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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O anjo da guarda, nosso melhor amigo (II)

O anjo da guarda, nosso melhor amigo (II)


Pe. David Francisquini*


Hoje retorno à matéria sobre o Anjo da Guarda, que Deus criou para sua glória e seu serviço, tendo-o colocado como guarda de cada criatura humana no seu peregrinar pela terra. Dada a sua união conosco nesse vale de lágrimas, certamente permanecerá conosco no Céu como cicerone dos insondáveis tesouros e mistérios de Deus por toda a eternidade.
Contudo, ele não acompanhará o precito no caminho das trevas, pois se ele escolheu com pleno conhecimento e pleno consentimento as sendas do Inferno é por que rompeu com o celestial amigo e advogado. O Anjo da Guarda faz de tudo para evitar que a pessoa a ele confiada se condene, mas o livre arbítrio poderá levá-la a glorificar a Deus na sua Justiça...
Procuremos em todas as ocasiões honrar, amar e obedecer as suas inspirações, além de recorrer a ele com devoção e confiança. Dotado de excelentes qualidades e perfeições, este Anjo nos guia nas vias do bem, no combate renhido contra o mal, o demônio, o mundo e a carne corrompida pelo pecado original.
Com efeito, não há combatente mais destro, mais hábil, mais corajoso e destemido que o nosso Anjo da Guarda. Durante a guerra travada no Céu contra Lúcifer e os anjos rebeldes, nosso Anjo da Guarda lutou bravamente sob o comando do generalíssimo São Miguel Arcanjo. Foi o suficiente para habilitá-lo a combater com igual denodo aqui na terra.
É doutrina dos doutores da Igreja que a paróquia, a diocese, as cidades, as nações, as famílias, as instituições possuem também o seu Anjo da Guarda para dar combate àqueles que trabalham para o demônio e para a perdição das almas. Onde quer que estejamos aí estará o Anjo para dar testemunho de nossas obras, para nos defender das ciladas e dos embustes do demônio.
Aproveito a ocasião para esclarecer a idéia falsa, aliás, muito propagada de que o anjo da guarda só protege as criancinhas. Convém ressaltar que os demônios – anjos rebelados – nos são sempre hostis, procurando de todas as formas nos fazer o mal tanto na alma como no corpo. Invejosos, cheios de ódio e fúria, procuram nos seduzir ao pecado.
Eles chegam mesmo a ter poder – com a permissão divina – de nos prejudicar na saúde e nos bens espirituais e materiais, como aconteceu com o bom servo Jó. Daí a importância de sempre recorrermos a São Miguel Arcanjo e ao anjo da guarda. Alerta-nos São Pedro que o demônio está ao nosso redor, como um leão furioso, procurando a nossa perdição, (1 Petr. V, 8-9).
Por outro lado nesta ferrenha luta nos chama atenção São Paulo de estarmos atentos na peleja “contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares,“ (Efe. VI, 12). É bom termos sempre diante dos olhos o Anjo da Guarda, pois não nos abandonará nessa batalha que só terminará com a morte.
Coloco à disposição dos leitores duas orações preciosas dirigidas uma a São Miguel Arcanjo:
– São Miguel Arcanjo, protegei-nos no combate, cobri-nos com vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantemente o pedimos. E Vós Príncipe da Milícia Celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno satanás e os outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas.
– A outra, ao nosso Anjo da Guarda particular: Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarda e ilumina. Amém.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

E a luz brilhou nas trevas

E a luz brilhou nas trevas

Pe. David Francisquini

O Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo é sem a menor sombra de dúvida o maior acontecimento da História. Nos arredores de Belém, radiante de luz, o Menino-Deus jaz na manjedoura diante de Nossa Senhora, São José e alguns pastores. Os próprios animais se acercam daquela gruta fria para aquecer o Deus que se fez homem e veio habitar entre nós.

         Qual lírio que desabrocha num árido descampado - símbolo da situação na qual a humanidade se encontrava - o Deus encarnado exala celestial aroma. A atmosfera toda fica perfumada pelas suas virtudes. Além de se encarnar por obra do Espírito Santo no ventre virginal de Maria Santíssima, Ele quis vir ao mundo como débil criancinha para manifestar alguma proporção conosco.
As circunstâncias de Ele ter nascido pobremente e numa noite de inverno não nos impedem de imaginar que toda a natureza tenha se revestido de júbilo, e os instintos mais grotescos e ferozes dos animais, serenado. O espírito dos homens justos foi tomado de movimentos de felicidade, enquanto o coração dos ímpios se abrandava.


