários, levando até mesmo à profissão consciente e explícita de princípios contrários à lei moral e à doutrina revelada, constituindo um pecado contra o Espírito Santo.
Todos nós assistimos a erosão da família na sociedade civil, e até mesmo dentro da Igreja Católica, que deveria ser a sua defensora natural e espiritual, mas que, em vez disso, em reuniões e encontros católicos abre espaço para adúlteros e homossexuais, administra o sacramento da Comunhão e da Confissão para pecadores sem o firme propósito de emenda de vida.
           
Outro acontecimento escandaloso foi a comemoração dos 500 anos da revolução protestante de Lutero, que pregou a supressão do celibato eclesiástico e a introdução do divórcio, além de ter sido responsável pela decadência moral que atinge o paroxismo de nossos dias. Das tendências, dos estados de alma, dos imponderáveis protestantes surgiram outras revoluções, como a revolução francesa, a revolução comunista e a revolução estruturalista.  
Creio ser do Pe. Leonel Franca a afirmação de que a sociedade moderna ataca tudo o que a sustenta e sustenta tudo o que a demole. O destaque dado nos meios católicos aos festejos da revolução luterana percorreu todos os níveis da hierarquia eclesiástica. Segundo informa boletim da Unisinos, “Lutero no seu tempo julgado como herético e excomungado pelos papas, neste ano será comemorado pela filatelia vaticana com um selo que recorda os 500 anos da Reforma Protestante”... 
            Diante da tragédia de nossos dias, recordo aqui um ensinamento de Pio XII:
"Embora os filhos do Século sejam mais hábeis que os filhos da luz, seus ardis e suas violências teriam, sem dúvida, menor êxito se um grande número, entre aqueles que se intitulam católicos, não se lhes estendessem mão amiga. Há os que parecem querer caminhar de acordo com os nossos inimigos, e se esforçam por estabelecer uma aliança entre a luz e as trevas, um acordo entre a justiça e a iniquidade. .... Como se absolutamente não estivesse escrito que não se pode servir a dois senhores. São eles muito mais perigosos certamente mais funestos do que os inimigos declarados”.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

