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sexta-feira, 10 de agosto de 2018


Até quando, justo Senhor, Deus das vinganças?

♦  Padre David Francisquini 

“Abyssus abyssum invocat”, ou seja, um abismo chama outro abismo, como está expresso no Salmo 42,7 para nos ensinar que uma falta cometida predispõe o pecador a cometer outras mais graves. Assim, a avalanche crescente de pecados e de crimes prepara o ambiente psicológico para outros ainda mais hediondos, como o infanticídio que vem grassando por todo o mundo com a prática indiscriminada do aborto.
O frenesi nas tentativas de descriminalizar o crime do aborto através de legislações facciosas se deve em grande medida a essa situação moral em que nos encontramos, sendo incontáveis as organizações públicas e privadas dedicadas a promover o infanticídio — ONU, ONGs, governantes, legisladores, magistrados ativistas —, às quais não faltam imensos recursos financeiros e midiáticos…
Com efeito, há uma sistemática e monumental propaganda no sentido de se criar uma mentalidade cada vez mais favorável ao aborto. Essa maneira de pensar difundida pela mídia parece revestir-se de tal direito, que nos recentes debates propostos em audiência pública no Supremo Tribunal Federal se pretendeu tratar-se de obrigação do Estado legalizar o aborto para garantir aos profissionais da área o livre exercício de sua profissão, transformando o crime hediondo em mera questão de saúde.
Para facilitar os seus objetivos, defensores do aborto levantam objeções — como se fossem de consciência — e procuram impor à sociedade a sua agenda com recursos feitos ao Judiciário por partidos de esquerda, como acabou de se passar com a ADPF 442 do PSOL junto ao STF. São pessoas que não se importam com a Lei de Deus nem com o pensamento do nosso povo, o qual repudia este crime que brada aos céus e clama a Deus por vingança.
Com o paulatino aparelhamento do Estado, tais práticas criminosas são defendidas por movimentos como “Católicas” pelo direito de decidir — que de católicas não têm nada —, por representantes da igreja luterana, como a pastora Lusmarina Campos, que falsamente “lastreada” na Bíblia se posiciona favoravelmente ao crime do aborto, ou ainda por certa mídia e até mesmo pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
O princípio moral (e ético) — válido, portanto, para todos os tempos e todos os lugares — é

A ministra do STF, Rosa Weber, dirigiu as audiências públicas no STF
  a respeito da descriminalização do aborto — a cruel execução 
de inocentes— até a 12ª semana de gestação.
a obrigação que incumbe à mãe de levar a sua gravidez até o fim, pois é outro ser humano que ela leva em seu ventre, com direito fundamental à vida, não podendo em hipótese alguma ser eliminado. A única política pública aceitável é evitar o aborto, oferecendo assistência material e moral à grávida; caso contrário o Estado estará favorecendo o assassinato de um inocente.
Ser católica e favorável ao aborto são termos incompatíveis, irreconciliáveis como a luz e as trevas, o dia e a noite, a verdade e o erro. Não há católica com direito de decidir a favor do aborto. Tal entidade utiliza o nome de “católica” apenas para causar confusão e, nas águas turvas, obter alguma influência na sociedade ao produzir a impressão de que na Igreja há uma corrente que defende o aborto, de modo a parecer que os católicos se encontram divididos. A fundadora desse movimento, Frances Kissling, é uma ex-freira que diz nunca ter sido católica (cfr. Catecismo Contra o Aborto, 3ª edição. pág. 55).
As pessoas que se manifestam defensoras dessa prática criminosa procuram subterfúgios para impor a sua agenda revolucionária através de considerações sentimentais, alegando a contaminação da mulher diante de uma gravidez indesejada, condições de pobreza em que a criança irá viver, e assim por diante. Alegam ainda que a legalização do aborto tirará a inibição da mulher de recorrer ao Estado, em vez de praticá-lo na clandestinidade.
Ao contrário, essas mesmas pessoas nunca ressaltam as consequências do aborto na psicologia das mulheres que o praticam, como a consciência culpada e outros traumas insanáveis que carregarão para o resto de suas vidas. Quanto mais sofismas apresentados pelos defensores de sua prática, mais complicada se torna a situação, pois o ensinamento da Igreja diz que o demônio é o pai da mentira, e, desde o início, é homicida, conforme São João. Foi o demônio que incitou Caim a matar seu irmão Abel e por isso atraiu sobre si a maldição de Deus.
Herodes - A matança dos Inocentes 
O aborto é resultado de um homicídio voluntário, e tanto quem o faz como quem o legaliza atrai sobre si igualmente a maldição divina. Santo Agostinho descreve a humanidade em duas cidades, a Cidade de Deus e a cidade dos homens, guiadas ou por amor de Deus ou por amor egoístico. O direito de decidir sobre o próprio corpo se fundamenta apenas no egoísmo humano, incapaz de se imolar pelo filho e ávido em satisfazer suas próprias paixões, enquanto os habitantes da Cidade de Deus não se movem por amor de si mesmo, mas por dedicação à vontade do Criador.
Se o Brasil oficializar a matança dos inocentes pela legalização do aborto, a gravidade do pecado aumentará, pois passará a ser um pecado coletivo, isto é, de o Brasil adotar enquanto nação uma prática criminosa que clama a Deus por vingança. Com base nos ensinamentos de Santo Agostinho, as nações não irão para o Céu nem para o Inferno, mas serão castigadas ou premiadas nesta Terra por suas obras.
Voltarei brevemente ao tema.

