Se hoje ouvirdes a voz da graça, não
endureçais vosso coração
*
Padre David Francisquini
Tomei conhecimento de
notícia publicada pelo G1 que trata da aprovação de um projeto de lei que
transitou na Câmara estadual do Rio de Janeiro. Pleiteia-se a decretação do
estado de calamidade púbica em 66 municípios do estado por causa da pandemia do
vírus Chinês. Esse projeto de lei pleiteia também autorização para os
municípios poderem realizar gastos extras na saúde.
O mesmo projeto de lei,
publicado no dia 16 de abril, autoriza os prefeitos a gastarem mais do que o
previsto do orçamento municipal com obras, serviços e pessoal para o combate da
peste, sem que haja a aplicação das penalidades previstas na lei.
Não vou entrar no mérito de
se serão fiscalizados ou não os gastos superfaturados. Se bem que, em momentos
de crise como a atual não se deve duvidar da idoneidade dos prefeitos, é sabido
que, em matéria de dinheiro, políticos inescrupulosos costumam aproveitar
situações como essa para assaltar os cofres públicos.
A nós, católicos, uma
pergunta se impõe: Como é que fica o Quinto Mandamento da Lei de Deus, que
proíbe apoderar-se dos bens alheios? Infelizmente sabemos que muitos políticos
não são assim tão sensíveis à Lei de Deus.
Contudo, o que me deixa
surpreso é o fato de ser decretado de modo amplo e irrestrito o estado de
calamidade pública no Estado, sem se verificar se cada município está nesse
caso. Cito como exemplo os municípios de Cardoso Moreira, Italva, Laje do
Muriaé, entre outros.
Referindo-me à minha cidade,
Cardoso Moreira: não há um só caso constatado do novo coronavírus. Houve apenas
suspeitos, mas que foram depois liberados. Então, por que decretar estado de
calamidade pública em regiões em que não se verificam casos que exijam isto?
O que se pode chamar de
“calamidade pública”: ter numa localidade um ou dois casos constatados de infectados
do vírus chinês, ou grande parte da população infectada? Qual a razão para se
decretar estado de calamidade pública no primeiro caso? Muitos diriam que é
para se receber dinheiro do Governo Federal com mais facilidade, ou mesmo com
fins eleitoreiros, num ano eleitoral.
Nosso Senhor, nas páginas do
Evangelho, nos ensina a prevalência dos bens espirituais sobre os bens
materiais na vida do homem. Ele disse mesmo que “Onde está o teu tesouro,
aí também está teu coração.” (Mt 6-21). É lamentável ter que reconhecer
que muitos de nossos políticos, habituados ao prestígio, à honra e à dignidade,
dão mais importância aos bens materiais que aos espirituais, visando assegurar
suas posições.
Num Estado já falido pelas
más gestões anteriores como o do Brasil, alguns deles parecem estar procurando
agravar mais a situação econômica e social do País, mesmo com o risco de
apressar seu funeral ou acelerar as exéquias do que ainda resta de ordem e de
bem na nação. Eles agem como verdadeiras aves de rapina, predadoras desse
Estado mal governado por décadas de governos inescrupulosos, verdadeiros
abutres ansiosos para se açambarcar dos cofres públicos, já tão deficitários.
Desejam eles endividar
propositalmente os Estados e os municípios, para que o Brasil se torne uma nova
Venezuela? Pois tentam saquear os cofres públicos, desinteressados do
progresso, do enriquecimento do País e da cultura.
O controle sobre a população
indefesa está ficando cada vez maior. Já há, e é de se lamentar, guardas e
enfermeiros à entrada das cidade para submeter quem entra e sai às exigências
sanitárias. O que nos deixa perplexos é estar o comércio parado, as liberdades
individuais cerceadas, as pessoas impedidas no que tem de mais elementar que é
o direito de receber os Sacramentos e servir a Deus em suas igrejas. Lamentamos
que não haja reação proporcional por parte da sociedade contra essa
interferência dos poderes públicos.
Por outro lado, alguns
particulares tornam-se cada vez mais ousados e atrevidos em dilatar aos órgãos
públicos seus vizinhos que não estejam cumprindo as normas do Governo. Há uma
vigilância cada vez maior para coibir a liberdade individual, numa cidade cada
vez mais controlada pela polícia, que está se tornando num regime de terror.
