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domingo, 16 de fevereiro de 2014

Andai na luz antes que as sombras os surpreendam
 


                *Pe. David Francisquini


                Ao se sujeitar à Lei antiga que obrigava as mães irem ao Templo para se purificar, Maria Santíssima deu um exemplo admirável de obediência e humildade. Imaculada, Ela nos trouxe a segunda pessoa da Santíssima Trindade, o Homem-Deus, daí a diferença entre Maria e as mulheres que concebem seus filhos pelo concurso de um varão.
                Aquele que nasceu d’Ela é obra sublime do Espírito Santo, o mesmo que iria realizar outra maravilha nas almas com a instituição da Santa Igreja. Maria nasceu sem a mancha do pecado original. O Filho Unigênito é seu filho primogênito e Deus é zeloso de seu amor.
                O Filho de Deus, concebido nas  entranhas de Maria sem deixar traço que desabonasse a sua virgindade, acrescentou n’Ela a virtude da nobreza pelo fato de ter se tornado mãe de Deus, para Quem nada é impossível. A impossibilidade se encontra nos olhos concupiscíveis daqueles que nasceram com a nódoa original.
                O que nasceu da carne é carne e o que nasceu do espírito
é espírito, disse Jesus a Nicodemos. Jesus Cristo ao nascer de Maria quis introduzir o reino da castidade, só possível na Igreja instituída por Ele que concede ao mesmo tempo os meios necessários e eficazes para que ela seja praticada. Protestantes há que se enchem de ódio contra Maria pelo fato de ser virgem.
                Ao mesmo tempo, eles  odeiam o sacerdócio católico em razão de não contrair matrimônio, além do voto de castidade para mais bem servir a Cristo Nosso Senhor. Guardar a castidade é possível sim, para aqueles que têm devoção a Nossa Senhora e frequentam os sacramentos instituídos por Jesus Cristo.
                Quem não a guarda é porque se expõe ao perigo, à ocasião próxima de pecado e não possui a verdadeira devoção a Nossa Senhora. Maria ao levar seu Filho ao Templo de Jerusalém para ser apresentado ao Senhor e resgatá-Lo, agiu para nos mostrar a virtude e a força do Senhor. Ao conduzi-Lo 40 dias depois de Seu nascimento ao Templo para oferecê-Lo ao Senhor em sacrifício, e, Ela mesma ser purificada – se necessário fosse – simbolizaram outras realidades mais altas.
                A circuncisão que se dava no oitavo dia do nascimento representava o rompimento dos nexos do corpo mortal e, assim, nos livrar dos vícios. Ao ser apresentado no Templo, diante de Deus, Ele nos tornou livres desses mesmos vícios para que desfrutássemos das alegrias da Cidade Eterna. Jesus Cristo ao derramar o Seu sangue no momento da crucifixão, conquistou-nos a verdadeira liberdade e nos elevou pela graça à filiação divina e membros da Igreja.
                E o velho Simeão, cheio do Espírito Santo, ao tomar nos braços aquele Menino, louvou a Deus dizendo: “Agora, Senhor, deixai ir em paz o Vosso servo, porque meus olhos viram o Salvador”. Ele que havia tido a inspiração divina de que não morreria sem ver o Messias, o esperado das Nações, foi largamente atendido naquele momento ditoso.
                Quanto mais se ama a Deus, mais empenho se tem em
evitar ofendê-Lo e perder a sua graça. O velho Simeão, homem prudente e justo, não procurava a glória e a felicidade mundana para os filhos de Israel, pois o verdadeiro brilho se encontra na verdade e quem no-la transmitiu foi Nosso Senhor Jesus Cristo.
                Com efeito, a lei antiga não passa de sombra diante da nova lei e São Paulo diz ser ela apenas uma figura versando em prescrições sobre comidas, bebidas e abluções impostas que não podem tornar perfeita a consciência de quem presta culto.
                Ao passo que a verdadeira realidade sobrevinha com o sacrifício do Redentor que se encontrava encoberta naquela divina sombra entrevista por Simeão. Aquele Menino era o Salvador. Tendo Ele vindo ao mundo por meio de Maria, as sombras deram lugar à luz. Por isto, Nosso Senhor Jesus Cristo pregou: “Andai na luz antes que as sombras os surpreendam”.

 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014


Quem não tem Maria por mãe
não tem Deus por Pai


*Pe. David Francisquini

         Imagine Maria Santíssima, Mãe das mães, ao tomar conhecimento de que seu Filho se encontrava prestes a partir para a vida pública. Ela que já experimentara a perda de seu Filho em Jerusalém sabia bem o quanto lhe custara aquele distanciamento, pois caro Christi est caro Mariae (a carne de Cristo é a carne de Maria). Agora o seu divino Filho vai se ausentar para não mais voltar à casa de Sua Mãe.
            Jesus havia completado 30 anos, e, nos desígnios de Deus Pai, chegara o momento de semear a boa semente da palavra, pois Seu reino não se circunscrevia à casa de Nazaré. José já havia falecido. O que poderia passar naquele coração de Mãe a falta do Filho que partia para o campo de batalha do apostolado e que terminaria a sua vida terrena pendurado numa Cruz?
            Figuremos a sua solidão ao vê-Lo partir, acompanhando-O com os olhos até que desaparecesse. Maria ficou só, pois havia chegado a hora. Jesus tomou a direção do rio Jordão a fim de se encontrar com João Batista. Quando O viu, João, maravilhado, exclamou: “Eis o Cordeiro de Deus, eis Aquele que tira os pecados do mundo”.
            Jesus pede o batismo, e João Batista reluta em concedê-lo.

