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domingo, 24 de janeiro de 2010

Aborto de anencéfalicos: violação da Lei de Deus e da Lei natural



Pe. David Francisquini

Diante da possibilidade de legalização do aborto para fetos anencéfalos, percebe-se o embuste que lesa a dignidade e a honra da pessoa humana. Posto o processo de fecundação, não se pode provocar uma interrupção direta e voluntária de uma vida humana, porque isso contraria a ordem estabelecida por Deus na natureza. Além de inconstitucional, é pecado de malícia peculiar que clama aos Céus por vingança.

Caso persista tal obstinação abortista, não podemos descartar que a justiça divina se faça sentir no Brasil. Não bastassem as muitas leis iníquas já aprovadas pelo Congresso, recrudesce agora tentativa da introdução do aborto. A voz de tantos seres humanos, silenciadas ainda em botão, estarão a bradar ante Deus por castigos.

Deus disse a Caim, que matou seu irmão Abel: “Que é que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama desde a Terra até a Mim. Agora, pois, serás maldito sobre a Terra... quando tu a tiveres cultivado, ela não te dará os seus frutos: tu andarás como errante fugitivo sobre a Terra” (Gen. IV, 10).

O que pensar de um tribunal decidindo a sorte de incontáveis vidas de nascituros? Faz-me lembrar Nosso Senhor Jesus Cristo sendo julgado pelo magistrado romano, ou ainda as figuras sinistras de Hitler e Stalin, dos regimes nazista e comunista, matando com requintes de crueldade milhões de pessoas.

A tentativa de revogar o quinto Mandamento da Lei de Deus e a própria Lei natural corresponde a uma revolta contra Aquele que o instituiu, e que criou a natureza humana.

Minha alma de sacerdote católico, apostólico, romano vê com tristeza o fato de o Episcopado nacional não estar dando a devida atenção a tão grave ofensiva à ordem criada. Sua preocupação preponderante refere-se à questão social, a propósito da qual – diga-se de passagem – enfoca o mais das vezes de modo equivocado a doutrina social tradicional dos Sumos Pontífices, causando essa atitude perplexidades em muitos fiéis.

O aborto direto e voluntário constitui pecado friamente premeditado, que revolta o senso moral do homem, e consiste em crime de homicídio. A Igreja católica pune com pena de excomunhão quem o pratica ou participa diretamente de sua execução. Mesmo que o pretexto para executar um aborto seja a anencefalia do nascituro, pois contraria a doutrina milenar da Santa Igreja: Deus, ao criar o homem à sua imagem e semelhança, concedeu-lhe um fim supremo e eterno; e somente Ele tem o direito de tirar a vida de sua criatura.

Ao ser gerada uma vida humana, debilitada ou com defeitos, não se pode negar que ela tenha alma imortal, concebida no pecado original e que deve receber o batismo, meio absolutamente necessário para se salvar, pois assim se exprimiu o próprio Nosso Senhor: “Quem não renascer na água e no Espírito Santo, não poderá entrar no reino dos Céus”.

Cabe lembrar que as relações de cada alma com Deus constituem um mistério que paira acima do desenvolvimento mais ou menos perfeito de sua sensibilidade, e mesmo de sua inteligência. Tais relações começam, quando a criança está sendo formada no seio materno.

Em meu múnus sacerdotal, já deparei com casos de mães que enfrentaram toda a pressão que se costuma exercer sobre elas em caso da anencefalia ou de outro defeito físico do nascituro; e deram à luz crianças cujo batismo eu mesmo administrei. Houve até um caso em que foi diagnosticada anencefalia, mas que, na realidade, não o era. A criança nasceu, recebeu o batismo e está viva até hoje. Quantos casos como este não haverá por este Brasil afora? Os defeitos físicos são muitas vezes decorrências do pecado original e, apesar do batismo apagá-lo, não elimina da natureza humana suas conseqüências. Devemos saber suportá-los com verdadeira resignação cristã.

Compreende-se, em vista disso, a tristeza e a dor com que Nossa Senhora apareceu em Fátima, lamentando os pecados e crimes cometidos pelos homens e mostrando Seu Coração cercado de espinhos, nele cravados sem dó nem piedade pelos homens ímpios.