A neve que caía encantadoramente em Belém criava um ambiente de paz, de bênção e de inocência. Tal ambiente não poderia ter passado despercebido dos Anjos da milícia celeste que não se contiveram em seu louvor a Deus, entoando talvez o mais belo hino que jamais haviam cantado: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”.
         Conforme revelações particulares de muitos santos, no momento mesmo em que a “Luz brilhou nas trevas”, os maus tremeram e rangeram os dentes de pavor. Muitos tiranos, opressores, sodomitas, violadores da ordem natural, cultuadores dos demônios e satanistas morreram desesperados. A humanidade inteira percebera a glória de Deus entre nós.
Nas catedrais, nas igrejas e nos mosteiros, há dois mil anos que se ouve o bimbalhar dos sinos, o ecoar das vozes nos cânticos natalinos como Noite Feliz, o crepitar do incenso perfumado. Os presépios armados dentro dos recintos sagrados, as árvores e as ceias natalinas evocam incontáveis recordações que tocam no próprio Deus que se fez homem para a nossa eterna recompensa. 
Com efeito, tal alegria, paz, serenidade, sentimento de bem-estar e de harmonia só se explicam em função do Natal do Divino Infante.  Entretanto, como esses atributos vêm se empalidecendo e se tornando cada vez mais insossos em nossos dias! A causa disso é o fato de o homem contemporâneo pautar sua conduta pelo lado puramente material de gozar a vida.
O mundo moderno se desviou da prática da virtude e do cumprimento da santa lei de Deus, paganizou-se e se afastou dos rumos traçados por Nosso Senhor Jesus Cristo, consignados nas páginas dos Santos Evangelhos. O Natal se tornou vazio, sem sentido, sem esperança e, por isso mesmo, sem o bem-estar de outrora.
         A atmosfera natalina é própria a evocar da inocência que evola das almas ao comemorar o nascimento do Messias, do Leão de Judá, do Filho da sempre Virgem Maria, do Emanuel, do Filho Unigênito de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo.

sábado, 11 de dezembro de 2010

O anjo da guarda, nosso melhor amigo

O anjo da guarda, nosso melhor amigo
Pe. David Francisquini


Ao criar o homem com corpo e alma – com idéias, desejos e sentidos –, Deus o dotou de qualidades e perfeições para que fosse o rei e a obra-prima da Criação. Contudo, tendo nossos primeiros pais sido induzidos pela serpente a comer do fruto proibido para se tornarem iguais a Deus, romperam com Ele e trocaram o Paraíso pelo vale de lágrimas.
A Escritura Sagrada mostra o efeito desastroso daquele pecado de orgulho e desobediência, conhecido como pecado original: “Disse (Deus) à mulher: multiplicarei os teus trabalhos e os teus partos, darás à luz com dor os filhos.
“E disse a Adão: porque destes ouvidos à voz da tua mulher, e comeste da árvore, de que eu te tinha ordenado que não comesses, a terra será maldita por tua causa; tirarás dela o sustento com os trabalhos penosos todos os dias da tua vida.
“Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra, de que fostes tomado; por que tu és pó e em pó hás de tornar”. (Gn, III, 16 e sg.)
Dificilmente poderia a humanidade salvar-se nessa nova situação, pois o castigo que a partir daí pairou sobre ela poderia levá-la à revolta e ao desespero. Mas o Deus de justiça é também o Deus de bondade. Utilizou-se de sua infinita misericórdia e prometeu socorrer o gênero humano através de um futuro Redentor.
E amaldiçoou a serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela e Ela te esmagará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar”. Por isso mesmo, o homem sempre foi alvo da fúria e perseguição do demônio.
Ai de nós, degredados do Paraíso, se não fosse o auxílio constante de Deus, de sua Mãe Santíssima, dos Anjos e dos Santos! Sucumbiríamos sob o peso dos nossos pecados. Os Livros Sagrados sempre nos apresentam os anjos vindo em socorro e defesa do gênero humano.
Este mesmo Deus, que expulsou com toda a sua justiça os nossos primeiros pais do Paraíso, se ofereceu em holocausto para salvar cada homem, para salvar este homem que sou eu! Fez-nos herdeiros d’Ele e de todo seu tesouro. Para velar sobre cada um de nós, deu-nos um anjo protetor que se chama Anjo da Guarda.
Ele nos foi dado para nos proteger nesta terra e nos conduzir ao Céu. “Porquanto mandou aos Anjos acerca de ti, que te guardem em todos os teus caminhos” (Sl. 90, 11). Os espíritos celestes que louvam e servem a Deus, também nos amam e nos querem bem, intercedem por nós e nos protegem a alma e o corpo.
O Anjo da Guarda é o Anjo que Deus deu a cada um de nós, “Vede, não desprezeis nenhum destes pequeninos: porque, digo-vos, os seus anjos no Céu vêem incessantemente a face de meu Pai” (Mt. XVIII, 19).
Retornarei ao tema proximamente. Até lá.


