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segunda-feira, 24 de dezembro de 2018


Noite bendita, de encanto e de luz

♦  Pe. David Francisquini *

Não obstante o movimento dos fiéis de um lado para outro, a fim de se purificarem no tribunal da Confissão, o silêncio e o recolhimento no ambiente da igreja paroquial refletem muita paz e tranquilidade. Alguns se prostram diante do grande Presépio para rememorar a magna data do nascimento do Redentor, outros visitam o Santíssimo Sacramento, pois Deus está ali, presente no sacrário. Enfim, todos se preparam para a Missa de Natal, a “Missa do Galo”.
Durante o longo e terrível cativeiro de Babilônia, no qual os judeus ficaram afastados de sua tão afeiçoada pátria e, sobretudo, do altar, por muito tempo não se ofereciam mais sacrifícios, pois desaparecera o fogo do lugar onde o haviam ocultado. Neemias implora então a Deus, atrai o fogo do Céu e a vítima é consumida em sacrifício pelos pecados do seu povo.
O Natal poderia ser chamado, na expressão de Santo Afonso Maria de Ligório, a festa do fogo. Nosso Mestre e Senhor Jesus resplandece com a intensa luz do seu divino amor, pois veio trazer o fogo à Terra, e seu desejo é que se inflame. Não há lugar mais distante em Israel em que seu nome não fosse repetido e reconhecido. A religião fundada com o Sangue divino difundiu-se por todos os cantos da Terra.
Antes de sua vinda, os homens adoravam os animais, o sol, as criaturas brutas. Eles não conseguiam compreender um Deus oculto e invisível, eterno e transcendente, criador do Céu e da Terra. Amavam as criaturas que viam, e não um Deus que não viam.
Quis Deus então tornar-se uma criança encantadora e terna, e reluzir em seu presépio com uma formosura inigualável o reflexo mais perfeito da criação. Deus tornou-se homem de inefável candura e esmero. Por obra do Espírito Santo, sua Mãe Santíssima nos trouxe visivelmente um Deus. Razão suficiente para os fiéis em suas casas prepararem presépios para lembrar o Natal de Jesus Cristo.
Será que todos procuram preparar também seus corações com uma boa confissão, a fim de que o Menino Jesus possa ali nascer e repousar? Quantos são os que passam a noite de Natal pensando e comentando o tempo da infância, bafejado pela graça primaveril do Santo Natal? Quantos ainda comentam as graças que pairavam nos ambientes natalinos? E a comunhão com piedade e devoção naquele dia, questão de honra para um cristão? As igrejas ficavam repletas de fiéis para comemorar o Santo Natal de Jesus Cristo. Depois da Missa do Galo, voltavam todos para suas respectivas casas para a ceia natalina.
Adão, pelo pecado de desobediência e soberba, privou para si e para os seus descendentes não apenas o paraíso terrestre, mas também o paraíso celeste. Ele que convivia com Deus na aragem das tardes, uma vez que a delícia do Pai é o convívio com os filhos. De um lado, competia à Justiça divina punir os nossos primeiros pais pelo imenso pecado cometido. De outro, fazer uso de sua infinita Misericórdia.A Justiça pede o castigo, afinal, um Deus infinito foi ofendido. A Misericórdia, contudo, se sentiria derrotada caso o homem não fosse perdoado. Questão insolúvel? Não.
Deus decide que, para redimir o homem, Alguém inocente deveria padecer a pena de morte na qual a humanidade incorrera. Como nenhuma criatura fosse capaz de oferecer uma morte condigna para absolver pena infinita, o Filho de Deus se ofereceu como Vítima. Santo Afonso ensina sobre Jesus Cristo: “Meu Pai, uma pura criatura, um anjo, não poderia oferecer a vós, majestade infinita, uma digna satisfação pela ofensa do homem.[…] Eu vosso unigênito Filho, encarregar-me-ei de resgatar o homem perdido, descerei à Terra, tomarei um corpo humano, morrerei para pagar a pena que ele deve à vossa Justiça; essa será assim plenamente satisfeita e os homens se persuadirão do nosso amor”.
Santo Afonso põe ainda nos lábios de Jesus, dizendo sobre o Divino Infante: “Meu Pai, já que os homens não podem aplacar a sua Justiça por suas obras, nem por seus sacrifícios, eis-me aqui, o vosso Filho Unigênito, revestido da carne humana, e pronto a expiar as faltas humanas, por meus sofrimentos e por minha morte.”Assim o faz falar São Paulo: “entrando no mundo não quiseste ser hóstia, nem oblação, mas me formaste um corpo […] e eu disse: eis-me que venho […] para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hb, 10, 5).
No Credo cantamos et incarnatus est de Spiritu Sancto. Por que se atribui a encarnação do Verbo ao Espirito Santo? Todas as obras “ad extra” pertencem às três Pessoas da Santíssima Trindade, como defendem os teólogos, pois têm por objeto as criaturas. São Tomás de Aquino pergunta por que é atribuído só ao Espírito Santo, e dá a razão.
Ele diz que todas as obras do amor divino são atribuídas ao Espírito Santo, que é o amor substancial do Pai e do Filho; ora, a obra da encarnação é o efeito do puro amor de Deus pelo homem, o grande amor de Deus para conosco. “O Verbo eterno veio ao mundo principalmente para que o homem soubesse quanto Deus o ama; jamais Deus fez resplandecer aos olhos dos homens a sua adorável caridade, como quanto se fez homem”.
Nessa noite bendita, de encanto e de luz, de inocência e de candura, de beleza e de esplendor, Jesus é o fogo, a chama que de tal forma incendeia os nossos corações de amor, que nem todas as águas dos rios poderiam apagá-la. Apesar do rebaixamento no qual o Menino Deus quis nascer, não há criatura capaz de exaltar a sublimidade e a perfeição de seu amor para conosco.
Quanto mais esse Deus se humilhou fazendo-se homem para nos salvar, tanto mais tornou conhecida e exaltada a grandeza de sua bondade e de seu amor, levando- nos a amá-Lo com denodo e ternura.
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(*) Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria (RJ).

