O Brasil de ontem, de hoje e de amanhã - I e II
Pe. David Francisquini
Quando ainda seminarista, presenciei –– numa casa paroquial do interior do Paraná –– dois sacerdotes conversando sobre o Conselho Indigenista Missionário. Não sabendo exatamente do que eles tratavam, colocaram-me ao corrente de suas novas incumbências junto ao órgão recém-criado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil): o indigenismo.
Surpreso, pois não havia índios por lá, e sequer eu vislumbrava o rumo que o clero tomaria na década de 70, quando me cai nas mãos um livro de autoria do pensador católico Plinio Corrêa de Oliveira, com dedicatória: Tribalismo Indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil do século XXI.
Sua leitura veio trazer resposta à minha perplexidade. E observando hoje a celeuma sobre a demarcação de terras na reserva Raposa Serra do Sol e a drástica intenção do governo em expulsar de lá os produtores de arroz, bem como a crescente agitação na América Latina em torno da questão indígena, percebo quanta razão tinha aquele insigne escritor.
Com efeito, o ideal missionário de catequizar, semear o Evangelho, a fé, como fizeram Nóbrega, Anchieta e tantos clérigos que por aqui aportaram, não é mais compartilhado por elementos do clero de nossos dias. Eles promovem uma luta de classes sistemática e um ecologismo radical que ferem toda forma de civilização.
Ao constituir missões entre os índios, a Igreja evangelizava ensinando o que o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo nos legou ao instituir a Santa Igreja Católica, isto é, expandir a fé e os princípios por Ele ministrados e consignados nas páginas do Santos Evangelhos.
Com a evangelização, os missionários faziam obra civilizadora em que os silvícolas se beneficiavam da ação da Igreja, constituindo uma civilização plasmada nos princípios cristãos da propriedade particular, da família, da constituição de cidades estruturadas.
Ali, deveriam levar vida digna e desenvolveriam suas qualidades a serviço de si e de outros, além de criar ambiente propício à salvação eterna e à glória de Deus.
Ao contrário do ideal católico, a neomissiologia prega o desmantelamento da família e da sociedade contemporânea, a extinção do pudor e a morte da tradição cristã. Os novos propulsores desse ideal acusam de tirano, opressor, sanguinário e ladrão o branco que veio para a América.
Eles acusam os missionários e os colonizadores que exerceram missão sagrada, como o Bem-aventurado Padre Anchieta, homem de grande santidade, que obteve notável êxito junto às tribos indígenas. Eles pregam o comunismo-tribal que se ufana de ser mais comunista do que o próprio comunismo.
O que dizer de alguém que pretendesse implantar isso no Brasil? Talvez pudesse ser qualificado de um demolidor utópico que visa destruir a Nação, desmantelar a sociedade e levar o País ao caos, mais ou menos como já vem ocorrendo na Venezuela e Bolívia.
Os neomissionários –– acolitados por órgãos governamentais e não governamentais de todos os naipes –– ora empregando a força, a prepotência e a ameaça na tentativa de criar nações indígenas em nosso hinterland, conduzirão fatalmente o Brasil a uma revolução fratricida. Prometo voltar ao assunto em próximo artigo.
O Brasil de ontem, de hoje e de amanhã (II)
No artigo anterior, manifestei minha perplexidade – sobretudo enquanto sacerdote – diante do programa da neomissiologia adotada pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Os próprios índios não querem ficar no estado em que se encontram. Em contato com a civilização, eles querem viver com dignidade, com saúde, com conforto e bem-estar.
Para entender o que se passa com a neomissiologia, é indispensável o leitor se ater a alguns pontos que a transporta muito além daquilo que Marx e Lenine propuseram. Ela se fundamenta num ponto totalmente falso, ou seja, o de acabar com todas as formas de individualidade, pois isso iria contra o bem comum.
Algumas tribos indígenas são antropófagas e seus membros acreditam que comendo o adversário incorporariam neles as “qualidades” do inimigo. No ser humano, é preciso fazer uma justa distinção entre a pessoa e o seu egoísmo, pois é falso concluir que o homem, vivendo e trabalhando para si e para os seus, seja egoísta e inimigo da sociedade e do bem comum.
A falsa solução que os neomissionários apresentam é que a salvação do “bem comum consiste em que a pessoa seja totalmente absorvida, padronizada e dirigida pela coletividade. Seria o único meio de nos evadirmos do caos infernal do egoísmo”. (Plinio Corrêa de Oliveira, "Tribalismo indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil do século XXI", Editora Vera Cruz Ltda., 7ª edição, São Paulo, 1979, p. 41)
Sob tal prisma pode-se compreender a celeuma em torno dos índios, em particular o que vem ocorrendo em nossos dias em Roraima. Não passa pela cabeça dos índios tal concepção, pois ela vai tão longe que nem mesmo o antigo regime soviético professava concepção tão coletivizada de sociedade como preconizam os corifeus da neomissiologia.
Os pregoeiros desse regime, com veemência furibunda, querem o desmantelamento do Estado e de todos os organismos que o integram. O Estado – conforme asseguram – deve desfazer-se em uma galáxia de corpúsculos mais ou menos justapostos e tão autônomos quanto possível. Daí, certamente, a reação do comandante militar da Amazônia, em recente pronunciamento, ao qualificar de caótica a atual política indigenista e atentatória à soberania nacional.
Já em 1560, o Padre Luis da Grã relata que convocou para uma reunião os chefes indígenas da Bahia e os fez comprometer-se, com um juramento, a respeitar quatro pontos: Não ter senão uma mulher; não se embebedar; não dar ouvidos aos pajés; não matar nem comer carne humana. Podemos assim avaliar o que já era naquela época a catequese, a pregação e o ensinamento tradicional junto aos índios. Consistia ela numa série ininterrupta de ensinamentos visando a integração dos indígenas na sociedade cristã.
Anchieta reconhece em carta de 1555 que os índios eram tão indômitos em comer carne humana e a não reconhecer a autoridade, que ele não via outro remédio senão a Europa enviar para cá gente para colonizar e civilizar os silvícolas. Hoje, o CIMI se envolve em luta de raças para conservar os pobres índios no estado de barbárie. Defendem a nudez deles como coisa normal, quando lemos no Gênesis que foi o próprio Deus quem confeccionou e ensinou nossos pais Adão e Eva a se cobrirem, após o pecado original e quando foram expulsos do paraíso.
E o CIMI teima em pregar o contrário do mandado de Jesus Cristo aos Apóstolos: evangelizar, ensinar, batizar e difundir a fé cristã a todos os povos da Terra, como condição para a salvação eterna de suas almas. Diante disto o que fazer?
Devemos rezar a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, para proteger nosso País da desintegração que o ameaça. Que Ela proteja e preserve os índios dessa neomissiologia; que Ela os converta; que Ela proteja todos os brasileiros e faça com que eles vejam e reajam à neomissiologia com a fibra de nossos antepassados, que expulsaram o invasor holandês-protestante, no século XVII.
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domingo, 24 de janeiro de 2010
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