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domingo, 24 de janeiro de 2010

Direito de Decidir - I e II



Pe. David Francisquini

Imaginemos um pequeno país da Europa, da Ásia ou da Oceania ameaçado por uma seca que, segundo os especialistas, durará longo período. Os cientistas envolvidos na questão conclamam os dirigentes do país a tomar as medidas cabíveis diante da fome que se avizinha.


Entre os seus homens notáveis, o hipotético país conta — além dos cientistas — com médicos, políticos, professores, magistrados, militares, sacerdotes, e tantos outros. Uma reunião é fixada para as tomadas de decisão e distribuição de tarefas, pois os participantes traçarão um plano para enfrentar as conseqüências da seca e de suas vítimas.


A reunião ocorre num clima nervoso e cheio de expectativas. O debate já se inicia afanoso e acalorado. Os mais experientes e sensatos — entre eles um sacerdote católico — começam por sugerir boa provisão nos celeiros, como fez José durante a longa seca que se abateu sobre o Egito.


Outro sugere o envio de embaixadores pelo mundo anunciando a tragédia iminente, e, ao mesmo tempo, angariando víveres e remédios. Sem perda de tempo, um outro assesta o foco sobre a necessidade de se fazer reservatórios de água como açudes e represas. Não tardou vir à tona a proposição de alertar a população.


Quando a reunião rumava para seu fim, surge inusitadamente um personagem de aspecto sinistro, liderando um grupelho autodenominado “pelo direito de decidir”. Pelas caras, pelas palavras de ordem e pelos cartazes, era fácil perceber contestadores da ordem e da harmonia social.


O desgrenhado líder, sem sequer esperar lhe fosse dirigida a palavra, urrou: “Companheiros, na perspectiva do enorme sofrimento do povo e tendo em vista os minguados estoques de alimentos do País, a solução é simples e de fácil solução. E falo em nome dos ‘direitos humanos’! Para salvar da catástrofe a nossa nação e os seus homens de bem, nosso ‘movimento social’ propõe a contratação de pistoleiros para eliminar desde já 50% de nossa população”. (Grande alarido do grupelho em sinal de aprovação).


E o líder retoma ainda mais eloqüente: “Que nenhuma família a partir de hoje tenha mais filhos, e que o aborto seja geral e irrestrito. Tudo isso para o bem da nação. Tais pistoleiros começarão as execuções pelos hospitalizados, débeis mentais, deficientes físicos e inválidos. O restante será eliminado por sorteio”.


E concluiu a arenga para seu grupinho e jornalistas presentes: “Só assim evitaremos o sofrimento de nosso povo diante da fome que se aproxima! E para que o povo entenda tal medida de salvação pública, tais resoluções devem ser divulgadas pela imprensa escrita, falada e televisionada”. Em razão de tão maluca proposta, o personagem nem pôde terminar sua peroração: recebeu imediatamente voz de prisão.


Caro leitor, diz-se que a repetição é a melhor figura de retórica. Mas não é verdade que nessa pequena parábola estamos retratando a triste realidade de nossos dias? Em nome da saúde pública, da hipotética salvação do planeta, dos direitos humanos, da igualdade, do direito da mulher ao próprio corpo, vão sendo implantados o aborto, a eugenia e a eutanásia.


Prometo ao leitor continuar a matéria no próximo artigo.


Direito de decidir? (II)

Como prometi no meu último artigo, volto a tratar do aborto, da eugenia e da eutanásia. Com efeito, os propugnadores do monstruoso pecado do aborto querem descaracterizar o seu aspecto criminoso e hediondo, afastando-o do lado religioso e moral, e induzir a população a aceitá-lo pelo lado sentimental, onde não há lugar para o direito natural e divino.

Disse Deus: “Não matarás!” Dizem eles: “É um problema de saúde pública e as leis do Estado devem ser observadas acima das leis religiosas”. Assim, surgem as alegações de que o aborto legalizado evitará os clandestinos, ocasião de riscos, seqüelas e até mortes. Que as mulheres ricas usam clínicas especializadas enquanto as pobres sofrem as conseqüências do aborto clandestino.


Ora, a obrigação do Estado é favorecer a vida e nunca a morte! Qualquer que seja a razão da gravidez, a obrigação da mãe é levá-la até o fim, pois ela porta em seu seio um outro ser humano com direito fundamental à vida, o qual em hipótese alguma pode ser eliminado.


A única política pública aceitável é a de evitar o aborto, com assistência moral e material durante a gravidez e o parto. Quer a mãe seja rica, quer seja pobre, o problema é sempre o mesmo: o aborto é um assassinato de um ser inocente e indefeso. Ninguém tem o direito de tirar a vida da criança em nenhum momento, desde a sua concepção até o nascimento.


Quanto ao aborto no caso de gravidez indesejada, de crianças anencéfalas, portadoras de doenças genéticas ou não, ou do aborto fruto de estupro, costuma-se alegar o trauma da mãe.


Contudo, não há maior trauma do que assassinar o fruto de seu próprio ventre. Como sacerdote, posso sentenciar que o trauma do aborto é terrível, muito mais do que um estupro, por mais horrível que este seja, pois neste caso a mulher não carrega na consciência o peso da culpa.


Ela até poderá entregar sua criança para adoção de casais que tanto sofrem por falta de filhos. O aborto – mesmo executado por profissionais – pode causar graves seqüelas físicas, psicológicas e morais, entre elas hemorragia, angústia, depressão e remorsos.

Devemos amar a Deus sobre todas as coisas e, se quisermos ser fiéis a este amor, devemos obedecer à sua santa Lei que não permite o aborto. Termino com as palavras do Papa João Paulo II: “Declaro que o aborto direto, isto é, querido, constitui sempre uma desordem moral grave (...) nenhuma circunstância, nenhum fim, nenhuma lei do mundo poderá jamais tornar lícito um ato que é intrinsecamente ilícito, porque contrário à lei de Deus, inscrita no coração de cada homem, reconhecível pela própria razão e proclamada pela Igreja”.

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