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domingo, 11 de janeiro de 2015


Maria e José: corte e serviço régios

Pe. David Francisquini
São Pedro Julião Eymard comenta que Deus Pai, ao enviar seu Filho à Terra, quis fazê-lo com honra, pois Ele é digno de toda honra e de todo louvor. Por isso Lhe preparou uma corte e um serviço régios. Deus desejava que seu Filho encontrasse recepção digna e gloriosa, se não aos olhos do mundo, pelo menos aos seus próprios olhos.
A corte do Filho de Deus compõe-se de Maria e de José. Com efeito, São Bernardino de Siena afirma que Maria foi a mais nobre das criaturas que jamais houve e haverá. São Mateus mostra que Ela é descendente de catorze Patriarcas, catorze Reis e catorze Príncipes. Também em São José desfechou toda a dignidade patriarcal, régia e principesca.
Jesus, Maria e José constituem o mais luminoso exemplo de vida e de instituição familiar, civil e religiosa. Ao lermos nos Santos Evangelhos e nos escritos dos Santos o que a piedade popular convencionou chamar com toda propriedade de Sagrada Família, podemos tirar lições profundas que à maneira de farol nos servem de guia em meio à tempestade.
Sim, em meio à procela que se abate hoje sobre os verdadeiros seguidores de Jesus Cristo, pois até Ele foi odiado no seu Presépio e ameaçado de morte, a ponto de a Sagrada Família se vir obrigada a buscar refúgio no Egito. “Que José tomasse o Menino e partisse para o Egito”, porque Herodes O procurava para matá-Lo.
Quando o anjo apareceu, José dormia, distante dos cuidados da terra e das preocupações mundanas. Somente ele, como chefe da casa, era digno de gozar das visões do alto. O embaixador celeste então lhe diz: “Levanta-te, toma o menino e a Sua Mãe”. Com estas palavras, o anjo reconhece outro título de Maria: Mãe de Jesus, que é Deus.
Como chefe da família de Nazaré, José se apresenta incumbido de preservar os fundamentos de sua família, e com isto torna-se exemplo para todos os casais.
Ao levar Jesus e Maria para o Egito, José cumpria o que estava escrito na Escritura: do Egito chamei meu Filho. O próprio Jesus teve de fugir de seu povo para se abrigar junto a outro povo que outrora fora perseguidor dos hebreus. Assim agindo, José levava um remédio para curar os males que afligiram o Egito, como as dez pragas.
Nosso Senhor levou a luz para esses povos que estavam submersos nas trevas. José, ao partir com Jesus e Maria, saiu durante a noite, no meio das trevas. Ao voltar para a Judéia, ele o fez durante o dia porque aquelas preocupações haviam passado.
Como pai adotivo e esposo de Maria, competia a São José por direito conduzir o Menino Deus a diversas regiões, prefigurando os apóstolos que deveriam levá-Lo ao o mundo inteiro por meio da pregação. São Lucas descreve a ida do Menino, aos 12 anos de idade, com os pais a Jerusalém, ocasião em que se manifestou n’Ele a sabedoria.
Tendo a sabedoria se manifestado no Menino, e com ela a expressão da universalidade das coisas e dos tempos, a luz de Cristo chegou a todos os lugares em todos os tempos. Acabada a festa, o Menino deixou-se ficar em Jerusalém.
Ele quis assim Se ocultar, não para contrariar seus pais e deixá-los preocupados, mas para fazer a vontade do Padre Eterno. Sendo Jesus o Filho de Deus, objeto de tanto cuidado por parte de seus pais, como pôde ter sido esquecido? Cabe, porém, ressaltar o costume que há entre os judeus de que os homens e as mulheres podiam ir em comitivas distintas, enquanto os meninos podiam ir com o pai ou com a mãe.
Após três dias que pareceram uma eternidade, Jesus e Maria encontraram por fim seu Divino Filho. Ele estava no Templo, sentado entre os Doutores da Lei, que ora O escutavam, ora Lhe perguntavam, pasmos com a Sua sabedoria.
Maria manifesta a dor que sentia em seu coração: Teu pai e eu te procurávamos aflitos. E Ele disse: Não sabias que devo me preocupar com as coisas que são de Meu Pai? Para dar a entender que há em Jesus duas naturezas distintas: a divina e a humana.
Buscam e encontram o Menino no Templo, para amá-Lo e seguir os Seus ensinamentos. Saindo do Templo, encontramo-Lo no lar de Nazaré, levando a vida como um filho exemplar, ensinando-nos a humildade e a obediência, pois a obediência é o fundamento da vida cristã.
Assim se resume o restante da vida de Jesus na casa de Nazaré. Na obediência aos pais, ensinava a todos os homens que todo aquele que se aperfeiçoa na vida da graça e da virtude deve abraçar a obediência como meio infalível de se chegar ao bem. Ele se submeteu humilde e respeitosamente ao trabalho corporal.

