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quarta-feira, 31 de março de 2010

Que utilidade há no Meu sangue?






Ao meditarmos o mistério da Paixão de Nosso Senhor Cristo cravado no madeiro da Cruz, salta-nos uma pergunta: por que Nosso Senhor – a própria inocência, que passou a vida fazendo o bem – tem morte tão cruel e é abandonado por todos, exceto por Nossa Senhora?
Ele não só disse, mas acompanhou com o exemplo de Sua dolorosa Paixão que não se pode amar mais alguém do que dar a vida por ele. Assim, Nosso Senhor nos amou com infinito amor, e depois de nos ter amado, ofereceu-se a Si mesmo como vítima pura, imaculada, resplandecente e impoluta.
A divina oblação pelos nossos pecados nos remiu, abriu as portas do Céu e, ao mesmo tempo, nos concedeu os meios eficazes para aplicar sobre nós os frutos de sua Paixão: os sacramentos. Deus se compadece de nós mais do que nós mesmos. E infinitamente mais do que as nossas próprias mães, que nunca se esquecem do fruto de suas entranhas.
E, ainda que o fizessem, “Eu nunca me esquecerei de ti”, diz o próprio Deus. (Is. 49, 15). Outras figuras nos livros sagrados que nos mostram o desvelo de Deus pelos homens são os campos férteis, os prados ensolarados, os regatos, as fontes, os vinhedos e o pastor de ovelhas que com cuidado apascenta seu rebanho.

Jesus Cristo é o verdadeiro Pastor. Ele instituiu – qual rochedo inabalável junto às águas tempestuosas – a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, com a promessa de que as portas do inferno nunca prevalecerão contra Ela. Cumulou-a da cura das almas, a economia da graça divina, das armas espirituais para combater o mal e promover o bem.
Tal como o pastor zeloso por seu rebanho, a Santa Igreja afugenta os lobos e os perigos que nos rondam. Infunde-nos pelo Batismo a vida sobrenatural e purifica nossas consciências das obras mortas; concede-nos o privilégio inaudito da Confissão, que restaura a graça perdida pelo pecado mortal; fortalece-nos com uma graça que sequer os Anjos têm: a Sagrada Eucaristia.
Ezequiel profeta diz: “Dar-vos-ei um coração puro, e um novo espírito porei no meio de vós; tirarei o coração de pedra de vosso corpo e vos darei um coração de carne. Colocarei o meu espírito em vosso interior, e farei que caminheis em meus preceitos, guardando e praticando meus mandamentos”. (Ez. 36; 26).
Devido ao pecado original e às nossas faltas atuais – sobre cuja malícia nunca é demais insistir –, seríamos incapazes de apetecer por essa vida divina. Quem no-la proporciona é o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, pelos merecimentos de Sua dolorosa Paixão e Morte de cruz.
Como um sol que se põe a brilhar no firmamento das almas, Ele abriu para o homem uma perspectiva cheia de esperança e de certeza. Nossa salvação – bem ao contrário do que sucedia no mundo antigo – tornou-se muito mais fácil com a Paixão. Com a Nova Lei, só se perde quem quiser.
Distante de Nosso Divino Salvador, o mundo neo-pagão de nossos dias vive inutilmente à procura do gozo da vida, da felicidade já, agora e para sempre... Com isso, de que adiantou Nosso Senhor ter sofrido e padecido a morte de cruz com padecimentos inenarráveis, a ponto de exclamar: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonastes?”
Na morte de Nosso Senhor, os elementos da natureza se desencadearam: o sol se velou, a terra estremeceu, os sepulcros dos mortos se abriram e houve desolação em toda a parte. Por quê? – “Povo meu, que te fiz eu, em que te contristei? Como paga de todos esses bens, tu preparaste uma Cruz para teu Salvador? Que mais deveria fazer que não tivesse feito?”
Ao exemplo dos Apóstolos, também nós devemos procurar a Virgem das Dores, em quem encontraremos a bondade, a misericórdia, o perdão e a clemência. Arrependamo-nos sinceramente, confessemos com toda a confiança os nossos pecados diante de um sacerdote e aproximemo-nos da sagrada mesa da Eucaristia. Assim teremos aproveitado a Semana Santa, e, quiçá, a vida como peregrino nesta Terra.

