Postagem em destaque

O novo rito da Missa não é substancialmente idêntico ao anterior? Discussão sobre Traditionis Custodes: Dom Jerônimo alega que o Papa Fran...

Postagens mais visitadas

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Bons tempos em que se morria para não pecar



Encerro hoje a série de artigos sobre Santa Maria Goretti. Ela abria e terminava seu dia com o Sinal da Cruz. Sem caprichos nem manhas e sempre generosa, revelava reflexão superior à sua idade. Aos seis anos de idade recebeu a Santa Crisma.
Para tentar melhorar suas condições precárias, a família se mudou para Colle Gianturco, local do martírio. Depois da morte do pai – conta-nos sua mãe Assunta – a filha procurava lhe fortalecer o ânimo.
Nas agruras, ela dizia a sua mãe: “Por que esse medo, mamãe? Daqui a pouco estaremos – eram seis filhos – crescidos. Basta que Nosso Senhor nos dê saúde e a Providência nos ajudará”. Modelo de confiança!
Com a sabedoria de quem sabe aproveitar o tempo com método e disciplina, conhecia o segredo da vida. Com a morte do pai, seu programa de ouro foi assumir a responsabilidade do lar e o cuidado e a formação dos irmãos.
Era de angélica pureza. O assassino confessa jamais ter notado nela o menor ato contrário a essa virtude. Chegava a rir discretamente das colegas que paravam diante de espelhos ou das vidraças para arranjar os cabelos. Ao ouvir palavras inconvenientes, nunca deixava de manifestar seu desagrado.
Em contrapartida, quão diferente foi a educação de seu verdugo, de nome Alexandre! Seu pai não praticava a religião, acreditando vagamente na existência de Deus. Possuía ainda caráter autoritário e era dado ao vício do álcool. A própria mãe, já meio louca, tentara afogar o filho quando este era criança.

Órfão de mãe ainda novo, não conheceu os carinhos, a bondade e o afeto materno, sendo criado como um estranho. Ao pai recai a acusação de ter cultivado a perversão do filho nas más leituras, apesar de ter sido batizado, aprendido um pouco o catecismo, a ler e escrever.
A situação de Alexandre se agravou quando ele foi marinheiro, tendo ali se pervertido ainda mais, devido às más companhias. Contudo, ainda não perdia missa e era respeitoso com o pai. Era de gênio fechado, frio, solitário.
Costumava trancar-se no quarto, onde alimentava o vício da impureza através de más leituras que o próprio pai lhe proporcionava. Revestia as paredes com figuras de jornais e revistas indecentes.
O vício criou nele raízes profundas. Penetrado de um impulso satânico, Alexandre decidiu destruir a inocência e a pureza de coração da santa. Caso ela resistisse às suas impetuosas paixões, ele havia decidido matá-la. Contudo, a força de seu ódio não pôde prevalecer contra o rochedo intransponível de quem prefere morrer a se deixar contaminar pelo vício impuro.
Deparamo-nos assim com dois modelos de educação e de vida. A primeira banhada pela luz da graça e da vida sobrenatural. A segunda, por ódio à virtude e à vida exemplar. Ao tentar diabólica e inutilmente impor sua devassidão à santa, assassinou-a. Foi preso e cumpriu pena. Contudo, teve de lamentar pelo resto da vida o seu ato infame.
Mas o heroísmo da menina cheia de força atingiu tal cume, que levou o próprio assassino à conversão. Perdoou-o e disse que o levaria para o Céu. Sua conversão foi seguida de penitência numa cela de um convento de religiosos.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Sagacidade e força


Na sua infinita sabedoria, Deus dotou a natureza com admirável perfeição: os mais fracos servem aos mais fortes e os inferiores aos superiores, resultando numa excelência que dá equilíbrio e grandeza à criação. Sabe-se que os coelhos se reproduzem muito para servir de alimento a outros animais. Encanta-nos observar os pássaros. Quando um deles se encontra atacado pelo predador, surgem seus congêneres para defendê-lo.
Quem nunca se maravilhou com o lado pitoresco de um cachorro puxando um pequeno trenó que se desliza sobre a neve, ou – versão nacional de nosso interior – de um cabrito puxando uma carrocinha com crianças? Ao cachorro, Deus lhe deu o faro aguçado, além de audição apuradíssima para perceber sons inaudíveis aos nossos ouvidos. O cachorro se sente mais ele mesmo sob os cuidados do dono.

O gato gosta de agrado e sempre se manifesta de forma a cativar aqueles que habitam a residência onde ele vive. Ostenta-se de forma afetiva com o seu ronronar, com seus trejeitos nos conviveres da casa. Ele se sai sempre bem dos embaraços em que se depara.


Se Deus assim favoreceu os animais irracionais, como Se esmerou no homem, feito à Sua imagem e semelhança, e, portanto, capaz de levar vida superior e excelente! Afinal, não somos todos beneficiados pela vida da graça, protegida e majorada pelos sacramentos?


Quem consegue analisar o olhar misterioso de um gato e saber o que ele planeja? Suas presas costumeiras tremem ao perceber seu olhar. Contudo, o gato e o cachorro não se dão. Basta uma brincadeira de mau gosto entre eles para despertar seus instintos. A grande arma do gato é a sua pata dianteira em riste próxima ao focinho do cachorro...

Tais considerações me ocorreram ao analisar a vida de Santa Maria Goretti. Ela reúne em seu espírito uma agilidade pouco comum. Ainda menininha, ajudava os pais nos afazeres da casa e do campo. E fazia tudo isso com alegria contagiante. Rezava contemplando as estrelas e as maravilhas criadas por Deus. Assim, foi forjando seu caráter até o momento de sua grande prova. Aos 12 anos, enfrentou um homem devorado pela luxúria e por outros vícios – um monstro –, de cujas mãos ela escapou vitoriosa.
Maria Goretti soube edificar sua casa sobre a rocha firme. Veio a chuva e transbordaram os rios, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa e ela não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. (Mt. VII, 25). Foi sábia, forte, destemida e altaneira. Soube vencer a mais furiosa tempestade, a do enlouquecido homem que queria arruinar a sua vida.
Ela não demonstrou medo de ele lhe arrancar a vida, pois sabia que nada poderia contra sua alma. Seu único temor era ofender a Deus. Ela colocou em prática as palavras do Divino Mestre de seguir o Seu exemplo e trilhar o Seu caminho. Sua fé e ousadia não a deixam atrás das virtudes das primeiras mártires lançadas nas arenas e devoradas por feras.
Em razão de sua fé e de sua vida temperante, ela soube encontrar energia e confiança em Deus, não cedendo ao ataque do monstro. Quem consegue penetrar no olhar de uma menina com aquela sagacidade e força? Nada há de mais belo que o olhar dela. Quanta sabedoria, quanta contemplação, quanta visão da realidade! Diante do pecado se sentiu cheia de força, preferindo morrer a se entregar.
Faz lembrar a leveza, o encanto e a sagacidade do gato; o faro, a coragem e o ímpeto do cachorro. Guardou o que mais estimava: a inocência e a virgindade.
De onde lhe veio a força senão da Eucaristia e na Virgem Mãe, Rainha das virgens? Quando o punhal assassino penetrou desapiedadamente em seu corpo, a sua alma se elevou Àquela que é a Mãe de Deus: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém!”


A força de quem nunca deixou manchar sua alma é algo incompreensível neste mundo onde estadeia a luxúria de viver. Como abismo atrai outro abismo, os frutos gerados por relações criminosas atraem crime ainda maior, o aborto. Por que isso? Porque o mundo se afastou dos princípios de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Santa Igreja.