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terça-feira, 5 de janeiro de 2021

 

Quem como a Virgem Maria?    

Pe. David Francisquini


  
O ano de 2021 se inicia sombrio e imprevisível, deixando as pessoas cheias de perplexidade. O que esperar dos dias vindouros? Se o passado recente não é penhor para o presente e o futuro próximo, como nos guiar e ajudar o próximo durante a confusão e as trevas? Que luz poderá ser orientadora para nos fazer chegar a um porto seguro?

            A única luz verdadeira brilhou num presépio em Belém para dar certezas e convicções profundas neste desterro e num vale de lágrimas. Essa luz se consubstanciou na Santa Igreja Católica Apostólica Romana, contra a qual Deus prometeu que as portas do inferno não prevaleceriam. Como instituição divina, ela é a nossa bússola a apontar sempre o Norte, ainda que em meio à escuridão não possamos ver nada ao nosso redor.

            O mundo pagão se contorcia numa agonia sem precedentes quando a luz de Belém surgiu num cenário único e dividiu a História em antes e depois de Cristo. As trevas foram então pouco a pouco se dissipando para dar lugar à Cristandade, na qual reinava o Rei de Judá, o Rei Imortal, sempre a guiar os homens proporcionando-lhes todos os meios possíveis para alcançar o porto seguro.

            Contudo, o “não servirei” de Lúcifer repetiu-se na Terra para impedir os homens de seguirem o caminho da verdade e terem a verdadeira vida, fazendo desta terra de exílio uma antecâmara do céu. E à semelhança da revolta celeste, grande parte dos homens virou as costas para Jesus Cristo e a Igreja, seu corpo místico, para cavar a própria tumba.


            Como maus mercadores, os homens caminham hoje perdidos e desamparados nas trevas cada vez mais densas,  entregues à sua própria sorte. E Deus se ri deles. Vejamos. Acabamos de assistir estarrecidos à aprovação do aborto na vizinha e católica Argentina. Mais ao longe, no Extremo Oriente, a Coreia do Sul repetiu a medida, enquanto as autoridades mundiais fingem querer salvar vidas durante a pandemia que grassa. 

            Parece que a História se repete, pois enquanto reis iam adorar o Menino Jesus em Belém, o sanguinário Herodes procurava um meio de matá-Lo, e para tal promoveu a matança dos inocentes. Aqui e agora, o estado laico introduz o assassinato de crianças no ventre materno. Será que o justo Deus, Senhor dos Exércitos, assistirá a tudo isso sem fazer justiça? Oportunamente tratarei deste particular.

            Acalentados pelas promessas de Nosso Senhor, sobretudo assistidos por graças muito particulares, fiéis do mundo inteiro que seguem os ditames perenes da única e verdadeira Igreja de Deus vêm manifestando uma fé cheia de esperança quanto ao futuro da Santa Igreja.

            Ademais, iluminados pela luz do Espírito Santo, conseguem discernir bem o joio do trigo, o que lhes permite fazer apostolado em âmbito mundial por meio da comunhão dos santos, e também pela facilidade e rapidez das comunicações em nossos dias. As mensagens de Nossa Senhora crescem aos nossos olhos. Em Fátima, por exemplo, nos foi assegurado o triunfo do Imaculado Coração de Maria.

            Num ímpeto de entusiasmo, São Luís Maria Grignion de Montfort perpassa o tempo e o espaço quando prevê os acontecimentos em nossos dias:

            “Vossa divina fé é transgredida; vosso evangelho é desprezado; abandonada vossa religião; torrente de iniquidade inunda toda a terra, e arrasta até os vossos servos; a terra toda está desolada. A desolação das desolações cobriu a terra inteira; a impiedade está sobre um trono; vosso santuário é profanado e a abominação entrou no lugar santo.”

    E prossegue: “Tornar-se-á tudo, afinal, como Sodoma e Gomorra? Calar-vos-eis sempre? E nós, grande Deus! Embora haja tanta glória e tanto lucro, tanta doçura e tanta vantagem em Vos servir, quem tomará vosso partido? Quase nenhum soldado se alistará em vossas fileiras? Quase nenhum São Miguel clamará, no meio de seus irmãos, cheio de zelo pela vossa glória: Quis ut Deus?”