Indo as coisas como vão, em
matéria de liberdade individual, qual será a diferença entre a tirania da China
comunista e o Brasil em pouco tempo?
Todas estas considerações
nos fazem lembrar do que disse Nosso Senhor Jesus Cristo sobre o resultado de
nossas ações: “Ou dizei que a árvore é boa, e o seu fruto bom: ou dizei
que a árvore é má, e o seu fruto mau; pois que pelo fruto se conhece a árvore.
Raça de víboras , como podeis dizer coisas boas, vós que sois maus? Porque a
boca fala da abundância do coração. O homem bom tira boas coisas do bom tesouro
(do seu coração); e o mau homem tira más coisas do mau tesouro. Ora, eu
digo-vos que de qualquer palavra ociosa que tiverem proferido os homens, darão
conta dela no dia do juízo. Porque pelas tuas palavras serás justificado ou
condenado.” (Mt 12, 33-37).
Acrescenta-se a isso que,
num ambiente cada vez mais afastado dos mandamentos, há um terrorismo mediático
que vai gradualmente se impondo e mais exigindo do homem levando-o a se
despojar de sua individualidade, dos seus valores, de sua liberdade, como ser
racional, dono dos seus próprios atos. É uma ditadura de poucos que quer
obrigá-lo a aceitar tragicamente o caminho das concessões. O que vai
fragilizando e prostrando mais o homem rumo ao despenhadeiro.
Santo Agostinho afirma “que
a vontade livre deve ser contada entre os bens recebidos de Deus”. (De
Lib. Arb. II 18,47). Caso o homem observe atentamente a lei perfeita de Deus e
a pratique, terá sua recompensa como afirma São Tiago Apostolo.
Temos liberdade de fazer o
bem e o mal. O bom ou o mau uso dessa liberdade está nas mãos de cada um. O que
a Revolução gnóstica e igualitária deseja quebrar em nós, é esse dom magnífico
que Deus nos deu: ou seja a nossa liberdade de escolha. O que fazem os
terroristas ao utilizar homens bombas para semear o caos, hoje a mídia
ideologizada e esquerdista utiliza o terrorismo psicológico abusando de um
vírus made in China para cercear nossa liberdade de ir e vir, pela
ameaça de uma possível calamidade pública, real ou fictícia. Isto porque os
malefícios da crise são muito maiores do que os da própria doença. Pois está
provocando fome, desempregos em massa, doenças psicológicas, desesperos,
suicídios, assaltos sem conta. Enquanto prendem os homens de bem por usar de
sua liberdade de ir e vir, soltam os bandidos.
Ao mesmo tempo, enquanto
falam de preservar a vida, com pretexto da ameaça do vírus chinês, o STF tenta
legalizar o aborto em nosso país, em nome da eugenia.
Em que país estamos,
cheio de contradição, em que desejam nos levar à miséria moral, psicológica,
econômica e política? Ninguém confia em ninguém. Para alguns os dias são
sombrios, borrascosos, sem esperança. Se a própria Igreja fecha seus templos
privando-nos dos Sacramentos e do Santo sacrifício, o que nos aguarda?
O que devemos esperar de
tudo isto, quando já se fala que o mundo, depois dessa pandemia, não será mais
o mesmo? Dizem mesmo que já começou uma outra era. E essa era imprevisível, com
um Estado totalitário e todo poderoso, nos leva a temer pelo futuro.
Se a dúvida e a incerteza
tomam conta dos espíritos, o que nos resta é voltarmos de todo o coração para
Deus e Senhor de todas as coisas. “Se ouvirdes hoje sua voz, não
endureçais vossos corações”.
A Virgem, em Fátima,
alertou que o Comunismo espalharia seus erros pelo mundo. Mas prometeu que seu
Coração Imaculado triunfaria. Por isso, dizemos: “Se hoje ouvirdes a voz da
Virgem de Fátima, não queirais endurecer vossos corações, mas permanecei na esperança,
na certeza, na fé, na luta, para alcançar a vitória do Imaculado Coração de
Maria”, porque cremos e esperamos contra todas as esperanças.