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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Façam soar as trombetas!



Padre David Francisquini

No Sábado Santo, vigília da Ressurreição, entre outras cerimônias como a bênção do fogo e a solene procissão do Círio, há o cântico solene da proclamação da Páscoa, chamada na linguagem litúrgica de Precônio Pascal.
Todo o ritual se reveste de muita luminosidade. A coluna de fogo, representada pelo Círio Pascal, nos eleva a um patamar tão alto que toca no próprio Deus. A música solene dignifica e exalta a grandeza do divino Rei, que ressuscitado e na plenitude de sua majestade e poder se levanta da sepultura.
A cruz do Círio exalta a Deus como princípio e fim de todas as coisas, dominador da glória e do império, do tempo e dos séculos, pois Cristo ressurgiu dos mortos, glorioso e triunfante, com as cinco chagas representadas pelos cinco grãos de incenso. Chagas gloriosas que brilham como sóis a colocar em fuga as trevas deste mundo.
Nesse contexto, a voz solene do cantor entoa o Exultet, hino cheio de grandeza e majestade, que se prorrompe em júbilo, convidando as miríades de anjos do céu a exultar de alegria e celebrar com o clangor de suas trombetas os divinos mistérios da vitória de tão grande Rei:
“Exulte o céu, e os anjos triunfantes,

Mensageiros de Deus desçam cantando.
Façam soar trombetas fulgurantes,
A vitória de um Rei anunciando.” [...]


Após ter celebrado e acompanhado as cerimônias tristes, mas belas e ricas de significado da Semana Santa, a Terra inteira se vê iluminada pelos raios que o Rei ressuscitado esparge sobre as almas regeneradas pela ação da graça.
Cristo morre pelos pecados do mundo e ressuscita para manifestar e provar que é o rei da vida e da morte. Ele se debate num duelo persistente e aguerrido, levantando-se da sepultura como rei imortal, glorioso e impassível, triunfador da morte, do pecado e do demônio.
Enquanto de um lado o cantor exalta a grandeza do Rei, de outro ele implora para que o povo fiel obtenha um raio de misericórdia e bondade, para que possa humildemente cantar, louvar e bendizer a Jesus Cristo. Com o afeto do espírito, o canto prossegue, louvando a Deus e ao seu Filho Unigênito, que se dignou vir até a Terra para redimir com o seu precioso sangue a culpa de Adão.
Como outrora os filhos de Israel foram libertados do Egito cruzando a pé enxuto o Mar Vermelho, Cristo dissipou as trevas do paganismo com o fulgor de seus exemplos, de sua doutrina e de seus milagres. E nessa noite verdadeiramente santa de sua Ressurreição, o mundo inteiro foi arrebatado, vendo-se livre dos vícios e das trevas do pecado.
Que aproveitaria ao homem ter nascido se não tivesse sido resgatado? – pergunta o hino, que exclama o excesso do amor de Deus em relação aos homens, ao conceder-lhes tão grande Redentor para redimi-los de sua culpa. Exalta ainda a noite sagrada e ditosa, a única em conhecer o tempo e a hora em que Cristo ressurgiu dos mortos, saindo vitorioso do santo sepulcro.
Para reconhecer ainda mais a majestade dessa noite, canta-se cheio de júbilo: “E a noite será clara como o dia; e a noite será luminosa para me alumiar em minhas delícias.” A melodia recorda a santidade da noite que afugenta os crimes, lava as ofensas, restitui aos culpados a inocência e dá alegria aos tristes; extingue os ódios, restabelece a concórdia e submete os impérios a Deus.
Tenhamos presente que o sacrifício do Homem-Deus, renovado diariamente no altar como uma coluna de fogo acesa pelas mãos de seus ministros, não sofre nenhuma diminuição; pelo contrário, ele comunica a sua luz, porquanto o alimenta a cera que a abelha produziu para compor esse precioso facho.
A referida luminosidade ressalta a excelsitude de tão grandioso Rei, que ressuscitado veio trazer a luz da fé e o facho ardente do fogo do divino amor para fazê-los arder no coração dos homens e elevá-los à dignidade de filhos de Deus por adoção e participação.
Ao despojar os egípcios e enriquecer os hebreus, quer a Igreja significar que sendo Nosso Senhor Deus por natureza, quis tornar-se homem, enriquecer-nos dos dons celestes, quebrar os aguilhões da morte e arrebatar das mãos dos maus o timão da História pela instituição da Igreja como coluna e fundamento da salvação.