(*) Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira (RJ).

terça-feira, 31 de julho de 2018


Agenda LGBT contra a Igreja


*Padre David Francisquini

O artigo Católicos LGBT organizam movimento para reivindicar mais espaço na Igreja, de Anna Virginia Balloussier (folha.uol, 23/7/18), traz declarações de uma ativista homossexual que de tal maneira deixou cair a máscara, que produziu o efeito da pedrinha de sal ao cristalizar todo o líquido de um copo.
A árvore boa dá bons frutos, e a árvore má dá maus frutos, pelos frutos conhecereis os homens, ensina o divino Salvador (Mt. 7, 20). Toda a árvore que não der bom fruto será lançada ao fogo. Portanto, as pessoas que não produzem bons frutos querem transformar o ambiente católico numa atmosfera concessiva ao pecado que clama a Deus por vingança.
Aprendi nas aulas de Catecismo que a Igreja Católica – sociedade visível fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo – tem seus mandamentos, sua doutrina, suas leis, suas regras, seus cânones. Todo esse conjunto fundamentado na Sagrada Escritura e na Tradição constitui um bloco do qual não se pode aceitar apenas uma parte.
Mais ainda, pelos estudos feitos no Seminário, aprendi também que os princípios da religião católica são inegociáveis. Assim, entre o ensinamento da Igreja e o homossexualismo, por exemplo, não existe aproximação possível; são irreconciliáveis como a luz e as trevas, a verdade e o erro, a virtude e o vício; há entre eles uma incompatibilidade total, pois são excludentes.
Se a Igreja abrisse mão deste ponto, deixaria de ser a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois está no livro do Gênesis: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te esmagará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar” (Gen. 3, 15). E essa inimizade é eterna.
Vejamos as palavras da ativista homossexual que se insurge contra a autoridade eclesiástica: “Questionamos muito a atitude de esperar que o Papa mude alguma coisa, como se tivéssemos de aguardar algum tipo de autorização vinda do alto da Hierarquia para podermos ser Igreja. Isso nós já somos”. Seria bom se essa ativista que diz “ser Igreja” soubesse que, conforme afirma São Paulo na segunda epístola a Timóteo, autoridade alguma na face da Terra pode mudar a doutrina de Cristo.
Ele ainda aconselha:  “Prega a palavra, insiste, quer agrade, quer desagrade; repreende, suplica, admoesta com toda a paciência e doutrina. Porque, virá tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina, e contratarão para si mestres conforme os seus desejos, levados pela curiosidade de ouvir, e afastarão os ouvidos da verdade para os abrir às fábulas” (Tim. 4,1-8).
Afirmar ser igreja revela uma total deformação do conceito de Igreja. São Pio X ensina que a Igreja é uma sociedade visível composta de eclesiásticos e de leigos. Os primeiros pertencem à Igreja docente, ou seja, têm o poder de ensinar, governar e santificar; os leigos são da Igreja discente, isto é, devem ser ensinados, governados e santificados pelos seus pastores. Para ser cristão é indispensável ser batizado, crer e professar a doutrina e a lei ensinadas por Jesus Cristo e contida no magistério da Igreja.
O ensinamento de Nosso Senhor na parábola do Bom Pastor e do filho pródigo que volta à casa paterna ressalta o Seu amor para com as almas afastadas da graça e da amizade divina. Ele faz de tudo para que elas voltem ao redil, pois há mais júbilo no céu por um pecador que faça penitência do que por noventa e nove justos que não precisam dela.
“Haverá mais alegria no Céu por um pecador que se arrepende do que noventa e nove justos que não precisam arrepender-se” (Lucas, 15,7). A pior tragédia de uma alma é quando ela quer justificar sua má conduta impondo-a aos demais. Ao reivindicar cidadania para o erro, o seu coração endurece, dificultando a sua conversão.
