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sexta-feira, 9 de julho de 2010

Sonho e pesadelo

Sonho e pesadelo (II)
 Pe. David Francisquini*
Escrevi – sob o título de “Sonho e pesadelo” – recente artigo em que procurei analisar o justo ideal de jovens que contraem matrimônio na perspectiva de iniciar uma família bem constituída, mas que não tardam a se deparar com obstáculos quase intransponíveis quanto à educação e à formação moral e religiosa dos filhos.

Em apressadas linhas, procurei dar nomes aos bois ao enquadrar os referidos obstáculos contrastando-os com a boa ordem das coisas criadas por Deus, recorrendo a um profundo estudo histórico e sociológico do insigne líder católico Professor Plinio Corrêa de Oliveira, consubstanciado na sua obra prima Revolução e Contra-Revolução.

Neste estudo, mundialmente conhecido, o autor demonstra que a atual crise que abala os alicerces da nossa sociedade é de origem religiosa e moral, tendo atingido, sobretudo, a civilização Ocidental e Cristã e depois se espalhou por todo o mundo. Não se pode entender, pois, a intricada situação da família descrita no referido artigo abstraindo-se dessa visão.

Muitas pessoas, diante dos alarmantes índices de violência e da vertiginosa expansão das drogas, bem como da dissolução da família e das concepções fora do casamento, recorrem a nós perguntando como proceder de modo equilibrado na educação e formação dos filhos, a fim de preservá-los dos perigos que campeiam.

Há algum tempo, a imprensa de Belo Horizonte registrou para a História entrevista com um assassino confesso. Entre outras perguntas, lhe questionaram sobre o que faria se fosse solto. Arrogante e duro de coração, ele respondeu que não estava arrependido dos crimes cometidos, que não procuraria trabalho, continuaria matando e roubando.

Em seguida, lhe perguntaram a razão de sua atitude e por que ele chegou a tal ponto, ao que ele respondeu com frieza: – “Tudo começou quando em menino cheguei em casa com um doce roubado no bar e minha mãe ao invés de me corrigir deu um sorriso”.

Salta aos olhos que uma concessão, por menor que possa parecer, pode trazer conseqüências desastrosas para o resto da vida. Pois nada de grande – quer no sentido do mal ou quer no sentido do bem – acontece repentinamente. O segredo para as famílias é a integridade na formação moral e religiosa de seus filhos.

Portanto, pais e educadores, no cumprimento de seus deveres estejam atentos para não fazer concessões à maldade e traquinagens das crianças pensando conseguir detê-las no caminho da ruína e da perdição. “Porque, a fascinação das frivolidades obscurece o bem e a inconstância da paixão transtorna o espírito inocente” (Sab. 4, 12).

Como sacerdote de Nosso Senhor Jesus Cristo, assisto com tristeza pais tomarem a defesa de filhos quando eles cometem infrações e são repreendidos. Além de não corrigirem os filhos, ainda se aborrecem quando um professor os admoesta, chegando não raras vezes a romper com a escola onde estudam os filhos na defesa de uma mera travessura infantil.

Outros abdicam à responsabilidade da educação deixando os filhos longamente diante da televisão ou da internet, para mais tarde, ao se deparar com os desvios dos filhos, se perguntarem o que aconteceu. Talvez seja demasiado tarde! Dentro do espírito cristão, sempre haverá uma forma equilibrada e sensata de educar os filhos.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Sonho e pesadelo

(*)Pe. David Francisquini


Imaginemos uma família que se inicia com um admirável e promissor casamento diante de um sacerdote que lhes deu formação necessária para bem compreender a nobreza que tal aliança encerra. Com tal perspectiva, uma nova existência começa cheia de esperança à busca da vida virtuosa em comum, de acordo com os ensinamentos da Igreja.


A boa índole do casal os leva a conceber prole numerosa com boa formação moral e religiosa, filhos de caráter que possam honrar com seus predicados os seus pais. E depois de uma vida de dedicação mútua, de trabalhos, de dedicação – numa palavra – de uma vida fecunda aqui na Terra, se reuniriam no Céu juntos ao trono de Deus.


Com o passar do tempo, sob a pressão do ambiente que o envolve, e do mau exemplo proveniente das classes dirigentes que deveriam ser modelo para as demais, o casal percebeu que a situação atual se encontra nos antípodas de suas mais legítimas aspirações, e que a batalha para atingir sua meta será sobre-humana.


Seus filhos se vêem cercados pela imoralidade e violência nos programas televisivos, pelos shows que propagam as drogas e os maus costumes, por doutrinas revolucionárias que eclodem daqui, de lá e de acolá através da mídia e até mesmo dos livros adotados em nossas escolas. Onde os filhos deveriam se formar para mais bem servir a Deus e a sociedade campeiam os maus exemplos.


Incoercível, tal avalanche inunda seu lar, e aos poucos os filhos começam a mudar. Já não desejam o convívio aconchegante do lar, e preferem a rua. Passam a contestar as ordens paternas na hora de ir para a Igreja, fazendo “corpo mole” no momento das orações, pois se sentem como que entediados das coisas de Deus. Cada vez mais exigentes, eles são intolerantes e cheios de capricho.


