Postagem em destaque

  Peçamos a coragem de dizer “não” Pe. David Francisquini Pilatos, o governador romano que cometeu o crime mais monstruoso de toda a His...

Postagens mais visitadas

terça-feira, 12 de julho de 2011

Das trevas do paganismo ao seio da Igreja (II)
                                                                                                                                            *Pe. David Francisquini


Em recente artigo fizemos a introdução sobre o papel santificador dos sacramentos e dos sacramentais. Hoje comentaremos as cerimônias da bênção da água batismal, ela mesma um sacramental. Todos os que recebem o santo batismo fazem uso dessa água para se tornarem novos cristãos e membros da Igreja.


Benção da Água Batismal
 Ao benzer a água batismal, o sacerdote louva e agradece a Deus pelo fato de operar maravilhas através dos sacramentos. E lembra que no princípio do mundo o Espírito Santo pairava sobre as águas, comunicando-lhes força e vida, a fim de que esse elemento, tão importante para o homem, fosse meio de virtude e santificação para ele. Outra recordação digna de nota que faz o sacerdote se refere ao mundo corrompido pelo pecado e pelas desordens humanas, e punido pelo dilúvio que simbolicamente terminou com os vícios e o pecado pela regeneração das almas.
Ele suplica que o Senhor de todas as coisas ponha os seus olhos misericordiosos e complacentes sobre sua Igreja, multiplicando o número de seus filhos.
Como manifestação de suas graças, Deus cumula de alegria a Santa Igreja, abrindo-lhe a fonte inesgotável das águas batismais, a fim de que todos os que se aproximarem dela entrem no comércio com Ele e participem como filhos de seus inestimáveis tesouros. É pelo poder do Espírito Santo que a água destinada a regenerar os portadores da culpa original é fecundada.
O sacerdote implora ainda ao Espírito Celeste para transmitir virtude santificadora à água batismal, tornando-a instrumento de concepção de vida nova, de tal maneira que, por efeito dela, a alma fique livre de todos os malefícios do inimigo infernal.
Tocando a água, o eclesiástico pede a Deus para torná-la santa e inocente qual fonte viva. E abençoando-a em nome do Deus vivo, do Deus verdadeiro, do Deus Santo, do Deus que no princípio do mundo separou a água da terra, lembrando mais uma vez que o Espírito pairava sobre ela.
Toma então ele com a mão uma porção da água e a lança na direção dos quatro pontos cardeais da Terra. Ele lembra assim o que Deus realizou no paraíso terrestre, ao fazer brotar uma fonte que se dividiu em quatro rios, irrigando a Terra inteira.
Esse manancial é o coração de Jesus ferido pela lança cruel que jorrou água e sangue, difundindo seus méritos para os quatro cantos da Terra.
Ao infundir na alma a vida sobrenatural – verdadeiro manancial que jorra para a vida eterna – brota dessa fonte um paraíso com quatro rios, que são as quatro virtudes cardeais que enobrecem e enriquecem a alma humana regulando todos os seus atos. São elas: a prudência, a justiça, a temperança e a fortaleza.
Como não posso extrapolar dos limites costumeiros, limito-me a relacionar algumas outras evocações do cerimonial: a transformação da água em vinho nas Bodas de Caná; o batizado do próprio Cristo nas águas do Jordão; a água que jorrou de seu divino lado ao ser perfurado pela lança de Longino e sua ordem aos discípulos para que conferissem o batismo àqueles que abraçassem a fé católica.