Toda sociedade civilizada tem suas leis, seus princípios, seus códigos. Seus membros devem aderir a esse conjunto normativo, pois são afins com ele e existem para o bem comum. Assim, a Igreja como sociedade visível de caráter espiritual não pode transigir em relação aos ensinamentos do seu Fundador, o Filho de Deus encarnado.
O próprio Nosso Senhor nos alerta sobre os falsos profetas que vêm a nós com pele de ovelhas e por dentro são lobos vorazes. Porventura se colhem uvas de espinhos ou figos de cardos? São Paulo Apóstolo, na epístola aos Romanos, afirma que quando somos livres do pecado e feitos servos de Deus, temos por fruto a santidade e por fim a vida eterna.
Essa ativista homossexual, pelo contrário, se considera acima dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Igreja a ponto de querer impor condições à autoridade eclesiástica: “Questionamos muito a atitude de esperar que o Papa mude alguma coisa”... É bom lembrá-la da lição divina de que nem todo aquele que diz “Senhor, Senhor” entrará no reino do céu, mas quem faz a vontade de meu Pai que está no céu, e a vontade de Deus está contida nos Mandamentos.
A ativista vai mais longe. Para ela, essa linguagem progressista do papa não é precisa, ‘não faz sentido’ a Igreja excluir e ferir. ‘Cristo andava com os piores pecadores, os maiores párias da sociedade’. Os apóstolos e discípulos seriam pecadores péssimos, párias da sociedade? Da mesma forma que Lázaro, José de Arimateia e Nicodemos, que comprou 100 libras de mirra e aloés para os funerais do Homem-Deus? (Jo 19-33)
Qual o conselho do Divino Mestre à mulher adúltera, senão “vai e não peques mais”? Se nas palavras de uma ativista homossexual não faz sentido a Igreja excluir e ferir, então o Papa Leão X deveria ter “incluído” os erros de Lutero no Magistério da Igreja? A Igreja deveria ter aceitado o divórcio e “incluído” Henrique VIII e todo o anglicanismo como enriquecimento do magistério? São Pio X deveria ter aprovado e “incluído” os erros modernistas, em vez de condená-los?
A Igreja deveria acatar e “incluir” Frei Boff e os teólogos da Teologia da Libertação em seu seio? Talvez essa ativista inclua na sua agenda a reabilitação de Lúcifer e sua “inclusão” no reino celeste, um verdadeiro absurdo, mas é a conclusão que se pode tirar de seu ‘princípio inclusivo’. Na verdade, ela nega o princípio metafísico da contradição, a incompatibilidade do vício com a virtude.
Convém lembrar o que diz São Pio X no Catecismo Maior: “A sodomia está classificada em gravidade logo depois do homicídio voluntário, entre os pecados que clamam a Deus por vingança. Desses pecados se diz que clamam a Deus por vingança, porque o Espírito Santo assim o diz, e porque a sua iniquidade é tão grave e evidente, que provoca a punição de Deus com os castigos mais severos.”
Por sua vez, São Pedro Damião afirma: “Este vício não pode jamais ser comparado a nenhum outro, pois ultrapassa a enormidade de todos os vícios. Ele corrompe tudo, mancha tudo, polui tudo. Por sua própria natureza, não deixa nada puro, nada limpo, nada que não seja imundície. A carne miserável arde com o calor da luxúria; a mente fria treme com o rancor da suspeita; no coração do homem miserável o caos ferve como o inferno.”
E prossegue: “Depois que essa serpente venenosa introduz suas presas na infeliz alma, o senso é retirado, a memória se desgarra, a clareza da mente é obscurecida. Ele não se lembra mais de Deus, até se esquece de si mesmo. Essa praga solapa os fundamentos da fé, enfraquece a força da esperança, destrói o laço da caridade; afasta a justiça subverte a fortaleza, expulsa a temperança, entorpece a perspicácia da prudência” (Homem e Mulher Deus os Criou", p. 26).
Protestemos contra essa rebeldia, que é também uma ingerência e um insulto à Santa Igreja de Deus. Aconselharia a tal ativista que lesse meu livro Homem e Mulher Deus os Criou — As relações homossexuais à luz da doutrina católica, da Lei natural e da ciência médica. 