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

À procura de almas (final)

À procura de almas (final)
Pe. David Francisquini (*)


Cumpro a promessa feita e retomo o tema da procura de almas em nossos campos – hoje tão desfigurados em relação a um passado não muito remoto – onde patrões e empregados viviam em perfeita harmonia na troca amistosa de bons ofícios do compadrio reinante. Tal concórdia não era fruto espontâneo da natureza, mas da fé religiosa que a todos iluminava.
Dada a situação em que vive infelizmente a maior parte das pessoas que se mudou para as cidades, os pais deixaram de ensinar o catecismo e a história sagrada a seus filhos, pois nem eles mesmos dão exemplo de vida religiosa, temperante e temente a Deus. Confinados em casas populares, sofrem pressão do ambiente para limitar o número de filhos.
Os pretextos se encontram numa “cartilha” na qual os novos citadinos “aprendem” que a vida se tornou implacável e não comporta mais uma prole numerosa a ser educada e alimentada. Enquanto moravam no campo eles usufruíam da fartura de alimentos, da largueza retratada no espaço, além do ganho, resultando em bem-estar, tranqüilidade e alegria de situação.
Contudo, ninguém está disposto a trocar a vida – ainda que precária – da cidade pela vida temperante do campo, mesmo com todas as condições de conforto da cidade. No vazio de nosso interior, até há pouco estuante de vida e símbolo de abundância e fertilidade, repercute o eco das desastradas políticas que resultaram no enorme êxodo rural.
Enquanto pastor e orientador de almas, não creio poder inocentar de culpa os promotores de tal política. Com justa razão reclamam os nossos proprietários de terra dessa política agrária que mantém as mãos estendidas para os ditos sem-terra, oferecendo-lhes toda sorte de regalias, enquanto aqueles que têm vocação agrícola ficam abandonados e até ameaçados.
Um ruralista autêntico reclamou comigo que trabalha mais para o governo que para seu próprio sustento. Alega ter virado praticamente um concessionário do Estado e não mais um legítimo proprietário. A todo o momento recebe visitas de órgãos governamentais para cobrar isso ou aquilo, além de lhe impor mil e uma obrigações sem nenhuma contrapartida.
Aliás, parece que tudo se encontra assim nesse pobre Brasil. A figura do proprietário vai desaparecendo em detrimento da figura de mero concessionário do Estado. Qual um deus laico e impostor, o Estado se apresenta como onisciente, onipotente e onipresente ao querer saber de tudo, abarcar tudo e controlar tudo.
Outro camponês me lembrou a figura do chupim – pássaro símbolo da preguiça, da depredação e do aproveitador – que ao “chupar” os ovos do tico-tico e botar lá os seus, faz com que o tico-tico os incube para ele, além de criar os filhotes os alimentando por longo período. Só depois de muito adultos que eles vão sair da tutela do tico-tico para novas patifarias.
Vai celeremente desaparecendo a verdadeira liberdade dos filhos de Deus. A ferrenha escravidão imposta pelo Estado faz aumentar dia-a-dia o crescente desânimo entre os produtores rurais, e também urbanos, obrigados tanto uns como os outros a carregar nas costas uma máquina estatal cada vez maior.
A classe média dá mostras de cansaço, e, sem desmerecer a nobreza do legítimo funcionalismo público, o que vemos são as filas sem-fim dos concursos a um cargo municipal, estadual ou federal. Afinal, todos querem fazer parte da nova aristocracia, a nomenklatura, que pouco produz e leva a maior parte dos frutos e dos esforços de quem trabalha.
Com a livre iniciativa cerceada, as mentalidades vão mudando a ponto de quase todos reclamarem da presença do Estado na solução dos problemas do cotidiano na segurança, na saúde, na educação, enfim, na solução de todos os problemas, inclusive na eliminação da pobreza. A conseqüência só pode conduzir ao acomodamento e ao torpor das individualidades.
Ao promover o bem comum, o Estado jamais poderá ser um fardo para a sociedade. Seu papel é criar condições para que os indivíduos desenvolvam seus talentos e contribuam para o sadio progresso da nação, e não como vimos assistindo no Brasil. Por ocasião das eleições, jornais noticiaram que os “dependentes” do Estado seriam capazes de eleger o presidente.
O que me faz levantar uma pergunta: – Que autenticidade tem uma democracia baseada nesses termos?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

À procura de almas

À procura de almas
                                                                                                                                Pe. David Francisquini

Ao observar um passarinho fazer seu ninho, vemos como Deus o dotou de um instinto muito apurado, pelo qual ele o arranja de tal modo que proporciona segurança e conforto aos filhotes, ademais de abrigo para a mãe. Depois de ter criado a ‘prole’, voa para outros lugares, enquanto sua descendência tocará a própria vida.
Com o homem, rei da criação, é diferente. Dotado por Deus de qualidades e perfeições muitíssimo superiores às dos pássaros, além da sensibilidade ele possui faculdades espirituais que são a razão e a vontade, as quais dão rumo à sua existência. Sua natureza pede que ele trabalhe e acumule, para assegurar seu futuro e o de sua família.
Construtor não só do lar, mas de culturas e civilizações, quando procedente do campo costuma o homem civilizá-lo, tornando-o aprazível, acolhedor e encantador. Como o eram outrora as fazendas, pequenas cidades campestres que, sem dispensar o conforto e bem-estar proporcionados às condições da época, irradiavam um ambiente católico.
Nas minhas idas e vindas pela região rural da minha paróquia, situada ao norte do estado do Rio de Janeiro, pude constatar tal realidade, hoje infelizmente desaparecida. Dela só subsistem escombros. O êxodo rural devastou o campo. Acabaram as lavouras de café, de milho, de arroz e de feijão. A figura lendária do meeiro ficou relegada aos anais da história.
Detentor de direitos e de uma carteira de trabalho – contrapartida oferecida pelo getulismo ao afeto e à proteção de que então gozava –, o trabalhador braçal foi se despojando de um e de outro para cair na pobreza moral resultante da substituição do patrão pelo Estado.
Iludido muitas vezes pelo faiscar de lantejoulas das metrópoles e dos costumes corrompidos com as quais a televisão o enleia, já não mais suporta o campo – nem, muitas vezes, podendo o patrão suportar o ônus de mantê-lo –, vem aninhar-se nas periferias das cidades, onde infelizmente proliferam as drogas, a violência e a depravação geral dos costumes.
Trocou a vida regrada, silenciosa e contemplativa do campo, sua dura e heróica labuta – que começava com o nascer do sol e o cantar dos pássaros, e que com o sol e os pássaros se encerrava –, para viver no anonimato de um conglomerado desumano onde fervilham as cacofonias e não raro os maus odores, símbolos das más paixões que nele imperam.
De um patamar superior de reflexão e análise oferecido pela natureza virginal desceu para a irreflexão, a indolência e a imprevidência com que se contentam os que se acomodam com o pouco que ganham, mal dando para sustentar e atender às outras necessidades prementes que não seja a comida.
Quando vivia no campo ele praticava a religião. Hoje, dada a situação em que vive infelizmente ele não ensina mais o catecismo e a história sagrada a seus filhos e nem ele mesmo dá exemplo de vida religiosa, temperante e temente a Deus. Confinado em casas populares, há uma pressão da própria situação e do ambiente para limitar o número de filhos.
Pretendo continuar a matéria em posterior artigo. Até lá.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Os direitos de Deus e as eleições

Os direitos de Deus e as eleições

Pe. David Francisquini


Deus deu inteligência ao homem – criado à sua imagem e semelhança – para que ele pudesse conhecer as coisas de maneira racional. Contudo, as diretrizes fundamentais das ações humanas, através das quais se conhece o bem e o mal sem necessidade de recorrer à lei positiva divina, estão gravadas indelevelmente no seu coração pela lei natural.
Tal noção é que o faz discernir, por exemplo, que é errado matar, pois somente Deus é o senhor da vida e da morte.
Pelo mero uso da razão, o homem pode chegar ao conhecimento dos seus deveres para com Deus e o próximo. Foi o caso de Aristóteles, que sem o conhecimento do Decálogo teve noção exata de um Deus uno, transcendente, imutável, absoluto, imaterial, imóvel. Na hora de sua morte, o filósofo pediu misericórdia a esse motor imóvel que movia todas as coisas.
Mesmo sem conhecimento da Igreja Católica, o homem recebe as graças suficientes para atingir seu fim último que é Deus, e em todas as nações pagãs se conservou a idéia básica de se viver retamente e de um juízo pautado pelas regras do Criador.
Assim como no Universo existem leis que regulam e ordenam tudo quanto nele existe, também há normas e leis para regular as ações do homem. Caso ele não as siga, torna-se um degenerado. O homem conhece seus deveres e obrigações do mesmo modo como a andorinha constrói instintivamente seu ninho e protege seus filhotes,
A lei natural não é fruto do raciocínio humano, mas mandamento divino, vontade imperativa de Deus posta na natureza, que o homem pela razão conhece em cada caso. Daí desabrocha sua consciência, sua noção de que agindo de determinado modo erra, enquanto de outro faz o bem.
Com a queda de nossos primeiros pais Adão e Eva, agravados pela decadência do gênero humano surgiram a idolatria e o panteísmo, a perda da noção da existência do bem e do mal, bem como a idéia de um Deus uno e criador que premia ou castiga.
A razão obscurecida, a vontade enfraquecida e a sensibilidade embrutecida pelo pecado original cederam lugar à barbárie do mundo antigo. Por misericórdia, Deus revelou os Dez Mandamentos – explicitação da lei Natural – nos quais está contida a lei máxima do amor a Deus e ao próximo, resumo de toda a lei e dos profetas.
Sem dúvida, o homem está sujeito à ignorância, à má formação e aos maus exemplos; mas a boa consciência se forma pelo conhecimento dos deveres, pelo convívio entre os bons, pela solução das dúvidas, pela sinceridade no julgar a si mesmo, pela tranqüilidade do dever cumprido. A isso são somados os bens sobrenaturais oferecidos pela Igreja.
Pois bem. Se isso se passa no âmbito individual, o que dizer num grupo social ou no próprio Estado? Que mal, que ruína para uma nação quando leis atentatórias à lei natural e aos Dez Mandamentos obrigam os cidadãos a se revoltar contra Deus! Nesse caso, diz São Paulo, cumpre obedecer antes a Deus que aos homens...
No Brasil, o PNDH-3 (Plano Nacional dos Direitos Humanos), entre outras coisas, visa implantar o aborto, legalizar o maldito casamento homossexual, abolir os símbolos religiosos dos lugares públicos, oficializar a prostituição e cercear a liberdade religiosa. Tudo de modo a tornar criminoso quem “discriminar” tais aberrações e vícios.
Ademais, a pretexto de uma igualdade mal interpretada, o PNDH-3 limita e até abole o direito de propriedade inerente à natureza livre do homem, que sabedor de que amanhã precisará dos bens dos quais hoje usufrui, pode e deve fazê-los prosperar e guardar para as necessidades de um futuro incerto. Até as formigas o fazem...
Negar isso é tornar o homem escravo. Por que então falar de direitos humanos nesse PNDH-3? Na verdade, o que vemos nele é uma revolução cultural contrária à própria natureza humana, aos Mandamentos de Deus e, portanto, aos próprios direitos humanos que seus idealizadores propalam defender!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Assim na terra como no céu! I e II

Assim na terra como no céu! (I)



Pe. David Francisquini

Muitos leitores já se terão talvez perguntado sobre as repercussões na vida do homem e da sociedade de um dado regime político. Da monarquia, aristocracia ou democracia, por exemplo. Se tal influência existe, ela deverá também existir num regime totalitário, materialista e igualitário, negador do direito natural e divino.
Com efeito, o Estado exerce uma grande e contínua influência pedagógica sobre a população. Esta será boa se seus dirigentes na sua conduta pessoal derem bons exemplos e elaborarem leis gerais condizentes com essa conduta; e será má caso suceda o contrário.
Um povo cujos dirigentes negam a existência de Deus, do céu e do inferno e procuram estabelecer a negação sistemática dos mandamentos da Lei de Deus, tende para o caos e a desordem, o morticínio e a violência, a bebedeira e o preternatural. É o que constatamos na maioria das nações do mundo de hoje, incluindo o Brasil.

Assim como nas plantas existe o fenômeno do heliotropismo, que é a busca da luz solar, há no homem um movimento natural e possante que poderíamos chamar de Teotropismo, que é a busca de Deus. Por ser essencialmente religioso, o homem tende para Deus.

Seu fim é conhecer, amar e servir a Deus neste mundo, e depois da morte contemplá-Lo face a face no Céu, no gozo da felicidade eterna. E a Igreja Católica Apostólica Romana, instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, é o instrumento necessário para a salvação, pelo fato de dispor de todos os meios para o homem alcançar o fim último que é Deus.
Sobre isto especificamente, tratarei no próximo artigo.





Assim na terra como no céu! (II)


Pe. David Francisquini


A doutrina, os ensinamentos e os sacramentos da Igreja Católica elevam o homem à vida sobrenatural e o fazem conhecer as verdades da Fé. À Igreja cabe civilizar a humanidade, tornando a mensagem do Evangelho presente na arte, na música, na arquitetura, na escultura, na pintura, no desenvolvimento econômico, social, político, jurídico, nas ciências naturais e humanas.
Ela propicia assim o ambiente para que o homem desenvolva seus talentos e as sociedades rumem à perfeição, obtendo o grau de felicidade possível neste vale de lágrimas, antecipação do gozo do Céu. Ainda se pode notar muita coisa disso no continente europeu, cujos alicerces foram profundamente marcados pelos sinais da Fé católica.
De outro lado, devido ao pecado original, existe no homem uma tendência arraigada que o propende para o vício, agravada pelas quedas no pecado e pelas tentações provocadas pelo demônio. O homem tem sede de absurdo e de pecado, por ter sido sua natureza vulnerada pelo pecado de soberba e de desobediência de nossos primeiros pais, Adão e Eva.
Um regime comunista – como o da antiga Cortina de Ferro, da China, de Cuba ou do neocomunismo bolivariano de Chávez para as Américas –, poderia ser classificado como aquele cujas leis e costumes são feitos de molde a impulsionar em toda a medida do possível os efeitos do pecado original na sociedade, impedindo qualquer bom movimento dela em direção a Deus.

Tais regimes promovem perseguição religiosa, procuram por todos os meios a extinção da Fé, levam os homens à blasfêmia e criam obstáculos para a normal e pacífica celebração do culto, ademais de espalhar toda sorte de vícios, visando ao completo desregramento dos homens. Por isso, tais regimes antinaturais e anticristãos surgem e se mantêm pela força.

Sua conseqüência? – A barbárie traduzida na decadência, na preguiça, no caos mental, na violência, na loucura, no suicídio, na bebedeira, no autoritarismo, nas injustiças de toda ordem, na pobreza, na miséria, na sujeira. Nada funciona e as doenças proliferam. Há fome, guerras, rebeliões, massacres, campos de concentração.
São regimes cuja missão é construir uma sociedade inteiramente oposta aos Dez Mandamentos. Rejeitam a propriedade privada, invadem a esfera privada do indivíduo e da família, propagam o amor livre e toda sorte de vícios para a completa dissolução da família. Grassam a opressão e a miséria. A terra se transforma numa imagem do inferno.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Deus não pode blefar!

Deus não pode blefar!



Pe. David Francisquini

Em artigo anterior escrevi sobre Gramsci, o comunista que ensinou a seus companheiros o caminho para quebrar a resistência das almas, e só depois dessa indispensável ação demolidora implantar-se-ia o regime antinatural que pregava.

Ao teorizar sobre o que ele chamou de ‘senso comum’ na sociedade organizada, ou seja, o conjunto de valores, hábitos culturais, religiosos, sociais e mentais que dominam o ambiente onde a pessoa nasce e vive, encontrou ele diabolicamente o calcanhar de Aquiles da opinião pública.