domingo, 3 de julho de 2011

Das trevas do paganismo ao seio da Igreja

                                                                                       *Pe. David Francisquini

Ao nos ensinar sobre a vida da graça – que é a amizade entre o homem e Deus – e nossa filiação adotiva, Nosso Senhor Jesus Cristo afirmou: Quem não renascer pela água e pelo Espírito Santo não entrará no Reino do Céu. [Jo 3,5]. Eis aí o tesouro espiritual do batismo que nos tira das trevas do paganismo e nos coloca no seio da Igreja.
Quem nascer da carne é carne, e quem nascer do espírito é espírito. Portanto, pelo Santo Batismo somos renovados numa ordem superior, ocasião em que Deus infunde em nossas almas as riquezas da vida sobrenatural. Afinal, quem não se deixa encantar com a alegria envolvente de uma cerimônia batismal?
Sobretudo se for uma criança. Ricas ou pobres, as pessoas presentes procuram trajar-se dignamente. Balbuciando notas indecisas nos braços de quem o acalenta, tão frágil e delicado o bebê como que pede proteção e aconchego. Tudo enfim confere ao ritual um aspecto sublime.
Para mais bem realçar a atmosfera de felicidade e de paz que paira durante um batizado, evoco o poeta francês Joséphin Soulary, que no soneto Les deux cortèges – Os dois cortejos – faz uma eloqüente antítese entre um cortejo fúnebre e outro batismal que se encontram numa igreja. Recurso poético sim, mas muito didático.
Enquanto o primeiro é marcado pela tristeza, pois conduz o ataúde de uma criança recém-nascida cuja mãe está sufocada pelos soluços que a acabrunham, o outro é de muita alegria, com a mãe radiante ao estreitar no seus braços o filho todo inteiro com olhar triunfante. Ao deixar o recinto do templo, os olhares das mães se entrecruzam.
Ao concluir o soneto, o poeta realça com grandeza e gravidade a circunstância que inspira oração. A jovem mãe – até o momento esfuziante de alegria – chora ao olhar para o esquife, enquanto a mãe que chorava, sorri para o recém-nascido pela água e pelo Espírito Santo! Com efeito, há uma linguagem que só os poetas falam.
Posta esta introdução que se estendeu além do limite usual, cabe-me explicar a ação santificadora dos sacramentos e dos sacramentais, para em seguida tratar do Batismo. A Igreja como instituição divina utiliza-se da água batismal – a água natural especificamente benta – para conferir o primeiro dos sacramentos.
Apenas em caso de risco de morte pode-se utilizar água natural para que a criança não morra sem receber esse sacramento necessário à salvação. Aliás, é ensinamento da Igreja que os pais que protelam o batismo de seus filhos pecam gravemente, pois não cumprem os deveres impostos pelo matrimônio.
O padre é o ministro oficial do batismo. Em caso de premente necessidade qualquer pessoa pode ministrá-lo, desde que tenha a intenção de fazê-lo, utilizando a fórmula: “Fulano de tal, eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, usando água natural, necessária para comunicar o novo renascimento.
Num próximo artigo pretendemos tratar da água batismal que é benta no Sábado Santo, na vigília pascal ou vigília de Pentecostes. Ou, na falta da água batismal, em outra ocasião abençoa-se com água natural utilizando-se outra fórmula breve. Até lá.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

As Netas de Deus (final)
                                                                     *Pe. David Francisquini