domingo, 14 de março de 2010

Tradição, família e religião (I)




O rol de minhas apreensões em relação ao mundo dito ‘moderno’ vem aumentando dia após dia. Talvez, a principal delas seja a ausência da formação do caráter de nossa juventude, fator que considero de transcendental importância para o ser humano.
Com efeito, tal formação recai de modo natural sobre os pais, aos quais incumbe, pelo bom exemplo, a exímia conduta e os bons princípios religiosos, fazer a boa semente germinar nas almas de seus filhos e produzir assim saudáveis frutos para a sociedade.
No ambiente familiar, veículo também natural das boas tradições, os filhos farão o mesmo em relação aos netos que eles darão aos pais. E assim sucessivamente, de geração em geração. Afinal, tradição – na pena de Plinio Corrêa de Oliveira – “é a vida que a semente recebe do fruto que a contém”.
Como a verdadeira educação repousa antes sobre a família, tal realidade é o canal necessário para a transmissão dos valores religiosos e morais, que unidos às características genéticas de cada família darão origem às estirpes constitutivas de uma civilização digna desse nome.
Cumpre ressaltar o papel exercido pelas mães na vida dos santos, entre eles São João Bosco, São João Vianney e Santa Teresinha. Em seguida, a importante ação da Igreja que dispõe dos meios de santificação e ensina a forjar a personalidade. A Igreja possui a arte de conduzir as consciências.
A Santa Igreja fornece ao homem a bússola segura sempre a apontar para a Fé, a Esperança e a Caridade, além das demais virtudes infundidas pelo Santo Batismo, ampliadas e robustecidas pela Confirmação ou Crisma, e dilatada possantemente pelo alimento espiritual da Eucaristia.
Em outro plano, entra o Estado, quando estruturado em conformidade com o princípio da subsidiariedade – portanto oposto ao gigantismo socialista que o caracteriza em nossos dias – complementa a formação dos indivíduos pela criação de ambientes e de leis favorecedoras da família e da Igreja.
Dentro da sociedade temporal, habitat do homem, função primordial incumbe às elites, cujo bom exemplo representará fator de engrandecimento moral, espiritual e material de uma nação, mas quando deterioradas constituirão para esta mesma sociedade um terrível malefício.
Em próximo artigo, pretendo ilustrar o acima exposto, com o exemplo de Santa Maria Goretti, cuja formação familiar e religiosa marcou de início a fim sua curta, mas luminosa existência.