 Argumenta que deveria ser ele batizado por Jesus e não o contrário. Mas o divino Mestre insiste, pois fazia a vontade do Pai. Enquanto isto, Maria passava rezando pelo Filho. Maria silenciosa e pensativa sabia que Jesus não Lhe pertencia, pois deveria redimir o gênero humano. Acompanhava Ela com o coração tudo o que o Seu filho fazia e por onde ia.
            Poucas semanas depois de estar só, Maria foi convidada para uma festa de casamento em Caná, pequena cidade da Galileia, distante a duas horas de viagem de Nazaré. Os noivos eram íntimos amigos de Maria e teriam manifestado grande alegria pela sua presença. Ademais, eles encontrariam n’Ela grande apoio para o casamento e não queriam dar passo tão decisivo na vida sem a presença d’Ela.
            A festa já se desenrolava quando aparece o Seu filho rodeado dos discípulos, maravilhados com tudo quanto Ele dizia. Jesus sabia que Sua Mãe se achava ali, e trouxe os discípulos para conhecê-La, para mostrar o papel de Maria no Reino de Deus, e, que Ele, qual prófugo, iniciava a pregação.
            A ocasião era mais que propícia. De Maria Ele nascera e durante 30 anos Lhe foi submisso. Com o consentimento d’Ela, Jesus daria ali o início a uma série de milagres na ordem da natureza, pois o primeiro milagre na ordem da graça se dera por ocasião da visita de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel ao santificar São João Batista ainda no ventre materno.
            Cheia de graça e de virtudes, Maria não ficou indiferente diante de um fato que poderia passar despercebido a muitos, mas muito constrangedor aos anfitriões: a falta de vinho naquela festa nupcial. Ela sabia que o seu Filho poderia resolver aquela questão que parecia sem solução.
            Maria que ainda não havia presenciado milagre de Jesus,  com bondade de mãe, dirigiu-se ao Filho, tomou-O pelas mãos e Lhe sussurrou aos ouvidos: “Eles não têm mais vinho”. Cena simples e encantadora. O Filho que nada A nega, olha para Ela e diz: “Mulher, que há entre Mim e Ti? Minha hora ainda não chegou”.
            Palavras misteriosas, pois somente Maria conhece o Filho que tem. Só Ela consegue penetrar e sentir as palpitações do Seu coração. Portanto, aquelas palavras tiveram altíssimo significado. Ao chamá-La de mulher, ressaltava o sexo feminino. Ao chamá-La de mulher, fazia-nos voltar aos primórdios da humanidade, quando o livro Gêneses trata d’Aquela mulher ilustre, nobre, excelente e destemida que esmaga a cabeça da serpente.
            Faz-nos lembrar da mulher forte do Livro da Sabedoria que
com todo o zelo ornou a sua casa e nada lhe faltou. É a mulher forte, intrépida e corajosa do Apocalipse. É a mulher que São João Evangelista relata se encontrar no Calvário aos pés da Cruz em companhia das Santas Mulheres, e que Jesus voltando-se para Ela disse: “Mulher, eis aí teu filho”, e voltando-se para João: “Eis aí a tua Mãe”.
            Não há Jesus sem Maria, nem Maria sem Jesus. O Jesus que adoramos e seguimos é Jesus que sempre obedeceu, seguiu, respeitou e amou Maria. Quem rejeita Maria, rejeita Jesus. Quando Jesus afirma: “Minha hora não chegou”, Maria sabia que para Ela, toda hora é hora, ou seja, Seu Filho não deixaria de atendê-La.
            Prontamente foi dizer aos servos para acatar a tudo que Ele ordenasse. Com efeito, Jesus quis ressaltar que o papel de Maria é misterioso e eficiente. O Filho belo, cativante, elevado, nobre, verdadeiro Deus e verdadeiro homem não poderia deixar de operar o milagre, mesmo que a hora do Pai ainda não tivesse soado.
            A mãe tem um poder de intercessão inigualável junto ao filho. Assim procedendo, Maria contribuía para revelar o seu Filho ao mundo e cooperar na elevação dos homens a Deus. De fato, Jesus atendeu ao pedido d’Ela ao transformar a água em delicioso vinho, Seu primeiro milagre, e, seus discípulos creram n’Ele.
            Tal prodígio compete a Deus que é o Senhor dos elementos da natureza. E Ele fez isto para iluminar a nossa inteligência para receber a virtude da Fé, com a qual vamos acatar os Seus ensinamentos e a Sua vida. O milagre não é contra a natureza, mas está acima dela. Não apresenta explicação natural, o que o explica é o poder de Deus para confirmar o que ensina. Seu objetivo é conduzir os homens à verdadeira doutrina e religião instituída por Ele.
            Eis o papel de Nossa Senhora por ocasião do primeiro milagre de Jesus Cristo, aliás, feito com antecipação para atender ao pedido d’Ela. Quem rompe com Nossa Senhora, rompe com Nosso Senhor Jesus Cristo, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Quem não tem Maria por mãe não tem Deus por Pai.