Ninguém de nós duvida da promessa feita por Nosso Senhor, de que permaneceria com a Igreja até a consumação dos séculos e que as portas do inferno não prevaleceriam contra Ela. Com efeito, a assistência do Espírito Santo se difunde em todos os campos da vida da Igreja, que é o próprio Corpo Místico de Cristo.
Como nos ensina Plinio Corrêa de Oliveira, “em suas instituições, em sua universalidade, em sua insuperável catolicidade, a Igreja é um verdadeiro espelho no qual se reflete nosso Divino Salvador”.
Também na sua exterioridade – na arquitetura, na escultura, na pintura, na música etc. – a Igreja deve refletir as perfeições de seu divino Fundador, impregnando com elas as almas dos fiéis. É por isso que as boas obras de arte são uma expressão da Verdade, do Bem e do Belo, cujo absoluto é Deus, e que as obras de arte extravagantes são o contrário disso...
São ainda expressões de Deus – ou Suas “netas”, porque “filhas” dos homens – o som do órgão ou do canto gregoriano, a pintura sacra retratando passagens bíblicas, tudo em harmonia perfeita para nos fazer crescer no amor do Criador e nos preparar para a vida eterna, quando contemplaremos Deus face a face.
Portanto, negar as imagens é negar essa ação e a própria atuação do Espírito Santo. Ele conduz a Igreja a cumprir sua missão aqui na terra. Ademais, elas servem também para assinalar a diferença entre a verdadeira Igreja de Jesus Cristo e as seitas protestantes. Não se trata de idolatria, mas de expressão visível do ensinamento do Divino Espírito Santo.
Romper com isso corresponde romper com a Igreja, una, santa, católica, apostólica, romana. Por isso, São João Damasceno, polemista de renome e de grande cultura teológica, afirma que no Antigo testamento Deus nunca fora representado em imagens, uma porque era incorpóreo e sem rosto.
Contudo – continua o santo oriental –, tendo Deus se encarnado e habitado entre nós, não só podemos, mas devemos representar aquilo que é visível em Deus. Fazendo-o não veneramos a matéria, mas o Criador da matéria. Na verdade, Ele se fez matéria por nossa causa e se dignou habitar na matéria e realizar a nossa salvação através da matéria.
São palavras de São João Damasceno: “Não cessarei de venerar a matéria através da qual chegou a minha salvação. Não a venero de modo algum como Deus! Como poderia ser Deus aquilo que recebeu a existência a partir do não-ser? [...] Mas venero e respeito também a matéria que me propiciou a salvação, enquanto plena de energias e de graças santas”.
Não é por acaso matéria o madeiro da Cruz três vezes santa? E a tinta e o livro santíssimo dos Evangelhos não são igualmente matéria? E o altar da salvação que nos dispensa o pão de vida não é matéria? Não é verdade que a carne e o sangue do Nosso Senhor Jesus Cristo são da mesma forma matérias?
Portanto, não ofenda a matéria. Ela não é desprezível, porque nada do que Deus fez é desprezível (Contra imaginum calumniatores, I, 16, Ed. Kotter, pp. 89-90).

domingo, 29 de maio de 2011

AS “NETAS DE DEUS” (II)



*Pe. David Francisquini


Sempre com fundamento na doutrina católica, damos hoje prosseguimento à matéria sobre a liceidade da veneração de imagens a partir da vinda à Terra do Filho de Deus, encarnando-se no ventre virginal de Maria Santíssima. Segundo São João Damasceno, Aquele que era e é invisível para nós se torna assim visível.
Com efeito, prossegue o Padre oriental da Igreja, uma das grandes figuras do cristianismo, não só da época em que viveu [séc. VII e VIII], mas de todos os tempos: Aquele que é puramente espiritual se torna carne e vive entre nós. É o instrumento que Deus nos deu para nossa redenção e salvação.
Esta nova aliança com o gênero humano Deus a quis selar tornando-se Ele próprio membro integrante desse gênero pela união hipostática.
Cientistas analisaram a mortalha com que Cristo fora envolvido no Santo Sepulcro, conhecida como Santo Sudário de Turim. Nela se encontra portentosamente a figura do divino corpo. As chagas nele impressas são de tal modo visíveis, que escultores puderam talhar em madeira uma reprodução exata de Cristo morto e pregado na cruz.
Numa época como a nossa, adiantada em conhecimento técnico e científico, mas decadente e sem fé, as descobertas no Santo Sudário vieram confirmar tudo aquilo que fora narrado nas Sagradas Letras: Cristo padecendo e morrendo por nós, mostrando ao mundo inteiro que Ele quis nos deixar a sua figura Sagrada impressa naquele tecido.
Ainda na Paixão, o gesto de coragem e dedicação de Verônica ao enxugar o rosto de Cristo foi recompensado com a impressão miraculosa da Santa Face do Salvador na toalha. Todas as relíquias da Paixão - a Santa Cruz, os cravos, a coroa de espinhos - merecem atos de adoração por pertencerem ao Homem-Deus, a segunda pessoa da Santíssima Trindade.
O culto de latria, ou de adoração, é prestado somente a Deus. Aos santos são prestados cultos de dulia, ou seja, culto de veneração, de homenagem feita ao próprio santo por ser amigo de Deus. E o culto que se presta a Virgem Santíssima é o de hiperdulia, pelo fato de ser Ela a mãe de Deus por obra do Espírito Santo.
Lembramos mais uma vez que não existe na Igreja adoração de imagens de santos, da Santíssima Virgem, e nem mesmo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nós católicos as veneramos, as tratamos com respeito, rendemos-lhes as devidas homenagens, porquanto elas nos animam e nos incentivam na fé, na devoção e na piedade.
Se precisarmos falar com um chefe de Estado, o expediente mais simples consiste o mais das vezes em fazê-lo através de um de seus ministros, ou mesmo de um amigo próximo dele, para assim alcançarmos o mais rapidamente possível o almejado.
Analogamente, ao rezarmos diante de uma imagem de determinado santo, nós o focalizamos enquanto amigo e intercessor junto a Deus. No Ritual Romano, a Igreja tem bênçãos especiais para que tais objetos se tornem sagrados.
Deixo mais uma vez a promessa de voltar ainda ao assunto na primeira ocasião.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

