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terça-feira, 29 de março de 2016

No ápice da derrota, o ápice da vitória

Pe. David Francisquini

Rogier Van der Weyden
Na aparência, Nosso Senhor Jesus Cristo na sepultura Se apresentava como o grande derrotado. Quem seria capaz de imaginar que depois de tantos milagres, como a transformação da água em vinho, da ressurreição de mortos, da multiplicação de pães e peixes, da pesca miraculosa, da cura de cego de nascença, além do poder que possuía sobre os demônios e a natureza, Ele terminaria a sua vida de maneira tão trágica?
A multidão que se aproximava para ver, ouvir e tocar o Divino Salvador, encontrava-se silenciosa diante de seu Corpo sem vida no Santo Sepulcro, sob a guarda de soldados. Mas Jesus jazia ali como triunfador glorioso, impondo terror aos seus inimigos, pois mesmo apesar de morto, aniquilado e derrotado, precisava ser vigiado como inimigo perigoso, tendo o seu sepulcro sido lacrado com o selo imperial de Roma e provido de guardas.
Rogier Van der Weyden
Por que tanto temor diante de um morto? Ainda havia pouco o Mestre de Nazaré lembrara aos seus inimigos que se eles derrubassem o Templo em três dias Ele o reedificaria... Na verdade, falava de seu próprio corpo mortal. Elucida-o a figura de Jonas em relação a Cristo, pois tendo passado no ventre da baleia três dias e três noites, simbolizou o Filho de Deus no ventre da terra por três dias, quando ressurgiu dos mortos.
Depois que Cristo Nosso Senhor dormiu o sono da morte no alto da Cruz, na Sexta-feira Santa às três horas da tarde, foi sepultado logo depois com ajuda dos seus discípulos José de Arimateia, Nicodemos e São João Evangelista, além de algumas destemidas mulheres que estavam aos pés da cruz. Com a devida permissão para O retirar da Cruz, seu Corpo foi sepultado num jardim próximo dali.
Mas ao terceiro dia, pela madrugada, sua alma santíssima uniu-se ao corpo que estivera morto. Para entender o mistério da Ressurreição, recorremos a uma comparação simbólica. Ao lançar o semeador a semente na terra, para que dela surja nova vida, é imperativo que morra. Assim aconteceu com Cristo que, colocado no sepulcro, resplandeceu como luz ao terceiro dia, o que prova a sua divindade.
A aurora, que é o desdobramento do próprio sol que ela anuncia, desponta para que o dia recomece. Assim, glorioso e refulgente, vitorioso da morte e do mundo, Cristo ressurge nesse dia com o seu próprio poder e virtude; dia glorioso, que passou para a História como primeiro da semana e, portanto, consagrado a Deus, porque Jesus Cristo selou sua missão divina de Homem-Deus. Como Vítima adorável, sacrificou-se pelos homens para redimi-los e lhes abrir as portas do Céu.
Maria Tereza Vidgal
Ele funda depois a sua Igreja e A enriquece com os tesouros divinos da salvação. Sua maneira de ressurgir foi própria, pois que “não está nas leis da natureza, nem homem algum teve jamais o poder de passar da morte à vida por própria virtude. Isto cabe ao poder de Deus, como se depreende das palavras do Apóstolo: 'Embora fosse crucificado na fraqueza, vive, todavia, pelo poder de Deus'” (II Cor. 13, 4 e Catecismo Romano de Trento).
Por ser Homem-Deus, a divindade nunca se separou do corpo nem da alma. De onde estavam postas as condições para que Cristo ressurgisse dos mortos por virtude própria. Por força da união hipostática – pela qual a divindade e a humanidade estão unidas tão estreitamente à pessoa do Verbo numa só pessoa – ao ser homem não deixou de ser Deus, Senhor da vida e da morte.
“Cristo ressurgiu dos mortos, como dos que dormem; porquanto por um homem veio a morte, assim também por um Homem veio a ressurreição dos mortos. E como todos sofrem a morte em Adão, assim todos terão vida em Cristo.  Cada qual, porém, conforme sua ordem. Cristo como primeiro de todos, em seguida os que pertencem a Cristo” (Romanos, 6, 9). Nossa Senhora, pela missão que ocupa como Mãe e Corredentora, ao contemplar Cristo Morto e sepultado, é o modelo exímio da Fé, do espírito de Fé e do senso católico.
Fra Angelico
Hoje, as possibilidades de ressurreição plena de todas as coisas segundo a Lei e a Doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo parecem tão irremediavelmente sepultadas quanto aos apóstolos parecia irremediavelmente sepultado Nosso Senhor Jesus Cristo no seu sepulcro. Os verdadeiros devotos de Nossa Senhora recebem d’Ela, entretanto, o inestimável dom do senso católico, sabendo que tudo é possível, e que a aparente inviabilidade dos mais ousados e extremados sonhos apostólicos não impedirá uma verdadeira ressurreição de todas as coisas.

