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domingo, 24 de janeiro de 2010

Nossa fé não é vã! (I)



Pe. David Francisquini



No sábado de Páscoa – a maior festa dos judeus – Jesus repousa no túmulo. No Antigo Testamento, o tempo pascal era celebrado em memória da liberdade do povo judeu da escravidão do Egito, tarefa levada a cabo por Moisés. Nosso Divino Salvador fora crucificado na Sexta-feira, expirando às três horas da tarde. Segundo a tradição, ele morreu voltado para o Ocidente, onde se daria a grande expansão do cristianismo.

Ao abençoar as casas no tempo pascal a Igreja recorda, através de seus ministros, a saída dos hebreus do Egito, quando Deus poupou do Anjo exterminador as casas dos hebreus que haviam sido marcadas com o sangue do cordeiro. Este prefigura o verdadeiro Cordeiro de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, cuja imolação obteve nossa salvação, livrando-nos da morte eterna e se oferecendo a nós na Eucaristia.

No terceiro dia depois de sua morte, na manhã de domingo, 20 de março do ano 782 da fundação de Roma, e 34 da era cristã, Jesus Cristo, por um ato de seu próprio poder, reuniu ao corpo sua alma e, ressurecto, saiu glorioso do sepulcro. Houve grande abalo na Terra, e quando os guardas amedrontados voltaram a si do seu espanto e desmaio, a laje que fechava a entrada do sepulcro estava afastada. Sobre ela estava sentado um anjo, e o túmulo estava vazio.

As santas mulheres, vindas para os cuidados de sepultura, foram as primeiras a averiguar o acontecimento, seguidas dos apóstolos Pedro e João, que acorreram pressurosos ao túmulo ao saberem da ressurreição de Cristo. Até os guardas romanos que selavam o sepulcro correram para relatar aos sacerdotes o acontecido, tendo recebido deles oferta de dinheiro para propagar a mentira de que o corpo havia sido roubado.

Todos os anos, no domingo de Páscoa, celebra-se o aniversário desse memorável acontecimento que culminou a missão do Divino Salvador na Terra e, ao mesmo tempo, provou a divindade de sua pessoa e de sua obra. São Paulo nos adverte que se Cristo não tivesse ressuscitado, a nossa fé seria vã. Chamo a atenção dos leitores para o fato de o domingo de Páscoa ser uma festa móvel que ocorre entre os dias 22 de março a 25 de abril.

Assim como a morte de Cristo é coisa certíssima, também o é a sua Ressurreição, pois Ele foi visto não só uma vez, mas durante os 40 dias que passou na Terra – os Evangelhos mencionam dez diferentes aparições d’Ele, antes de subir triunfante ao Céu.


Voltarei ao tema.
Quantos hoje imitam Pilatos!



Pe. David Francisquini


Por que Jesus Cristo padeceu e morreu pregado numa Cruz? Se Ele é a inocência por excelência, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, por que os homens O cobriram de ultrajes, de ignomínias e de dores? Para entender o que se passou com o Filho de Deus, devemos remontar ao momento no qual Deus foi ultrajado pela desobediência e soberba de nossos primeiros pais.

Para reparar tamanha infâmia e suas conseqüências para a humanidade, Deus prometeu ao mundo um Redentor. O pecado original privara o homem da graça de Deus, as portas do Céu se fecharam para ele, a cegueira grassava em seu espírito, a inclinação para o mal o conduzia ao vício e à desordem dos sentidos, à doença, à morte, enfim, a todas as misérias deste mundo.

Se quem pecou foi o homem, não deveria ele pagar por esse medonho pecado? Mas como poderia ele, dotado de natureza limitada e finita, reparar uma ofensa infinita feita a um Deus infinito? A ofensa se mede pelo ofendido, e não só pela própria ofensa e pelo ofensor. Tão-só um Deus-homem seria capaz de remediar as conseqüências de tal pecado. Donde a Redenção prometida por Deus Pai e consumada por Deus Filho no alto do Calvário ao morrer crucificado entre dois ladrões. Se Jesus Cristo não tivesse se encarnado e morrido para pagar a dívida infinita dos pecados dos homens, todos seríamos escravos do demônio e excluídos da visão beatífica, do Céu para onde vão os justos após a morte.