O dom mais precioso da vida



Em recente artigo, expus minhas apreensões diante do mundo dito moderno, ao mesmo tempo em que tratei da instituição da família como veículo natural das boas tradições. Agora darei um exemplo vivo sobre a matéria anterior.
O caso modelar que me ocorre é a da figura angélica de Santa Maria Goretti. Nessa época em que as praias são tomadas pelo neopaganismo que estadeia toda corrupção da civilização moderna, aquela pequena virgem entrega a sua vida a Deus com toda a resolução.
Para quê? – Para não perder aquilo que ela mais amava, mais do que a luz de seus olhos, mais do que a sua própria existência, aquela virgindade que se aprende a amar como o dom mais precioso da vida, quando se tem uma alma verdadeiramente eucarística.
Lendo sua vida, salta-nos uma pergunta: Como puderam seus pais analfabetos colher o inesperado tesouro de santidade em um de seus filhos? A Igreja usufruía naqueles tempos de uma situação na qual os homens regiam suas vidas sob a influência benfazeja das Leis de Deus.
Santa Maria Goretti nasceu num ambiente preservado, onde não havia evanescido a noção do bem e do mal. Seus pais ensinaram aos seis filhos o catecismo, ensinaram-lhes a rezar, a fazerem a primeira Comunhão. Reunidos, eles rezavam a oração da manhã e da noite.
Além de terem a vida muito ocupada na lida do dia, para proverem o sustento da casa, os pais eram exemplares. Aos domingos, caminhavam duas horas para assistir a Santa Missa, enfrentando as intempéries próprias de cada estação.
Com tal programa familiar, pode-se ainda perguntar: Como Santa Maria Goretti conseguiu trilhar a avenida da alta santidade sem a concorrência de nenhum sábio e experiente educador, a ponto de deixar perplexos os promotores de sua canonização?
Viveu ela num lar inteiramente cristão. Sua mãe, quando solteira, teve de trabalhar em casas de família para tirar o seu sustento, e com isso teve de tomar cuidado com os perigos de se perder. Possuía ela uma consciência reta e bem formada na noção do bem e do mal.
Soube ela transmitir à filha o senso do dever para com Deus que vê todas as coisas. Certo dia, a filha se escandalizou com conversas que ferem os ouvidos inocentes. Contudo, a mãe soube dizer à filha que se cuidasse para dominar suas expressões, a fim de não chocar as pessoas.
Seus pais a chamaram Maria para ter uma poderosa padroeira no Céu, e, cheios de zelo, levaram-na a pia batismal apenas 24 horas após o nascimento a 19 de outubro de 1890. E Maria foi crescendo em graça e santidade. Todos os olhares recaíam sobre sua beleza, sobretudo da alma.
O sobrenatural como um perfume se emanava dela. Daí o ódio do assassino que a todo custo queria fanar a beleza resplandecente de sua castidade. Gostava de estar sempre ocupada e serviçal. Pronta para qualquer empresa, não tendo medo de sacrifícios e de renúncias.
O próprio Nosso Senhor dirigia sua alma com inspirações, graças e dons. As primeiras palavras que aprendera ainda balbuciando foram os nomes de Jesus e Maria. Seus primeiros ósculos foram para a Santíssima Virgem. Sua primeira palavra pela manhã era Ave Maria!
Ainda voltarei ao assunto proximamente, se Deus quiser.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Bons tempos em que se morria para não pecar



Encerro hoje a série de artigos sobre Santa Maria Goretti. Ela abria e terminava seu dia com o Sinal da Cruz. Sem caprichos nem manhas e sempre generosa, revelava reflexão superior à sua idade. Aos seis anos de idade recebeu a Santa Crisma.
Para tentar melhorar suas condições precárias, a família se mudou para Colle Gianturco, local do martírio. Depois da morte do pai – conta-nos sua mãe Assunta – a filha procurava lhe fortalecer o ânimo.
Nas agruras, ela dizia a sua mãe: “Por que esse medo, mamãe? Daqui a pouco estaremos – eram seis filhos – crescidos. Basta que Nosso Senhor nos dê saúde e a Providência nos ajudará”. Modelo de confiança!
Com a sabedoria de quem sabe aproveitar o tempo com método e disciplina, conhecia o segredo da vida. Com a morte do pai, seu programa de ouro foi assumir a responsabilidade do lar e o cuidado e a formação dos irmãos.
Era de angélica pureza. O assassino confessa jamais ter notado nela o menor ato contrário a essa virtude. Chegava a rir discretamente das colegas que paravam diante de espelhos ou das vidraças para arranjar os cabelos. Ao ouvir palavras inconvenientes, nunca deixava de manifestar seu desagrado.
Em contrapartida, quão diferente foi a educação de seu verdugo, de nome Alexandre! Seu pai não praticava a religião, acreditando vagamente na existência de Deus. Possuía ainda caráter autoritário e era dado ao vício do álcool. A própria mãe, já meio louca, tentara afogar o filho quando este era criança.