            Sejamos ardorosos em lutar pela glória de Deus, elevando os nossos corações e os nossos olhos a Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa, e roguemos a Ela, que é plena de prerrogativas, uma das quais é a onipotência suplicante, ou seja, tudo o que Ela pede a Deus é obtido, que nos conceda a graça de sermos guardiões zelosos da Santa Igreja de Deus e de sua santa doutrina, hoje tão conspurcadas.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

 

Jesus Cristo no Presépio e  no Sacrário

 

*Padre David Francisquini

 

            Cristo foi envolto em panos e reclinado numa manjedoura forrada com palhas, que se
tornaram ornamentos do desejado das nações, do Menino-Rei cheio de aromas e de encanto que acaba de nascer numa gruta em Belém.

            Um anjo do Céu anunciou a grande notícia para alegria dos pastores e regozijo de toda a corte celeste. Seu anúncio ecoou em todos os lares de aldeias, cidades e campinas, até no mais humilde casebre, pois Cristo nasceu como Salvador e Rei de todos os povos.

            O júbilo impera nos corações com as palavras proclamadas pelo Anjo: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade. A gruta nos faz lembrar o sacrário, pois como nela se encontrava o Deus vivo e verdadeiro, assim Ele quis ficar nos sacrários de todas as igrejas sob a forma da Hóstia consagrada.

            Jesus quis nascer numa manjedoura onde comiam os animais para compreendermos que Ele não nascera apenas como Salvador, mas também como nosso alimento. A representação de Jesus Cristo na História está posta diante de nossos olhos no Santo Presépio de Belém, enquanto no sacrário está representada como objeto de nossa fé, pois Ele vive conosco, pronto para nos receber e alimentar.

            Ao ser consagrado no altar durante a Santa Missa, o pão se transforma em corpo, sangue, alma e divindade do próprio Cristo que nos é dado como alimento, permanecendo conosco nesse peregrinar pela terra. O altar é o presépio em que Cristo está de braços abertos para nos saciar com sua carne divina e seu sangue precioso, pois Ele é o nosso celeste pelicano.

          
 
Como Pai, pensa nos filhos mais que em Si, não mede sacrifício algum que possa beneficiar os filhos, pois lhes quer todo o bem. No altar do Sacrifício é o próprio Jesus Cristo que se imola dia e noite de braços abertos para não nos deixar desamparados nessa peregrinação. A fé nos ensina que o Divino Redentor que nasceu Menino está vivo no sacrário.

            A pequenez das crianças constitui grande atrativo para os nossos corações. Imaginemos Aquele mesmo a Quem os céus não puderam conter, exatamente por ser imenso e infinito, apresentar-se a nós como uma criança pequenina e frágil, para ter certa proporcionalidade conosco e assim Se fazer mais próximo de nós.

            Guiados por essa mesma Fé, o gemido de Jesus Cristo no desconforto físico daquela noite fria e das asperezas das palhas da manjedoura de Belém nos conduz a pensar no mais alto dos panoramas, ou seja, a contemplá-Lo e adorá-Lo. Da mesma forma deveremos fazê-lo sob as espécies eucarísticas.

            Essa criança plena de inocência e pureza, por ser Filho do Padre Eterno e de Maria Santíssima, bendita entre todas as mulheres, quis Se tornar homem e Deus para resgatar a humanidade do pecado de nossos primeiros pais por sua vida, paixão e morte. Ele mesmo quis ficar envolto nos véus eucarísticos, ao alcance de todos nós.

            O Infante Jesus, segunda Pessoa da Santíssima Trindade, encarnou-se no seio puríssimo de Maria para nos salvar com sua morte no madeiro da Cruz. Daí a nossa confiança n’Ele, pois veio para reinar nos corações, concedendo-nos graças nas trilhas do heroísmo e da luta. A fé nos guia na trajetória da vida presente para a futura. O Natal é o marco da História, cheio de esperança e certeza.

            O mundo pagão se desfez com o nascimento de Cristo para dar lugar a uma era cheia de luz que iluminou o mundo, a civilização e a cultura cristãs. Hoje, com o novo paganismo, vivemos o mesmo pesadelo de outrora, se não pior, quando o mundo se debatia e se contorcia sem esperança.

            Nos estertores dessa civilização agonizante, com todos os problemas que a afligem, é o mesmo Jesus Cristo e sua Mãe Santíssima que batem nas portas de nossos corações. Por que Maria, a Mãe admirável de Deus Filho? Porque tendo sido Ela quem nos trouxe Jesus, também será Ela quem O fará reinar sobre toda a Terra.