Confiemos na Virgem Santíssima e no triunfo de Seu Imaculado Coração.
E não nos deixeis cair em tentação



Pe. David Francisquini


Estou convicto de que a maior prova arrostada pelos fiéis de hoje consiste na crise religiosa e no seu corolário, a crise de fé. Como enfrentá-las e vencê-las com resignação e confiança próprias de um verdadeiro filho de Deus e da Igreja? Como o sacerdote católico concorre para ajudar a alma provada restituindo-lhe a paz interior?


Levando em conta a ação ordinária dos demônios sobre os homens, em razão do profundo ódio que aqueles tributam às criaturas que deverão ocupar os seus lugares na corte celestial, lançam eles mão de todos os meios para conduzir os homens ao inferno. Tal ação consiste em seduzi-los através de fatos ou realidades, agindo sobre os cinco sentidos externos.

O demônio age também nos sentidos internos, de modo especial na memória e na imaginação, a fim de mover o livre arbítrio do homem ao pecado. Pinta a tentação com cores vivas, influi sobre a psicologia humana, desencadeia paixões para debilitar a vontade e fazer com que ela dê assentimento ao pecado.

Amparados pela graça e na medida em que haja resistência contra as atrações sedutoras do demônio, o homem pode não apenas vencer as tentações, mas tirar proveito delas para aumentar seus méritos e conquistar depois a bem-aventurança eterna. Jesus nos ensinou a ser vigilantes e rezar para não cairmos em tentação: “E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém”.

O demônio exerce ainda outras ações extraordinárias como a infestação, a vexação, a obsessão e a possessão. Tais ações são comuns nos dias atuais e se fazem presentes nos ambientes, nas pessoas, nos sentidos do homem, chegando mesmo o maligno a possuir o próprio corpo humano.

Tal poder é concedido por Deus ao demônio para castigo dos pecados do homem. Muitas vezes o diabo recebe permissão de Deus para atingir a saúde e os bens materiais da pessoa tentada, como aconteceu com Jó, que saiu mais purificado do embate com o príncipe das trevas, nunca perdendo a confiança em Deus.

Cabe ressaltar que tal ação diabólica não é milagrosa, porque milagre só Deus pode fazer, diretamente ou através de um santo ou de sua Mãe Santíssima. As ações extraordinárias provocadas pelos espíritos infernais podem ser afastadas muitas vezes pela oração, pela recitação do terço, pelo uso de água benta e de medalhas, como a Medalha de Nossa Senhora das Graças (foto) e de São Bento. Quando se tratar de possessão, é necessário recorrer ao exorcismo da Igreja feito por um sacerdote autorizado.

Existe atualmente uma difusa, mas intensa apologia do vício. Para os seguidores de satanás, os vícios não são senão “virtudes”. Segundo tal critério, o homem que pratica o vício procede de acordo com a sua própria natureza. No entanto, isto é o contrário do ensinamento da Igreja Católica. A mentalidade satanista conduz o homem ao sexo desenfreado, à profanação do sagrado, à uma virulenta oposição ao Evangelho, à Igreja e à sua Liturgia.

Como epílogo, cabe lembrar o que diz a Sagrada Escritura sobre o demônio, após o pecado de nossos primeiros pais: “Porei inimizades entre ti e a Mulher, e entre a tua descendência e a descendência d’Ela. Ela te esmagará a cabeça e tu armarás traições ao Seu calcanhar” (Gen. III, 15). Confiemos na Mãe de Deus e nossa, e sairemos ilesos desta batalha sobre a qual nos alertam São Pedro e São Paulo em suas epístolas.
Onde está a felicidade?

Pe. David Francisquini

Após termos meditado sobre a paixão e morte de Cristo durante a Semana Santa, é normal que gozemos de justa paz interior advinda das múltiplas celebrações litúrgicas. Tal paz é o reflexo da boa ordem infundida por Deus nos corações depois de uma confissão bem feita, de ter rezado e recebido Nosso Senhor na Eucaristia, acompanhado as procissões e convivido com cerimônias religiosas ricas em significados.