No caso italiano, tratava-se da civilização cristã. Uma vez que todo homem possui o instinto de sociabilidade, ele tende a imitar o mundo à sua volta. Esse sentir comum se exerce com tal força no espírito do indivíduo que, dificilmente, alguém escapa a essa regra.

Com efeito, quem dominar esse senso comum conquista a sociedade. Para Gramsci, era necessário então mudar tendenciosamente esse “senso comum” rumo à sociedade atéia e igualitária imaginada. Na medida em que houvesse um deslocamento desse senso para a esquerda, todas as pessoas passariam a viver de acordo com ele.

Gramsci sugeriu uma guerra palmo a palmo à Igreja, minando-A na sua estrutura hierárquica. Propunha também demolir paulatinamente a sociedade: mudança de um costume aqui, uma moda mais imoral ali, com a conseqüente desintegração da família.

Apregoava até um linguajar novo e contrário aos costumes cristãos, a instalação de professores revolucionários infiltrados nas escolas para a instilação de doutrinas maléficas nas mentes dos jovens, bem como a promoção de pessoas cujo pensamento fosse comunista ou afim.

Com efeito, como o cupim que carcome a madeira, ao cabo de anos de aplicação de sua teoria mefistofélica a sociedade inteira seria pró-comunista, ou pelo menos estaria intoxicada dessas idéias e costumes. Para Gramsci, tão-só a partir desse momento o comunismo teria chance de triunfar.

Prezado leitor, não é bem isso que assistimos no nosso Brasil? Basta olhar o panorama político para nos darmos conta que nenhum dos candidatos a cargos públicos – pelo menos entre os que mais aparecem - é integramente católico. Aliás, são todos de esquerda e, portanto, cheios de idéias contrárias às máximas do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Contudo, para muito além dessa crise que nos assola, devemos ter a confiança firme nas palavras de Nosso Divino Mestre de que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja Católica. Os políticos podem blefar, mas a palavra de Deus é eterna.

domingo, 29 de agosto de 2010

Gramsci, um comunista finório

Gramsci, um comunista finório



Pe. David Francisquini


No exercício de minhas atividades paroquiais, sobretudo no pastoreio de almas, não preciso fazer muito esforço para observar nas almas não apenas de meus fiéis, mas sociedade enquanto um todo que as pessoas vão sendo transformadas paulatinamente em suas mentalidades, em seus modos de ser e de viver.
Tais transformações se dão impreterivelmente no sentido oposto aos ensinamentos do Evangelho pregado por Nosso Senhor Jesus Cristo. Na prática, isso significa afastamento das almas em relação a Deus e à religião católica, em contraposição à adoção do ateísmo difuso através da sensualidade desenfreada.
Tudo tende para o igualitarismo e o amor livre por meio de uma revolução nos costumes, na indumentária, nos adornos, na linguagem, no trato social. Ela se passa igualmente nas instituições sociais e culturais como na música, no teatro, nos shows, na família, na forma de propriedade, no ensino. E depois se transformam em leis.
É fácil perceber nas almas o endurecimento dos corações em relação a religião e a Deus, tornando cada vez mais difícil aceitar as máximas do Evangelho, e, assim, cerceando o mais possível o apostolado. Tal fenômeno chegar a levar desânimo a muitos padres, tamanho o desafio. Outros são tentados a entrar na onda.
Como? – Ao mesclar hábitos do mundo com a religião na vã tentativa de atrair fiéis. Diante da dificuldade de atraí-los em razão do forte apelo das paixões desregradas, procuram transformar suas igrejas em palcos de shows, com todos os exageros que podem ser vistos hoje em certos meios católicos.
Há explicação para tal ocorrência? Ela seria espontânea ou dirigida? Quais seriam os mecanismos ou técnicas de manipulação da opinião pública utilizadas para atingir a meta em questão? Afinal, por que o mundo vem piorando dia a dia? Já atingimos o fundo do abismo? Ao ler e estudar Gramsci, pude entender muita coisa do que se passa.
Ateu, materialista e anti-católico, Gramsci quis a destruição da Igreja ao empenhar-se na luta pela mudança social da Itália nas primeiras décadas do século XX rumo à sua meta comunista. Sagazmente, percebeu que para tal só um golpe de estado e a tomada do governo pelas armas não bastariam.
Porquanto ali se encontrava a sede do Papado e a sociedade italiana, à época, se nutria ainda da seiva de séculos de religião católica. Contudo, Gramsci e seus comparsas anelavam destruir os pontos de resistência das almas. Como Arquimedes, ele poderia ter dito: “Dêem-me uma alavanca e um ponto de apoio e eu mudarei o mundo”.
Prometo continuar o assunto no próximo artigo.