Parecem querer ocupar o lugar dos pais. Não aceitam mais usar as roupas de acordo com a modéstia cristã e com os padrões de bom gosto, mas se sujeitam “voluntariamente” à ditadura da moda, vestindo o uniforme atual do jeans desbotado e esfiapado. Os mais rebelados usam cortes de cabelo extravagantes, brincos, piercings e tatuagens.


Para infelicidade dos pais e dos bons educadores, as leis vigentes favorecem de maneira brutal o ambiente de rebelião à ordem constituída, substituindo-a pela anarquia generalizada. Nas escolas, as crianças começam já em tenra idade a ser iniciadas para a vida sem “tabus” através das aulas da assim chamada educação sexual, que as ensinam as piores depravações sob a capa de normalidade.


Como estudioso e diretor de almas, afirmo que tal situação não começou da noite para o dia e que ela não atinge apenas o Brasil. A crise que assola nossa civilização vem do Renascimento, passando pelo protestantismo, Revolução Francesa, comunismo e, agora com a revolução cultural que apregoa a quebra de todos os valores da família, da religião e da propriedade particular.


Trata-se de uma crise profunda e sem precedentes que tem como mola propulsora os vícios do orgulho e da sensualidade, e atinge todos os campos da vida humana, como escreveu o ilustre pensador católico, o Professor Plínio Correa de Oliveira, em seu livro “Revolução e Contra-Revolução”.


Em próximo artigo, pretendo continuar analisando essa candente situação que vem causando justa preocupação não apenas aos zelosos pais que amam e temem a Deus, mas a todos aqueles que procuram zelar pela maravilhosa ordem criada e desejada pelo Criador para propiciar aos seus filhos a eterna felicidade.

domingo, 23 de maio de 2010

Nova ditadura em ascensão


(*)Pe. David Francisquini


Instado por amigos a expor o que penso sobre o Programa Nacional dos Direitos Humanos (PNDH-3) do governo Lula, sinto-me no dever de brasileiro – acrescido da responsabilidade sacerdotal de que sou revestido – de explanar sucintamente o que pensa a Santa Igreja em seus ensinamentos a tal respeito.

Não precisa ser jurista para perceber nele, à primeira vista, um programa revolucionário concebido por mentes alienadas e manipulado por hábeis mãos a fim de descristianizar o Brasil, subvertendo de maneira radical nossas raízes cristãs por meio de leis que se contrapõem à Lei de Deus, codificada nos Dez Mandamentos.
Com efeito, o famigerado Programa se propõe a “desenvolver mecanismos para impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União” e recomenda “o respeito à laicidade pelos Poderes Judiciário e Legislativo, e Ministério Público, bem como dos órgãos estatais, estaduais, municipais e distritais”.
Trata-se do ateísmo implantado em nome da laicidade, uma nova ditadura em ascensão. O PNDH-3 golpeia a instituição da família e da propriedade, fundamento de qualquer ordem social sadia. Não se contentando com isso, ele apregoa o pecado com suas decorrentes desordens morais como valores inalienáveis a quem ninguém pode se opor.
O projeto pretende “reconhecer e incluir nos sistemas de informação do serviço público todas as configurações familiares constituídas por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), com base na desconstrução da heteronormatividade”.
O que até há pouco era anormal passa a ser normal, o que era pecado não o será mais, o que era antinatural passará a ser natural, o que era desordem moral passará a ser coisa inteiramente legal. Uma sociedade assim constituída levará as pessoas à negação de Deus, da Redenção infinita de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Igreja Católica.
O que se depreende disso é que quem vive na situação antinatural terá voz e vez! Quem defende a lei de Deus e a integridade da natureza ficará amordaçado e escorraçado. Na verdade, isso caracteriza um regime antinatural, despótico, tirânico, outrora implantado na ex-União Soviética. Viveremos sob o tacão desse Programa que será imposto ao Brasil?
Outra investida subversiva do PNDH-3 concerne às prostitutas, chamadas de profissionais do sexo, cuja ultrajante “profissão” o agourento Programa prevê regulamentada com todas as garantias de um trabalhador honesto. E ainda prevê fazer em relação a elas programas educativos – como se isso fosse educação – para que o público aceite a nova situação como normal.
Propaganda com dinheiro público, inclusive para as crianças, com a finalidade de que aceitem a prostituição masculina e feminina. Uma verdadeira máquina de meretrício para todas as idades, que fica assim liberada. Como ficam os Mandamentos que mandam não pecar contra a castidade e não cobiçar a mulher do próximo?
Trata-se, caro leitor, de legalizar o pecado e eliminar o conceito de família. Uma concepção nova do ato natural entre o homem e a mulher dentro do matrimônio indissolúvel com a finalidade de propagar a espécie, e o mútuo auxílio. Numa palavra, uma desordem sem nome, colocar isso em forma de lei.
Outro ponto totalmente inadmissível é o apoio ao infanticídio monstruoso do aborto, que é implementado tornando seu acesso livre e fácil a quem o desejar.
Não faltou ao PNDH-3 um forte ataque ao regime da propriedade privada ao propor “a construção de uma sociedade igualitária”, ou seja, a construção de uma nova Cuba no Brasil ou de uma Venezuela do caudilho Chávez, regimes comunistas como o foi o da Rússia soviética, qualificado pelo atual pontífice como “a vergonha de nosso tempo”.
Comunismo este que Nossa Senhora profetizou em Fátima como sendo o erro que se propagaria pelo mundo, constituindo o grande flagelo para punir os pecados da humanidade. Diz Santo Agostinho que a paz é tranqüilidade na ordem. Como poderá haver paz numa desordem tão grande que o tal PNDH-3 quer implantar na Terra de Santa Cruz?
Pelo contrário, ele nos levará ao caos. O mesmo Santo Agostinho nos ensina que se todos observassem o Decálogo – governadores, reis, magistrados, súditos, empregados, patrões, filhos, pais, mestres e alunos, esposos, soldados, enfim, toda a sociedade –, aí sim haveria verdadeira ordem e paz social.
Muitas vezes me pergunto se tantos cataclismos, terremotos, enchentes, epidemias a que temos assistido, não são frutos dessa profunda revolta e inversão de valores contra a ordem natural posta por Deus.