“Ela esmagará a tua cabeça”
Pe. David Francisquini
          
A razão iluminada pela fé nos dá tal visão da ordem criada, que a simples razão jamais poderia abarcar. A fé confere equidade e inteligência que excedem tudo o que é meramente natural.
Não é sem sentido que a Virgem de Fátima tenha aparecido num contexto em que os homens se afastavam dos Mandamentos da Lei de Deus e da Igreja para buscar desenfreadamente o prazer, o dinheiro e a vanglória.
Muitos estudiosos afirmam que o abandono de Deus pelos homens trouxe como consequência a I e a II Guerras Mundiais.
A Virgem de Fátima disse à Irmã Lúcia – uma das videntes – que não mais podia segurar o braço justiceiro de seu Divino Filho, prestes a se abater sobre a Terra por causa dos pecados dos homens.
       No centenário da última aparição de Virgem de Fátima – que ocorre hoje, 13 de outubro de 2017 –, vale a pena realçar a história das aparições. A preocupação dos pastorinhos em agradar a Deus e converter os pecadores é uma das coisas mais empolgantes que possa haver.
Milagre do Sol, Fátima 1917
Das seis aparições, a última foi a mais impressionante, pois com ela Nossa Senhora queria mostrar a veracidade das demais. Deu-se então o Milagre do Sol, presenciado pelas 70 mil pessoas reunidas em Fátima e por muitas outras de lugares mais distantes. Ele foi tão portentoso, que nem sequer os inimigos da Igreja conseguiram empaná-lo ou ignorá-lo.
As aparições de Nossa Senhora em Fátima aconteceram quase no final da I Grande Guerra e por ocasião da revolução bolchevista na Rússia. A Mãe de Deus admoestava: caso os homens não atendessem aos seus pedidos de conversão, reparação e penitência, a Rússia espalharia seus erros pelo mundo.
Mas ficou claro que desses erros não ficaria imune sequer a Santa Igreja, bastando para isso considerar a imensa infiltração comunista nos meios católicos do mundo inteiro e sua nefasta influência sobre a sociedade temporal através da Teologia da Libertação.
O processo revolucionário desencadeado no final da Idade Média atingiu o paroxismo em nossos dias com a eclosão de outros erros e correntes propugnando a ideologia de gênero, a pedofilia, a zoofilia, o falso casamento entre pessoas do mesmo sexo e outras enormidades. Tudo isso ao lado de uma infernal ofensiva de blasfêmias e sacrilégios de que os noticiários estão prenhes.
O que surpreende e deixa a todos perplexos é o silêncio enigmático de nossa estrutura eclesiástica. Como estão distantes os tempos em que Santo Antônio Maria Claret e vários outros santos se opuseram de viseira erguida às arremetidas dos inimigos da Igreja e da Cristandade!
Parece haver um desígnio satânico de implantar na Terra um estado de coisas que fere e transtorna a boa ordenação colocada por Deus. São Luís Maria Grignion de Montfort, no Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, disse que o demônio haveria de armar grandes ciladas ao calcanhar desta mulher misteriosa, e que haveria grandes inimizades entre a bendita posteridade de Maria e a raça maldita de Satanás.
São Luís Maria Grignion de Montfort
Afirma ainda o santo que se trata de uma inimizade toda divina, a única de que Deus é autor: “Os combates e as perseguições que os filhos e raça de Belial farão à raça de vossa mãe Santíssima, só servirão para mais bem fazer resplandecer o poder de vossa graça, a coragem da virtude de vossos servos e autoridade de vossa mãe, pois que lhes destes, desde o começo do mundo a missão de esmagar esse soberbo pela humildade de seu coração e do seu calcanhar: ipsa conteret caput tuum."
            Um lugarejo desconhecido como Fátima tornou-se um enorme lugar de peregrinação, oração, penitência e milagres. Pessoas do mundo inteiro vão rezar ali pelo triunfo do Imaculado Coração de Maria e pedir a própria conversão. Animados pelas promessas de Maria, a confiança em sua vitória esmagadora se acende em nós!

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Ave, cheia de graça!

Padre David Francisquini (*)

A gravíssima crise moral que aflige nossa sociedade está refletida nos falsos prazeres que a vida moderna oferece e em busca dos quais correm sôfregas as multidões. Nem mesmo os tementes a Deus estão imunes aos efeitos dessa crise, que desvia do reto caminho que conduz ao Bem supremo e à felicidade eterna.


A atração pelos prazeres desordenados decorre do pecado original, que tornou nossos primeiros pais e toda a sua descendência sujeitos ao pecado, à doença e à morte.


A única exceção foi a Santíssima Virgem, escolhida para ser a Mãe de Deus. Nascida sem culpa original, conforme o atestaram o Anjo e Santa Isabel — “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” e “Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre”, o demônio nunca teve qualquer poder sobre Ela. Antes, pelo contrário, diante de Nossa Senhora ele é um eterno derrotado. É o que se comprova ao longo da História.


Na sua luta contra os albigenses radicados no sul da França, São Domingos de Gusmão se deparou com almas tão obcecadas e afastadas de Deus e da verdadeira Religião que, por orientação expressa de Maria Santíssima, começou a difusão da devoção ao Santo Rosário, e só assim se extirpou a heresia albigense (ou cátara) daquela região.


Nas batalhas de Belgrado (1456), Lepanto (1571) e Viena (1683), foi ainda Nossa Senhora quem deu a vitória às hostes católicas contra as insidiosas arremetidas dos sequazes de Maomé. E hoje, diante de uma Europa invadida por muçulmanos de todos os quadrantes — o que só foi possível pelo concurso de suas próprias autoridades civis e religiosas —, a salvação está novamente n’Aquela que é “mais terrível que um exército em ordem de batalha”.
Basta a humanidade se afastar da Mãe de Deus — levada talvez pelo falso temor de que a devoção a Ela poderia diminuir em algo Jesus Cristo, ou ainda para não desagradar a algum protestante — para que tudo comece a minguar.