Natureza e vocação sacerdotal

Natureza e vocação sacerdotal


                                                                                                   Pe. David Francisquini(*)


A missão do sacerdote é por natureza e vocação de suma importância e valor, porquanto o padre é investido dos mesmos poderes de Nosso Senhor Jesus Cristo. “Tu es sacerdos in aeternum secundum ordinem Melchisedech” – Tu és sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque.
Trata-se de uma verdadeira escolha que Deus faz entre os homens, a fim de que estes ofereçam dons e sacrifícios pelos pecados do povo e pelos próprios, além de se compadecerem dos que ignoram e erram, pois ele mesmo está cercado de fraquezas, como nos diz São Paulo aos Hebreus. (Hebr. 5, 1-11).

O nascedouro natural da vocação sacerdotal – o sal que salga e a luz que ilumina – encontra-se sempre no seio das famílias verdadeiramente cristãs, dentro do lar imbuído da Fé e da mentalidade da Igreja, bem como da pureza de costumes, da piedade e devoção.
De tão sublime, tal chamado de Deus é comparável a uma cidade sobre um monte ou a uma torre inexpugnável, pois um bom padre salva consigo uma multidão, enquanto um mau padre pode levar atrás de si outra multidão.
Na Epístola aos Efésios, São Paulo engrandece o sacramento do matrimônio ao confrontá-lo com a instituição da Igreja.
Ao ressaltar a submissão da Igreja a Cristo, o Apóstolo convida as mulheres a seguirem o exemplo da Igreja quanto à submissão aos seus maridos; e a estes, a amarem suas esposas como Cristo ama sua Igreja. Em suma, fazer do lar o que faz Cristo com a Igreja: digna, pura, resplandecente, sem mancha nem ruga, santa e imaculada.
Toda a grandeza do matrimônio se patenteia nessa consideração do apóstolo em relação ao amor de Cristo à sua Igreja. E São Paulo ressalta que o relacionamento de Cristo com a maior das instituições é um verdadeiro mistério, pois a própria Santa Igreja Católica Apostólica Romana é de origem divina.
Como sacerdote, acabo de tomar conhecimento da aprovação de novo Projeto de emenda constitucional sobre o divórcio, facilitando ainda mais as separações conjugais. As leis apenas referendam o amor livre que, na prática, já vige há tempos. Como esperar que de tal sociedade surjam vocações sacerdotais e religiosas? Como pretender o aparecimento de santos e heróis?
Com efeito, houve toda uma mudança de mentalidade, mudança do eixo em torno do qual gira e se orienta a sociedade. A família monogâmica e indissolúvel, nascida no altar diante do sacerdote com todo requinte e pompa, se reduz a um contrato provisório. E já se ouve falar em “família” formada por casais do mesmo sexo.
Através de uma mudança cultural profunda vai-se assim fazendo aos poucos o que a União Soviética tentou implantar pela força. Mãos hábeis, cabeças inteligentes e corações empedernidos souberam trabalhar a sociedade para descristianizá-la e levá-la ao torpor, tornando-a indiferente e atéia.
Não é de se alarmar que, sem nenhuma reação, o Estado vá ocupando cada vez mais o lugar dos pais e das famílias. Afinal, são eles próprios que correm pressurosos a entregar seus filhos nas creches públicas, onde são educados desde a mais tenra idade.
Em troca, os pais recebem uma pensão do Estado, a dita bolsa escola. A continuar assim, não tardará o dia em que as crianças passarão a dormir nas escolas como internos, e ao serem indagadas sobre quem são os seus pais, elas respondam: – Meu pai é o Estado socialista, e minha mãe, a Pátria laica e atéia.
Nessa perspectiva, o que fazer? “Ad te levavi, oculos meos, qui habitas in coelis”. (Sl 122, 1). Sim! Voltemos nossos olhos para Deus, para a Virgem de Fátima, pedindo perdão e misericórdia; pedindo, sobretudo, a grande vitória prevista em sua aparição, o triunfo de seu Imaculado Coração.