terça-feira, 27 de abril de 2010

A Cristo a glória e o Império
Pe. David Francisquini

Em artigo anterior sobre a Páscoa da Ressurreição, acenamos para os sacramentos da confissão e da comunhão freqüentes como fonte de nossa fortaleza e penhor de nosso triunfo sobre o demônio, a morte e o pecado. Nesse sentido, é lapidar do pensamento de São Paulo Apóstolo:
“Purificai-vos do velho fermento, para que sejais uma nova massa, agora que já sois ázimos; pois, Cristo nosso cordeiro pascal, foi imolado. Celebremos, portanto, a festa, não com o fermento velho nem com o fermento da malícia da corrupção, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade”. (I Cor. V, 7-8).

O tempo pascal se reveste de beleza única. A Igreja como verdadeira mãe manifesta seu aspecto jubiloso e triunfante. Muito mais do que em qualquer outro tempo litúrgico, o culto católico apresenta-se de modo solene, grandioso, festivo, majestoso, o que contrasta com o tempo de penitência, de tristeza e de jejum em voga na quaresma e, sobretudo, na Semana Santa.
A Igreja parece não encontrar em seus cânticos outra manifestação de júbilo a não ser Aleluia. O círio Pascal com cinco cravos lembra as cinco chagas de Nosso Senhor ressuscitado. Com a Cruz recorda a nossa redenção.
Com o alfa e o ômega, manifesta a divindade de Jesus, que é o principio e fim de todas as coisas. E com o ano atual que celebra a Páscoa, esse ano está iluminado com a luz de Cristo, triunfador do gênero humano.
Essa luz do círio lembra que ele é verdadeiramente Rei. O círio aceso nos fala da grandeza e da sublimidade dessa luz que brilhou nas trevas, cujas trevas a rejeitaram, mas que para os cristãos renovados pela graça, comemoram com alegria esse tempo que transluz a beleza e a superioridade de Cristo ressuscitado, com suas chagas que são diademas de seu triunfo e de sua realeza:
Porque dele são os tempos e os séculos. A Ele a glória e o Império, por todos os séculos da eternidade. Amém.

sábado, 24 de abril de 2010

Filial Solidariedade ao Santo Padre o Papa.
   Instituto Plinio Correa de Oliveira

...Com uma hipocrisia que tem poucos antecedentes na História, os intelectuais, líderes políticos e órgãos de imprensa e televisão que destroem sistematicamente a inocência das nossas crianças e adolescentes — pela difusão incessante da pornografia e a promoção de uma cultura na qual “é proibido proibir” — hoje rasgam as vestes diante do abuso sexual de crianças praticado por um certo número de sacerdotes e religiosos indignos. Pior ainda: tais correntes ditas “avançadas” ousam culpar por esses abusos ignóbeis a própria Igreja, a qual, pela sua incessante pregação da moral evangélica, não somente ergueu o mundo pagão do lodaçal de uma corrupção moral desbragada, mas, ao longo de vinte séculos, foi o baluarte da virtude da pureza!...
...Os fomentadores dos ataques contra o Santo Padre desejam, na realidade, silenciar a voz do Sumo Pontífice, porque ela se ergue para defender as raízes cristãs da civilização ocidental e para pleitear o direito da Igreja Católica de intervir no debate público a respeito das grandes questões culturais e sociais contemporâneas, à luz do Evangelho. O que contraria os planos daqueles que, em nome do laicismo de Estado, querem até eliminar dos lugares públicos o mais sagrado símbolo religioso — o crucifixo, que nos recorda o padecimento e a morte de nosso Divino Redentor...
...Ao manifestarmos nosso total repúdio à ignóbil campanha de calúnias a Sagrada Pessoa do Papa e ao expressar-Lhe nossa solidariedade, não somos movidos apenas pelo sentimento filial que anima os fiéis católicos ao ver o doce Vigário de Cristo na Terra atacado pelas hostes do mal. Sabemos bem que Ubi Petrus, ibi et Ecclesia (onde está Pedro, aí também está a Igreja). Por isso, queremos fazer ao mesmo tempo um ato de fé na Igreja Católica e, em particular, naqueles ensinamentos perenes de seu Magistério que a “ditadura do relativismo” deseja ver eliminados da nossa legislação e de nossas vidas...
...Em meio da borrasca, os corações de milhões de brasileiros acompanharão o Papa em sua corajosa defesa dos direitos de Deus e dos “valores não negociáveis”, com suas preces, com seu fervor filial e com a energia que lhes vem do sacramento da Confirmação que os transformou em autênticos soldados de Cristo...
..Dirigindo a Deus e a Nossa Senhora nossas preces do mais fundo de nossos corações, depositamos aos pés do Santo Padre o Papa Bento XVI nossas mais respeitosas e filiais homenagens...

