Do mirante de Deus
Pe. David Francisquini
O leitor deve se lembrar que estávamos nos umbrais do belvedere de Deus, onde meu interlocutor camponês e eu acabávamos de chegar, num exercício de transcendência a propósito da seca, pois é exatamente desse mirante que pessoas sérias filosofam e fazem metafísica. É na perspectiva de Deus que se pode meditar seriamente sobre a ordem sobrenatural, e dela tirar lições valiosas e ricas de significados para a ordem natural, sobretudo num momento histórico em que a sociedade se encontra em plena secura, sem viço, o que parece pressagiar sua própria morte.
Mas, “bem aventurado o homem que põe sua confiança no Senhor, para o qual o Senhor é a esperança. Ele será como uma árvore transplantada para perto das águas, que à umidade estende suas raízes, que não terá receio de calor quando vier. Suas folhas serão sempre verdes, e em tempo de seca não ficará necessitada, e nunca deixará de produzir frutos”. (Jer. XVII, 5 a 10). E “todo aquele que bebe desta água tornará a ter sede, mas o que beber da água que eu lhe der, nunca terá sede, mas a água que eu lhe der virá a ser nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.” (Jo III, 13-14).
A hagiografia de São Pio X (foto) narra que, certa vez, ele perguntou a um grupo de cardeais que o rodeava, qual seria, naquele tempo, a obra mais necessária à salvação da sociedade temporal. –– “Edificar escolas católicas”, respondeu um deles. –– “Não”, respondeu o Papa. –– “Multiplicar as igrejas”, acrescentou outro. –– “Ainda não”. –– “Fomentar as vocações sacerdotais”, emendou um terceiro. –– “Não, não”, replicou São Pio X. –– “O mais necessário no momento é que cada paróquia tenha um grupo de leigos virtuosos, esclarecidos, resolutos e apostólicos”.
Ele se referia à criação de elites espirituais, com almas profundamente cristãs. A restauração da sociedade supõe, necessariamente, uma intensa irradiação da santidade da Igreja. A pregação pelo exemplo é e será sempre a principal alavanca da Igreja. Só os exemplos arrastam. Os sacerdotes devem dar o bom exemplo de oração, de vida interior profunda, passar boa parte de sua vida diante do Santíssimo Sacramento, manter intacto seu celibato, ter devoção intensa a Nossa Senhora, propagar a devoção do Santo Rosário e, sobretudo, não dar mau exemplo a seus fiéis. O sacerdote deve ser o sal que salga, e a luz que ilumina.
Por outro lado, ao fundar um grupo fervoroso de fiéis, bem instruído, com intensa vida sacramental, de oração e de sacrifício, o sacerdote faz com que o sal que salga a Terra e a luz que ilumina transbordem de si para o seu rebanho, vivificando assim o ambiente onde ele vive e trabalha, evitando que em seu território paroquial penetrem os erros dominantes. Isso, caro leitor, não se faz de um dia para o outro. É indispensável paciência, disposição para a luta, resolução, método, conhecimento das dificuldades e jeito para enfrentá-las.
A preocupação primordial do educador católico é formar católicos eficientes, tão perfeitos quanto possível nesse vale de lágrimas, para que eles possam agir sempre e em toda parte como verdadeiros católicos. Não bastam idéias e sentimentos. Faz-se necessário ter convicções e idéias inabaláveis, que absorvam seu entendimento, que corrijam as próprias paixões, para que se passe a pensar e sentir com a doutrina católica.
Para isso, é indispensável ter uma vontade radicada em princípios, pois só assim o homem torna-se capaz de realizar uma obra com dinamismo, força e “garra”. Se as paróquias não têm isso, estão prestes a sofrer a derrota e o fracasso. “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância”, disse Nosso Senhor. Para regenerar a sociedade dita moderna, é preciso recristianizá-la.
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domingo, 24 de janeiro de 2010
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