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018


A Santa Missa e o imenso poder do sacerdote


*Padre David Francisquini


Tanto pelo seu cerimonial quanto pelo sacrifício que nela se realiza — a renovação e perpetuação do próprio holocausto do Calvário —, a Santa Missa é um mistério tão sublime, que sua grandeza e esplendor, sua santidade e profundidade, sua nobreza e excelência ultrapassam o conhecimento dos mortais. No entanto, tudo isso está contido nessa celebração que é o centro da Igreja Católica Apostólica Romana enquanto instituição divina.
A Missa, por sua ação sacrifical, representa simbolismo único ao indicar que o próprio Deus enviou a Vítima para redimir e salvar o gênero humano. No Gólgota, Jesus Cristo morreu uma só vez por todos, com o derramamento de seu sangue e de sua morte física. No altar, essa imolação é renovada diariamente de forma incruenta, e os seus infinitos frutos são aplicados aos membros da Igreja, misticamente, sob as espécies do pão e do vinho.
O santo sacrifício tem por finalidade honrar a Deus como convém num ato de adoração, render-Lhe graças pelos benefícios recebidos, aplacá-Lo e dar-Lhe a devida satisfação pelos nossos pecados,a fim de alcançarmos todas as graças necessárias à nossa eterna salvação.
Missa significa enviada, de acordo com São Tomás de Aquino. “Ide, o envio está feito”, ou, no sentido literal, “ide, foi enviada”. Daí deriva o nome de missa. “Ite missa est“, a Vítima é enviada por meio de um Anjo para que seja aceita por Deus.
Nesse ato litúrgico adornado e enriquecido por sinais, gestos, orações, reverências e cruzes há uma beleza encantadora para a piedade cristã. O que se realiza não são apenas simbolismos, mas uma realidade, pois o próprio Cristo é sacerdote e vítima, através da ação ministerial do celebrante. Até as alfaias sacerdotais utilizadas nesse cerimonial embelezam a Missa, pela variedade de simbolismos. O sinal da cruz na casula do paramento românico [foto acima] indica tratar-se de um sacrifício que está sendo renovado.
Cabe salientar que a Missa tradicional é de uma riqueza incomparável no campo litúrgico, exegético, moral e teológico, constituindo um verdadeiro tratado dessas matérias. Ela invoca a intercessão dos santos, da Virgem Maria e dos santos exponenciais do sacrifício do Antigo Testamento, que se perpetua ao longo dos séculos.
Com efeito, não há um ato mais excelente na Terra do que a Missa, por se tratar do sacrifício do Homem-Deus que se renova em nossos altares debaixo das espécies do pão e do vinho, sendo o sacrifício da antiga Lei prefigura do sacrifício de Cristo. Por isso exclamava o Salmista que suas delícias estavam na casa de Deus, a alegria da sua juventude.
Então, o júbilo dos filhos de Deus é o de se encontrar com o Senhor dos Exércitos, que Se imola e Se oferece a Deus Pai. Ao estarem na casa do Senhor, seus pés não param, porque a casa de Deus está edificada como uma cidade cujas partes estão em perfeita e mútua união.
São Leonardo de Porto-Maurício
m seu livro As excelências da Santa Missa, São Leonardo de Porto-Maurício, da Ordem dos Frades Menores, narra que Santo Isidoro, simples lavrador [ao lado, sua imagem em azulejos] , tomava o cuidado de nunca faltar à Missa pelas manhãs. Deus, para demonstrar-lhe o quanto prezava essa devoção, mandava seus anjos lavrar o campo de Isidoro enquanto ele se encontrava na igreja.
Não é de esperar que Deus faça para o comum dos fiéis milagres tão sensíveis e de tal monta, mas de muitas maneiras irá Ele recompensá-los por esse ato de piedade.
Outro exemplo citado na mesma obra é o de São Venceslau, Rei da Boêmia, que com muita humildade fazia questão de acolitar diariamente a Missa. Além de presentear as igrejas com joias preciosas de seu tesouro, costumava confeccionar com as próprias mãos as hóstias destinadas ao Santo Sacrifício. E sem diminuir em nada a sua dignidade real, cultivava um trigal, e desde a preparação da terra até a colheita, ele próprio moía os grãos, preparava a farinha e as hóstias e as apresentava aos sacerdotes para se tornarem o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Jesus Cristo.
Como é bom o Senhor, que fez maravilhas e Se entregou a nós em sacrifício para expiação dos nossos pecados! Não há como explicar e nem sequer realçar a grandeza do sacerdócio católico, porque é outro Cristo que imola em união com Ele esse sacrifício perene que liga Deus aos homens. Com efeito, nem os Anjos possuem tal poder.