Postagem em destaque

O novo rito da Missa não é substancialmente idêntico ao anterior? Discussão sobre Traditionis Custodes: Dom Jerônimo alega que o Papa Fran...

Postagens mais visitadas

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

À procura de almas (final)

À procura de almas (final)
Pe. David Francisquini (*)


Cumpro a promessa feita e retomo o tema da procura de almas em nossos campos – hoje tão desfigurados em relação a um passado não muito remoto – onde patrões e empregados viviam em perfeita harmonia na troca amistosa de bons ofícios do compadrio reinante. Tal concórdia não era fruto espontâneo da natureza, mas da fé religiosa que a todos iluminava.
Dada a situação em que vive infelizmente a maior parte das pessoas que se mudou para as cidades, os pais deixaram de ensinar o catecismo e a história sagrada a seus filhos, pois nem eles mesmos dão exemplo de vida religiosa, temperante e temente a Deus. Confinados em casas populares, sofrem pressão do ambiente para limitar o número de filhos.
Os pretextos se encontram numa “cartilha” na qual os novos citadinos “aprendem” que a vida se tornou implacável e não comporta mais uma prole numerosa a ser educada e alimentada. Enquanto moravam no campo eles usufruíam da fartura de alimentos, da largueza retratada no espaço, além do ganho, resultando em bem-estar, tranqüilidade e alegria de situação.
Contudo, ninguém está disposto a trocar a vida – ainda que precária – da cidade pela vida temperante do campo, mesmo com todas as condições de conforto da cidade. No vazio de nosso interior, até há pouco estuante de vida e símbolo de abundância e fertilidade, repercute o eco das desastradas políticas que resultaram no enorme êxodo rural.
Enquanto pastor e orientador de almas, não creio poder inocentar de culpa os promotores de tal política. Com justa razão reclamam os nossos proprietários de terra dessa política agrária que mantém as mãos estendidas para os ditos sem-terra, oferecendo-lhes toda sorte de regalias, enquanto aqueles que têm vocação agrícola ficam abandonados e até ameaçados.
Um ruralista autêntico reclamou comigo que trabalha mais para o governo que para seu próprio sustento. Alega ter virado praticamente um concessionário do Estado e não mais um legítimo proprietário. A todo o momento recebe visitas de órgãos governamentais para cobrar isso ou aquilo, além de lhe impor mil e uma obrigações sem nenhuma contrapartida.
Aliás, parece que tudo se encontra assim nesse pobre Brasil. A figura do proprietário vai desaparecendo em detrimento da figura de mero concessionário do Estado. Qual um deus laico e impostor, o Estado se apresenta como onisciente, onipotente e onipresente ao querer saber de tudo, abarcar tudo e controlar tudo.
Outro camponês me lembrou a figura do chupim – pássaro símbolo da preguiça, da depredação e do aproveitador – que ao “chupar” os ovos do tico-tico e botar lá os seus, faz com que o tico-tico os incube para ele, além de criar os filhotes os alimentando por longo período. Só depois de muito adultos que eles vão sair da tutela do tico-tico para novas patifarias.
Vai celeremente desaparecendo a verdadeira liberdade dos filhos de Deus. A ferrenha escravidão imposta pelo Estado faz aumentar dia-a-dia o crescente desânimo entre os produtores rurais, e também urbanos, obrigados tanto uns como os outros a carregar nas costas uma máquina estatal cada vez maior.
A classe média dá mostras de cansaço, e, sem desmerecer a nobreza do legítimo funcionalismo público, o que vemos são as filas sem-fim dos concursos a um cargo municipal, estadual ou federal. Afinal, todos querem fazer parte da nova aristocracia, a nomenklatura, que pouco produz e leva a maior parte dos frutos e dos esforços de quem trabalha.
Com a livre iniciativa cerceada, as mentalidades vão mudando a ponto de quase todos reclamarem da presença do Estado na solução dos problemas do cotidiano na segurança, na saúde, na educação, enfim, na solução de todos os problemas, inclusive na eliminação da pobreza. A conseqüência só pode conduzir ao acomodamento e ao torpor das individualidades.
Ao promover o bem comum, o Estado jamais poderá ser um fardo para a sociedade. Seu papel é criar condições para que os indivíduos desenvolvam seus talentos e contribuam para o sadio progresso da nação, e não como vimos assistindo no Brasil. Por ocasião das eleições, jornais noticiaram que os “dependentes” do Estado seriam capazes de eleger o presidente.
O que me faz levantar uma pergunta: – Que autenticidade tem uma democracia baseada nesses termos?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