Qual arca salvadora, prevendo o que ia se passar no mundo nesses últimos 100 anos, Nossa Senhora pediu oração, penitência e emenda de vida, bem como a consagração da Rússia ao Seu Imaculado Coração. Infelizmente a humanidade não correspondeu, e por isso está sendo assolada por toda sorte de calamidades, físicas de morais.



No entanto, além desses pedidos e da previsão de castigos, caso os homens não se convertessem, a Santíssima Virgem também prometeu o triunfo de Seu Imaculado Coração.





sexta-feira, 14 de julho de 2017

Há 100 anos, uma advertência vinda do Céu
Pe. David Francisquini

      Dada a abrangência das revelações feitas por Nossa Senhora em Fátima, apontando para uma crise sem precedentes na História, seus devotos — de modo particular aqueles que se dedicam a propagar a mensagem revelada — costumam deparar-se com problemas de difícil solução. Por exemplo, hoje, dia 13 de julho de 2017, faz 100 anos, em números redondos, que a Mãe de Deus se manifestou sobre os erros da Rússia, a expansão do comunismo e a perda da fé com a consequente perda das almas.
            O que podemos notar no nosso cotidiano é que a crise que nos atinge não é decorrência apenas das fraquezas e debilidades próprias à natureza humana em face à virtude e ao cumprimento dos Mandamentos. Ela vai muito além dessas contingências, envolvendo fatores psicológicos e de almas que tocam diretamente na fé. Nesse campo, o demônio passou a exercer um poder descomunal sobre as almas, ao erguer barreiras à ação apostólica no sentido de cumprir os preceitos de Nosso Senhor Jesus Cristo, consubstanciados nos Santos Evangelhos.
            Como ensina o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira no livro Revolução e Contra-Revolução, há um endurecimento paulatino e metódico que entra como que por osmose no espírito humano e se propaga imperceptível e sutilmente com a força da expansão dos gases. Trata-se de um estado de espírito que se revela nos modos de ser, nos ambientes e costumes que modelam as mentalidades. Até as crianças são afetadas por este processo dominante que as faz perder muito cedo a inocência, pois tudo que as rodeia vem carregado de uma febricitação e uma eletricidade próprias às cidades modernas e as atinge ainda sem o uso completo da razão.
            Com efeito, por causa desse estresse social, somado às velocidades siderais dos meios de comunicação, os ambientes frequentados pelas crianças — até mesmo o familiar, onde elas são educadas e formadas para mais tarde se integrarem à sociedade — são atingidos por esse processo. Influenciadas assim por tendências desordenadas, elas crescem rumo a uma causa comum revolucionária, avessas à boa ordem das coisas criadas e desejadas por Deus, em oposição, portanto, ao que sempre foi ensinado pela Santa Igreja.
Parece entrar nisso um visgo do demônio, que conduz à desordem e ao caos. A essa situação se pode aplicar esta sábia e perspicaz observação do grande educador São João Bosco: como era possível que dois jovens até então desconhecidos um do outro se encontrassem durante o primeiro recreio e logo se unissem para formar um bloco de crianças ruins?
            Enquanto as crianças boas admiravam Dom Bosco [representação ao lado] e queriam ouvi-lo, observar os Mandamentos da Lei de Deus e da Igreja, fazer apostolado da boa causa, as más, sempre em pequenas rodas, pareciam conspirar e fazer o contrário do que se ensinava. Não se misturavam com as demais, eram afoitas, desobedientes, impuras, não aplicadas, indisciplinadas e pouco afeitas à oração; numa palavra, revolucionárias, conaturais com as coisas do mundo.
            Tais crianças, quando um superior começa a explicar algo que não lhes causa interesse imediato, tentam distrair todas as demais. Com celulares, internet, whatsApp, vivem num frenesi de individualismo, de egoísmo, portadores talvez de uma carga negativa ainda maior de eletricidade que o mal carrega consigo. Deus e a Religião não lhes dizem nada, não exercem influência alguma em seus espíritos, hábitos e costumes.
            A vida delas consiste numa correria sem fim para seguir seus instintos desordenados, diria anarquistas. O desenlace do passado com o presente se dá num clima de verdadeira guerra ideológica revolucionária, na qual ocorre uma ruptura temperamental ou psicológica com vistas a criar um homem novo diametralmente oposto às tradições e à civilização.
            Para completar o quadro, surgem as leis feitas, ora pelos legisladores, ora pelo Judiciário, ora por decretos. Afinal, como afirmou Sêneca, há crimes autorizados por leis e consultas plebiscitárias. Elas vão eliminando certos padrões da cultura, cuja base era o Decálogo, para dar maior vazão às paixões humanas desordenadas através de uma sexualidade desbragada, do homossexualismo, do aborto, a eutanásia e da ideologia de gênero.
            As crianças de hoje não gostam de pensar, como era hábito dos pequenos pastores que receberam a mensagem de Nossa Senhora em Fátima. Jacinta e Francisco viviam na reflexão e na oração, e por isso se tornaram santos. O dia de hoje, 13 de julho de 2017, se reveste de um significado muito profundo e alentador. Enquanto de um lado a celeste Mensageira descreve a crise de nossos dias, a perda das almas e a expansão dos erros da Rússia, de outro lado aponta o triunfo do seu Imaculado Coração sobre esse multissecular processo revolucionário endurecedor das consciências e dos corações, aniquilador da fé e da avidez pelo sublime.
            Devido à expansão militar do regime bolchevista em numerosos países, os católicos ficaram dispersos, ignorados, perseguidos, martirizados, obrigados a trabalhar em campos de concentração. Enquanto isso, os templos católicos estavam entregues aos mancomunados com o regime e as ideias da “Teologia da Libertação”, em voga em nossos dias no vasto setor da Igreja que abraçou o mundo moderno, os padres ditos progressistas. Entretanto, o que vale mais, a Fé ou templo material? Se Nossa Senhora fala da perda da Fé e da expansão dos erros da Rússia, Ela manifesta que a Fé é superior a qualquer coisa material, pois nos liga à Igreja verdadeira que vem dos tempos apostólicos, como diz Santo Atanásio:

            “Portanto, quem perdeu mais, ou quem possui mais, o que retém um lugar, ou o que retém a Fé? O lugar certamente é bom, suposto que ali se pregue a Fé dos apóstolos, é santo, se ali habita o Santo. Vós sois os ditosos que pela Fé permaneceis dentro da Igreja, descansais nos fundamentos da fé, e gozais da totalidade da Fé, que permanece inabalável. Por tradição apostólica chegou até vós, e muito frequentemente um ódio nefasto quis destruí-la, mas sem resultado; ao contrário, esses mesmos conteúdos da Fé que eles quiseram destruir, os destruíram. [...] Portanto, ninguém prevalecerá contra vossa Fé, meus queridos irmãos, e se em algum momento Deus vos devolver os templos, será necessário o mesmo convencimento: a Fé é mais importante que os templos.”

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Antes que seja demasiadamente tarde

Pe. David Francisquini

No dia 13 de maio último, comemoramos o centenário da primeira aparição de Nossa Senhora de Fátima aos três pastorinhos. O leitor poderá indagar se diante de tão marcante acontecimento da História da Igreja – certamente a mais importante das aparições da Virgem Maria ao mundo – os homens atenderam ou não aos pedidos da celeste mensageira.
Para responder a essa premente pergunta, importa recordar que a Mãe de Deus veio pedir aos homens oração, penitência, mortificação e mudança de vida, isto é, renúncia à impiedade e à corrupção dos costumes. E também que cressem e professassem a doutrina e a Lei de Deus consubstanciada nos Dez Mandamentos.
A Rainha do Céu e da Terra pediu ainda que se rezasse diariamente o terço e se fizesse a comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados (a qual consiste em se confessar com a intenção de reparar o Coração Imaculado de Maria, comungar e passar um quarto de hora meditando sobre os mistérios do Santo Rosário).
Por fim, de maneira imperiosa, pediu a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração, a ser feita pelas autoridades competentes, pois do contrário essa nação espalharia seus erros pelo mundo. Teria esse pedido – como os outros sugeridos pela Mãe de Deus – sido atendido pelos homens?
– Infelizmente não! Poucos foram os que rezaram, e menos ainda os que se penitenciaram, se converteram e mudaram de vida. O que não deixa de ser um reflexo do não atendimento do pedido de consagração da Rússia.