           Aquela mesma que ofereceu a Jesus o seu sangue virginal pelo seu coração materno, tornando-se o sacrário da divindade, a arca da aliança, será Ela quem fará Jesus reinar sobre as nações e os povos. Não podemos encontrar Jesus sem Maria e nem Maria sem Jesus.

            Se o laço que une um ao outro é tão íntimo, a história da salvação não está desligada deles. As virtudes trazidas por Jesus na gruta de Belém serão disseminadas por todos os cantos do orbe por Maria, quando Ela passar a reinar nos corações.

            Sendo Ela o elo entre Deus e os homens, será Ela quem ligará a Terra a Deus. Que neste Natal envolto em borrascas que nos enche de apreensões, ilumine-se em nós uma lâmpada inextinguível, uma confiança plena de que Cristo reinará no mundo por meio de Maria.

sábado, 24 de outubro de 2020

 

O mal não prevalecerá

*Pe. David Francisquini


Enquanto o STF revoga a prisão de uma enfermeira acusada de realizar centenas de abortos clandestinos, condena o Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz que impediu, via judicial, um só aborto.

A enfermeira encontra-se livre por força de liminar concedida pelo relator do caso no STF, Marco Aurélio Melo, por ter um filho portador de transtorno de espectro autista, dependente de seus cuidados. Para o ministro, a prisão que já durava nove meses excedeu o prazo razoável, pois foi presa em flagrante no ano passado, num hotel, em Belo Horizonte, quando se preparava para praticar ali mais um aborto clandestino. 

Em sua sentença, o ministro Barroso afirmou que a criminalização do aborto viola os direitos fundamentais das mulheres pobres, já que elas não podem ter acesso às clínicas de luxo... Por sua vez, Rosa Weber alegou que sendo a sociedade machista, não valoriza e nem reconhece os direitos reprodutivos da mulher... Alexandre de Moraes sentenciou que a soltura da enfermeira para cuidar de um filho menor ressalta que o distanciamento dos fatos a impedirá de atitudes criminosas. (Jornal online: Conexão política, Publicado por Marcos Rocha. Acesso em 17/10/2020).

Já o caso do referido sacerdote, por ter impedido a realização de um aborto, foi condenado a pagar uma indenização de quase R$ 400 mil por ‘danos morais’ causados aos pais que queriam abortar o filho. Antes, no STJ, a ministra Nancy Andrighi, que se declara católica, na sua sentença afirma que o sacerdote teria abusado de seus direitos ao pedir liminar para que a realização do aborto não fosse levada a cabo.

 Enquanto nos é negada a liberdade de ir e vir a propósito da epidemia, de trabalhar, de frequentar a igreja, de impedir que cada qual procure resolver o seu problema de saúde, a magistrada -- para condenar o padre – discorre sobre a liberdade que a pessoa tem para proceder um aborto a fim de evitar traumas.

Tal liberdade, aliás muito particular de se fazer aborto, vem sendo imposta pela agenda esquerdista de todos os naipes ao fornecer os instrumentos legais para o judiciário, sob pretextos diversos, como no caso em pauta, de evitar traumas para a mãe. Contudo, um ponto importante é omitido nessa trama, pois o aborto pode ocasionar traumas ainda maiores como desequilíbrios psíquicos, loucuras, depressões, podendo chegar até mesmo ao suicídio pelo problema de consciência causado, pois está inscrito no coração da mãe a proibição de matar o próprio filho. 

O carinho e o afeto maternos são proibidos de ter a sua livre expansão no coração de uma jovem mãe que pede proteção, evitando usar de crueldade. Abusar dessa liberdade é um ato cruel. A Ministra sentenciou que o padre "buscou ao menos por via estatal a imposição de seus conceitos e valores a terceiros, retirando deles a mesma liberdade de ação que vigorosamente defende para si”.

Afirmou ainda que o sacerdote violou a liberdade do casal para fazer prevalecer a sua "posição particular", tendo pois agredido a honra da família ao denominar a atitude tomada por eles de "assassinato", além de ter agido de forma temerária ao impor a eles "sentimento inócuo". A criança a ser abortada, segundo os médicos, não teria condições de sobreviver após o nascimento. O que de fato sucedeu.

Salta aos olhos que a nossa legislação não está sendo feita para favorecer a vida, mas para implantar a cultura da morte. A propósito, levanto algumas questões. Qual a relação entre a interrupção do curso normal de uma criança que virá à luz do mundo com o poder das trevas e o obscurantismo? Já estaríamos na época das trevas? Haveria ainda uma relação entre aborto e drogas, homicídios, amor livre, libertinagem, eutanásia, liberdade dos traficantes?

            Esta sentença que caiu sobre o Padre Luiz Lodi é um fato inédito no Brasil, por isso não deixa de ser para os defensores do aborto uma ocasião a ser comemorada. Do ponto de vista judicial, tal medida tem um papel preponderante de inibir a voz da Igreja em questões morais e religiosas, pois ninguém se atreverá a impedir o avanço da agenda pró-aborto, mesmo via judicial, como fez esse zeloso sacerdote.

Pelo que eu saiba, nunca ocorrera na América Latina repercussão tão grave no edifício multissecular do Mandamento da Lei de Deus, ancorado na lei natural, que proíbe matar, principalmente em se tratando de um inocente e indefeso no ventre materno.

Talvez nem todo leitor saiba da existência de entidades que ajudam mulheres entrarem na justiça para receber danos morais reais ou pretensos. Uma delas é o "Fundo Vivas", que presta auxílio financeiro, por meio de doações a essas mulheres e que tem também como objetivo arrecadar dinheiro para auxiliá-las em situações similares.

Seus dirigentes partem do princípio de que não se pode defender o nascituro, mas sim os que livremente procederam a geração de uma criança, isso acima de qualquer princípio moral e ético. Os responsáveis pelo filho em gestação têm o direito de matá-lo, pois um nascimento indesejado iria atrapalhar suas vidas despreocupadas e indiferentes a Deus. Imaginam eles que a liberdade consiste apenas em gozar a vida e ser feliz.

Para eles, o papel do Estado moderno é fazer leis pelas quais cada indivíduo possa afirmar que ‘na minha vida quem manda sou eu’, e ai de quem discordar, poderá de ser punido! A isso eu dou o nome de ditadura do hedonismo, pois a liberdade é para se fazer o bem, e não o que cada um quiser. Há advogados que afirmam que a interrupção da gravidez é um direito da gestante e opção do casal, do qual se pode fazer uso, sem persecução penal posterior e até mesmo sem a interferência de terceiros.

            Fatos como esse, poderão abrir precedentes para qualquer pessoa que queira se utilizar de meios legais para o planejamento e a execução do crime de assassinato da vida intrauterina, pois terão a garantia da impunidade. Isso representa de fato um enorme rompimento na história do cumprimento às Leis de Deus, pois é o homem querendo se sobrepor a Deus!


Com certeza atrairá sobre si e sobre nossa nação terríveis castigos. Vozes como a do Padre Luiz Lodi precisam ser ouvidas e apoiadas. Não é permitido que o mal e o erro triunfem sobre a verdade e a virtude! Aqui poderemos parafrasear David dizendo a Saul que não quis estender a sua mão contra ele, pois queria conservar a sua mão sem mancha, sem nenhuma iniquidade, para não pecar contra o ungido do Senhor, mesmo quando Saul o procurava para matar.

Os abortistas não sossegam, não dão tréguas contra a vida do inocente: dos ímpios sairá a impiedade; as mãos dos abortistas estão carregadas de sangue contra as crianças inocentes, clamando a Deus por vingança. Que sangue delas caia sobre eles e suas gerações, e não sossegue um instante a consciência e lembrança de tão hediondo e pecaminoso ato.

terça-feira, 15 de setembro de 2020


“Quem vos ouve, a mim me ouve”