Nossa Senhora nos ensina a perseverança na Fé, no senso católico, na virtude do apostolado destemido, mesmo quando parece tudo perdido. A ressurreição virá logo, porque tem a promessa de Nossa Senhora de Fátima, do triunfo do Imaculado Coração de Maria (cfr. Via Sacra de Plinio Corrêa de Oliveira, O Legionário).

segunda-feira, 21 de março de 2016

A última Ceia: a Missa de sempre

Pe. David Francisquini 


A Quinta-feira Santa nos conduz a uma verdadeira intimidade sacral com o mistério da alegria e da tristeza, pois enquanto o Divino Mestre reunia os seus discípulos no Cenáculo para a Ceia, que ficou gravada de modo indelével na História, afigura-se nos o quadro aterrador de um dos d’Ele, ali presente, que se tornaria o protótipo dos traidores de todos os tempos: Judas, o infame.
Noite memorável em que o mistério do amor do Salvador aos homens se manifestou ao lavar Ele os pés dos seus discípulos, lembrando-os de que não viera para ser servido, mas para servir. Noite em que — para ficar conosco até a consumação dos séculos — Ele instituiu o sacerdócio católico, o sal que salga, a luz que ilumina a Terra pelos bons exemplos e pela pregação da Boa Nova ensinada por Ele.
Jesus Cristo muito aspirou estar com os seus discípulos na instituição da Eucaristia, quando celebrou com antecipação o santo sacrifício da Cruz e inovou misteriosamente o antigo Sacrifício por meio do pão e vinho. O antigo dava lugar ao novo, pois um Deus Se fez homem e Se sacrificaria na Cruz derramando seu preciosíssimo Sangue.
Mosaico na Catedral de Monreale
Uma lição que surge desse acontecimento se traduz por excelência na constituição divina da Santa Igreja, na instituição do sacerdócio, na Eucaristia, na Santa Missa, quando se oferece Jesus Cristo a Deus pelo perdão de nossos pecados, único meio de reparar a falta de nossos primeiros pais.
A Igreja sempre revestiu a Santa Missa de sacralidade, beleza e riqueza, em razão dos tesouros divinos e dos méritos infinitos de Jesus Cristo para benefício das almas. Com a transubstanciação do pão e do vinho, operada através da consagração, Ele permanece conosco com seu corpo, sangue, alma e divindade.
Ao celebrar a primeira missa no Cenáculo, Nosso Senhor ordena aos Apóstolos a fazer a mesma cerimônia dizendo: “Todas as vezes que fizerdes isto, fazei-o em minha memória”. Não se trata de mera recordação, mas de uma realidade que faz parte da Santa Igreja Católica e que os protestantes não possuem. Um ato do próprio Salvador do mundo, que Se serve do sacerdote para renovar o sacrifício que nos redimiu.
Se Jesus Cristo colocou o sacerdote como instrumento hierárquico, só ele pode celebrar e renovar esse sacrifício. Isso o diferencia do simples leigo e contraria frontalmente os erros luteranos. Ademais, tal sacrifício, pertencente à Igreja Católica, é único, insuperável, inalienável.
Nada agrada tanto a Deus, faz tanto bem às almas e causa tamanha confusão nas hostes humanas e angélicas submissas a Satanás, do que a Santa Missa como a Igreja sempre a celebrou. Pode-se também compreender o ódio de Lutero votava a ela, ao afirmar ser algo medieval, a qual só lembrava ter Cristo se imolado por nossos pecados. Não! A Missa é propiciatória, razão do ódio das potestades infernais.
