REFLEXÕES
PARA O NATAL 2022
*Padre
David Francisquini
Ele escolheu vir habitar entre nós no
frio ambiente de um estábulo, onde se abrigavam os animais durante a noite.
Pode haver pobreza maior, situação de tanta penúria, para que uma criança venha
ao mundo?
O imperador romano César Augusto, ao
publicar um edito, obrigou a todos os seus súditos, os da Judeia incluídos, que
fossem se recensear cada um na cidade de origem de sua família. Sendo José da casa
de David, ficou obrigado a deslocar-se a Belém. A longa jornada empreendida com
a sua esposa ocorreu na ocasião em que estava próxima de ser mãe, como nos
relata o Evangelista.
Anoto aqui uma curiosidade que
certamente não é fruto de acaso: se tomarmos o significado etimológico, Belém
quer dizer “casa do pão”. No primeiro século, Belém era uma aldeia de quase mil
habitantes, com um conjunto de casas disseminadas pela encosta da colina. Seus
habitantes viviam da criação de ovelhas e da cultura de trigo, em terra fértil
e próspera.
Foi este lugar que Deus escolheu para o nascimento de seu Filho muito amado. No berço da família real de David, que ali outrora havia pastoreado os seus rebanhos em campinas verdejantes. Também ali foi ungido o segundo rei de uma das famílias de Judá, que se chamava Jessé.
Nosso Senhor Jesus Cristo, que a
este mundo veio para nos sustentar com o pão da graça, a Eucaristia, nos
regenerou com o seu próprio sangue. Ao nascer na “casa do pão”, num campo ermo
e afastado, veio concretizar aquilo que no passado havia simbolizado o maná.
Também veio resgatar para Deus ricos e pobres, nobres e plebeus, brotando ali como
uma flor, como um lírio perdido no campo que esparge seu perfume, o bálsamo da
graça e do perdão, para toda a natureza, animada e inanimada.
Por esse motivo a cena do presépio
nos mostra a natureza toda se revestindo de um encanto especialíssimo, que unia
os anjos e os homens. Ali se reverenciou o Menino, que nasceu na cidade de
David, chamada Belém.
Nestes tempos natalinos, temos
ocasião de festejar o nascimento do Salvador, o qual, "premido pelas
entranhas de sua misericórdia" para nos redimir, permitiu que obtivéssemos
as graças para nos libertar do pecado, assegurando-nos a vida eterna.
Mas Ele não veio a este mundo apenas
com a missão de redimir. Prova disso foi o fato de ter se reclinado numa
manjedoura, em que os animais se alimentavam; assim quis também significar a
futura revelação do Sacramento da Eucaristia, nosso alimento espiritual, o pão
da vida.
Na Santa Missa, nasce no altar como
deitou-se na manjedoura, para se oferecer ao mesmo tempo, por nós, como vítima
de expiação e como alimento. Nascido na precária condição de criança indefesa,
em ambiente paupérrimo, o Verbo Eterno quis atrair mais fortemente nossos
corações e iluminar nossa compreensão a respeito de seu incomensurável amor.
A criancinha do estábulo de Belém
quis nos atrair pela ternura, tocando expressivamente nossas almas. Não veio a
terra para espalhar o terror, mas para conquistar os corações pelo seu
excessivo amor; estava se fazendo criança para tomar um pouco de proporção
conosco, Aquele que por natureza é infinitamente perfeito, pois é Deus.
Quis unir a Pessoa divina a uma
natureza finita, puramente humana, e assim se tornar visível, para nos ensinar
o caminho da fé, dos princípios e das virtudes.
Aquele que é invisível se tornou visível, para nos atrair à vida
sobrenatural da graça neste mundo, e nos assegurar a vida eterna.
Ao nascer entre os homens e vir a este
mundo, não deixa de ser Deus aquele que é eterno, amável e providente. Seus
olhos puros e inocentes se irradiam sobre nossas almas, trazendo-nos um
verdadeiro bálsamo de bondade e misericórdia. Seu olhar transpassa a alma e nos
eleva aos páramos mais sublimes da esperança e da luta.
No Presépio, a Santíssima Virgem
Maria se apresenta majestosa e ao mesmo tempo singela e afável, ao lado do seu
castíssimo esposo São José. Reveste-se da condição de nossa intercessora, nossa
consoladora em meio aos sofrimentos, mãe amorosa que nos quer junto a Ela e seu
divino Filho, agora e por todos os séculos dos séculos.
Sabemos que as trevas não
prevalecerão, que a borrasca passará! Que a contemplação do presépio e da gruta
de Belém nos fortaleça. E assim nos anime para logo cantar a vitória, que não
tardará, do Imaculado Coração de Maria! Desejo a todos um santo e Feliz Natal e
um próspero Ano Novo. carregado das abundantes chuvas da graça.
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