Embora honestos e justos, seus pais eram pobres e tinham de buscar sustento para a vida com o próprio suor. E Jesus tomava parte nos trabalhos de seus pais obedecendo-lhes em tudo. A propósito, disse Santo Agostinho:o jugo de Nosso Senhor tem asas que nos elevam acima da terra”.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Até quando, Senhor?

*Pe. David Francisquini

Bem diferente de hoje era a atmosfera que circundava o Natal de outrora, quando a maioria das pessoas ainda abria a porta de suas almas – que só podem ser abertas pelo lado de dentro – para as graças próprias às comemorações do Nascimento d’Aquele que veio a Terra para que fosse inaugurado o Reino da bondade, do perdão, da misericórdia e da clemência.
Graças que transcendiam o próprio ser e que se difundiam nos corações das pessoas o sentimento da esperança e da certeza. Em sua unção, elas inundavam os ambientes com louçania arrebatadora, razão pela qual todos, adultos e crianças, pressurosos, aguardassem a Noite Feliz que nos deu tão grande Redentor.    
O fechamento das almas se deu em detrimento do espírito cristão radicado nas virtudes teologais da fé, esperança e caridade; bem como nas virtudes cardeais da prudência, justiça, fortaleza e temperança. Tais virtudes debilitadas ou mesmo extintas geraram desequilíbrios na psicologia dos homens, tornando-os insensíveis às graças de bem estar e de benquerença.
Não se levanta mais o incenso da oração; na sociedade, o trato cavalheiresco foi substituído pela vulgaridade; a solenidade requintada e a elevação de alma passaram a ser rejeitadas, pois não há mais caridade cristã, espelho do amor de Deus trazido por Jesus Menino. Enrijecido, o homem não sabe mais o que representa o Natal. Sem dúvida, isso decorre do desfazimento da família.
Para ele, o que interessa é a fruição do momento, a avidez dos lucros, a sofreguidão dos prazeres, a intemperança em fruir o ambiente e as circunstâncias que o mundo neopagão oferece. No presépio, o Menino Jesus quase não é visitado. Passa-se hoje de certo modo o que se passou com Herodes quando os Reis Magos lhe perguntaram onde havia nascido o rei de Judá...
Se os homens de fé foram vítimas de um processo diabólico de transformação até se tornarem ateus práticos, tal processo ainda não atingiu o seu fim último. Com efeito, o demônio não esmorecerá enquanto não extinguir na sua faina inútil de destruir o que resta de cristão na face da terra. Há sinais espantosos desse ódio que ronda o Menino do presépio.
Basta ver, ouvir ou ler matérias de nossa mídia para constatar a animosidade da perseguição aos cristãos do Oriente Médio, sendo eles perseguidos, massacrados, mutilados, despojados de seus bens e até da própria vida. No Ocidente, essa perseguição se dá por meio de leis que visam implantar um estado de coisas oposto aos ensinamentos do Evangelho. Dói dizê-lo, mas sob o silêncio quase total dos Pastores...
De passagem, citemos o fanatismo de muitos no anseio infrene de impor uma legislação abortista; estes mesmos fanáticos querem implantar o pseudo-casamento homossexual, a legalização da prostituição, a liberação das drogas, a eutanásia e tudo mais que vá diretamente se opor à doutrina e à Lei de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Santa Igreja.
Por exemplo, a educação das crianças pelas mãos do Estado moderno com suas nefastas consequências. A propósito, são oportunas as palavras do Profeta Jeremias referidas por São Mateus: “Uma voz se ouviu em Ramá, grandes prantos e lamentações: Raquel chora seus filhos e não pode se consolar, pois eles já não existem”.
De acordo com São Jerônimo e São João Crisóstomo, os evangelistas e os apóstolos quiseram expressar como hebreus que eram em sua própria língua, o que continha no texto hebreu. A palavra Ramá quer dizer “voz que foi ouvida no alto, de muito longe”, esta voz se referia à morte dos inocentes que se ouvia nas alturas.
Isto se aplica aos nossos dias em que a verdadeira Igreja Católica, Apostólica, Romana – quase sucumbida pelas dores que os seus próprios membros vêm lhe causando – mas como Mãe ela chora e lamenta a dores infligidas a seus filhos. Usquequo, Domine! Até quando, Senhor?