domingo, 1 de julho de 2018


Edifiquemos nossa casa sobre a rocha firme


*Padre David Francisquini

Dos ensinamentos emanados dos livros sagrados, é relevante aquele proveniente da parábola da vinha abandonada. Inteiramente dominada pelas ervas daninhas, suas cercas haviam caído, permitindo aos animais de entrar e sair, devastando o que restava do vinhedo.

Se não é próprio à virtude da sabedoria o homem iniciar uma obra e deixá-la inacabada, mais insensato é abandoná-la depois de concluída, seja por imprevidência, falta de zelo ou de coragem para mantê-la próspera e produzindo frutos.

Assim diz o Profeta Jeremias: “Numerosos pastores destruíram a minha vinha, pisaram a minha propriedade, trocaram a minha deliciosa herança em deserto e solidão. Devastaram-na, e ela está de luto diante de Mim. [...] Semearam o trigo e colheram espinhos; receberam a herança, mas não lhes aproveitará; envergonhados sereis dos vossos frutos, por causa da grande cólera do Senhor".

A vinha plantada, cultivada, resplandecente, descrita pelo profeta é a esposa de Cristo, a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, hoje numa situação muito próxima à descrição bíblica sobre a vinha do Senhor. Basta olharmos ao nosso redor a decadência moral e religiosa manifesta na displicência, quando não na cumplicidade em face da conjuração dos ímpios, daqueles que deveriam ser os seus guardiães.  
Para dar um exemplo, a avalanche de erros que contagia por todos os rincões da terra grande número de jovens e crianças, sem reação alguma por parte dos vigilantes da grei do Senhor. A situação se apresenta tão grave que, sem uma assistência muito especial da graça, os fiéis não poderiam continuar crendo que as portas do inferno não prevalecerão em todo o orbe.

Nem sempre é fácil distinguir a verdade do erro. A parábola ensina que, movidos pelo demônio, há na vinha do Senhor os semeadores de más sementes – hoje personificados em modernistas e progressistas – que, ao germinarem e crescerem, acabam por dominar o que foi arduamente plantado e cultivado pelo Senhor.

Em meus numerosos contatos, não apenas em âmbito regional, venho constatando uma ação quase sistemática das prefeituras no sentido de contratar artistas que, no mais das vezes, farão a apologia das drogas, da prostituição, do amor livre e da violência para os seus munícipes. Ouvi dizer que até sacerdotes costumam frequentar esses ambientes...

            Os evangelistas São Lucas, São Mateus e São Marcos se referem à vinha plantada e cultivada pelos lavradores do Senhor. É uma clara alusão à vinha que Deus plantou desde o início da criação do mundo, contratando os operários para a manutenção de seu cultivo.

Assim como o inimigo penetrou nos recintos da Sinagoga antiga a ponto de induzi-la a cometer o pecado de deicídio, assistimos em nossos dias ao final de um processo demolidor iniciado há séculos por inimigos visando à destruição do edifício milenar da Santa Igreja Católica.

Na previsão do que disse Nossa Senhora em Fátima – “a Rússia espalhará seus erros pelo mundo” –, nem sequer a Igreja de Cristo foi poupada do flagelo. E a própria Mãe de Deus promete um castigo jamais visto... Aliás, as suas palavras são um eco da profecia de Isaías:

"Que coisa há que eu devesse fazer mais à minha vinha, que lhes não tenha feito? Far-lhe-ia acaso injúria em esperar que ela desse boas uvas em lugar das labruscas que produziu? Pois agora vos mostrarei o que hei de fazer à minha vinha: arrancar-lhe-ei a sebe, e ficará exposta ao roubo; derrubar-lhe-ei o muro, e ficará sujeita a ser pisada.

“E farei com que fique deserta; não será podada nem cavada; e crescerão nela os espinhos e os abrolhos; e mandarei às nuvens que não derramem sobre ela a chuva. A vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel e os homens de Judá, a planta na qual ele tinha as suas delícias; e esperei que praticasse a retidão, e eis que só a iniquidade, e que praticasse a justiça, e eis que somente se ouvem clamores" (Is. 5, 4-7).

Hoje, a Santa Igreja padece com a infiltração comunista, com a Teologia da Libertação, e com todos os erros que foram tomando corpo depois do concílio Vaticano II. Erros esses reiteradamente denunciados pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, por exemplo, no abaixo-assinado com 1.600.368 (um milhão, seiscentas mil, trezentos e sessenta e oito) assinaturas, coletadas em 1968 e enviadas em seguida ao Papa Paulo VI, pedindo-lhe medidas contra a infiltração comunista na Igreja.

Cooperadores da TFP brasileira em campanha do Abaixo-assinado de 1968
Padre David, em Bragança Paulista, quando era seminarista,
 colhendo assinaturas contra a infiltração comunista na Igreja
Infelizmente, essa petição angustiada não mereceu nenhuma resposta ou providência do Sumo Pontífice. A partir de então, uma defecção da fé, da moral e dos costumes vem dizimando instituições como a família, um dos pilares da sociedade. A que abismos chegaremos se Deus não intervier?


No entanto, fiquemos atentos à Sua voz em nossas almas, pois quem souber ouvi-la e guardá-la no coração, será como alguém que edificou sua casa sobre a rocha firme, e não sobre a areia, como faz o insensato. Mesmo que caia a tempestade, transbordem os rios e soprem os ventos, ela permanecerá de pé, pois essa rocha firme é a Santa Igreja, contra a qual Nosso Senhor prometeu que as portas do inferno não prevalecerão.

segunda-feira, 21 de maio de 2018


“Estarei convosco todos os dias”

*Pe. David Francisquini

           
Jesus Cristo, que se imolou e se ofereceu a Deus Pai por nós no alto do Calvário, é o mesmo que diariamente se imola em nossos altares em oferenda a Deus por nossos pecados.  A fim de comemorar a presença real de Nosso Senhor na Eucaristia, a Igreja Católica instituiu a festa de Corpus Christi, celebrada sempre com beleza, suntuosidade e requinte. Em decorrência deste caráter sagrado, a procissão eucarística se reveste de elevação e nobreza.
            A Eucaristia — ao mesmo tempo sacramento e sacrifício, sinal distintivo e visível da graça — é o próprio Jesus Cristo que se dá em alimento enquanto se imola e se oferece a Deus Pai no sacrifício da nova Lei. A missa é o símbolo do que existe de mais alto, de mais sagrado, de mais perfeito, pois liga Deus aos homens, o Céu à Terra. Aquele mesmo Jesus que se encerrou no ventre materno de Maria se encerra nas nossas igrejas sob as espécies do pão e do vinho.
            Nos Evangelhos, Cristo se autodenomina maná que desceu do céu, cordeiro que foi imolado, “o pão que darei é minha carne”. Como os judeus se escandalizavam com tais palavras, Jesus foi além: “Se não comerdes a carne do filho do Homem, não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeiramente comida, o meu sangue verdadeiramente bebida”.
            Na consagração eucarística ficam apenas as aparências de pão e de vinho. Pode-se fazer uma comparação com o que se passa no interior de um ovo que se transforma em ave e, contudo, sua casca não muda, permanecendo a mesma. As substâncias de pão e vinho se transformam em corpo e sangue pelo mistério da transubstanciação que se opera na Consagração, permanecendo os acidentes do pão e do vinho. Daí a razão de Cristo estar presente todo inteiro, tanto na espécie de pão quanto na de vinho, mas o sacrifício está representado e retratado nas duas distintamente.