 
 
Convoque seus amigos católicos e ajude a divulgar esta mobilização em defesa do Papa.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

“Vã seria nossa religião"



A comemoração da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo desperta na alma do fiel a idéia de que, ao nos regenerar, nosso Divino Salvador procedeu como um general que toma de assalto uma fortaleza e derruba suas sentinelas, libertando-a do cativeiro quatro vezes milenar do demônio.

Após morrer pela nossa eterna salvação, Nosso Senhor prova sua divindade de maneira altissonante, superior à maldade de seus inimigos, ao afirmar que depois de três dias ressuscitaria, lembrando o fato histórico ocorrido com o profeta Jonas que permaneceu durante três dias e três noites no ventre da baleia.

Em vida, nosso Divino Redentor ressuscitou os mortos. Mas eis o maior portento: ressuscitou a Si mesmo. Por sua própria virtude e poder, aquele corpo, que três dias antes era todo ele uma chaga, se erguera triunfante e glorioso, impassível e imortal, deixando aturdidos os guardas que vigiavam o sepulcro.

A Ressurreição de Nosso Senhor é o fundamento das verdades de nossa Fé. Segundo São Paulo, “se Cristo não tivesse ressuscitado, vã seria nossa religião”. Atestada na ocasião por centenas de pessoas, a Ressurreição apresenta-se como argumento irrefutável da veracidade da religião católica.

Para o povo hebreu, a Páscoa estava ligada à passagem do Anjo exterminador dos primogênitos do Egito que poupou a casa dos hebreus tingindo a soleira da entrada com o sangue do cordeiro sacrificado. Mas o verdadeiro Cordeiro de Deus nos libertou da escravidão infame do pecado, do demônio e da morte eterna.

A Páscoa dos judeus foi assim prefigura da Paixão e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. E como eles, em solenes cerimônias, imolavam e comiam o cordeiro assado ao lúmen, também Nosso Senhor se imolou pelos nossos pecados, dando-nos como comida o seu corpo e como bebida o seu sangue.
As portas do Céu, que estavam até então cerradas pela culpa original de nossos primeiros pais, se reabriram com a morte cruenta de Jesus na Cruz. É essa mesma morte que se renova de modo incruento na Santa Missa, o sacrifício da Nova Lei. A confissão e a comunhão freqüentes fortalecem o fiel e são penhor de sua futura ressurreição, quando selará seu triunfo sobre o demônio, a morte e o pecado.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Que utilidade há no Meu sangue?






Ao meditarmos o mistério da Paixão de Nosso Senhor Cristo cravado no madeiro da Cruz, salta-nos uma pergunta: por que Nosso Senhor – a própria inocência, que passou a vida fazendo o bem – tem morte tão cruel e é abandonado por todos, exceto por Nossa Senhora?
Ele não só disse, mas acompanhou com o exemplo de Sua dolorosa Paixão que não se pode amar mais alguém do que dar a vida por ele. Assim, Nosso Senhor nos amou com infinito amor, e depois de nos ter amado, ofereceu-se a Si mesmo como vítima pura, imaculada, resplandecente e impoluta.
A divina oblação pelos nossos pecados nos remiu, abriu as portas do Céu e, ao mesmo tempo, nos concedeu os meios eficazes para aplicar sobre nós os frutos de sua Paixão: os sacramentos. Deus se compadece de nós mais do que nós mesmos. E infinitamente mais do que as nossas próprias mães, que nunca se esquecem do fruto de suas entranhas.
E, ainda que o fizessem, “Eu nunca me esquecerei de ti”, diz o próprio Deus. (Is. 49, 15). Outras figuras nos livros sagrados que nos mostram o desvelo de Deus pelos homens são os campos férteis, os prados ensolarados, os regatos, as fontes, os vinhedos e o pastor de ovelhas que com cuidado apascenta seu rebanho.