*   *   *
1917-2017. Cem anos da aparição de Nossa Senhora em Fátima, Portugal. E também cem anos do bolchevismo na Rússia, o qual foi, e continua sendo, um flagelo para o mundo, que ele descristianiza através da Revolução gnóstica e igualitária. A crise sem precedentes que assola a Venezuela e ameaça o Brasil não é alheia aos erros espalhados pela Rússia.
Como Mãe de misericórdia, a Rainha dos Céus aparece aos pastorinhos, apresentando os meios para a conversão e mudança de vida. Onde está a conversão? Onde está a penitência? Cumpre lembrar que as aparições de Fátima aconteceram num momento importante do processo revolucionário, e mesmo se os homens não atendessem aos pedidos de Nossa Senhora, como mãe bondosa Ela prometeu: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”.
Plinio Corrêa de Oliveira comenta que ao abandonarem os homens a velha tradição medieval, eles passaram a ter como ideal de vida não mais a Igreja e seus mandamentos, mas “o Humanismo e a Renascença, que procuraram relegar a Igreja, o sobrenatural e os valores morais da religião a um segundo plano”.
No campo social – continua o autor de Revolução e Contra-Revolução – “a introdução do ideal de desestabilizar a sociedade, levando ao caos, por meio da luta de classe e da violência e a ter hábitos tribais, estruturando-a numa ‘síntese ilusória’ entre o auge da liberdade individual e do coletivismo consentido, na qual este último acaba por devorar a liberdade".
E conclui dizendo que, "segundo tal coletivismo, os vários ‘eus’ ou as pessoas individuais, com sua inteligência, sua vontade e sua sensibilidade, e consequentemente com os seus modos de ser característicos e conflitantes, se fundem, se dissolvem na personalidade coletiva da tribo geradora de um pensar, de um querer, de um estilo de ser densamente comuns".
Propriamente, é a negação da tradição e de todos os valores morais, religiosos, éticos e culturais, com vistas à implantação da anarquia na sociedade.
Daí a importância de Fátima e de sua mensagem para esmagar esse multissecular processo demolidor chamado Revolução, nascido no fim da Idade Média de uma crise de fé e moral sem precedentes na História. Nossa Senhora veio propor os remédios para liquidá-lo.

Remédios bondosamente oferecidos, mas dos quais os homens vêm se recusando a fazer uso. O que faz entrever um fim análogo ao daqueles doentes que se negam a tomar os remédios que seus médicos lhes prescrevem...

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Por que Jesus Cristo ressuscitou?


Em alguma medida, muitos dos conhecimentos que nos são transmitidos pela natureza podem explicar o mistério da ressurreição da carne. Por exemplo, o nascer e o pôr do sol; o pintainho que sai do ovo; a crisálida — uma imagem do homem no túmulo — onde a borboleta atinge os seus dias antes de se lançar aos ares, reflete o homem ressuscitado. Tais símbolos foram criados por Deus para que o homem os contemple e admita uma verdade transcendente que é a ressurreição final.

Com efeito, ao ressuscitar, Cristo nos deu prova insofismável de sua divindade, confirmando-nos na fé, fortalecendo-nos na esperança, conduzindo-nos a uma vida mais perfeita, como afirma o Apóstolo São Paulo quando nos convida a renunciar ao velho fermento, que é o “fermento da malícia e da corrupção”. Se já ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto e afeiçoai-vos às coisas do Céu, não mais às da Terra.