Órfão de mãe ainda novo, não conheceu os carinhos, a bondade e o afeto materno, sendo criado como um estranho. Ao pai recai a acusação de ter cultivado a perversão do filho nas más leituras, apesar de ter sido batizado, aprendido um pouco o catecismo, a ler e escrever.
A situação de Alexandre se agravou quando ele foi marinheiro, tendo ali se pervertido ainda mais, devido às más companhias. Contudo, ainda não perdia missa e era respeitoso com o pai. Era de gênio fechado, frio, solitário.
Costumava trancar-se no quarto, onde alimentava o vício da impureza através de más leituras que o próprio pai lhe proporcionava. Revestia as paredes com figuras de jornais e revistas indecentes.
O vício criou nele raízes profundas. Penetrado de um impulso satânico, Alexandre decidiu destruir a inocência e a pureza de coração da santa. Caso ela resistisse às suas impetuosas paixões, ele havia decidido matá-la. Contudo, a força de seu ódio não pôde prevalecer contra o rochedo intransponível de quem prefere morrer a se deixar contaminar pelo vício impuro.
Deparamo-nos assim com dois modelos de educação e de vida. A primeira banhada pela luz da graça e da vida sobrenatural. A segunda, por ódio à virtude e à vida exemplar. Ao tentar diabólica e inutilmente impor sua devassidão à santa, assassinou-a. Foi preso e cumpriu pena. Contudo, teve de lamentar pelo resto da vida o seu ato infame.
Mas o heroísmo da menina cheia de força atingiu tal cume, que levou o próprio assassino à conversão. Perdoou-o e disse que o levaria para o Céu. Sua conversão foi seguida de penitência numa cela de um convento de religiosos.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Sagacidade e força


Na sua infinita sabedoria, Deus dotou a natureza com admirável perfeição: os mais fracos servem aos mais fortes e os inferiores aos superiores, resultando numa excelência que dá equilíbrio e grandeza à criação. Sabe-se que os coelhos se reproduzem muito para servir de alimento a outros animais. Encanta-nos observar os pássaros. Quando um deles se encontra atacado pelo predador, surgem seus congêneres para defendê-lo.
Quem nunca se maravilhou com o lado pitoresco de um cachorro puxando um pequeno trenó que se desliza sobre a neve, ou – versão nacional de nosso interior – de um cabrito puxando uma carrocinha com crianças? Ao cachorro, Deus lhe deu o faro aguçado, além de audição apuradíssima para perceber sons inaudíveis aos nossos ouvidos. O cachorro se sente mais ele mesmo sob os cuidados do dono.

O gato gosta de agrado e sempre se manifesta de forma a cativar aqueles que habitam a residência onde ele vive. Ostenta-se de forma afetiva com o seu ronronar, com seus trejeitos nos conviveres da casa. Ele se sai sempre bem dos embaraços em que se depara.


Se Deus assim favoreceu os animais irracionais, como Se esmerou no homem, feito à Sua imagem e semelhança, e, portanto, capaz de levar vida superior e excelente! Afinal, não somos todos beneficiados pela vida da graça, protegida e majorada pelos sacramentos?


Quem consegue analisar o olhar misterioso de um gato e saber o que ele planeja? Suas presas costumeiras tremem ao perceber seu olhar. Contudo, o gato e o cachorro não se dão. Basta uma brincadeira de mau gosto entre eles para despertar seus instintos. A grande arma do gato é a sua pata dianteira em riste próxima ao focinho do cachorro...