Jesus Cristo é o verdadeiro Pastor. Ele instituiu – qual rochedo inabalável junto às águas tempestuosas – a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, com a promessa de que as portas do inferno nunca prevalecerão contra Ela. Cumulou-a da cura das almas, a economia da graça divina, das armas espirituais para combater o mal e promover o bem.
Tal como o pastor zeloso por seu rebanho, a Santa Igreja afugenta os lobos e os perigos que nos rondam. Infunde-nos pelo Batismo a vida sobrenatural e purifica nossas consciências das obras mortas; concede-nos o privilégio inaudito da Confissão, que restaura a graça perdida pelo pecado mortal; fortalece-nos com uma graça que sequer os Anjos têm: a Sagrada Eucaristia.
Ezequiel profeta diz: “Dar-vos-ei um coração puro, e um novo espírito porei no meio de vós; tirarei o coração de pedra de vosso corpo e vos darei um coração de carne. Colocarei o meu espírito em vosso interior, e farei que caminheis em meus preceitos, guardando e praticando meus mandamentos”. (Ez. 36; 26).
Devido ao pecado original e às nossas faltas atuais – sobre cuja malícia nunca é demais insistir –, seríamos incapazes de apetecer por essa vida divina. Quem no-la proporciona é o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, pelos merecimentos de Sua dolorosa Paixão e Morte de cruz.
Como um sol que se põe a brilhar no firmamento das almas, Ele abriu para o homem uma perspectiva cheia de esperança e de certeza. Nossa salvação – bem ao contrário do que sucedia no mundo antigo – tornou-se muito mais fácil com a Paixão. Com a Nova Lei, só se perde quem quiser.
Distante de Nosso Divino Salvador, o mundo neo-pagão de nossos dias vive inutilmente à procura do gozo da vida, da felicidade já, agora e para sempre... Com isso, de que adiantou Nosso Senhor ter sofrido e padecido a morte de cruz com padecimentos inenarráveis, a ponto de exclamar: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonastes?”
Na morte de Nosso Senhor, os elementos da natureza se desencadearam: o sol se velou, a terra estremeceu, os sepulcros dos mortos se abriram e houve desolação em toda a parte. Por quê? – “Povo meu, que te fiz eu, em que te contristei? Como paga de todos esses bens, tu preparaste uma Cruz para teu Salvador? Que mais deveria fazer que não tivesse feito?”
Ao exemplo dos Apóstolos, também nós devemos procurar a Virgem das Dores, em quem encontraremos a bondade, a misericórdia, o perdão e a clemência. Arrependamo-nos sinceramente, confessemos com toda a confiança os nossos pecados diante de um sacerdote e aproximemo-nos da sagrada mesa da Eucaristia. Assim teremos aproveitado a Semana Santa, e, quiçá, a vida como peregrino nesta Terra.

domingo, 14 de março de 2010

Tradição, família e religião (I)




O rol de minhas apreensões em relação ao mundo dito ‘moderno’ vem aumentando dia após dia. Talvez, a principal delas seja a ausência da formação do caráter de nossa juventude, fator que considero de transcendental importância para o ser humano.
Com efeito, tal formação recai de modo natural sobre os pais, aos quais incumbe, pelo bom exemplo, a exímia conduta e os bons princípios religiosos, fazer a boa semente germinar nas almas de seus filhos e produzir assim saudáveis frutos para a sociedade.
No ambiente familiar, veículo também natural das boas tradições, os filhos farão o mesmo em relação aos netos que eles darão aos pais. E assim sucessivamente, de geração em geração. Afinal, tradição – na pena de Plinio Corrêa de Oliveira – “é a vida que a semente recebe do fruto que a contém”.
Como a verdadeira educação repousa antes sobre a família, tal realidade é o canal necessário para a transmissão dos valores religiosos e morais, que unidos às características genéticas de cada família darão origem às estirpes constitutivas de uma civilização digna desse nome.
Cumpre ressaltar o papel exercido pelas mães na vida dos santos, entre eles São João Bosco, São João Vianney e Santa Teresinha. Em seguida, a importante ação da Igreja que dispõe dos meios de santificação e ensina a forjar a personalidade. A Igreja possui a arte de conduzir as consciências.
A Santa Igreja fornece ao homem a bússola segura sempre a apontar para a Fé, a Esperança e a Caridade, além das demais virtudes infundidas pelo Santo Batismo, ampliadas e robustecidas pela Confirmação ou Crisma, e dilatada possantemente pelo alimento espiritual da Eucaristia.
Em outro plano, entra o Estado, quando estruturado em conformidade com o princípio da subsidiariedade – portanto oposto ao gigantismo socialista que o caracteriza em nossos dias – complementa a formação dos indivíduos pela criação de ambientes e de leis favorecedoras da família e da Igreja.
Dentro da sociedade temporal, habitat do homem, função primordial incumbe às elites, cujo bom exemplo representará fator de engrandecimento moral, espiritual e material de uma nação, mas quando deterioradas constituirão para esta mesma sociedade um terrível malefício.
Em próximo artigo, pretendo ilustrar o acima exposto, com o exemplo de Santa Maria Goretti, cuja formação familiar e religiosa marcou de início a fim sua curta, mas luminosa existência.



