Reflexão para Sexta-feira Santa
Pe. David Francisquini
Jesus morre lentamente. São três horas de agonia. Após suplícios inenarráveis e atrozes, Jesus entregou o seu espírito ao Divino Pai, em meio da perplexidade de todos; até mesmo de um pagão, o Centurião romano que, atarantado, exclamou ser aquele homem um justo.
Os
santos evangelhos nos contam ter ocorrido grande tremor de terra, que o sol
perdido o seu brilho, a terra ficou envolta em escuridão. Isso deixou atônito o
centurião e todos que acompanhavam espantados as circunstâncias da morte de
Jesus Cristo, percebendo que se tratava na realidade de um Deus.
Esses
prodígios se sucederam e demonstraram que a morte do Justo, que ao mesmo tempo
era Deus e Homem, reuniam todos os elementos para registrar e glorificar o
prodígio de misericórdia de um Deus que deu vida por todos nós.
Não foi sem razão que Jesus alertara as
multidões: quando fosse elevado da terra atrairia todas as criaturas. Por isso,
ao sentir o terremoto e tudo que acontecia, ao assistir a esse espetáculo,
aquelas testemunhas se retiraram batendo no peito e reconhecendo o pecado que
haviam cometido, em sinal de arrependimento.
Com tais
atitudes reconheciam a injusta morte d’Aquele que criou o céu e a terra; ao
mesmo tempo puderam ver nesta morte, ainda sem conhecer a Ressurreição que logo
viria, a glória e o triunfo daquele que passara a vida fazendo o bem.
Por
outro lado, os pagãos reconheceram em altos brados que Jesus era inocente. O
povo judeu se limitava apenas em bater no peito, indo embora silenciosamente. O
covarde juiz Pôncio Pilatos se declarou inocente.
Também o centurião, vendo e sentindo toda aquela conturbação da natureza, creu que Jesus era inocente. O traidor reconheceu a inocência de Jesus, se enforcando, e com isso admitiu o próprio crime. Enfim, toda a natureza convulsionada se manifestou ao testemunhar a morte do seu Criador.
Com
o estremecimento da terra, os sepulcros se abriram, e os santos ressuscitaram
para denunciar o grande pecado do assassinato de um Deus. Enquanto isso, a
grande exceção, as autoridades religiosas, os altos dignitários que dominavam a
Sinagoga, permaneceram inflexíveis no crime e na sua maldade, pela sua dureza
de coração.
Quantas
circunstâncias extraordinárias se passaram na hora da morte de Jesus! Qual é o
significado que tudo isso traz para os nossos dias? Se não tivermos uma fé
profunda e sincera, faltarão as necessárias disposições de alma para nos conduzir,
com auxílio da graça divina, à santidade.
Nada
entenderemos da conexão desse magno acontecimento com a situação de nossos
dias, que representa igualmente a paixão da própria Santa Igreja Católica. O
que se passou naquele então, com o povo judeu, ocorre igualmente em nossos dias
com a indiferença e condescendência diante dos erros difundidos na sociedade.
Para
as pessoas mais ilustradas, a situação ainda é agravada pela capacidade que têm
de perceber e entender as coisas. Eles possuem meios de avaliar os significados
que levam à existência de um processo sutil, mas inexorável, da autodemolição
em curso no interior da própria Igreja. Se não o fazem, é por miopia culposa.
Não
pretendendo alongar mais a meditação, mas menciono apenas mais um fato, ou
seja, o engajamento de tantos elementos do clero com a esquerda, com o
comunismo, que escandaliza o orbe católico e põe, bem à mostra, a tragédia em
que vive a nossa santa Mãe, a Igreja.
Infelizmente,
tal processo não foi bem percebido em seu início, o que agrava esse dramático e
misterioso processo. Para muitos, passou despercebida toda a manobra; como pode
ter acontecido tão profunda infiltração de gente má nas fileiras da Hierarquia
sagrada com a consequente difusão e adoção de tantas ideias revolucionárias?
Talvez
pensando nisso foi que o grande papa do início do século passado, São Pio X,
afirmava que não precisamos ir muito longe para encontrar os inimigos da
Igreja, pois eles se encontram na verdade dentro d’Ela. Assim ocorreu também no
tempo de Nosso Senhor vivendo em meio de seu povo.
O
pecado imenso, para se chegar ao ponto de tirar a vida de um Deus foi enorme e
se chama deicídio. O mesmo sucede agora, em nossos dias, a ponto de destruir a
instituição, se Ela não fosse imortal.
Este
é o ponto principal de nossa reflexão de Semana Santa em pleno século XXI: a
tentativa, aliás vã, de demolir a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. Que
a Santíssima Virgem de Aparecida, nossa Padroeira, hoje tão esquecida, nos
conceda a graça de cultivarmos nos nossos corações, uma profunda união com as
dores que a Mãe Santíssima sofreu, junto de seu Filho.
Ela,
por essa forma, assumiu o papel de colaboradora principal na Redenção do gênero
humano a ponto de ser chamada a justo título de Corredentora, objetivo do maior
acontecimento da história: a Encarnação, Paixão e Morte do Filho de Deus, a
segunda Pessoa da Santíssima Trindade.