Tais considerações me ocorreram ao analisar a vida de Santa Maria Goretti. Ela reúne em seu espírito uma agilidade pouco comum. Ainda menininha, ajudava os pais nos afazeres da casa e do campo. E fazia tudo isso com alegria contagiante. Rezava contemplando as estrelas e as maravilhas criadas por Deus. Assim, foi forjando seu caráter até o momento de sua grande prova. Aos 12 anos, enfrentou um homem devorado pela luxúria e por outros vícios – um monstro –, de cujas mãos ela escapou vitoriosa.
Maria Goretti soube edificar sua casa sobre a rocha firme. Veio a chuva e transbordaram os rios, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa e ela não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. (Mt. VII, 25). Foi sábia, forte, destemida e altaneira. Soube vencer a mais furiosa tempestade, a do enlouquecido homem que queria arruinar a sua vida.
Ela não demonstrou medo de ele lhe arrancar a vida, pois sabia que nada poderia contra sua alma. Seu único temor era ofender a Deus. Ela colocou em prática as palavras do Divino Mestre de seguir o Seu exemplo e trilhar o Seu caminho. Sua fé e ousadia não a deixam atrás das virtudes das primeiras mártires lançadas nas arenas e devoradas por feras.
Em razão de sua fé e de sua vida temperante, ela soube encontrar energia e confiança em Deus, não cedendo ao ataque do monstro. Quem consegue penetrar no olhar de uma menina com aquela sagacidade e força? Nada há de mais belo que o olhar dela. Quanta sabedoria, quanta contemplação, quanta visão da realidade! Diante do pecado se sentiu cheia de força, preferindo morrer a se entregar.
Faz lembrar a leveza, o encanto e a sagacidade do gato; o faro, a coragem e o ímpeto do cachorro. Guardou o que mais estimava: a inocência e a virgindade.
De onde lhe veio a força senão da Eucaristia e na Virgem Mãe, Rainha das virgens? Quando o punhal assassino penetrou desapiedadamente em seu corpo, a sua alma se elevou Àquela que é a Mãe de Deus: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém!”


A força de quem nunca deixou manchar sua alma é algo incompreensível neste mundo onde estadeia a luxúria de viver. Como abismo atrai outro abismo, os frutos gerados por relações criminosas atraem crime ainda maior, o aborto. Por que isso? Porque o mundo se afastou dos princípios de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Santa Igreja.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Stat Crux


Pe. David Francisquini

Para falar da cruz não vou remontar à árvore da graça no Paraíso, nem sua passagem através da ponte do rei Salomão para Jerusalém até a escolha desse lenho para a crucifixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Além de a tarefa ser árdua, seria muito longa.
Na linguagem moderna e quase irreverente do publicitário Alex Periscinotto, em palestra proferida aos bispos do Brasil (1977), a cruz se tornou o primeiro e o mais feliz dos ‘logotipos’. Sempre presente no alto das torres, a cruz permite identificar que ali existe uma igreja católica.
Como fora escondida depois do mistério da morte de Cristo, a História registra sua descoberta em Jerusalém no ano de 326, por Santa Helena (na pintura, à direita), mãe de Constantino (à esquerda). A partir de então, a devoção à cruz difundiu-se tão rapidamente, e antes de se encerrar o século, surgiu o hino Flecte genu lignumque Crucis venerabile adora (genuflexo, adora o venerável lenho da Cruz).
De alguns lustros para cá, vem surgindo aqui, lá e acolá um debate sobre a presença de símbolos religiosos, sobretudo da cruz, em lugares ou repartições públicas tais como escolas, hospitais, câmaras legislativas, prefeituras e mesmo no Judiciário.
Por exemplo, recente acórdão judicial obrigou a construção de uma sala-mesquita para alunos muçulmanos num bairro de Berlim, pois a Constituição alemã proíbe toda manifestação religiosa nas escolas. Em 1995, uma Corte anulara a legislação bávara que permitia fixar crucifixos nas escolas públicas.


Na Itália, a questão vem se repetindo. Como os Estados não se envolviam diretamente na proscrição e na retirada desses símbolos em tais lugares, a Corte Européia de Direitos Humanos de Estrasburgo decidiu contra o uso de crucifixos em salas de aula na Itália.