A despeito da pregação da doutrina cheia de unção e de força do amor a Deus e ao próximo confirmada pelos mais portentosos milagres, o ódio e a perseguição ao Divino Redentor foram num crescendo até atingir o paroxismo. “É preciso que um homem morra para salvar o povo”, disse Caifás em sua casa, onde se encontravam sacerdotes, escribas e anciãos.

Vindo de encontro aos funestos desejos dessa assembléia, Judas Iscariotes foi a peça-chave para que Jesus Cristo fosse entregue nas mãos de seus algozes. Sua pergunta infame –– “Quanto me dareis se eu vo-lo entregar?” –– causou alegria e foi prontamente aceita. Depois da última ceia, quando celebrou a primeira Missa, Cristo dirigiu-se com seus Apóstolos para rezar no Horto das Oliveiras.

Não tardou Judas a chegar com uma turba portando archotes, lanças, espadas e varapaus. Jesus foi amarrado e arrastado até os tribunais de Anás e Caifás. O príncipe dos sacerdotes lhe disse: “Conjuro-te pelo Deus vivo, que nos diga se és o Cristo, o Filho de Deus”. Respondeu-lhe Jesus: “Sim, eu sou. Digo-vos, porém, que de ora em diante vereis o filho do homem sentado à direita do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do Céu”.

Então o príncipe dos sacerdotes rasgou suas vestes, dizendo: “Blasfemou, que vos parece?”. E os presentes bradaram: “É réu de morte!” Conduzido ao pretório de Pilatos, Jesus Cristo foi cruelmente açoitado, coroado de espinhos, vestido com um manto de irrisão e condenado à morte de cruz. Diante daquele populacho açulado, que preferiu a liberdade do criminoso à do Justo, foi cometido o crime mais hediondo de toda a História. E quantos hoje a seu modo imitam Pilatos, o proconsul romano, autor da iníqua sentença que condenou nosso Redentor!

Percorreu Jesus Cristo a Via dolorosa até o Calvário, onde Se deixou crucificar e morrer pela salvação dos homens, por este homem que sou eu. “Tudo está consumado” –– foram suas últimas palavras, e, inclinando suavemente a cabeça, entregou o seu espírito.


Aos pés da Cruz estava sua Mãe Santíssima acompanhada das santas mulheres. Por Eva, o pecado entrara no mundo. Por Maria, nos adveio o Salvador e Redentor da humanidade.
Do mirante de Deus



Pe. David Francisquini


O leitor deve se lembrar que estávamos nos umbrais do belvedere de Deus, onde meu interlocutor camponês e eu acabávamos de chegar, num exercício de transcendência a propósito da seca, pois é exatamente desse mirante que pessoas sérias filosofam e fazem metafísica. É na perspectiva de Deus que se pode meditar seriamente sobre a ordem sobrenatural, e dela tirar lições valiosas e ricas de significados para a ordem natural, sobretudo num momento histórico em que a sociedade se encontra em plena secura, sem viço, o que parece pressagiar sua própria morte.

Mas, “bem aventurado o homem que põe sua confiança no Senhor, para o qual o Senhor é a esperança. Ele será como uma árvore transplantada para perto das águas, que à umidade estende suas raízes, que não terá receio de calor quando vier. Suas folhas serão sempre verdes, e em tempo de seca não ficará necessitada, e nunca deixará de produzir frutos”. (Jer. XVII, 5 a 10). E “todo aquele que bebe desta água tornará a ter sede, mas o que beber da água que eu lhe der, nunca terá sede, mas a água que eu lhe der virá a ser nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.” (Jo III, 13-14).

