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quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

 

REFLEXÕES PARA O NATAL 2022

*Padre David Francisquini


Deus Pai, nos decretos eternos, quis que seu Filho unigênito, ao se encarnar, nascesse não no conforto da casa de José, homem justo e trabalhador bem instalado. Assim, o Menino Jesus veio ao mundo não ali, como seria natural, em abrigo aconchegante, envolto na atmosfera inocente própria ao grande acontecimento.

Ele escolheu vir habitar entre nós no frio ambiente de um estábulo, onde se abrigavam os animais durante a noite. Pode haver pobreza maior, situação de tanta penúria, para que uma criança venha ao mundo?

O imperador romano César Augusto, ao publicar um edito, obrigou a todos os seus súditos, os da Judeia incluídos, que fossem se recensear cada um na cidade de origem de sua família. Sendo José da casa de David, ficou obrigado a deslocar-se a Belém. A longa jornada empreendida com a sua esposa ocorreu na ocasião em que estava próxima de ser mãe, como nos relata o Evangelista.

Anoto aqui uma curiosidade que certamente não é fruto de acaso: se tomarmos o significado etimológico, Belém quer dizer “casa do pão”. No primeiro século, Belém era uma aldeia de quase mil habitantes, com um conjunto de casas disseminadas pela encosta da colina. Seus habitantes viviam da criação de ovelhas e da cultura de trigo, em terra fértil e próspera.

Foi este lugar que Deus escolheu para o nascimento de seu Filho muito amado. No berço da família real de David, que ali outrora havia pastoreado os seus rebanhos em campinas verdejantes. Também ali foi ungido o segundo rei de uma das famílias de Judá, que se chamava Jessé. 

Nosso Senhor Jesus Cristo, que a este mundo veio para nos sustentar com o pão da graça, a Eucaristia, nos regenerou com o seu próprio sangue. Ao nascer na “casa do pão”, num campo ermo e afastado, veio concretizar aquilo que no passado havia simbolizado o maná. Também veio resgatar para Deus ricos e pobres, nobres e plebeus, brotando ali como uma flor, como um lírio perdido no campo que esparge seu perfume, o bálsamo da graça e do perdão, para toda a natureza, animada e inanimada.

Por esse motivo a cena do presépio nos mostra a natureza toda se revestindo de um encanto especialíssimo, que unia os anjos e os homens. Ali se reverenciou o Menino, que nasceu na cidade de David, chamada Belém.

Nestes tempos natalinos, temos ocasião de festejar o nascimento do Salvador, o qual, "premido pelas entranhas de sua misericórdia" para nos redimir, permitiu que obtivéssemos as graças para nos libertar do pecado, assegurando-nos a vida eterna.

Mas Ele não veio a este mundo apenas com a missão de redimir. Prova disso foi o fato de ter se reclinado numa manjedoura, em que os animais se alimentavam; assim quis também significar a futura revelação do Sacramento da Eucaristia, nosso alimento espiritual, o pão da vida.

Na Santa Missa, nasce no altar como deitou-se na manjedoura, para se oferecer ao mesmo tempo, por nós, como vítima de expiação e como alimento. Nascido na precária condição de criança indefesa, em ambiente paupérrimo, o Verbo Eterno quis atrair mais fortemente nossos corações e iluminar nossa compreensão a respeito de seu incomensurável amor.

A criancinha do estábulo de Belém quis nos atrair pela ternura, tocando expressivamente nossas almas. Não veio a terra para espalhar o terror, mas para conquistar os corações pelo seu excessivo amor; estava se fazendo criança para tomar um pouco de proporção conosco, Aquele que por natureza é infinitamente perfeito, pois é Deus.

Quis unir a Pessoa divina a uma natureza finita, puramente humana, e assim se tornar visível, para nos ensinar o caminho da fé, dos princípios e das virtudes.  Aquele que é invisível se tornou visível, para nos atrair à vida sobrenatural da graça neste mundo, e nos assegurar a vida eterna.

Ao nascer entre os homens e vir a este mundo, não deixa de ser Deus aquele que é eterno, amável e providente. Seus olhos puros e inocentes se irradiam sobre nossas almas, trazendo-nos um verdadeiro bálsamo de bondade e misericórdia. Seu olhar transpassa a alma e nos eleva aos páramos mais sublimes da esperança e da luta.

Para nós, as comemorações do tempo natalino, em 2022, passam-se numa atmosfera borrascosa e sombria. Mas a fé nos enche de esperança e de certeza, pois da gruta de Belém o Menino-Deus lançou para todo sempre a luz que ilumina e espanca as trevas.

No Presépio, a Santíssima Virgem Maria se apresenta majestosa e ao mesmo tempo singela e afável, ao lado do seu castíssimo esposo São José. Reveste-se da condição de nossa intercessora, nossa consoladora em meio aos sofrimentos, mãe amorosa que nos quer junto a Ela e seu divino Filho, agora e por todos os séculos dos séculos.

Sabemos que as trevas não prevalecerão, que a borrasca passará! Que a contemplação do presépio e da gruta de Belém nos fortaleça. E assim nos anime para logo cantar a vitória, que não tardará, do Imaculado Coração de Maria! Desejo a todos um santo e Feliz Natal e um próspero Ano Novo. carregado das abundantes chuvas da graça.