Não precisa muito discernimento para perceber nas pessoas que assistiram às cerimônias quanto mais sensíveis e abertas elas ficam para o sobrenatural e a vida cristã. As fisionomias recobram louçania, fruto da alegria advinda da liturgia da Igreja, quando bem celebrada. Mas de onde vêm esta felicidade e esta alegria a ponto de se desejar ao próximo uma santa e feliz Páscoa?

A palavra religião vem do latim religare, isto é, ela nos liga a Deus, fonte de toda alegria e de toda felicidade. Portanto, elas procedem de Deus, uma vez que A Igreja Católica Apostólica Romana, fundada e instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, tem os meios para nos comunicar a graça divina, o caminho para se chegar a Deus, a doutrina e os ensinamentos, os quais devemos acatar e acreditar.

Para ser feliz, é preciso estar na amizade de Deus. É preciso ser cristão, ser batizado, crer e professar a doutrina de Jesus Cristo, freqüentar os sacramentos, especialmente os da Confissão e da Comunhão, assistir às santas missas nos domingos e dias de festas. É preciso também o matrimônio religioso e não apenas a união civil, que consiste em viver em concubinato. É preciso praticar o bem e evitar o mal. O pecado é uma desobediência aos Mandamentos da Lei de Deus e da Igreja.

Para não pecar contra Deus, contra o próximo e contra si mesmo é indispensável a oração. “Quem reza se salva, quem não reza se condena”, disse Santo Afonso Maria de Ligório. Nosso Senhor nos manda amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. E os autores de boa doutrina aconselham a ter uma entranhada devoção a Virgem Maria, para assim conseguir a graça de Deus e a salvação eterna.

Jesus Cristo nos veio por meio de Maria e é por meio d’Ela que devemos também ir a Ele. A Mãe cheia de misericórdia não permitirá, com sua poderosa intercessão, que caiamos na desgraça do inferno, lugar onde os condenados sofrem a ausência de Deus e são queimados por um fogo inextinguível. Concorrerá Ela empenhadamente para ganharmos o Céu, onde os justos e os anjos contemplam a Deus na felicidade eterna.

Ninguém ama aquilo que não conhece. Assim, é preciso que o verdadeiro cristão procure estudar a doutrina católica, é preciso tomar conhecimento das verdades ensinadas pela Santa Igreja. Caso contrário, a sociedade mergulhará ainda mais na crise religiosa e moral, encharcada que está em pecados de toda ordem, como, por exemplo, o roubo, o adultério, o homicídio, a impureza e os maus costumes. Se quiser ser feliz, procure ser amigo de Deus, fonte de todo o bem. Não procure a felicidade nas miragens que o mundo oferece.
A sabedoria do homem do campo



Pe. David Francisquini
Costumo, por ocasião dos festejos do Imaculado Coração de Maria e de Nossa Senhora Aparecida, visitar nosso meio rural, ocasião em que procuro ajudar as famílias com conselhos, bênçãos das casas, dos animais e doação de objetos de piedade. O contato com as almas depende da receptividade de cada lar, mas – em princípio – boa parte do tempo é dedicada aos assuntos do dia-a-dia das pessoas e suas famílias. Ouço de tudo um pouco, deixando as pessoas falarem do que gostam ou necessitam, e vou respondendo de acordo com os princípios do Evangelho.

Em minha mais recente andança, o tema dominante foi a seca: as pedras do fundo dos rios aparecendo, os pastos ressequidos pelo sol causticante, a terra batida e erodida, os animais à procura de alimento e de água, as maritacas barulhentas buscando frutos; mais além, bandos de urubus rodeiam animais mortos, um lagarto ou uma cobra se contorcendo à procura de uma presa. Contemplando os campos vazios de moradores, surgiu em meu espírito a idéia de abandono, de falta de vida, de indolência, de interesse e de progresso.

Em tempos não muito longínquos, essa mesma região era próspera e seus habitantes negavam-se a receber um cargo público, porque era possível enriquecer-se no campo. Havia fartura e facilidade de se obter dinheiro. Hoje no entanto alastra-se a pobreza e as pessoas vão para as cidades já abarrotadas, em busca de dias melhores, tendo que morar em conjuntos habitacionais pobres de arquitetura e de urbanismo, verdadeiros pombais, quando não em favelas, passando a freqüentar botequins, em torno dos quais grassam as drogas, a prostituição e a violência.

Da infertilidade dos campos, transpus-me para a pior das secas, que é a espiritual, observada em nossas cidades, freqüentemente mergulhadas no caos moderno, onde vivem, no mais das vezes, pessoas sem brilho, pela ausência da graça divina. Sem sorriso nos lábios, com semblantes melancólicos, desesperançados; pessoas vestidas de maneira ridícula, sem recato e elegância. Em suas fisionomias transparecem a angústia de andar sem rumo e a falta de perspectiva de vida. Atacadas pelos vícios e pelos demônios, como urubus que avançam sobre a carniça, essas almas deixam-se sucumbir, porque estão religiosamente desorientadas.

Para resolver o problema do campo, notei na sabedoria campestre –– fruto do silêncio e da reflexão –– uma ciência peculiar, digna de ser registrada, tanto mais quanto Nosso Senhor Jesus Cristo ilustrou muito de sua doutrina nos Evangelhos com exemplos da natureza: o semeador que semeia a boa semente; o homem mau que semeia a cizânia; o fermento que leveda a massa; o sal que salga e a luz que ilumina; os lírios do campo que não trabalham, nem fiam...

O meu interlocutor calmo, ponderado, com seu cigarro de palha, não tardou a surgir. Juntos, refletimos sobre a comunicação das águas do solo com as do subsolo e sua comunicação com a atmosfera em forma de vapor. E como tal relacionamento propiciava a formação do clima necessário para que haja vida na terra. Elucubramos ainda como o acontecer na ordem estabelecida por Deus, e trabalhada pelo talento do homem, poderia conduzir a civilização do campo a nobres empreendimentos. Numa transcendência, subimos ao mirante de Deus, ou seja, à ordem sobrenatural.
( O Pai Nosso I - II e II )
Mestre, ensina-nos a rezar!



Pe. David Francisquini

Os apóstolos, em certa ocasião, dirigiram-se a Nosso Senhor Jesus Cristo e Lhe pediram: “Mestre, ensinai-nos a rezar”. E Ele lhes ditou a oração do Pai Nosso. Não há oração mais bela, mais eficaz, mais agradável a Deus, mais rica em significado e com mais profundidade de conteúdo do que o Pai Nosso.

Com efeito, são inesgotáveis os pensamentos, as idéias ou os comentários que se possam tecer a respeito dessa singular prece. Chamada também oração dominical, pois provém da palavra latina dominus, que significa senhor, ela brotou dos sagrados lábios do nosso Salvador e Redentor.

Dentro do exíguo espaço de um artigo, é tarefa impossível discorrer sobre os ensinamentos contidos no Pai Nosso. Por isso, tratarei hoje de uma parte, deixando a outra para uma próxima ocasião.

Como é sabido, o Pai Nosso contém sete petições: as quatro primeiras pedem o bem, e as outras três, que sejamos livres do mal.

Começamos por invocar a Deus como ‘Pai nosso’ — e não ‘pai meu’, pois somos filhos do mesmo Pai, e, portanto, irmãos, obrigando-nos a rezar uns pelos outros. ‘Que estais no Céu’ — indica que Deus se manifesta em sua glória. Com isso, habituamo-nos a pensar em Deus, que um dia veremos face a face na bem-aventurança eterna.

1ª petição: “Santificado seja o vosso nome”. Ela nos convida a pedir que Deus seja conhecido, honrado e servido por todos os homens, inclusive cada um de nós. Ao mesmo tempo, pedimos que os infiéis sejam batizados, os hereges se convertam e voltem ao seio da Santa Igreja, os cismáticos se reagrupem em torno da Igreja, os pecadores se convertam e os justos sejam perseverantes no bem.

2ª petição: “Venha a nós o vosso reino”. Entendemos um tríplice reino espiritual, primeiramente em nós, com sua graça santificante e pelas virtudes teologais da fé, esperança e caridade, reinando sobre nossa inteligência, nosso coração e nossa vontade.


Depois o reino de Deus na Terra, ou seja, que a Santa Igreja Católica se dilate cada vez mais e se propague pelo mundo inteiro para a eterna salvação do gênero humano e glória de Deus. Em seguida, o reino nos Céus, ou seja, para que um dia possamos ser admitidos na corte celestial, onde seremos plenamente felizes.

3ª petição: “Seja feita vossa vontade, assim na Terra como no Céu”. Move-nos à obediência pronta e amorosa aos Mandamentos de Deus, como os anjos e santos no Céu. Pedimos ainda a correspondência a todas as luzes e graças divinas e de vivermos resignados com a vontade de Deus.


Isto é tão evidente que fazer a vontade de Deus é procurar conseguir a salvação eterna, pois ninguém entrará no Reino dos Céus se não tiver feito a vontade do Pai. A vontade de Deus está consignada nos seus Mandamentos, nos preceitos da Igreja e nos superiores colocados por Deus para nos guiar no caminho da salvação.

Nada daquilo que costumamos chamar mal acontece sem a permissão de Deus, que sabe tirar o bem do mal, e por isso o permite. Devemos ver em todos os acontecimentos bons e maus um desígnio de Deus, visando nossa salvação eterna.






O Pão nosso de cada dia...

Ao rezarmos o Pai Nosso, surgem no espírito inúmeras passagens do Evangelho que nos fazem avaliar a sublimidade dessa oração, na qual está contida resumidamente a essência dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, isto é, o amor a Deus e o amor ao próximo.

É certo que ao rezá-lo, obtemos muitas graças desde que não o recitemos com precipitação, mas com toda atenção e acompanhando com o coração, além do recolhimento de alma. Em recente artigo, tratei das três primeiras petições do Pai Nosso. Hoje tratarei apenas da petição em epígrafe.

O pão nosso de cada dia nos daí hoje é a quarta petição. Pedimos a Deus o necessário para nossa alma e para o nosso corpo. Sendo a alma a parte mais importante de nosso ser, devemos primeiramente pedir os benefícios para a alma.

O homem é capaz de ter uma vida superior, que é a vida espiritual, cuja sustentação advém sobretudo dos sacramentos. Não conseguimos manter a vida sobrenatural sem o auxílio da graça de Deus. Não é só de pão que vive o homem, mas de toda a palavra que provém da boca de Deus.

Na Eucaristia, é o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo que vem a nós em Corpo, Sangue, Alma e divindade. “Quem comer desse pão (Eucaristia) viverá eternamente; o pão que darei é minha carne para a vida do mundo”. Ao rezarmos o Pai Nosso pedimos ao bom Pai do Céu que não nos falte o pão da verdadeira doutrina e a Santíssima Eucaristia.

Como a vida espiritual é sustentada pela seiva divina de Nosso Senhor Jesus Cristo, nosso corpo é sustentado pelos elementos produzidos pela Terra. Pedimos a Deus que não nos falte o pão, que é o alimento, a vestimenta, a habitação, o remédio, o calor, a luz, a saúde, o bem-estar, o conforto, a prosperidade, a segurança, o emprego.

Dizemos o pão nosso, para com isso excluirmos aquilo que não nos cabe, como as coisas alheias e bens adquiridos de maneira ilícita ou fraudulentamente. Aqui se encaixa o mandamento que nos proíbe o roubo, o furto e até a cobiça das coisas alheias.

Nosso Senhor afirma o princípio da propriedade, como a doutrina social da Igreja sempre ensinou, contrariando a luta de classes, o socialismo e tantos movimentos ditos sociais. Dai-nos, para indicar que esses bens nós devemos desejar não só visando nossa pessoa, mas a toda a família humana.

Se Ele nos der a propriedade com abundância, usemos dela com a virtude da caridade, olhando para os mais necessitados. E também visando auxiliar a casa de Deus, pois assim como Salomão ornou o Templo com ouro, prata, bronze e madeiras finas, assim também nossas igrejas devem ser enriquecidas para homenagem e glória do Criador de todas as riquezas.



O pão nosso de cada dia nos dai hoje, a fim de que desejemos o necessário para a vida e não fiquemos estressados — para usar a expressão usual — com vistas à conquista das riquezas. Como disse Nosso Senhor, a cada dia basta sua aflição. Considero este conselho muito salutar para a cura de tantos males nervosos e psíquicos que grassam na sociedade moderna.

Devemos pedir o que precisamos no presente, sem nos deixar levar pela aflição de espírito com a conquista de bens futuros. Os bens de que não se sabe adquirir e usar com sabedoria só servem para nos causar dor e aflição de espírito.

Livrai-nos do mal

 
Concluímos hoje o comentário ao Pai Nosso que fizemos em artigos anteriores.

Perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Nosso Senhor coloca como condição para Deus perdoar os nossos pecados que perdoemos aqueles que nos ofenderam. Prova disso: “Se tendes algo contra teu irmão, vai te reconciliar com ele primeiro e depois volta a fazer tua oblação”, disse o Divino Mestre.

Rezamos "nossas dívidas", pois é de estrita justiça que Deus seja reparado nesta vida ou na outra. Como um devedor tem o dever de pagar as dívidas contraídas com seu credor, assim devemos proceder em relação a Deus, confessando-nos, praticando boas obras, dando esmolas e fazendo penitência por nossos pecados.

Como podemos pedir a Deus que nos perdoe, se guardamos em nossos corações mágoas, ressentimentos, azedumes, ódios, espírito de vingança, inimizades, contendas, rivalidades contra o nosso próximo? Muitas almas se perderam por tais motivos. Deus deseja que tenhamos espírito de bondade e de perdão.

Não nos deixeis cair em tentação. Imploramos a Deus que não permita que sejamos tentados, ou que nos conceda a graça de não praticar o mal ou o pecado quando vier a tentação. Esta provém do demônio, das pessoas, dos ambientes ruins ou ainda de nossas próprias más inclinações e paixões desordenadas.

São esses os fatores que nos levam a transgredir a Lei de Deus, colocando nossa alma em perigo de cair no inferno. De si, a tentação não é um mal. O mal é consentir nela ou colocar-se voluntariamente numa ocasião próxima de tentação. “Vigiai e orai para não cairdes na tentação”, nos adverte Nosso Senhor.

“Não é contra a carne e o sangue que temos de lutar, mas contra as potestades e os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos malignos que povoam os ares”, alerta São Paulo. E “resisti-lhes firmes na fé”, aconselha São Pedro. Assim procedendo, há o fortalecimento crescente da vontade e das virtudes, além da obtenção de méritos.

Com efeito, Deus prova os justos permitindo a tentação. A fidelidade dos bons floresce e se desenvolve na medida de sua constância e perseverança na resistência ao pecado. É de suma importância colocar-se sob a proteção da Virgem Imaculada, Mãe de Deus e nossa Mãe: “Rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte”.

"Mas livrai-nos do mal". Pedimos a Deus que nos livre dos males do passado, do presente e do futuro, especialmente do sumo mal que é o pecado e da condenação eterna que é o seu castigo. Ao dizermos ‘mal’ no singular e não no plural ‘males’ significa o seguinte: para não desejarmos a isenção de todos os males desta vida, mas sim daqueles que Deus considera que para nós é ‘mal’ concretamente, o qual nos afasta d’Ele.

É mais do que lícito pedir a Deus que nos livre de determinadas tribulações, doenças e outras misérias desta vida, mas sempre nos resignando à Sua vontade, caso sejamos submetidos a tais dificuldades. Pois se as tribulações forem da vontade de Deus para proveito de nossas almas, aceitemo-las com toda a resignação cristã. Quando bem recebidas, as tribulações nos levam a reparar nossas culpas e aumentar nossas virtudes. Ao trilharmos o caminho que nos compete neste “vale de lágrimas”, procurando imitar Nosso Senhor Jesus Cristo, chegaremos um dia ao Céu. E junto à corte celeste, gozando da visão beatífica, alcançaremos a felicidade completa por toda a eternidade.

O "amém" no fim do Pai Nosso significa: assim seja, assim desejo, assim peço ao Senhor, assim espero.