Postagem em destaque

O novo rito da Missa não é substancialmente idêntico ao anterior? Discussão sobre Traditionis Custodes: Dom Jerônimo alega que o Papa Fran...

Postagens mais visitadas

domingo, 24 de janeiro de 2010

O homem do campo



Pe. David Francisquini
Como de costume, este ano já percorri a região rural de meu município no pastoreio das almas que me foram confiadas. Com alegria, pude notar que a paisagem contrastava com a do ano anterior. A terra ressequida, batida e nua deu lugar a vegetação, pois chovera praticamente o ano todo, o que deixa o homem do campo feliz da vida.

O ambiente acolhedor, calmo, distendido e aprazível foi sempre ocasião para boas e longas conversas, motivo de entretenimento e descanso, longe do frenesi, da agitação e da eletricidade que grassa nas megalópoles modernas, e que se estendem até as cidades de porte bem menor. Nelas, o prazer parece se encontrar ora nas altas velocidades das barulhentas motocicletas e carros, ora em permanecer horas a fio diante da TV e da internet ou dos jogos eletrônicos. Distanciados disso, há ainda os que se ajuntam nos botequins para se embriagarem, ocasião para desavenças e até homicídios.

É tal a saturação da cidade, que basta um feriadão para que as estradas fiquem insuportáveis, pois as pessoas procuram alívio para suas almas aflitas. Outrora era ocasião para freqüentarem as festas religiosas, assistirem às missas, participarem das procissões, pois aprendiam que a verdadeira felicidade só se encontrava em Deus.

Era ocasião também das visitas entre amigos e parentes para se irmanarem no seio das famílias constituídas e, ao matar saudades, gozarem de uma verdadeira felicidade que é calma e casta. Hoje, as pessoas procuram desenfreadamente as praias, e toda sorte de divertimentos neopagãos.

Na medida em que percorria a extensão geográfica de minha paróquia, foi vincando em meu espírito o seguinte pensamento: quantas almas se perdiam ali por não procurarem os sacramentos e a vida religiosa. Mas uma coisa era clara: a diferença entre o homem do campo e o da cidade. O camponês ainda pensa e conversa. Ele tem suas falhas, como a falta de freqüência aos atos religiosos e o relaxamento na indumentária. Mas ainda conversam sobre temas com certa profundidade e precisão, que surpreendem quer pela elevação quer pela sabedoria, lembrando o entretenimento de Nosso Senhor com temas como a semente lançada na terra, a ceifa, os lírios dos campos, a videira, a mostarda, os pássaros, o pastor de ovelhas, a serpente. E até a galinha com seus pintainhos.

Todo esse panorama em que o homem fica envolto no meio rural serve de lição para compreender e antegozar o Reino dos céus. Não precisa ser observador profundo para perceber quanto o camponês tira de seu ambiente lições para a vida. O contato com a terra tem seus momentos difíceis, mas leva com freqüência a meditar e a relacionar as coisas com Deus.
“Isto é o meu corpo”







Pe. David Francisquini
Instituições, cerimônias, manifestações de piedade surgidas misteriosamente pela ação da graça divina foram registradas na História da Igreja. A parábola evangélica que compara o Reino de Deus – a Igreja Católica – ao grão de mostarda pode-se aplicar aqui. A menor das sementes ao germinar e crescer torna-se a maior de todas as hortaliças, a tal ponto que as aves do céu podem fazer ninhos em seus ramos.

Com a vinda do Espírito Santo, a Igreja – minúscula comunidade em Jerusalém – difundiu-se por toda parte, à semelhança de imensa árvore que estende seus galhos. Um aspecto da ação do Espírito Santo na Igreja e nas almas é a devoção ao Santíssimo Sacramento. Com aquele grupinho reunido com Nosso Senhor Jesus Cristo no Cenáculo, na Quinta-feira Santa, passou-se algo de transcendental importância.

O Divino Mestre instituiu o Sacramento da Eucaristia, ao mesmo tempo em que tornou-se presente aos homens sob as espécies eucarísticas do pão e do vinho consagrados no sacrifício da Nova Lei, a santa Missa. Essa semente de vida teve tamanha força de expansão que a Eucaristia foi colocada no centro da vida cristã. E tendo Ela fecundado, fez desabrochar a civilização católica, cujo apogeu se deu na Idade Média.

A Igreja lançou raízes profundas nos povos e é inegável que a civilização cristã deitou benfazeja influência na Terra inteira. No momento mesmo em que seria traído, no ápice de sua aparente derrota, Nosso Senhor Jesus Cristo obtinha a vitória, pois ali o Homem-Deus nos cumulou com o Sacramento do divino amor: “Isto é o meu corpo”, “Este é o cálice do meu sangue”.

Para enriquecer o culto sagrado e preservar o Sacramento da Eucaristia de abusos, profanações e sacrilégios, surgiram costumes, leis e normas. O que transparece em torno de tais normas é o respeito, a compostura, o espírito de piedade e devoção, todo um modo de agir e de ser que atestam a nossa fé e o nosso amor na presença real de Nosso Senhor na Hóstia consagrada.

Tudo feito com precisão, dignidade e elevação, pois se trata do culto ao verdadeiro Deus. Exemplos de culto eucarístico são as genuflexões, os ricos e adornados sacrários, os ostensórios, os cálices, as âmbulas e as tecas para levar a comunhão aos enfermos. E até mesmo as patenas, utilizadas para evitar a queda de hóstias e de seus fragmentos no momento da distribuição da comunhão as fiéis.

Aspecto mais belo e tocante do culto divino é a bênção solene do Santíssimo Sacramento. Doze velas são acesas no altar, seis de cada lado do sacrário. A sagrada Hóstia é colocada num rico ostensório. O sacerdote usa paramentos solenes, como a sobrepeliz, a estola, o pluvial e o véu umeral. Ele sustenta o ostensório e traça grande cruz sobre os fiéis ajoelhados, e depois reza e canta hinos de adoração.

Enquanto isso, um acólito com o turíbulo incensa o Santíssimo Sacramento, enchendo o ambiente com um aroma perfumado que acaba por dominar suavemente todo o recinto. Aquela fumaça branca e odorífica se impregna na igreja inteira, podendo ser sentida até fora do edifício da Igreja.
Aborto de anencéfalicos: violação da Lei de Deus e da Lei natural



Pe. David Francisquini

Diante da possibilidade de legalização do aborto para fetos anencéfalos, percebe-se o embuste que lesa a dignidade e a honra da pessoa humana. Posto o processo de fecundação, não se pode provocar uma interrupção direta e voluntária de uma vida humana, porque isso contraria a ordem estabelecida por Deus na natureza. Além de inconstitucional, é pecado de malícia peculiar que clama aos Céus por vingança.

Caso persista tal obstinação abortista, não podemos descartar que a justiça divina se faça sentir no Brasil. Não bastassem as muitas leis iníquas já aprovadas pelo Congresso, recrudesce agora tentativa da introdução do aborto. A voz de tantos seres humanos, silenciadas ainda em botão, estarão a bradar ante Deus por castigos.

Deus disse a Caim, que matou seu irmão Abel: “Que é que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama desde a Terra até a Mim. Agora, pois, serás maldito sobre a Terra... quando tu a tiveres cultivado, ela não te dará os seus frutos: tu andarás como errante fugitivo sobre a Terra” (Gen. IV, 10).

O que pensar de um tribunal decidindo a sorte de incontáveis vidas de nascituros? Faz-me lembrar Nosso Senhor Jesus Cristo sendo julgado pelo magistrado romano, ou ainda as figuras sinistras de Hitler e Stalin, dos regimes nazista e comunista, matando com requintes de crueldade milhões de pessoas.

A tentativa de revogar o quinto Mandamento da Lei de Deus e a própria Lei natural corresponde a uma revolta contra Aquele que o instituiu, e que criou a natureza humana.

Minha alma de sacerdote católico, apostólico, romano vê com tristeza o fato de o Episcopado nacional não estar dando a devida atenção a tão grave ofensiva à ordem criada. Sua preocupação preponderante refere-se à questão social, a propósito da qual – diga-se de passagem – enfoca o mais das vezes de modo equivocado a doutrina social tradicional dos Sumos Pontífices, causando essa atitude perplexidades em muitos fiéis.

O aborto direto e voluntário constitui pecado friamente premeditado, que revolta o senso moral do homem, e consiste em crime de homicídio. A Igreja católica pune com pena de excomunhão quem o pratica ou participa diretamente de sua execução. Mesmo que o pretexto para executar um aborto seja a anencefalia do nascituro, pois contraria a doutrina milenar da Santa Igreja: Deus, ao criar o homem à sua imagem e semelhança, concedeu-lhe um fim supremo e eterno; e somente Ele tem o direito de tirar a vida de sua criatura.

Ao ser gerada uma vida humana, debilitada ou com defeitos, não se pode negar que ela tenha alma imortal, concebida no pecado original e que deve receber o batismo, meio absolutamente necessário para se salvar, pois assim se exprimiu o próprio Nosso Senhor: “Quem não renascer na água e no Espírito Santo, não poderá entrar no reino dos Céus”.

Cabe lembrar que as relações de cada alma com Deus constituem um mistério que paira acima do desenvolvimento mais ou menos perfeito de sua sensibilidade, e mesmo de sua inteligência. Tais relações começam, quando a criança está sendo formada no seio materno.

Em meu múnus sacerdotal, já deparei com casos de mães que enfrentaram toda a pressão que se costuma exercer sobre elas em caso da anencefalia ou de outro defeito físico do nascituro; e deram à luz crianças cujo batismo eu mesmo administrei. Houve até um caso em que foi diagnosticada anencefalia, mas que, na realidade, não o era. A criança nasceu, recebeu o batismo e está viva até hoje. Quantos casos como este não haverá por este Brasil afora? Os defeitos físicos são muitas vezes decorrências do pecado original e, apesar do batismo apagá-lo, não elimina da natureza humana suas conseqüências. Devemos saber suportá-los com verdadeira resignação cristã.

Compreende-se, em vista disso, a tristeza e a dor com que Nossa Senhora apareceu em Fátima, lamentando os pecados e crimes cometidos pelos homens e mostrando Seu Coração cercado de espinhos, nele cravados sem dó nem piedade pelos homens ímpios.

Confiemos na Virgem Santíssima e no triunfo de Seu Imaculado Coração.
E não nos deixeis cair em tentação



Pe. David Francisquini


Estou convicto de que a maior prova arrostada pelos fiéis de hoje consiste na crise religiosa e no seu corolário, a crise de fé. Como enfrentá-las e vencê-las com resignação e confiança próprias de um verdadeiro filho de Deus e da Igreja? Como o sacerdote católico concorre para ajudar a alma provada restituindo-lhe a paz interior?


Levando em conta a ação ordinária dos demônios sobre os homens, em razão do profundo ódio que aqueles tributam às criaturas que deverão ocupar os seus lugares na corte celestial, lançam eles mão de todos os meios para conduzir os homens ao inferno. Tal ação consiste em seduzi-los através de fatos ou realidades, agindo sobre os cinco sentidos externos.

O demônio age também nos sentidos internos, de modo especial na memória e na imaginação, a fim de mover o livre arbítrio do homem ao pecado. Pinta a tentação com cores vivas, influi sobre a psicologia humana, desencadeia paixões para debilitar a vontade e fazer com que ela dê assentimento ao pecado.

Amparados pela graça e na medida em que haja resistência contra as atrações sedutoras do demônio, o homem pode não apenas vencer as tentações, mas tirar proveito delas para aumentar seus méritos e conquistar depois a bem-aventurança eterna. Jesus nos ensinou a ser vigilantes e rezar para não cairmos em tentação: “E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém”.

O demônio exerce ainda outras ações extraordinárias como a infestação, a vexação, a obsessão e a possessão. Tais ações são comuns nos dias atuais e se fazem presentes nos ambientes, nas pessoas, nos sentidos do homem, chegando mesmo o maligno a possuir o próprio corpo humano.

Tal poder é concedido por Deus ao demônio para castigo dos pecados do homem. Muitas vezes o diabo recebe permissão de Deus para atingir a saúde e os bens materiais da pessoa tentada, como aconteceu com Jó, que saiu mais purificado do embate com o príncipe das trevas, nunca perdendo a confiança em Deus.

Cabe ressaltar que tal ação diabólica não é milagrosa, porque milagre só Deus pode fazer, diretamente ou através de um santo ou de sua Mãe Santíssima. As ações extraordinárias provocadas pelos espíritos infernais podem ser afastadas muitas vezes pela oração, pela recitação do terço, pelo uso de água benta e de medalhas, como a Medalha de Nossa Senhora das Graças (foto) e de São Bento. Quando se tratar de possessão, é necessário recorrer ao exorcismo da Igreja feito por um sacerdote autorizado.

Existe atualmente uma difusa, mas intensa apologia do vício. Para os seguidores de satanás, os vícios não são senão “virtudes”. Segundo tal critério, o homem que pratica o vício procede de acordo com a sua própria natureza. No entanto, isto é o contrário do ensinamento da Igreja Católica. A mentalidade satanista conduz o homem ao sexo desenfreado, à profanação do sagrado, à uma virulenta oposição ao Evangelho, à Igreja e à sua Liturgia.

Como epílogo, cabe lembrar o que diz a Sagrada Escritura sobre o demônio, após o pecado de nossos primeiros pais: “Porei inimizades entre ti e a Mulher, e entre a tua descendência e a descendência d’Ela. Ela te esmagará a cabeça e tu armarás traições ao Seu calcanhar” (Gen. III, 15). Confiemos na Mãe de Deus e nossa, e sairemos ilesos desta batalha sobre a qual nos alertam São Pedro e São Paulo em suas epístolas.
Onde está a felicidade?

Pe. David Francisquini

Após termos meditado sobre a paixão e morte de Cristo durante a Semana Santa, é normal que gozemos de justa paz interior advinda das múltiplas celebrações litúrgicas. Tal paz é o reflexo da boa ordem infundida por Deus nos corações depois de uma confissão bem feita, de ter rezado e recebido Nosso Senhor na Eucaristia, acompanhado as procissões e convivido com cerimônias religiosas ricas em significados.

Não precisa muito discernimento para perceber nas pessoas que assistiram às cerimônias quanto mais sensíveis e abertas elas ficam para o sobrenatural e a vida cristã. As fisionomias recobram louçania, fruto da alegria advinda da liturgia da Igreja, quando bem celebrada. Mas de onde vêm esta felicidade e esta alegria a ponto de se desejar ao próximo uma santa e feliz Páscoa?

A palavra religião vem do latim religare, isto é, ela nos liga a Deus, fonte de toda alegria e de toda felicidade. Portanto, elas procedem de Deus, uma vez que A Igreja Católica Apostólica Romana, fundada e instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, tem os meios para nos comunicar a graça divina, o caminho para se chegar a Deus, a doutrina e os ensinamentos, os quais devemos acatar e acreditar.

Para ser feliz, é preciso estar na amizade de Deus. É preciso ser cristão, ser batizado, crer e professar a doutrina de Jesus Cristo, freqüentar os sacramentos, especialmente os da Confissão e da Comunhão, assistir às santas missas nos domingos e dias de festas. É preciso também o matrimônio religioso e não apenas a união civil, que consiste em viver em concubinato. É preciso praticar o bem e evitar o mal. O pecado é uma desobediência aos Mandamentos da Lei de Deus e da Igreja.

Para não pecar contra Deus, contra o próximo e contra si mesmo é indispensável a oração. “Quem reza se salva, quem não reza se condena”, disse Santo Afonso Maria de Ligório. Nosso Senhor nos manda amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. E os autores de boa doutrina aconselham a ter uma entranhada devoção a Virgem Maria, para assim conseguir a graça de Deus e a salvação eterna.

Jesus Cristo nos veio por meio de Maria e é por meio d’Ela que devemos também ir a Ele. A Mãe cheia de misericórdia não permitirá, com sua poderosa intercessão, que caiamos na desgraça do inferno, lugar onde os condenados sofrem a ausência de Deus e são queimados por um fogo inextinguível. Concorrerá Ela empenhadamente para ganharmos o Céu, onde os justos e os anjos contemplam a Deus na felicidade eterna.

Ninguém ama aquilo que não conhece. Assim, é preciso que o verdadeiro cristão procure estudar a doutrina católica, é preciso tomar conhecimento das verdades ensinadas pela Santa Igreja. Caso contrário, a sociedade mergulhará ainda mais na crise religiosa e moral, encharcada que está em pecados de toda ordem, como, por exemplo, o roubo, o adultério, o homicídio, a impureza e os maus costumes. Se quiser ser feliz, procure ser amigo de Deus, fonte de todo o bem. Não procure a felicidade nas miragens que o mundo oferece.