O dom mais precioso da vida



Em recente artigo, expus minhas apreensões diante do mundo dito moderno, ao mesmo tempo em que tratei da instituição da família como veículo natural das boas tradições. Agora darei um exemplo vivo sobre a matéria anterior.
O caso modelar que me ocorre é a da figura angélica de Santa Maria Goretti. Nessa época em que as praias são tomadas pelo neopaganismo que estadeia toda corrupção da civilização moderna, aquela pequena virgem entrega a sua vida a Deus com toda a resolução.
Para quê? – Para não perder aquilo que ela mais amava, mais do que a luz de seus olhos, mais do que a sua própria existência, aquela virgindade que se aprende a amar como o dom mais precioso da vida, quando se tem uma alma verdadeiramente eucarística.
Lendo sua vida, salta-nos uma pergunta: Como puderam seus pais analfabetos colher o inesperado tesouro de santidade em um de seus filhos? A Igreja usufruía naqueles tempos de uma situação na qual os homens regiam suas vidas sob a influência benfazeja das Leis de Deus.
Santa Maria Goretti nasceu num ambiente preservado, onde não havia evanescido a noção do bem e do mal. Seus pais ensinaram aos seis filhos o catecismo, ensinaram-lhes a rezar, a fazerem a primeira Comunhão. Reunidos, eles rezavam a oração da manhã e da noite.
Além de terem a vida muito ocupada na lida do dia, para proverem o sustento da casa, os pais eram exemplares. Aos domingos, caminhavam duas horas para assistir a Santa Missa, enfrentando as intempéries próprias de cada estação.
Com tal programa familiar, pode-se ainda perguntar: Como Santa Maria Goretti conseguiu trilhar a avenida da alta santidade sem a concorrência de nenhum sábio e experiente educador, a ponto de deixar perplexos os promotores de sua canonização?
Viveu ela num lar inteiramente cristão. Sua mãe, quando solteira, teve de trabalhar em casas de família para tirar o seu sustento, e com isso teve de tomar cuidado com os perigos de se perder. Possuía ela uma consciência reta e bem formada na noção do bem e do mal.
Soube ela transmitir à filha o senso do dever para com Deus que vê todas as coisas. Certo dia, a filha se escandalizou com conversas que ferem os ouvidos inocentes. Contudo, a mãe soube dizer à filha que se cuidasse para dominar suas expressões, a fim de não chocar as pessoas.
Seus pais a chamaram Maria para ter uma poderosa padroeira no Céu, e, cheios de zelo, levaram-na a pia batismal apenas 24 horas após o nascimento a 19 de outubro de 1890. E Maria foi crescendo em graça e santidade. Todos os olhares recaíam sobre sua beleza, sobretudo da alma.
O sobrenatural como um perfume se emanava dela. Daí o ódio do assassino que a todo custo queria fanar a beleza resplandecente de sua castidade. Gostava de estar sempre ocupada e serviçal. Pronta para qualquer empresa, não tendo medo de sacrifícios e de renúncias.
O próprio Nosso Senhor dirigia sua alma com inspirações, graças e dons. As primeiras palavras que aprendera ainda balbuciando foram os nomes de Jesus e Maria. Seus primeiros ósculos foram para a Santíssima Virgem. Sua primeira palavra pela manhã era Ave Maria!
Ainda voltarei ao assunto proximamente, se Deus quiser.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Bons tempos em que se morria para não pecar



Encerro hoje a série de artigos sobre Santa Maria Goretti. Ela abria e terminava seu dia com o Sinal da Cruz. Sem caprichos nem manhas e sempre generosa, revelava reflexão superior à sua idade. Aos seis anos de idade recebeu a Santa Crisma.
Para tentar melhorar suas condições precárias, a família se mudou para Colle Gianturco, local do martírio. Depois da morte do pai – conta-nos sua mãe Assunta – a filha procurava lhe fortalecer o ânimo.
Nas agruras, ela dizia a sua mãe: “Por que esse medo, mamãe? Daqui a pouco estaremos – eram seis filhos – crescidos. Basta que Nosso Senhor nos dê saúde e a Providência nos ajudará”. Modelo de confiança!
Com a sabedoria de quem sabe aproveitar o tempo com método e disciplina, conhecia o segredo da vida. Com a morte do pai, seu programa de ouro foi assumir a responsabilidade do lar e o cuidado e a formação dos irmãos.
Era de angélica pureza. O assassino confessa jamais ter notado nela o menor ato contrário a essa virtude. Chegava a rir discretamente das colegas que paravam diante de espelhos ou das vidraças para arranjar os cabelos. Ao ouvir palavras inconvenientes, nunca deixava de manifestar seu desagrado.
Em contrapartida, quão diferente foi a educação de seu verdugo, de nome Alexandre! Seu pai não praticava a religião, acreditando vagamente na existência de Deus. Possuía ainda caráter autoritário e era dado ao vício do álcool. A própria mãe, já meio louca, tentara afogar o filho quando este era criança.

Órfão de mãe ainda novo, não conheceu os carinhos, a bondade e o afeto materno, sendo criado como um estranho. Ao pai recai a acusação de ter cultivado a perversão do filho nas más leituras, apesar de ter sido batizado, aprendido um pouco o catecismo, a ler e escrever.
A situação de Alexandre se agravou quando ele foi marinheiro, tendo ali se pervertido ainda mais, devido às más companhias. Contudo, ainda não perdia missa e era respeitoso com o pai. Era de gênio fechado, frio, solitário.
Costumava trancar-se no quarto, onde alimentava o vício da impureza através de más leituras que o próprio pai lhe proporcionava. Revestia as paredes com figuras de jornais e revistas indecentes.
O vício criou nele raízes profundas. Penetrado de um impulso satânico, Alexandre decidiu destruir a inocência e a pureza de coração da santa. Caso ela resistisse às suas impetuosas paixões, ele havia decidido matá-la. Contudo, a força de seu ódio não pôde prevalecer contra o rochedo intransponível de quem prefere morrer a se deixar contaminar pelo vício impuro.
Deparamo-nos assim com dois modelos de educação e de vida. A primeira banhada pela luz da graça e da vida sobrenatural. A segunda, por ódio à virtude e à vida exemplar. Ao tentar diabólica e inutilmente impor sua devassidão à santa, assassinou-a. Foi preso e cumpriu pena. Contudo, teve de lamentar pelo resto da vida o seu ato infame.
Mas o heroísmo da menina cheia de força atingiu tal cume, que levou o próprio assassino à conversão. Perdoou-o e disse que o levaria para o Céu. Sua conversão foi seguida de penitência numa cela de um convento de religiosos.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Sagacidade e força