A Ressurreição de Cristo (1441), afresco de
Fra Angélico no Convento de São Marcos (Florença)
O corpo de Cristo ressuscitado foi o mesmo que pendeu na cruz, e retirado do madeiro foi depositado no sepulcro pelo seus discípulos. No momento mesmo em que Jesus Cristo ressurgiu dos mortos, seu corpo ressurreto possuía os dons gloriosos da impassibilidade, da sutileza, da agilidade e da claridade, reflexos do transbordamento da glória da alma em liberdade, em que o corpo participa de todas essas qualidades.

Por que Cristo ressuscitou gloriosamente? Porque a sua ressurreição foi exemplar e a causa da nossa. Os santos, ao ressurgirem, terão seus corpos glorificados, como diz o Apóstolo, pois semearam na tristeza e ressuscitarão em glória. Se Cristo Nosso Senhor, submetido a todas aquelas humilhações da paixão e morte, mereceu glória incomparável, foi para brilhar aos olhos de todos aqueles que um dia ressuscitarão na mesma glória.

Sabemos pela teologia que a alma de Cristo — desde o primeiro instante de sua concepção — vivia em perfeita contemplação da divindade, vendo Deus face a face. Para que Cristo pudesse redimir o gênero humano, foi necessária como que uma interrupção desta visão, a fim de evitar que as alegrias decorrentes dela em sua alma não inundassem o seu próprio corpo mortal. Foram como que suspensos os benefícios da contemplação beatífica.

A Transfiguração de Cristo (1440), afresco de Fra Angélico no
 Convento de São Marcos (Florença).
Exceção houve na transfiguração ocorrida no monte Tabor, quando os Apóstolos puderam contemplar a divindade de Jesus Cristo: “Não conteis a ninguém o que vistes e ouvistes, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos”. O corpo de Nosso Senhor foi tomado de um esplendor que superou a luz do sol, pois o Filho de Deus, que havia assumido a humanidade enquanto Deus, não reteve nem impediu que sua divindade se refletisse em seu corpo.
Quando apareceu aos Apóstolos — afirma Santo Tomás de Aquino —, Ele agia à maneira de recipiente, emanando a auréola de seu corpo glorificado que se funde à cor natural do corpo humano, assim como o vidro colorido se torna resplandecente pela iluminação do sol, independendo de sua cor. Cristo quis aparecer aos seus discípulos com a sua cor natural, para que assim eles pudessem contemplá-Lo e serem confirmados na fé.

Assim como apareceu aos seus discípulos — diz a Sagrada Escritura —, Cristo desvaneceu-se aos olhos deles pelo dom da agilidade. Por esse dom Ele podia desaparecer, estando ainda presente ou separando-se e pondo-se em outro lugar com a rapidez do pensamento, assim como pela sutileza, que Lhe era intrínseca, pôde transpor a pedra do túmulo que O continha e a porta fechada do Cenáculo, onde se encontravam os discípulos reunidos.

Ora, todos esses acontecimentos depois da ressurreição de Cristo se deram — a exemplo das cicatrizes conservadas em suas divinas mãos e pés, bem como a do lado trespassado pela lança de Longino — para demonstrar que aquele era o mesmo Cristo que havia sido crucificado, morto, sepultado e que ali se encontrava vivo, glorioso e impassível, vencedor da morte e do pecado para a glória do Pai e do seu santo Nome.

Tornou esplendorosa a justiça de Deus por meio da obediência, que O levou a ser desprezado e objeto de opróbio pelo populacho — “Humilhou-se a si mesmo, fez-se obediente até à morte e morte de Cruz, pelo que Deus também O exaltou, e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes” (Fil. II 7-9).

Essa foi a gloriosa trajetória que Jesus Cristo quis percorrer para nos fazer ressurgir do pecado mortal — que é a morte da alma — para a vida da graça, por meio da penitência, sem protelação, prontamente, como Cristo ressurgiu ao terceiro dia. E com o firme e perseverante propósito de não mais pecar, com resolução de evitar tudo o que antes fora ocasião de morte e de pecado, vida nova e de justiça em ordem à vida eterna. Eis uma lição da ressurreição gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo.