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domingo, 24 de janeiro de 2010

O ambiente rural e a feliz concórdia entre patrões e empregados

Pe. David Francisquini


Sempre tiro muito proveito espiritual, mas também psicológico e intelectual, em meu giro anual pelos campos do norte fluminense. Com efeito, não só a boca fala da abundância do coração. Metaforicamente, a pena também pode falar. Portanto, quero compartilhar com meus leitores o sabor de alguns frutos que colhi de meus recentes contactos com o homem do campo.

Entre as muitas conversas interessantes que mantive em meu mais recente percurso, detenho-me numa de modo particular. O interlocutor já era meu conhecido e, juntos, lembramo-nos da longa e luminosa trajetória da agricultura brasileira. Desde os tempos das capitanias hereditárias, passando pelas sesmarias, quando até as ordens religiosas tinham suas terras de cultivo.

Depois do ciclo da cana de açúcar vieram as lavouras de café, no século XIX, e com a abolição da escravatura aportaram as ondas de imigrantes europeus a povoar essa nova Canaã. As terras foram naturalmente se dividindo, e milhares de proprietários, grandes, médios e pequenos produzem hoje alimentos com fartura e baratos para o Brasil e para o mundo.

O camponês demonstra muita segurança de vida, capacidade de governo, o que por sua vez lhe dá muita auto-estima, pois se sente como senhor da terra, o que concorre para lhe cunhar personalidade marcante. Mas, a conversa ia longe, quando tratamos das relações cheias de harmonia e de bondade entre patrões e empregados. Tempos em que predominava o compadrio.

Havia nas fazendas de café a figura do meeiro que entrava com os braços e o dono com a terra, situação na qual o trabalhador acumulava ao longo de alguns anos renda suficiente para comprar suas terras. As relações amistosas faziam do proprietário compadre do trabalhador e vice versa. Com efeito, reinava ali o espírito muito familiar.

A bondade de nosso povo permitia que todos trabalhassem de acordo com seus dotes, mas ninguém ficava sem atividade. As tarefas eram distribuídas segundo as capacidades de cada um.


Nessa feliz concórdia, patrões e empregados desenvolviam seus talentos. A estrutura agrária sólida permitia que a fazenda fosse uma verdadeira escola de novos proprietários.


Formavam-se homens de têmpera, de determinação e cheios de resolução, predicados mais salientes do homem do campo de outrora. Futuros proprietários partiam para longe, onde compravam terras mais baratas, e com isso foram semeando em nossos sertões e criando novas povoações. Assim, o Brasil transformou-se na potência agrícola que hoje é.

Ainda teria algumas coisas a dizer..., mas o espaço acabou. Quem sabe numa próxima ocasião? Até breve.

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