Na sua infinita sabedoria, Deus dotou a natureza com admirável perfeição: os mais fracos servem aos mais fortes e os inferiores aos superiores, resultando numa excelência que dá equilíbrio e grandeza à criação. Sabe-se que os coelhos se reproduzem muito para servir de alimento a outros animais. Encanta-nos observar os pássaros. Quando um deles se encontra atacado pelo predador, surgem seus congêneres para defendê-lo.
Quem nunca se maravilhou com o lado pitoresco de um cachorro puxando um pequeno trenó que se desliza sobre a neve, ou – versão nacional de nosso interior – de um cabrito puxando uma carrocinha com crianças? Ao cachorro, Deus lhe deu o faro aguçado, além de audição apuradíssima para perceber sons inaudíveis aos nossos ouvidos. O cachorro se sente mais ele mesmo sob os cuidados do dono.

O gato gosta de agrado e sempre se manifesta de forma a cativar aqueles que habitam a residência onde ele vive. Ostenta-se de forma afetiva com o seu ronronar, com seus trejeitos nos conviveres da casa. Ele se sai sempre bem dos embaraços em que se depara.


Se Deus assim favoreceu os animais irracionais, como Se esmerou no homem, feito à Sua imagem e semelhança, e, portanto, capaz de levar vida superior e excelente! Afinal, não somos todos beneficiados pela vida da graça, protegida e majorada pelos sacramentos?


Quem consegue analisar o olhar misterioso de um gato e saber o que ele planeja? Suas presas costumeiras tremem ao perceber seu olhar. Contudo, o gato e o cachorro não se dão. Basta uma brincadeira de mau gosto entre eles para despertar seus instintos. A grande arma do gato é a sua pata dianteira em riste próxima ao focinho do cachorro...

Tais considerações me ocorreram ao analisar a vida de Santa Maria Goretti. Ela reúne em seu espírito uma agilidade pouco comum. Ainda menininha, ajudava os pais nos afazeres da casa e do campo. E fazia tudo isso com alegria contagiante. Rezava contemplando as estrelas e as maravilhas criadas por Deus. Assim, foi forjando seu caráter até o momento de sua grande prova. Aos 12 anos, enfrentou um homem devorado pela luxúria e por outros vícios – um monstro –, de cujas mãos ela escapou vitoriosa.
Maria Goretti soube edificar sua casa sobre a rocha firme. Veio a chuva e transbordaram os rios, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa e ela não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. (Mt. VII, 25). Foi sábia, forte, destemida e altaneira. Soube vencer a mais furiosa tempestade, a do enlouquecido homem que queria arruinar a sua vida.
Ela não demonstrou medo de ele lhe arrancar a vida, pois sabia que nada poderia contra sua alma. Seu único temor era ofender a Deus. Ela colocou em prática as palavras do Divino Mestre de seguir o Seu exemplo e trilhar o Seu caminho. Sua fé e ousadia não a deixam atrás das virtudes das primeiras mártires lançadas nas arenas e devoradas por feras.
Em razão de sua fé e de sua vida temperante, ela soube encontrar energia e confiança em Deus, não cedendo ao ataque do monstro. Quem consegue penetrar no olhar de uma menina com aquela sagacidade e força? Nada há de mais belo que o olhar dela. Quanta sabedoria, quanta contemplação, quanta visão da realidade! Diante do pecado se sentiu cheia de força, preferindo morrer a se entregar.
Faz lembrar a leveza, o encanto e a sagacidade do gato; o faro, a coragem e o ímpeto do cachorro. Guardou o que mais estimava: a inocência e a virgindade.
De onde lhe veio a força senão da Eucaristia e na Virgem Mãe, Rainha das virgens? Quando o punhal assassino penetrou desapiedadamente em seu corpo, a sua alma se elevou Àquela que é a Mãe de Deus: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém!”


A força de quem nunca deixou manchar sua alma é algo incompreensível neste mundo onde estadeia a luxúria de viver. Como abismo atrai outro abismo, os frutos gerados por relações criminosas atraem crime ainda maior, o aborto. Por que isso? Porque o mundo se afastou dos princípios de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Santa Igreja.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Stat Crux


Pe. David Francisquini

Para falar da cruz não vou remontar à árvore da graça no Paraíso, nem sua passagem através da ponte do rei Salomão para Jerusalém até a escolha desse lenho para a crucifixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Além de a tarefa ser árdua, seria muito longa.
Na linguagem moderna e quase irreverente do publicitário Alex Periscinotto, em palestra proferida aos bispos do Brasil (1977), a cruz se tornou o primeiro e o mais feliz dos ‘logotipos’. Sempre presente no alto das torres, a cruz permite identificar que ali existe uma igreja católica.
Como fora escondida depois do mistério da morte de Cristo, a História registra sua descoberta em Jerusalém no ano de 326, por Santa Helena (na pintura, à direita), mãe de Constantino (à esquerda). A partir de então, a devoção à cruz difundiu-se tão rapidamente, e antes de se encerrar o século, surgiu o hino Flecte genu lignumque Crucis venerabile adora (genuflexo, adora o venerável lenho da Cruz).
De alguns lustros para cá, vem surgindo aqui, lá e acolá um debate sobre a presença de símbolos religiosos, sobretudo da cruz, em lugares ou repartições públicas tais como escolas, hospitais, câmaras legislativas, prefeituras e mesmo no Judiciário.
Por exemplo, recente acórdão judicial obrigou a construção de uma sala-mesquita para alunos muçulmanos num bairro de Berlim, pois a Constituição alemã proíbe toda manifestação religiosa nas escolas. Em 1995, uma Corte anulara a legislação bávara que permitia fixar crucifixos nas escolas públicas.