domingo, 17 de abril de 2011

Fonte de água viva


                                                                                     *Pe. David Francisquini


O tempo da Paixão compreende as duas últimas semanas depois da Quaresma propriamente dita. Ele visa preparar as almas, através de textos que a Igreja sabiamente vai colocando ao alcance dos fiéis, para o grande dia no qual Jesus Cristo instituiu o sacerdócio católico e a Eucaristia como sacramento e como sacrifício.
Antes mesmo de derramar o seu Sangue, Jesus Cristo se reuniu com os Apóstolos para a celebração da Última Ceia. Nesse memorável dia, o Divino Salvador celebrara o Santo Sacrifício da Missa, prefigura do santo sacrifício da Cruz e, ao mesmo tempo, sua misteriosa e mística renovação através das missas que se perpetuariam na Terra por todos os séculos dos séculos.
No dia seguinte Ele seria açoitado, coroado de espinhos e condenado à morte na Cruz, obrigado a conduzir às costas o madeiro até o alto do Calvário onde seria crucificado para a Redenção do gênero humano. Seus sofrimentos foram de um valor infinito. Com efeito, todos esses tesouros traduzidos em méritos advindos da Paixão constituem uma importância inapreciável.
Apenas um trecho das Sagradas Escrituras seria suficiente para explicar a grandeza e a sublimidade dos méritos do Nosso Divino Mestre: “Todo aquele que bebe dessa água terá ainda sede, porém, aquele que beber da água que eu lhe der não mais terá sede, porque a água que eu lhe der, nele transformar-se-á em fonte de água viva, que brotará até a eternidade” (Jo IV, 13-14).
Olhando para Nosso Senhor na Cruz, vêm-nos ao espírito as dádivas e os dons da graça divina, bem como a elevação da natureza ao estado sobrenatural. Há, realmente, um novo renascimento pela água e pelo espírito, que o Batismo nos infunde, a tal ponto que nos tornamos templos do Espírito Santo ou templos da Santíssima Trindade.
Ao morrer na Cruz, Cristo derrotou o mundo, o demônio e a nossa carne corrompida. O instrumento do deicídio tornou-se a chave para a eternidade: “A hora virá, porém, ou já veio, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, tais são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito; e os que O adoram em espírito e em verdade O devem adorar” (Jo, IV, 23 e sg).
Tais palavras nos levam a compreender a riqueza do Calvário em relação às almas. Deus nos dá os meios para que sejamos cristãos, isto é, de nos tornarmos filhos d’Ele, e, portanto, herdeiros do Céu. Assim como nas videiras os sarmentos produzem frutos bons, saborosos, de um perfume agradável e delicioso, assim também ficamos enxertados em Jesus Cristo e produzimos frutos que jorram para a vida eterna.
Para entendermos bem o que é a vida sobrenatural que Nosso Senhor veio infundir em nós, ocorre-me uma analogia. Tomemos uma lâmpada convencional. Com sua natureza física e química, ao ser atingido por uma corrente elétrica, o tungstênio faz acender a lâmpada que esparge luz para todos os lados, afastando assim as trevas.
O mesmo se dá com o homem que tem sua natureza decaída em razão do pecado original: ao receber a graça divina, fruto da Redenção, ele se eleva ao estado sobrenatural, passando a brilhar em sua alma o esplender divino. A graça o eleva e diviniza, sem que ele perca sua natureza humana.
Assim como o ferro posto ao fogo fica incandescente e se confunde com o próprio fogo, o fogo divino da graça e os dons do Espírito Santo enobrecem e elevam a uma tal grandeza homem, que este se torna filho de Deus e não Sua mera criatura. Eis aí o papel da Redenção, que pela graça nos tornou partícipes da natureza divina.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Pertencer à Igreja (final)



*Pe. David Francisquini

 
Tratamos em dois artigos anteriores (Pertencer à Igreja I e II) sobre os fundamentos da Igreja Católica lançados por Jesus Cristo ao iniciar a sua vida pública. Reunindo seus discípulos, escolhendo os 12 Apóstolos e pregando o Reino de Deus na terra, ao ser elevado na Cruz, Ele atraiu a Si todos os que seguiriam seus ensinamentos e seriam batizados.
A promulgação se deu no dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo pairou sobre os Apóstolos reunidos com Maria Santíssima no Cenáculo. São João Crisóstomo diz que os Apóstolos saíram de lá não com as tábuas de pedra como o fez Moisés, mas trazendo consigo o Espírito Santo e comunicando-O aos outros como um grande tesouro de verdades e de graças.
Nesse dia converteram-se três mil pessoas, recebendo o batismo pela pregação de São Pedro. O grande Santo Agostinho ensinou a doutrina de nossa incorporação ao Corpo Místico de Cristo – que é a Igreja – através do batismo, meio indispensável tanto para a salvação como para pertencer à Igreja.
Jesus Cristo fundou uma só Igreja para todos os homens em todos os tempos – um só Deus, um só Batismo, os mesmos sacramentos e os mesmos Mandamentos, em todos os lugares e em todos os tempos. A veracidade da Igreja se conhece por ser Una, Santa, Católica e Apostólica. Essas quatro prerrogativas só se encontram na Igreja que tem por chefe o Bispo de Roma, por isso também ela é chamada Romana. São Paulo chama a Igreja de “coluna e fundamento da verdade”, (I. Tim. 3, 15).
Só a Igreja Católica é indispensável para a salvação, porque é o meio instituído por Jesus Cristo, sem o qual não se pode alcançar a vida eterna. Abandoná-la é uma apostasia, e rompe com Jesus Cristo quem rompe com a Igreja. Nosso Senhor ensina numa de suas parábolas que quem rompe com a vide, seus galhos secam e são lançados ao fogo; portanto, perde a fé e está no caminho da perdição eterna.
Por isso devemos pedir a Deus e à Santíssima Virgem Maria, ao nosso Anjo da Guarda e ao anjo da guarda da Santa Igreja, São Miguel Arcanjo, para que não permitam que resvalemos na Fé e nos afastemos da Igreja, porque só Ela tem, como Corpo Místico de Cristo, palavras de vida eterna.
Alguém poderia perguntar: – Qual é o papel do sacerdote na Igreja? – Ninguém possui meios tão excelentes quanto eficazes para a santificação do que um padre vivendo numa paróquia, rezando diariamente o Ofício divino, celebrando o santo sacrifício da Missa, administrando os sacramentos, atendendo os moribundos, instruindo as crianças, aconselhando e dirigindo os jovens, harmonizando e educando as famílias. Mas será assunto para outra matéria.