À procura de almas

À procura de almas
                                                                                                                                Pe. David Francisquini

Ao observar um passarinho fazer seu ninho, vemos como Deus o dotou de um instinto muito apurado, pelo qual ele o arranja de tal modo que proporciona segurança e conforto aos filhotes, ademais de abrigo para a mãe. Depois de ter criado a ‘prole’, voa para outros lugares, enquanto sua descendência tocará a própria vida.
Com o homem, rei da criação, é diferente. Dotado por Deus de qualidades e perfeições muitíssimo superiores às dos pássaros, além da sensibilidade ele possui faculdades espirituais que são a razão e a vontade, as quais dão rumo à sua existência. Sua natureza pede que ele trabalhe e acumule, para assegurar seu futuro e o de sua família.
Construtor não só do lar, mas de culturas e civilizações, quando procedente do campo costuma o homem civilizá-lo, tornando-o aprazível, acolhedor e encantador. Como o eram outrora as fazendas, pequenas cidades campestres que, sem dispensar o conforto e bem-estar proporcionados às condições da época, irradiavam um ambiente católico.
Nas minhas idas e vindas pela região rural da minha paróquia, situada ao norte do estado do Rio de Janeiro, pude constatar tal realidade, hoje infelizmente desaparecida. Dela só subsistem escombros. O êxodo rural devastou o campo. Acabaram as lavouras de café, de milho, de arroz e de feijão. A figura lendária do meeiro ficou relegada aos anais da história.
Detentor de direitos e de uma carteira de trabalho – contrapartida oferecida pelo getulismo ao afeto e à proteção de que então gozava –, o trabalhador braçal foi se despojando de um e de outro para cair na pobreza moral resultante da substituição do patrão pelo Estado.
Iludido muitas vezes pelo faiscar de lantejoulas das metrópoles e dos costumes corrompidos com as quais a televisão o enleia, já não mais suporta o campo – nem, muitas vezes, podendo o patrão suportar o ônus de mantê-lo –, vem aninhar-se nas periferias das cidades, onde infelizmente proliferam as drogas, a violência e a depravação geral dos costumes.
Trocou a vida regrada, silenciosa e contemplativa do campo, sua dura e heróica labuta – que começava com o nascer do sol e o cantar dos pássaros, e que com o sol e os pássaros se encerrava –, para viver no anonimato de um conglomerado desumano onde fervilham as cacofonias e não raro os maus odores, símbolos das más paixões que nele imperam.
De um patamar superior de reflexão e análise oferecido pela natureza virginal desceu para a irreflexão, a indolência e a imprevidência com que se contentam os que se acomodam com o pouco que ganham, mal dando para sustentar e atender às outras necessidades prementes que não seja a comida.
Quando vivia no campo ele praticava a religião. Hoje, dada a situação em que vive infelizmente ele não ensina mais o catecismo e a história sagrada a seus filhos e nem ele mesmo dá exemplo de vida religiosa, temperante e temente a Deus. Confinado em casas populares, há uma pressão da própria situação e do ambiente para limitar o número de filhos.
Pretendo continuar a matéria em posterior artigo. Até lá.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Os direitos de Deus e as eleições

Os direitos de Deus e as eleições

Pe. David Francisquini


Deus deu inteligência ao homem – criado à sua imagem e semelhança – para que ele pudesse conhecer as coisas de maneira racional. Contudo, as diretrizes fundamentais das ações humanas, através das quais se conhece o bem e o mal sem necessidade de recorrer à lei positiva divina, estão gravadas indelevelmente no seu coração pela lei natural.
Tal noção é que o faz discernir, por exemplo, que é errado matar, pois somente Deus é o senhor da vida e da morte.
Pelo mero uso da razão, o homem pode chegar ao conhecimento dos seus deveres para com Deus e o próximo. Foi o caso de Aristóteles, que sem o conhecimento do Decálogo teve noção exata de um Deus uno, transcendente, imutável, absoluto, imaterial, imóvel. Na hora de sua morte, o filósofo pediu misericórdia a esse motor imóvel que movia todas as coisas.
Mesmo sem conhecimento da Igreja Católica, o homem recebe as graças suficientes para atingir seu fim último que é Deus, e em todas as nações pagãs se conservou a idéia básica de se viver retamente e de um juízo pautado pelas regras do Criador.
Assim como no Universo existem leis que regulam e ordenam tudo quanto nele existe, também há normas e leis para regular as ações do homem. Caso ele não as siga, torna-se um degenerado. O homem conhece seus deveres e obrigações do mesmo modo como a andorinha constrói instintivamente seu ninho e protege seus filhotes,
A lei natural não é fruto do raciocínio humano, mas mandamento divino, vontade imperativa de Deus posta na natureza, que o homem pela razão conhece em cada caso. Daí desabrocha sua consciência, sua noção de que agindo de determinado modo erra, enquanto de outro faz o bem.
Com a queda de nossos primeiros pais Adão e Eva, agravados pela decadência do gênero humano surgiram a idolatria e o panteísmo, a perda da noção da existência do bem e do mal, bem como a idéia de um Deus uno e criador que premia ou castiga.
A razão obscurecida, a vontade enfraquecida e a sensibilidade embrutecida pelo pecado original cederam lugar à barbárie do mundo antigo. Por misericórdia, Deus revelou os Dez Mandamentos – explicitação da lei Natural – nos quais está contida a lei máxima do amor a Deus e ao próximo, resumo de toda a lei e dos profetas.
Sem dúvida, o homem está sujeito à ignorância, à má formação e aos maus exemplos; mas a boa consciência se forma pelo conhecimento dos deveres, pelo convívio entre os bons, pela solução das dúvidas, pela sinceridade no julgar a si mesmo, pela tranqüilidade do dever cumprido. A isso são somados os bens sobrenaturais oferecidos pela Igreja.
Pois bem. Se isso se passa no âmbito individual, o que dizer num grupo social ou no próprio Estado? Que mal, que ruína para uma nação quando leis atentatórias à lei natural e aos Dez Mandamentos obrigam os cidadãos a se revoltar contra Deus! Nesse caso, diz São Paulo, cumpre obedecer antes a Deus que aos homens...
No Brasil, o PNDH-3 (Plano Nacional dos Direitos Humanos), entre outras coisas, visa implantar o aborto, legalizar o maldito casamento homossexual, abolir os símbolos religiosos dos lugares públicos, oficializar a prostituição e cercear a liberdade religiosa. Tudo de modo a tornar criminoso quem “discriminar” tais aberrações e vícios.
Ademais, a pretexto de uma igualdade mal interpretada, o PNDH-3 limita e até abole o direito de propriedade inerente à natureza livre do homem, que sabedor de que amanhã precisará dos bens dos quais hoje usufrui, pode e deve fazê-los prosperar e guardar para as necessidades de um futuro incerto. Até as formigas o fazem...
Negar isso é tornar o homem escravo. Por que então falar de direitos humanos nesse PNDH-3? Na verdade, o que vemos nele é uma revolução cultural contrária à própria natureza humana, aos Mandamentos de Deus e, portanto, aos próprios direitos humanos que seus idealizadores propalam defender!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Assim na terra como no céu! I e II

Assim na terra como no céu! (I)