Na Itália, a questão vem se repetindo. Como os Estados não se envolviam diretamente na proscrição e na retirada desses símbolos em tais lugares, a Corte Européia de Direitos Humanos de Estrasburgo decidiu contra o uso de crucifixos em salas de aula na Itália.


Quando a autoridade judicial determina a retirada dessas insígnias, costuma causar descontentamento geral, pois apesar de o Estado ser laico e defender a liberdade religiosa, a maioria dos cidadãos que compõem tais Estados, como na Itália, são católicos.
É muito estranho que um costume milenar arraigado na alma dessas nações, seja bombardeado por minoria perturbadora e intolerante ao querer impor suas idéias. Por toda a parte, como por exemplo em Roma, sede do cristianismo. Afinal, por que tanto ódio à cruz?
Nosso Senhor Jesus Cristo morreu pregado numa cruz, no alto do Monte Calvário, em Jerusalém. Nessa ocasião ocorreu a Redenção do gênero humano, ou seja, Ele imolou-se pela humanidade e abriu as portas do Céu, até então fechadas pelo pecado de nossos primeiros pais.
A partir de Jerusalém, os Apóstolos pregaram o Evangelho. E São Paulo afirmava alto e bom som: “Eu só sei pregar a Cristo e Cristo Jesus crucificado”. Os povos converteram-se ao cristianismo, da Europa e posteriormente das Américas, e o catolicismo hoje conta com mais de um bilhão de fíéis.
A Religião católica tornou-se oficial em muitas nações. Reis e imperadores carregaram a Cruz no alto de suas coroas, estamparam-na sobre seus estandartes e viveram séculos sob a influência benfazeja de nossa santa Religião. A cruz tornou-se o sinal do cristão, e indica os principais mistérios da nossa fé.



Pretendo dar continuidade ao já exposto num próximo artigo.

Stat Crux II 

Em artigo anterior, escrevemos sobre a cruz ao longo da História; a cruz como sinal do cristão; a cruz que aponta os mistérios da fé católica, apostólica, romana; a cruz perseguida, diante da qual — genuflexos — adoramos o instrumento da Redenção do gênero humano pelo Homem-Deus.
É pela compreensão do papel do sofrimento e do mistério da cruz e sua aceitação que os homens poderão ser salvos da crise tremenda que se abate sobre a sociedade hodierna. E sua rejeição, por aqueles que permanecerem fechados até o último momento ao seu convite amoroso, poderá lhes acarretar as penas eternas.
Para os servos de Deus, a cruz é arma invencível e barreira que resiste a todos os esforços do inferno. É muito conhecido na História o acontecimento no qual Constantino — em luta contra Maxêncio pelo título de imperador — às portas de Roma viu nos céus uma cruz [pintura abaixo] junto à inscrição In hoc signo vinces (Com esse sinal vencerás).
Tendo colocado a cruz e essa inscrição em seu estandarte, ele triunfou. O local ficou conhecido como Saxa Rubra, pela abundância de sangue derramado. Tornando-se imperador, Constantino aboliu o suplício da cruz, o mais infamante e o mais terrível, no qual padeciam os piores criminosos. E, a partir daquela data — 28 de outubro de 312 —, ninguém mais seria crucificado.
Depois de Nosso Senhor Jesus Cristo ter sido morto no madeiro da cruz, esse símbolo tornou-se o mais nobre, o mais elevado e o mais precioso da História. Como de uma árvore veio o pecado de nossos primeiros pais Adão e Eva, de outra árvore veio a salvação. Ela representa o verdadeiro escudo contra as potestades infernais.
Ao abolir tais símbolos — como propõe o novo Programa Nacional de Direitos Humanos —, o Estado leigo afirma não professar religião e postula a vida social desvinculada do fator religioso. Trata-se na realidade de confessionalismo ideológico e agnóstico, pois equivale a dizer: “Como você tem uma convicção, uma religião, não pode impô-la a mim. Mas eu Estado, todo-poderoso, agnóstico e ateu, posso impor a minha a você. Nós divergimos, mas quem tem razão sou eu, pois tenho a mente livre e não atada por dogmas religiosos!”
Na verdade, parece tratar-se mais de um bizarro Estado dito democrático e pluralista, no qual só os ateus e agnósticos têm o direito de falar e modelar leis e costumes segundo seus princípios. Seria essa a nova ditadura na qual os “dogmas” do laicismo seriam impostos a todos?
Se hoje nas escolas, nas repartições, nos prédios e nos lugares públicos a cruz de Cristo não pode aparecer, amanhã, em nome do mesmo princípio, os pais não poderão ensinar a Religião, pois violariam a opção livre de seus filhos. Até aonde chegará a ousadia do Estado moderno?
*sacerdote da igreja do Imaculado Coração de Maria, Cardoso Moreira - RJ