Quando a autoridade judicial determina a retirada dessas insígnias, costuma causar descontentamento geral, pois apesar de o Estado ser laico e defender a liberdade religiosa, a maioria dos cidadãos que compõem tais Estados, como na Itália, são católicos.
É muito estranho que um costume milenar arraigado na alma dessas nações, seja bombardeado por minoria perturbadora e intolerante ao querer impor suas idéias. Por toda a parte, como por exemplo em Roma, sede do cristianismo. Afinal, por que tanto ódio à cruz?
Nosso Senhor Jesus Cristo morreu pregado numa cruz, no alto do Monte Calvário, em Jerusalém. Nessa ocasião ocorreu a Redenção do gênero humano, ou seja, Ele imolou-se pela humanidade e abriu as portas do Céu, até então fechadas pelo pecado de nossos primeiros pais.
A partir de Jerusalém, os Apóstolos pregaram o Evangelho. E São Paulo afirmava alto e bom som: “Eu só sei pregar a Cristo e Cristo Jesus crucificado”. Os povos converteram-se ao cristianismo, da Europa e posteriormente das Américas, e o catolicismo hoje conta com mais de um bilhão de fíéis.
A Religião católica tornou-se oficial em muitas nações. Reis e imperadores carregaram a Cruz no alto de suas coroas, estamparam-na sobre seus estandartes e viveram séculos sob a influência benfazeja de nossa santa Religião. A cruz tornou-se o sinal do cristão, e indica os principais mistérios da nossa fé.



Pretendo dar continuidade ao já exposto num próximo artigo.

Stat Crux II 

Em artigo anterior, escrevemos sobre a cruz ao longo da História; a cruz como sinal do cristão; a cruz que aponta os mistérios da fé católica, apostólica, romana; a cruz perseguida, diante da qual — genuflexos — adoramos o instrumento da Redenção do gênero humano pelo Homem-Deus.
É pela compreensão do papel do sofrimento e do mistério da cruz e sua aceitação que os homens poderão ser salvos da crise tremenda que se abate sobre a sociedade hodierna. E sua rejeição, por aqueles que permanecerem fechados até o último momento ao seu convite amoroso, poderá lhes acarretar as penas eternas.
Para os servos de Deus, a cruz é arma invencível e barreira que resiste a todos os esforços do inferno. É muito conhecido na História o acontecimento no qual Constantino — em luta contra Maxêncio pelo título de imperador — às portas de Roma viu nos céus uma cruz [pintura abaixo] junto à inscrição In hoc signo vinces (Com esse sinal vencerás).
Tendo colocado a cruz e essa inscrição em seu estandarte, ele triunfou. O local ficou conhecido como Saxa Rubra, pela abundância de sangue derramado. Tornando-se imperador, Constantino aboliu o suplício da cruz, o mais infamante e o mais terrível, no qual padeciam os piores criminosos. E, a partir daquela data — 28 de outubro de 312 —, ninguém mais seria crucificado.
Depois de Nosso Senhor Jesus Cristo ter sido morto no madeiro da cruz, esse símbolo tornou-se o mais nobre, o mais elevado e o mais precioso da História. Como de uma árvore veio o pecado de nossos primeiros pais Adão e Eva, de outra árvore veio a salvação. Ela representa o verdadeiro escudo contra as potestades infernais.
Ao abolir tais símbolos — como propõe o novo Programa Nacional de Direitos Humanos —, o Estado leigo afirma não professar religião e postula a vida social desvinculada do fator religioso. Trata-se na realidade de confessionalismo ideológico e agnóstico, pois equivale a dizer: “Como você tem uma convicção, uma religião, não pode impô-la a mim. Mas eu Estado, todo-poderoso, agnóstico e ateu, posso impor a minha a você. Nós divergimos, mas quem tem razão sou eu, pois tenho a mente livre e não atada por dogmas religiosos!”
Na verdade, parece tratar-se mais de um bizarro Estado dito democrático e pluralista, no qual só os ateus e agnósticos têm o direito de falar e modelar leis e costumes segundo seus princípios. Seria essa a nova ditadura na qual os “dogmas” do laicismo seriam impostos a todos?
Se hoje nas escolas, nas repartições, nos prédios e nos lugares públicos a cruz de Cristo não pode aparecer, amanhã, em nome do mesmo princípio, os pais não poderão ensinar a Religião, pois violariam a opção livre de seus filhos. Até aonde chegará a ousadia do Estado moderno?
*sacerdote da igreja do Imaculado Coração de Maria, Cardoso Moreira - RJ