Postagem em destaque

O novo rito da Missa não é substancialmente idêntico ao anterior? Discussão sobre Traditionis Custodes: Dom Jerônimo alega que o Papa Fran...

Postagens mais visitadas

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014




*Pe. David Francisquini



De repente, os pastores que cuidavam de suas ovelhas nos arredores de Belém ouviram um canto magnífico: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade”. Diante do inesperado, eles se dirigem apressados rumo à manjedoura, onde encontraram o Menino reclinado e envolto em panos, sob os olhares enlevados e vigilantes de Maria e José.
Segundo a tradição, a neve caía mansamente. Enquanto todos dormiam no aconchego dos seus lares, um pobre casal se encontrava na gruta fria, pois não encontrara guarida nem mesmo em casa de parentes, pois José e Maria viviam em Nazaré e se encontravam ali em razão de uma obrigação cívica, um recenseamento.
 Noite de luz e neve cobrindo a terra, circunstâncias ideais para se cantar a glória do Filho de Deus que acabava de nascer para habitar entre nós, para governar a Terra, conquistar as almas e lutar contra o demônio. Acontecimento tão espetacular que espargiu alegria no universo inteiro e causou pavor nas hostes seguidoras de Satanás.
Toda a natureza se regozijou em homenagem a Jesus que acabava de nascer: as fontes se tornaram mais cristalinas e jorravam com melodia encantadora de modo a elevar os espíritos; as flores desabrochavam mais bonitas e exalavam inexcedível perfume em honra ao recém-nascido; as estrelas brilharam com maior intensidade a fim de prestar justa vassalagem ao Menino-Deus.
A despeito de ser noite, por todas as partes do mundo a mesma cena se repetia. E em toda a Terra se cantou e ainda se canta: “Noite Feliz, noite feliz. Oh! Jesus, Deus de amor, pobrezinho nasceu em Belém. Eis na lapa Jesus nosso bem, dorme em paz oh! Jesus. Dorme em paz oh! Jesus!”.
Estamos comemorando 2014 anos deste magno acontecimento que dividiu a História em duas partes: antes de Cristo e depois de Cristo! Se de um lado, como afirmou Santo Agostinho, podemos exclamar “oh feliz culpa que nos mereceu tão grande Salvador!”, de outro devemos nos perguntar o que fizemos do Sangue precioso do Redentor? O que resta de Cristandade em nossos dias? Dói dizê-lo, mas o mal penetrou até nos lugares mais sagrados da Terra.
Creio ser bem o caso de repetir com Plinio Corrêa de Oliveira as palavras contritas, mas plenas de zelo pelo Senhor Deus dos Exércitos, que ele escreveu em ‘O Legionário’ por ocasião do Natal de 1946. Elas serão por certo o melhor presente que podemos oferecer ao Menino Jesus neste Natal:
“Vede-nos, Senhor, e considerai-nos com compaixão. Aqui estamos, e Vos queremos falar. Nós? Quem somos nós? Os que não dobram os dois joelhos, e nem sequer um joelho só, diante de Baal.
“Os que temos a vossa Lei escrita no bronze de nossa alma, e não permitimos que as doutrinas deste século gravem seus erros sobre este bronze sagrado que vossa Redenção tornou. Os que amamos como o mais precioso dos tesouros a pureza imaculada da ortodoxia, e que recusamos qualquer pacto com a heresia, suas obras e infiltrações.
“Os que temos misericórdia para com o pecador arrependido, e que para nós mesmos, tantas vezes indignos e infiéis, imploramos vossa misericórdia – mas que não poupamos a impiedade insolente e orgulhosa de si mesma, o vício que se estadeia com ufania, e escarnece a virtude.
“Os que temos pena de todos os homens, mas particularmente dos bem-aventurados que sofrem perseguição por amor à vossa Igreja, que são oprimidos em toda a Terra por sua fome e sede de virtude, que são abandonados, escarnecidos, traídos e vilipendiados porque se conservam fiéis à vossa Lei.
“Aqueles que sofrem sem que a literatura contemporânea se lembre de exaltar a beleza de seus sofrimentos: a mãe cristã que reza hoje sozinha diante de seu presepe, no lar abandonado pelos filhos que profanam em orgias o dia de vosso Natal; o esposo austero e forte que pela fidelidade a vosso Espírito se tornou incompreendido e antipático aos seus; a esposa fiel que suporta as agruras da solidão da alma e do coração, enquanto a leviandade dos costumes arrastou ao adultério aquele que devera ser para ela a coluna de seu lar, a metade de sua alma, "outro eu mesmo"; o filho ou a filha piedosa, que durante o Natal, enquanto os lares cristãos estão em festa, sente mais do que nunca o gelo com que o egoísmo, a sede dos prazeres, o mundanismo paralisou e matou em seu próprio lar a vida de família. O aluno abandonado e vilipendiado pelos seus colegas, porque permanece fiel a Vós.
“O mestre detestado por seus discípulos, porque não pactua com seus erros. O Pároco, o Bispo, que sente erguer-se em torno de si a muralha sombria da incompreensão ou da indiferença, porque se recusa a consentir na deterioração do depósito de doutrina que lhe foi confiado. O homem honesto que ficou reduzido à penúria porque não roubou.