Pe. David Francisquini

Muitos leitores já se terão talvez perguntado sobre as repercussões na vida do homem e da sociedade de um dado regime político. Da monarquia, aristocracia ou democracia, por exemplo. Se tal influência existe, ela deverá também existir num regime totalitário, materialista e igualitário, negador do direito natural e divino.
Com efeito, o Estado exerce uma grande e contínua influência pedagógica sobre a população. Esta será boa se seus dirigentes na sua conduta pessoal derem bons exemplos e elaborarem leis gerais condizentes com essa conduta; e será má caso suceda o contrário.
Um povo cujos dirigentes negam a existência de Deus, do céu e do inferno e procuram estabelecer a negação sistemática dos mandamentos da Lei de Deus, tende para o caos e a desordem, o morticínio e a violência, a bebedeira e o preternatural. É o que constatamos na maioria das nações do mundo de hoje, incluindo o Brasil.

Assim como nas plantas existe o fenômeno do heliotropismo, que é a busca da luz solar, há no homem um movimento natural e possante que poderíamos chamar de Teotropismo, que é a busca de Deus. Por ser essencialmente religioso, o homem tende para Deus.

Seu fim é conhecer, amar e servir a Deus neste mundo, e depois da morte contemplá-Lo face a face no Céu, no gozo da felicidade eterna. E a Igreja Católica Apostólica Romana, instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, é o instrumento necessário para a salvação, pelo fato de dispor de todos os meios para o homem alcançar o fim último que é Deus.
Sobre isto especificamente, tratarei no próximo artigo.





Assim na terra como no céu! (II)


Pe. David Francisquini


A doutrina, os ensinamentos e os sacramentos da Igreja Católica elevam o homem à vida sobrenatural e o fazem conhecer as verdades da Fé. À Igreja cabe civilizar a humanidade, tornando a mensagem do Evangelho presente na arte, na música, na arquitetura, na escultura, na pintura, no desenvolvimento econômico, social, político, jurídico, nas ciências naturais e humanas.
Ela propicia assim o ambiente para que o homem desenvolva seus talentos e as sociedades rumem à perfeição, obtendo o grau de felicidade possível neste vale de lágrimas, antecipação do gozo do Céu. Ainda se pode notar muita coisa disso no continente europeu, cujos alicerces foram profundamente marcados pelos sinais da Fé católica.
De outro lado, devido ao pecado original, existe no homem uma tendência arraigada que o propende para o vício, agravada pelas quedas no pecado e pelas tentações provocadas pelo demônio. O homem tem sede de absurdo e de pecado, por ter sido sua natureza vulnerada pelo pecado de soberba e de desobediência de nossos primeiros pais, Adão e Eva.
Um regime comunista – como o da antiga Cortina de Ferro, da China, de Cuba ou do neocomunismo bolivariano de Chávez para as Américas –, poderia ser classificado como aquele cujas leis e costumes são feitos de molde a impulsionar em toda a medida do possível os efeitos do pecado original na sociedade, impedindo qualquer bom movimento dela em direção a Deus.

Tais regimes promovem perseguição religiosa, procuram por todos os meios a extinção da Fé, levam os homens à blasfêmia e criam obstáculos para a normal e pacífica celebração do culto, ademais de espalhar toda sorte de vícios, visando ao completo desregramento dos homens. Por isso, tais regimes antinaturais e anticristãos surgem e se mantêm pela força.

Sua conseqüência? – A barbárie traduzida na decadência, na preguiça, no caos mental, na violência, na loucura, no suicídio, na bebedeira, no autoritarismo, nas injustiças de toda ordem, na pobreza, na miséria, na sujeira. Nada funciona e as doenças proliferam. Há fome, guerras, rebeliões, massacres, campos de concentração.
São regimes cuja missão é construir uma sociedade inteiramente oposta aos Dez Mandamentos. Rejeitam a propriedade privada, invadem a esfera privada do indivíduo e da família, propagam o amor livre e toda sorte de vícios para a completa dissolução da família. Grassam a opressão e a miséria. A terra se transforma numa imagem do inferno.