AS “NETAS DE DEUS”



                                                                                                                    * Pe. David Francisquini


Assim como se cunham moedas para distinguir e enobrecer personagens ilustres, ou ainda para ressaltar acontecimentos históricos e simbólicos da ordem temporal, com todo o propósito podem-se esculpir ou pintar imagens daqueles que se distinguiram pela virtude e santidade na ordem espiritual.
A filosofia nos ensina que sendo o homem composto de corpo e alma, nenhuma idéia ou imagem chega à sua inteligência sem antes passar pelos sentidos. Com esse pressuposto, a pedagogia católica não encontrou melhor maneira de lembrar e perpetuar a santidade de uma pessoa do que a retratando através de sua pintura ou escultura.
Por exemplo, quanto mais requintada for uma pintura ou escultura representando as três pessoas da Santíssima Trindade tanto maior será a idéia que o homem poderá fazer delas – dentro, evidentemente, do limite da compreensão do incompreensível. E, guardadas todas as abissais proporções, análoga lembrança poder-se-á aplicar também aos justos filhos de Deus.
Como conhecer um justo nesse mundo? – Aquele que segue ou procura seguir estritamente a vontade de Deus. São José, por exemplo, foi qualificado pelas Escrituras como varão justo. Outros personagens se sobressaem de tal modo na prática amorosa da Santa Lei que se tornam amigos íntimos de Deus, luzes reflexas do próprio Deus.
Na sua sabedoria infinita, o Criador enriqueceu a natureza com uma grande variedade de seres, cada qual retratando uma de suas facetas. Isso para que esses seres não apenas atendessem aos divinos desígnios, mas para servirem de constante convite ao homem para se elevarem à Causa das causas e assim conhecê-Lo, amá-Lo e servi-Lo neste mundo.
A pintura e a escultura – “netas de Deus”, na linguagem de Dante Alighieri – são produtos da inteligência do homem que ao enriquecerem com sua beleza os templos sagrados concorrem para o enriquecimento da piedade e da devoção dos fiéis, elevando-os a Nosso Senhor.
Quando moldadas pela piedade e pelo bom espírito, tais obras ficam impregnadas de bênçãos, atuando às vezes por obra do Espírito Santo no íntimo dos corações dos pecadores e movendo-os a mudar de vida.
O próprio Templo de Jerusalém – a Casa de Deus por excelência no Antigo Testamento – era adornado por inspiração divina com uma enorme diversidade de símbolos: palmeiras, a Arca da Aliança, as Tábuas da Lei, a vara de Aarão, os querubins, e tantas outras figuras para lembrar a vinda do futuro Salvador do mundo.
Inclinados infelizmente à idolatria, os hebreus recorriam sempre a esta prática criminosa erigindo e cultuando criaturas em lugar de Deus. Preocupada com a idolatria e mesmo com o panteísmo do povo escolhido, a pedagogia divina no Antigo Testamento tomara todo o cuidado para evitar que as almas fossem influenciadas por tal concepção errônea.
Sendo Deus invisível, absoluto, transcendente, puramente espiritual, dotado de inteligência perfeitíssima e de vontade santíssima, era de certo modo inacessível ao povo hebreu. Daí decorria para eles de um lado a necessidade psicológica de confeccionar imagens, e de outro a proibição de o fazerem, a fim de evitar a idolatria, prática comum no Antigo Testamento.
Com fundamento na doutrina da Santa Igreja e nos seus santos, pretendo no próximo artigo justificar a confecção de imagens a partir da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. Até lá.