Padre David Francisquini*


Um estupro seguido de aborto provocado em uma criança de 10 anos vem pronto e emoldurado para chocar a opinião pública. Se por um lado o fato é chocante e odioso, de outro foi entregue na bandeja aos despiedados abortistas para que façam avançar a sua agenda sanguinária.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, classifica de “ilegal” e “absurda” a Portaria do Ministério da Saúde, editada recentemente, segundo a qual alterar as normas da realização do ‘aborto legal’ nos casos de estupro é incompreensível.
O referido dispositivo governamental do dia 28 de agosto último determina que a equipe médica seja obrigada a notificar à polícia os casos de acolhimentos com indícios ou confirmação do crime de estupro e que seja oferecida à vítima visualização do feto por meio de ultrassonografia [foto acima].
Maia afirma que tal medida interfere na legislação sobre o aborto por estupro ou por anencefalia. Mais. A legislação brasileira permite o aborto além desses casos, ainda quando a mãe corre risco de morte. Ele exige que o governo revogue a Portaria, pois, caso contrário, diz ter votos suficientes contra a medida, ou ainda, recorrerá ao STF.
A decisão do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, foi tomada em meio à repercussão do caso da menina que se engravidou de um tio monstruoso. Sobre a questão, cingiremos ao que recomenda os livros inspirados, aos quais devemos obedecer. Declarações como a de Maia não passam de uma perversidade. Como matar uma criança inocente e indefesa no ventre materno?
O Senhor dá o castigo a quem faz o mal segundo a sua malícia. O sangue do inocente cai sobre sua cabeça e sobre essa casa e sobre a sua descendência por semelhante ato. O Rei Davi diz a Joab, após este matar traiçoeiramente Abner, que não falte na casa dele quem padeça de blenorragia, quem seja leproso, quem pegue no bordão, quem seja morto a espada e quem esteja privado de pão.
Forte? Quem pratica ato tão ignominioso atrai sobre si e sobre os seus os castigos de Deus, pois se trata de um pecado que brada a Deus por vingança. Ele, por ser autor da Lei Maior, é infinitamente mais rigoroso em relação aos infratores dela — como os que atentam contra um inocente no ventre materno, santuário tão violado hoje por quem deveria defendê-lo.
Como um assassino desses poderá ter paz de consciência? A Escritura Sagrada traz preciosas e indispensáveis lições para a vida. Diante da desobediência de Saul às ordens de Deus, Samuel afirmou que vale muito mais a obediência às ordens divinas do que oferecer vítimas e sacrifícios. A desobediência é como o pecado de magia, não se submeter à Lei de Deus é como o crime de idolatria.
Não existem leis humanas capazes de revogar as leis divinas. Se Deus determinou que não é lícito derramar o sangue inocente, por constituir um grave pecado, não há autoridade na Terra que possa obrigar alguém a fazer o mal, pois vale mais obedecer a Deus do que aos homens.
Samuel foi firme diante de um rei que não teve escrúpulo em transgredir a ordem do Senhor e as suas palavras. Ele não aceitou justificativas nem explicações, pois a palavra do Senhor é sagrada. Honra o Senhor e O adora por meio da obediência às suas determinações e às suas leis.
Qual o crime que uma criança inocente poderia ter cometido no ventre materno para ser ali trucidada? Como a iniquidade de um ato jamais se expia com vítimas nem oferendas, a mão do Senhor descarrega pesadamente sobre quem a praticou e pratica.
“Raças de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que vos ameaça? Fazei, portanto, os frutos dignos de penitência, e não comeceis a dizer: ‘Temos Abraão por pai’, porque eu vos digo que Deus é poderoso para suscitar dessas pedras filhos de Abraão.
“O machado já está posto à raiz das árvores. E toda árvore que não der fruto bom será cortada e lançada ao fogo”. (Lc 3, 9) Não façais violência a ninguém, nem denuncieis falsamente e contenteis com os vossos soldos. Lc 3, 7-14) “Digo-vos: naqueles dias haverá um tratamento menos rigoroso para Sodoma. Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida!
“Porque, se em Tiro e Sidônia tivessem sido feitos os prodígios que foram realizados em vosso meio, há muito tempo teriam feito penitência, cobrindo-se de saco e cinza. Por isso, haverá no dia do juízo menos rigor para Tiro e Sidônia do que para vós.
“E tu, Cafarnaum, que te elevas até o céu, serás precipitada até aos infernos. Quem vos ouve a mim ouve; e quem vos rejeita a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou” (Lc 10, 12-16).

* Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira (RJ).

sábado, 1 de agosto de 2020

Melhor fora que não tivesse nascido

Pe. David Francisquini

 


Ninguém põe em dúvida os enormes sofrimentos que São Paulo Apóstolo padeceu para levar a boa nova do Evangelho aos gentios por toda a região do Mediterrâneo. Assistido pelo Espírito Santo, ele alimentou a fé, esperança e caridade não somente dos prosélitos de seu tempo, mas também de todos os homens dos séculos futuros. É dele a exortação de que “a Escritura divinamente inspirada é útil para ensinar, para repreender, para corrigir, para formar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, apto para toda boa obra” (II Tm 3, 16).