“Estes são, Senhor, os que no momento presente, dispersos, isolados, ignorando-se uns aos outros, entretanto, agora, se acercam de Vós para oferecer o seu dom, e apresentar a sua prece. Dom tão esplendido na verdade, que se eles Vos pudessem dar o sol e todas as estrelas, o mar e todas as suas riquezas, a terra e todo o seu esplendor, não Vos dariam dom igual”.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Uma mulher vestida de sol

*Pe. David Francisquini

Pode-se contemplar uma particularidade única no alvorecer quando se viaja de avião em sentido contrário ao sol, ou seja, do oeste para o leste, no momento em que os primeiros clarões do astro-rei rompem as sombras da noite. Em viagem recente pude mais uma vez assistir a este espetáculo.

Como sabemos, o movimento aparente das estrelas, e portanto do sol, é sempre do oriente para o ocidente. Dessa luminosa impressão procurarei tirar algo que torne claro o tema que pretendo desenvolver, ou seja, a conceição imaculada da Mãe de Deus, cuja festa se celebra no dia 8 de dezembro.

A convergência dos movimentos do avião e do sol torna efêmera a duração do fenômeno, desde a sua primeira fímbria que refulge no horizonte – um semicírculo à maneira de meia-lua – até se divisar o sol aspergindo luzes e ir dando com elas forma às coisas.

Isso era claro para os que estavam lá nas alturas, mas não para os que se encontravam em terra. Estes não podiam contemplar o prodígio – privilégio dos que voam, alegria e consolo dos pilotos – de ver nascer o sol e da maravilha que vai se operando em toda a natureza.

Um lindo panorama de se contemplar em ocasiões assim é a cidade do Rio de Janeiro. Seria justo exclamar com Edmond Rostand: “Oh sol, sem o qual as coisas não seriam senão aquilo que elas são!” É o cenário de quem contempla a Terra com os olhos de Deus.

Da forma mais sublime isso deve ter-se passado, por exemplo, com o profeta Isaías no momento de anunciar a vinda do Messias, ao considerar toda a Terra em função do acontecimento ápice em torno de uma Virgem, que se tornaria Mãe por obra do Espírito Santo e daria à luz um filho, Jesus.

As coisas na Terra eram insípidas, informes e incolores porque grassavam as trevas, e levavam os homens a bradar: “Deus, ut videamus” – fazei com que vejamos, implorando súplices a vinda do Prometido das nações.

Quadro comemorativo da proclamação do dogma da Imaculada Conceição
Como da aurora surge o sol, Maria é a aurora que anuncia o novo dia, o sol que espalhará seus raios pela Terra inteira. Maria é a obra predileta de Deus, a obra-prima da criação. Mais fácil seria separar a luz do sol do que Maria de Jesus. E o Filho de Deus fez brilhar n’Ela as prerrogativas mais excelentes, como da sua Imaculada Conceição.

Surgiu no Céu um grande sinal: uma Mulher vestida de sol. (Ap. 12, 1). Maria Santíssima refulge com um esplendor simplesmente inatingível por qualquer outra criatura e se opõe à fealdade e à malícia do pecado, através do qual Satanás procurou arrancar os homens das mãos de Deus.

O demônio é o reflexo do que existe de mais feio e imundo, pois se revoltou contra o seu criador e introduziu no universo criado a desordem e o pecado, desgraças que levaram a humanidade a pecar por meio de nossos primeiros pais, Adão e Eva.

Nossa Senhora é a principal inimiga de Satanás e de suas potestades e sequazes. Filha bem-amada de Deus Pai, Mãe admirável de Deus Filho e Esposa fidelíssima de Deus Espírito Santo, Ela é terrível como um exército em ordem de batalha.

Tão terrível, como diz Santo Afonso de Ligório, “porque Ela sabe bem como ordenar o seu poder, a sua misericórdia e as suas orações para confundir os inimigos em benefício de seus servos, que nas tentações invocam seu poderosíssimo socorro”. (Glórias de Maria Santíssima).

Maria Santíssima é o grande, o divino mundo de Deus, onde há belezas e tesouros inefáveis. É a magnificência de Deus, em que Ele escondeu, como em seu seio, Seu Filho único, e nele em tudo o que há de mais excelente e mais precioso.”

Papa Pio IX proclamando o dogma da Imaculada Conceição
Sobre Ela escreveu São Luiz M. Grignion de Montfort: “É impossível perceber a altura dos méritos que Ela elevou até o trono da divindade; que a largura de sua caridade mais extensa que a Terra não se pode medir; está além de toda compreensão a grandeza do poder que Ela exerce sobre o próprio Deus”. (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem). 


Concebida sem a nódoa do pecado original, a Nossa Senhora foram aplicados no instante de sua concepção os futuros méritos de Jesus Cristo, seu divino Filho e nosso Redentor. Por isso a Igreja canta: “Toda sois formosa, oh Maria, e a mácula original não tocou em Vós. Vós sois a glória de Jerusalém, a alegria de Israel, a honra de nosso povo, a advogada dos pecadores”.