A hagiografia de São Pio X (foto) narra que, certa vez, ele perguntou a um grupo de cardeais que o rodeava, qual seria, naquele tempo, a obra mais necessária à salvação da sociedade temporal. –– “Edificar escolas católicas”, respondeu um deles. –– “Não”, respondeu o Papa. –– “Multiplicar as igrejas”, acrescentou outro. –– “Ainda não”. –– “Fomentar as vocações sacerdotais”, emendou um terceiro. –– “Não, não”, replicou São Pio X. –– “O mais necessário no momento é que cada paróquia tenha um grupo de leigos virtuosos, esclarecidos, resolutos e apostólicos”.

Ele se referia à criação de elites espirituais, com almas profundamente cristãs. A restauração da sociedade supõe, necessariamente, uma intensa irradiação da santidade da Igreja. A pregação pelo exemplo é e será sempre a principal alavanca da Igreja. Só os exemplos arrastam. Os sacerdotes devem dar o bom exemplo de oração, de vida interior profunda, passar boa parte de sua vida diante do Santíssimo Sacramento, manter intacto seu celibato, ter devoção intensa a Nossa Senhora, propagar a devoção do Santo Rosário e, sobretudo, não dar mau exemplo a seus fiéis. O sacerdote deve ser o sal que salga, e a luz que ilumina.

Por outro lado, ao fundar um grupo fervoroso de fiéis, bem instruído, com intensa vida sacramental, de oração e de sacrifício, o sacerdote faz com que o sal que salga a Terra e a luz que ilumina transbordem de si para o seu rebanho, vivificando assim o ambiente onde ele vive e trabalha, evitando que em seu território paroquial penetrem os erros dominantes. Isso, caro leitor, não se faz de um dia para o outro. É indispensável paciência, disposição para a luta, resolução, método, conhecimento das dificuldades e jeito para enfrentá-las.

A preocupação primordial do educador católico é formar católicos eficientes, tão perfeitos quanto possível nesse vale de lágrimas, para que eles possam agir sempre e em toda parte como verdadeiros católicos. Não bastam idéias e sentimentos. Faz-se necessário ter convicções e idéias inabaláveis, que absorvam seu entendimento, que corrijam as próprias paixões, para que se passe a pensar e sentir com a doutrina católica.

Para isso, é indispensável ter uma vontade radicada em princípios, pois só assim o homem torna-se capaz de realizar uma obra com dinamismo, força e “garra”. Se as paróquias não têm isso, estão prestes a sofrer a derrota e o fracasso. “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância”, disse Nosso Senhor. Para regenerar a sociedade dita moderna, é preciso recristianizá-la.
Vestibular para Eva e seus filhos

Pe. David Francisquini



Adão e Eva foram submetidos, a seu modo, a um vestibular, e não passaram na prova. Com isso, todos os homens pecaram em Adão, segundo São Paulo. Com efeito, tendo o demônio falado através da Serpente, seduziu Eva e esta por sua vez levou seu marido a comer também do fruto proibido. A essa tentação seguida da desobediência, chamamos de pecado original.

Além da expulsão do paraíso terrestre, da sujeição aos sofrimentos, da fadiga no trabalho, das discórdias, das guerras, das doenças e da propria morte, o pecado original ainda deixou nossa natureza corrompida, com três inclinações particularmente más: o orgulho ou soberba, a sensualidade e a avareza. Essa malícia acompanha o homem do berço à sepultura.

Mas por que Deus permite que seus filhos sejam tentados? Tendo Ele nos criado livres dá-nos ocasião, por meio de repetidas provas, de exercitarmos o espírito de luta contra os nossos defeitos, para assim adquirirmos méritos. No mais das vezes, os mais amados são os mais provados. O Arcanjo Rafael disse a Tobias: “Porque era agradável a Deus, foi necessário que a tentação te provasse”.

São Paulo nos consola ao ensinar que não existem tentações acima de nossas forças, pois a vontade de Deus é que tiremos proveito da própria tentação para alimentarmos em nós o espírito de humildade, de oração e de vigilância. No Padre-Nosso se afirma: “E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos de todo o mal”.