Nessa mesma epístola São Paulo fala sobre um seu discípulo de nome Alexandre, o Latoeiro, que diante dos sofrimentos e perseguições movidos pelo Imperador Nero, o abandonou nas vias do bom combate para se tornar seu perseguidor. E mais tarde, em Roma, ainda tentou interferir no julgamento de seu antigo mestre, causando-lhe muitos males e dores. Seguindo os ensinamentos de Nosso Senhor, São Paulo não deixou de repreender o seu antigo prosélito Alexandre ao informar a Timóteo de que este latoeiro pagaria no Senhor por aqueles malefícios.

Na existência dos grandes homens, quantos são aqueles que não cumprem com o dever de justiça negando-lhes reconhecimento e ajuda; quantos iniciam essa via épica com entusiasmo, mas não perseveram por acharem demasiadamente pesada a cruz que lhes pesa sobre os ombros; quantos desses não se contentam apenas em abandonar a obra começada, mas passam a prejudicar e a perseguir aqueles que quiseram lhes fazer o bem, chamando-os para as vias do heroísmo e da santidade. O grande exemplo da História foi o de Judas Iscariotes…

Quantos Latoeiros passaram pelos caminhos de profetas, de monarcas, de guerreiros, de desbravadores e de santos! Se isso acontece em relação aos homens, ocorre igualmente com instituições como a Santa Igreja Católica e o Estado, como a História vem registrando. Tomemos o Brasil. Ninguém de boa-fé pode negar a sua grande vocação no concerto das nações, agora e para os séculos vindouros. Ao lado de muito bons brasileiros que perseguem e lutam por este ideal, quantas traições e tramas para pôr em xeque os destinos do País! Com certeza, eles também pagarão no Senhor não apenas pelo que deixaram de fazer, mas principalmente pelos malefícios causados.

Na atual quadra em que o Brasil se encontra — ainda padecendo as consequências de décadas de governos esquerdistas que se empenharam em desviá-lo de sua providencial missão, agravadas pelos males da pandemia chinesa e pela instrumentalização inescrupulosa que numerosos políticos vêm fazendo dela —, quanta indiferença, quantos não cumprem sua obrigação de filhos, quantos começam e abandonam o seu dever e, o mais infamante, quantos tramam e lutam para prejudicá-lo! Uma coisa é certa: todos pagarão junto a Deus pelo mal que promovem ou pelo bem que omitem de fazer pelo País nas vias de uma civilização cristã.

É ainda São Paulo o nosso ponto de referência, pois na sua primeira defesa ante o Tribunal Romano, todos os que teriam podido defendê-lo não o fizeram. E não ficou apenas aí. Aparece o latoeiro Alexandre para difamá-lo e acusá-lo junto àquele tribunal pagão. Guardando as devidas proporções, o Brasil se encontra numa situação semelhante, pois dentre os brasileiros que deveriam se levantar numa só voz para defendê-lo, vemos, pelo contrário, os que o perseguem buscando quebrar a moralidade nas famílias, destruir a Fé e os bons costumes.

Para nos entendermos bem, recordemos o que Josafá, Rei de Judá, disse ao estabelecer Juízes em todas as cidades do reino, recomendando e ordenando as responsabilidades que iriam exercer: “Vede o que fazeis, porque não exerceis a justiça do homem, mas sim a do Senhor; tudo o que julgardes, recairá sobre vós. O temor do Senhor esteja convosco. Fazei todas as coisas com diligência, porque no Senhor nosso Deus não há iniquidade, nem acepção de pessoas, nem cobiça de dádivas”.

Excelente conselho que nos dá o Rei de Judá no encaminhamento das causas judiciais. O Catecismo Romano da Igreja Católica alerta sobre a ideologia totalitária que defende um critério objetivo sem referência do bem e do mal, expondo assim a salvação das almas. Ressalta ainda que a missão da Igreja ao respeitar a ordem política tem como objetivo defender os direitos fundamentais do homem e o seu destino eterno. Não havendo justiça, como se cumprirá o que determina a vontade de Deus? Como haverá ordem e harmonia nas classes sociais sem a observância do ordenamento jurídico?

A Lei natural é a reta razão gravada nos corações das pessoas, que tendem a rejeitar o mal e operar o bem. Deus, ao criar o homem, criou-o para um fim supremo, eterno. Gravou em seu coração leis que se aplicam a todos os povos, em todos os lugares e em todas as épocas; leis que determinam e estabelecem a regra da justiça, ao dar a cada qual o que lhe pertence. É um direito inalienável, estabelecido pelo próprio Deus. E ai daquele que não julgar com os critérios da moral eterna! Talvez se pudesse dizer dele o que São Mateus escreveu sobre Judas: melhor fora que não tivesse nascido.