            Foi tal a alegria de Cristo ao instituir a Eucaristia na última Ceia, segundo relata São Lucas, que Ele mesmo desejou comer com os discípulos o cordeiro pascal antes de padecer. “Digo-vos, pois, que não mais o comereis até que isto se realize no reino de Deus”. O júbilo do Divino Mestre na instituição da Eucaristia é surpreendente e repleto de unção.
            Ele fica conosco nos altares dia e noite, nimbado pela luz de uma lamparina que Lhe faz companhia. Quem comunga a hóstia consagrada come a carne de Jesus Cristo. Assim o Filho de Deus encarnado fundamentou esta verdade: “O Pai que vive me enviou, eu vivo pelo Pai, assim também o que me comer viverá por mim. Este é o pão que desceu do Céu. Não como o maná que os vossos pais comeram e, contudo, morreram. Quem comer deste pão viverá eternamente”.
            O pão e o vinho consagrados são um dogma para os cristãos, pois o pão se transforma em carne e o vinho em sangue. Aquilo que contemplamos pela fé supera a natureza, como afirma Santo Tomás, pois as espécies diferentes são apenas sinais que ocultam coisas exímias, esplêndidas, uma realidade que é o cume do amor de Cristo para conosco, que não nos deixa órfãos, porque está sempre conosco nesse sacramento divino.
            Ao comungar, o justo e o perverso recebem vida e morte, pois ao consumir essa realidade transcendental e real, conseguem para si a eternidade feliz ou infeliz. Por isso São Paulo Apóstolo afirma que cada um deve examinar a si mesmo, ao receber a Eucaristia, pois quem comunga indignamente come ou bebe a sua própria condenação. E São Tomás continua dizendo que ao receber a Eucaristia, “morte do mau, vida do bom”, ele vê como a mesma comida produz efeitos contrários, isto é, vida e morte.
            Ao fiel e digno comungante são reservados maravilhosos efeitos, como o aumento da vida na alma — a graça santificante — e a eterna bem-aventurança; purifica como o fogo; enfraquece as más inclinações como a ira, a inveja, a avareza, a deslealdade, apaga os pecados veniais. Como o sol que sobrepõe a aurora, a Santa Comunhão esparge luz e calor, e promove as graças atuais. Também aos enfermos é de grande e indispensável benefício, dando-lhes conforto, soerguimento e até a cura dos males de corpo e de alma.
           
Tão misteriosa é esta ação sacramental que o sacerdote, ao pronunciar as palavras da consagração sobre o pão e o vinho, empresta o seu aparelho fonador a Cristo, pois fala em nome de Cristo — in persona Christi, ou seja, como se fosse o próprio Cristo que estivesse pronunciando aquelas palavras que operam a transubstanciação. É um verdadeiro mistério de nossa santa Fé.
            O que os olhos não veem, a fé nos declara como realidade, a presença real de Cristo, presente real e substancialmente em nossos altares. O Céu se liga à Terra como um sol que afasta as trevas da noite. Diz Santo Afonso: “Os gentios imaginaram tantos deuses, mas não engendraram nenhum tão amoroso como o nosso Deus, que está tão perto de nós e com tanto amor nos assiste”.
            “Não há outra nação tão grande que tenha os seus deuses tão perto dela, como o nosso Deus está presente a todos nós” (Det. 4, 7). A Santa Igreja aplica com razão esta passagem do Deuteronômio à festa do Santíssimo Sacramento". 
A eucaristia é um verdadeiro sol que ilumina a vida cristã. Não há nesta terra o que encante mais e anime tanto, nos cumule de esperança e de alegria que ter Cristo presente entre nós: ‘Eis que estarei convosco todos os dias, até à consumação dos séculos.

sábado, 12 de maio de 2018


Santa Missa: um sacrifício sem mácula

*Pe. David Francisquini

A Santa Missa é a incruenta renovação do sacrifício do Calvário, ou seja, da Paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Foi Ele próprio quem a instituiu na Última Ceia, para que seu holocausto na Cruz fosse renovado a cada dia em toda a face da Terra, até a consumação dos séculos.
No momento da Consagração, as espécies separadas do pão e de vinho nos conduzem ao mistério mais sublime da nossa santa Fé, ao se transformarem no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo.