Para vencer as tentações temos que fazer de nossas almas como que cidadelas no alto das montanhas. O castelo forte representa os princípios enraizados na alma, enquanto os píncaros simbolizam as leituras e estudos das verdades eternas, seguidos da reflexão constante em descobrir os ataques do adversário e os meios mais eficazes para as batalhas.

As muralhas da fortaleza significam as virtudes que protegem a alma, à maneira do trabalho, que afugenta o ócio, causador de maus pensamentos e das más imaginações. São João Crisóstomo nos ensina que a ociosidade é a mãe de todos os vícios e o nosso Divino Mestre nos encareceu com a seguinte exortação: “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação”.


Quem reza evita cair em tentação e, conseqüentemente, deixa de ofender a Deus. Como a cidade fortificada encontra-se preparada para resistir à investida de um exército inimigo, nossas almas, através de batalhas constantes e renhidas, devem estar fortalecidas, para vencermos em primeiro lugar a nós mesmos, pois quem não combate os seus defeitos ficará desguarnecido, tornando-se presa fácil das tentações.
“Lembra-te, ó homem, que tu és pó e em pó hás de tornar”

Pe David Francisquini

A Quaresma encerra em sua liturgia dois elementos primordiais. Primeiramente, os fiéis culpados devem reparar as suas faltas por meio da oração e da penitência. Em segundo lugar, este tempo litúrgico visa arrancar os fiéis das trevas do paganismo para a vida da graça, vivificando-os como filhos de Deus.

Enquanto o batismo nos transforma na vida divina, a penitência nos restaura essa mesma vida, perdida pelo pecado. Ao começar a Quaresma, a Igreja nos cobre de cinzas lembrando-nos que somos criaturas sujeitas ao sofrimento e à morte: “Lembra-te, ó homem, que tu és pó e em pó hás de tornar”.

Ao ensinar sobre a Quaresma, no século V, São Leão Magno concita os cristãos a elevar seus pensamentos para os grandes mistérios de nossa Redenção, e ao mesmo tempo desapegar-se dos laivos que os prende a satanás e ao mundo. E Bento XV, no século XVIII, acrescenta: a observância da Quaresma é o vínculo da nossa milícia.

Ao estabelecer um tempo tão santo e rico de significado como a Quaresma, a Igreja ensina a seus fiéis que eles devem se purificar de seus pecados por meio das boas obras como a oração, o jejum e a esmola. Mas de nada adiantarão jejuns, abstinências e esmolas se os corações permanecerem apegados ao pecado.

Como um retiro espiritual, a Quaresma traz enorme bem para as almas. E a Igreja tem o método de como conduzir os fiéis a essa fonte inesgotável, em que todos beberão do coração chagado de Cristo, pela meditação, reflexão, oração, confissão e comunhão, como ainda pela vida de recolhimento que este tempo pede.

Tal retiro termina com a confissão e comunhão no tempo da Páscoa, verdadeira transformação espiritual em que o cristão ressurge com Cristo para uma vida nova. Tais práticas exteriores, além de desenvolver o espírito de Cristo, nos unem a Ele nos sofrimentos, na oração e no jejum.

Nesse tempo a Igreja estabelece jejum e abstinência de carne na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira da Paixão. O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo deu o exemplo de jejum e abstinência para começar sua vida pública, permanecendo durante quarenta dias no deserto em rigoroso jejum.


Pela oração entendemos todos os atos de piedade, como freqüência à missa, comunhão, leitura de bons livros, meditação sobre a Paixão de Cristo e a Via Sacra –– meditações acompanhadas de orações diante das catorze estações que representam os sofrimentos da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A Via Sacra deve sua origem à Virgem Maria. Segundo a Tradição, Ela –– após o sepultamento e a Ascensão de Jesus Cristo –– percorreu muitas vezes o caminho feito por seu divino Filho até o Calvário. A Via Sacra é um dos meios mais eficazes para converter os pecadores e tornar os justos mais perfeitos.