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segunda-feira, 30 de maio de 2016

Vigiai! Tendes olhos e não vedes?

Padre. David Francisquini

            Alguns animais se utilizam de disfarces para se arremessarem melhor contra a presa. É o caso, por exemplo, do leopardo ao escolher sua vítima; da cobra, cuja coloração furta-cor serve ao mesmo tempo de camuflagem e atração; do camaleão, do latim stellio, lagarto, que muda de cor para passar despercebido. Eles parecem ter inspirado os legisladores na tipificação de crimes praticados por estelionatários.
           Ser racional, o homem vai além: vê, julga e age em consequência para fazer o bem ou o mal. O ideólogo do mal, por exemplo, opera com facilidade e está sempre aprimorando suas abordagens a fim de inocular mais eficazmente o seu ideário.  Assim como um réptil muda a cor da pele por mero instinto, os difusores do mal se transmutam ao utilizar linguagem capciosa e envolvente para iludir incautos e fazer prosélitos e simpatizantes.
            É o que podemos constatar ao analisarmos a metamorfose do comunismo e suas influências nocivas nos ambientes, costumes e instituições. Assim, os agentes revolucionários, tendo por doutrina o igualitarismo e o amor livre, trabalham ardilosamente para o apodrecimento da sociedade. Ficam sempre à espreita para golpear um valor que concorre para a sustentação do mundo no qual vivem.
            As suas metamorfoses táticas visam apenas alcançar seus objetivos, não importa o campo de atuação. Restrinjo-me ao erro declarado ou larvado que passou a grassar nos meios católicos por meio da infiltração comunista ou das ideias comunistizantes da Teologia da Libertação que vem descaracterizando o povo fiel. Na verdade, ao longo deste último século o meio religioso foi acossado a se adaptar ao mundo moderno.
            Entre o clero, para não falar de algumas personalidades de destaque até do episcopado, passou-se a ter uma concepção do comunismo e do socialismo que nunca correspondeu à realidade. Chega-se a ouvir com certa frequência que o comunismo morreu, e, portanto, que as condenações pontifícias de outrora perderam a razão de ser.
            Procura-se justificar o caráter “desprovido” de ideologia de partidos comunistas quando se ocupam de questões sociais, como os interesses dos marginalizados e excluídos; das minorias; do direito à prática do aborto e da prostituição; da erradicação da homofobia e da igualdade de gênero; do direito às manifestações públicas em paradas homossexuais; a defesa exacerbada do meio-ambiente...
            Convém, contudo, focalizar que o mundo contemporâneo encontra-se numa fase tal que pretende tragar, com reformas antinaturais e contrárias à Lei de Deus, o que ainda resta de ordem, como a família e a propriedade. Diga-se, aliás, que a Revolução passa da fase propriamente comunista para o campo cultural e místico, a fim de instaurar o caos social.
            Lembremo-nos que a Igreja, até meados do século passado, tinha uma posição clara, definida, categórica a respeito da ideologia marxista, impondo até mesmo penas canônicas ao católico que colaborasse ou defendesse a ideologia ateia, pois, entre o socialismo e a doutrina social da Igreja havia uma oposição irreconciliável. De lá para cá, vem-se configurando um distanciamento paulatino de tudo aquilo que ensinaram os Papas, os Santos e os Doutores da Igreja.
          
Frei Gilvander Luís Moreira, promovendo revolução
  Prova disto foi a invenção pelo Pe. Gustavo Gutierrez da Teologia da Libertação, a qual se identifica com a visão marxista da luta de classes, dos pobres revoltados em luta contra as desigualdades, preconizando a vida comunitária sem bens particulares. Ela ataca a classe mais favorecida e os meios de produção da livre iniciativa para sacudir mais facilmente o jugo “escravagista” dos privilegiados e implantar uma utópica sociedade igualitária.
            Cumpre notar que os líderes revolucionários fingem desconhecer que no final do processo de transformação e da consequente consolidação de seus planos haverá um nivelamento drástico das classes num patamar social aviltante, porquanto uma minoria desfrutará das benesses que o novo sistema lhe proporcionaria. É o que ocorre em Cuba há mais de meio século e agora também na Venezuela. Algo disso começou a esgueirar-se no Brasil na era do PT.
            Outra tese revolucionária é a de que só se alcança a dignidade humana através do estabelecimento da igualdade de todos, ainda que na miséria. Se o empregado é teoricamente igual ao patrão, este último acaba por se sentir livre da obrigação moral de lhe prestar assistência e proteção. Em nome dessa igualdade os empregados são lançados contra as classes mais favorecidas que os protegiam em sua própria dignidade, nos costumes e nas suas necessidades.
            Por sua vez, os empregados ficam entregues à própria sorte e passam a explorar cada vez mais o empregador, ancorados, aliás, em leis favorecedoras da luta de classes. Esse quadro prenuncia uma profunda desmoralização, geradora de miséria espiritual e material, com vícios de toda ordem a devorar os salários e agravar mais e mais a triste situação de um povo alheio à fé, desguarnecido das leis e desprovido de lares.
            Cabe, pois, aludir à advertência do nosso Divino Mestre: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação”. Que tentação? – A de nos deixarmos envolver pelo otimismo sedutor, produto da propaganda revolucionária, e nos tornarmos cegos, como muitos homens verdadeiramente cegos, que nada veem através do coração ou do pensamento, mas só com os olhos do corpo. Se lhes perguntarmos se Babilônia e Palmira existiram de fato e foram destruídas, eles responderão que sim, pois podem ver as ruínas de edifícios encobertos pelas areias do deserto. Mas se lhes dissermos que a sociedade atual está sendo destruída, não irão nos compreender e rir-se-ão de nós, porque veem à sua volta os campos cultivados, as casas e cidades habitadas pelos homens. O que dizer a esses cegos, senão o que o Senhor disse a outros semelhantes: “Têm olhos e não veem” (Sl. 115, 5 e 135, 16, Delassus, Espírito de Família).

            Sob os auspícios de Nossa Senhora Rainha, cuja festa no calendário tradicional se celebra no dia 31 de maio, peçamos-Lhe que difunda luzes para que a nossa sociedade conturbada escape das armadilhas veladas ou declaradas de seus predadores. Que sua festa nos traga a clareza de espírito capaz de discernir essas armadilhas e seus encadeamentos, que nos impedem de agir em conformidade com a nossa fé.