parte de trás da casula - (paramento litúrgico)
parte de trás da casula - (paramento litúrgico)
A separação dessas espécies indica a morte mística. Os grãos de trigo secados ao sol, debulhados, moídos, amassados e cozidos ao forno simbolizam um processo no qual a ideia de uma trituração se encontra subjacente. Quanto às uvas, elas são preparadas e espremidas no lagar para dar o vinho [na foto ao lado, trigo e uva estilizados no sacrário]. Este procedimento na preparação do pão e do vinho nos faz adentrar na dolorosa Paixão de Cristo.
No Calvário houve derramamento de sangue e no Altar o sacrifício é incruento, mas a Vítima é a mesma: Jesus Cristo, que se imolou por nós. Pode-se compreender então o ódio dos inimigos da Fé contra a grande realidade do Altar — o centro da vida cristã — anunciado pelo profeta Malaquias: “Entre todos os povos, e em todos os lugares da Terra, do nascer ao pôr-do-sol, oferecer-se-á, à glória de Deus, um sacrifício sem mácula”.
Com a vinda do nosso divino Salvador, constituiu-se um vínculo perene entre o Céu e a Terra, pois o sacerdócio da nova Lei — fundado por Jesus Cristo — passou a ter a missão superior e grandiosa de oferecer sacrifício pelos pecados do seu povo: “Tu és sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedec”. Em toda a Terra, a qualquer hora do dia, é oferecido o sacrifício puro, sem mancha, santo e imaculado.
ornamentos da casula
Não poupou o Altar o processo revolucionário que se desencadeou contra a Cristandade medieval e cujo lúgubre curso, agora estertorante, vive seus últimos dias. Já a falsa Reforma luterana havia mudado a Missa por ser ela o centro de unidade da Igreja, juntamente com o Papa, sua cabeça visível. Tal reforma procurou extirpar tudo aquilo que dizia respeito ao sacrifício, à expiação, à impetração e imolação, ao afirmar que tudo não passava de mera lembrança.
Para a falsa Reforma, não há simplesmente distinção entre sacerdote e leigo, pois ela nega o caráter indelével que assinala e distingue o padre do simples fiel. Assim, todos poderiam oferecer a Missa, a qual não passaria de um ato de louvor, de uma ação de graças, de uma ceia celebrada com pão e vinho distribuídos de mão em mão a todos os presentes.
Em sua “missa” celebrada em língua alemã, Lutero conservou algumas orações sem valor intrínseco, porque desligadas do verdadeiro sacrifício instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, o ato mais sublime de nossa Fé, como expressão do sacrifício latrêutico — ato de reconhecimento e adoração a Deus como Senhor dos senhores —, foi extirpado pela heresia protestante.
ornamentos da casula
Como a Santa Missa é o sacrifício da nova Lei, sua celebração deve revestir-se da mais alta expressão de nobreza, elevação, dignidade e inocência. Junto ao altar, o celebrante — que é o sacrificador e representante da Vítima adorável — se eleva acima de toda a comunidade católica qual novo Monte Calvário, em que a Missa se     transforma, atingindo seu cume no momento da Consagração, quando Cristo se imola.
No sacrifício da nova Lei, o sacerdote não pode ter esposa nem filhos, por ser um seguidor de Cristo, cuja Cruz ele traz em suas costas, impressas no paramento [foto abaixo]. Este também tem um significado, por revestir alguém que vai operar algo de grandioso no altar onde Cristo se oferece pelos nossos pecados.
Ao se oferecer em holocausto por toda a humanidade, Jesus Cristo instituiu um sacrifício para os seguidores de sua Igreja, a única e verdadeira. Os fiéis que assistem a Missa unindo-se às intenções do sacerdote beneficiam-se dela, pois Cristo morreu para nos dar os meios de salvação. Se pelo batismo somos incorporados à Igreja como seus membros vivos, sê-lo-emos a Cristo no Altar por seu sacrifício, seus dons e oferendas, podendo inclusive, sempre que estivermos em condições, nos unir intimamente a Ele na sagrada Comunhão.
O mesmo ódio que rondou em torno do Calvário ronda hoje, em aras da igualdade, em torno do altar. Ele visa suprimir o verdadeiro sacrifício da Missa com mutilações e supressões para descaracterizá-lo e torná-lo mais ‘humanista’, mera ceia desprovida do caráter sagrado. Como o Cânon era recitado em silêncio, ninguém percebeu a modificação que ele sofreu, por parte de Lutero, suprimindo a ideia de união do sacrifício com a Santa Igreja.
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O requinte e a beleza do cerimonial de uma época têm íntima ligação com a mentalidade e os costumes dessa época, com sua maneira de pensar, sentir e julgar. Se, numa manifestação de orgulho e sensualidade, lhe forem subtraídos esses predicados, ela decai, por exemplo, no modo de trajar de seus contemporâneos, que se torna vulgar.
Creio que isso explica de algum modo o avanço galopante do ateísmo, da laicização e das ideias revolucionárias que vêm destruindo todos os valores morais e espirituais da sociedade, como a perda do fervor religioso, da noção de moral e, portanto, do pecado. O resultado desastroso não poderia ser senão o esvaziamento dos ambientes católicos.

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(*) Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira (RJ).