São Pio V
Se a Missa pertence à constituição divina da Igreja, torna-se claro que os heresiarcas não podem suportá-la, nem tampouco o sacerdócio hierárquico, sagrado e revestido de um poder conferido na ordenação sacerdotal para oferecer sacrifício por seus próprios pecados e pelos pecados do povo, compadecendo-se daqueles que erram. Compreende-se como a Igreja, através dos séculos, revestiu com toda sacralidade o mistério sagrado do culto para intensificar a piedade dos fiéis, tornando-se assim o centro da vida cristã.
Ao promulgar o Missal Romano, o Papa São Pio V, pela autoridade hierárquica apostólica, aplicou o zelo, a força e o pensamento no sentido de conservar na sua autêntica pureza tudo o que diz respeito ao culto católico. Ele realizou essa obra para todos os séculos, a fim de preservar dos ataques luteranos e dos futuros inimigos da igreja, algo que tanto eleva e compõe a vida interna da Esposa de Cristo.
 “Lex orandi lex credendi”. A oração regulada por um decreto papal que enaltece e põe em destaque o modo de se cultuar a Deus, no caso a Santa Missa, um sacrifício propiciatório incruento que aplica os méritos da Paixão a todos os membros da Igreja. O sacerdote principal é Nosso Senhor Jesus Cristo e, secundariamente, o celebrante é o padre sagrado e ordenado.
Missal Romano promulgado por ão Pio V, em 5 de dezembro de 1570
Na promulgação do Missal editado em 1570, São Pio V afirma que nenhuma autoridade poderá impedir a celebração da Missa impropriamente chamada de tridentina, sob pena de incorrer em cisma ou heresia. Por quê? Porque a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, em virtude de sua faculdade apostólica, decretou que a Missa a partir do Concílio de Trento seria irremovível, e isso para sempre.
Qualquer celebrante tem, a partir de então, o indulto, a permissão e o poder irrestritos de usar aquele Missal sem nenhum escrúpulo de consciência e sem incorrer em nenhuma pena, sentença e censura. São Pio V usou de suas atribuições como sucessor de Pedro, Vigário de Jesus Cristo, para se contrapor à pseudo-reforma luterana que envolveu a liturgia e a mudança na forma doutrinária.
Para salvaguardar o culto católico de qualquer inovação extravagante, sem respaldo na Tradição e no Magistério, sempre em vigor de maneira ininterrupta, São Pio V nos concedeu um verdadeiro tesouro protegendo a Missa contra a investida de seus inimigos. Não se trata de preferência, mas de coerência com o que pensa e ensina a Igreja, que não contradiz seu passado glorioso, seja no culto litúrgico, seja na sua doutrina.

São Pio X celebrando a Missa
Por isso nós a aclamamos una, porque a coesão e a unidade só se explicam em Deus, d’Ele provêm e a Ele conduzem, porquanto o Pai enviou seu Filho para renovar todas as coisas. Continuidade eterna, imutável, cheia de perfeições e grandezas, pois o próprio Cristo instituiu a Santa Missa como um sacrifício no qual se renova o sacrifício d’Ele no Calvário, e não para agradar os luteranos...