domingo, 26 de janeiro de 2014


Não vos admireis que o mundo vos odeie
 

Pe. David Francisquini          

            De tal modo a liturgia tradicional ressaltava a grandeza do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo que as mentalidades, as tendências e os costumes dos fiéis se moldavam todos para a sua solene celebração. Infelizmente, com as inovações pós-conciliares e a consequente laicização da sociedade, o Natal vem perdendo, ano após ano, muito de seu simbolismo.
            A deformação atingiu tal clímax que o Natal começou a ser celebrado nas praias, nos shoppings, clubes, restaurantes e praças, no contexto de uma efeméride mundana. E, na medida em que o neopaganismo avança as pessoas vão perdendo a noção dos períodos litúrgicos.
           Passado o dia 25 de dezembro, continuam na liturgia católica as festas relacionadas ao Natal. Entre outras, a comemoração dos santos inocentes no dia 28; a circuncisão; a festa do Santíssimo Nome de Jesus no primeiro domingo que se segue a circuncisão; a festa dos Reis Magos; e no domingo da oitava dos Reis Magos é celebrada a festa da Sagrada Família.
No dia 13 de janeiro comemora-se o batismo de Jesus, ocasião em que se inicia o novo período litúrgico,  apresentando a vida pública de Cristo. O período natalino ainda lança luz na festa da apresentação do Menino Jesus no Templo e a purificação de Nossa Senhora. Nesse dia, dedicado a Nossa senhora das Candeias, são bentas as velas cujo lume representa a luz de Cristo.           
        Com a introdução de leis como a do aborto, casamento homossexual, eutanásia, tolerância com a prostituição, mais um golpe foi desfechado contra o santo Natal, pois o ódio que rondava a manjedoura  de Jesus Cristo é o mesmo que se prolonga através dos séculos contra a Sua Igreja. Elas decorrem das palavras do divino Salvador: "Não vos admireis que o mundo vos odeie, porque Me odiou primeiro".            
         Em vez de amor, Jesus Cristo foi odiado no seu Presépio pelo establishment  da época. Em vez de aconchego, foi ameaçado de morte a ponto de obrigar a Sagrada Família a buscar refúgio no Egito, pois Herodes "irou-se em extremo e mandou matar todos os meninos de Belém e  arredores na idade de dois anos para baixo, segundo a data que tinha averiguado dos Magos".
            Aquele mesmo ódio acompanhou Jesus Cristo até o
Calvário, quando derramou todo o Seu sangue pela humanidade inteira.  Este ódio imenso não contém para nós alguma lição? Ai de nós, que jamais a compreenderemos suficientemente se não chegarmos a ser santos. Entre Jesus Cristo e o demônio, entre o bem e o mal, entre a verdade e o erro há um ódio profundo, irreconciliável, eterno, conforme nos ensinou Plinio Corrêa de Oliveira.
           E Herodes utilizando-se mal da sua autoridade maquinou matar o Menino Jesus. Para isso, ordenou o massacre de todas as crianças recém-nascidas de Belém e circunvizinhanças. De passagem, levanto uma pergunta. – Não acontece algo de semelhante hoje nas clínicas de aborto? As leis que vêm sendo feitas para sacrificar inocentes ainda no ventre materno não se assemelham ao decreto de Herodes?
            O profeta Jeremias havia anunciado: "Uma voz se ouviu em Ramá, grandes prantos e lamentações. Raquel chora os seus filhos e não se quer consolar porque eles já não existem". O profeta se utilizou desta figura enternecida de grande significado. Como Raquel deu a vida pelo seu filho Benjamim, ali mesmo recebeu sepultura.
            Como as duas tribos – Judá e Benjamim –  andavam juntas, Raquel gemeu em seu túmulo pelos filhos que morreram sob o ódio de Herodes. Assim a Igreja faz no Natal, e lamenta o frio bisturi que arranca do ventre materno aquelas pobres crianças que sequer ainda abriram os olhos para a luz,  e, sobretudo, ficarão privadas do batismo das mãos da Igreja.
            Peçamos para nós as melhores graças neste ano de 2014. Façamos o propósito de lutar incansavelmente contra todas as investidas dos adversários da Santa Igreja e da Civilização Cristã, à imitação de José que salvou o Menino e a Sua Mãe das mãos assassinas de Herodes.
           Quantos novos Herodes existem hoje quais lobos vorazes procurando devorar o que ainda resta de Civilização Cristã!

domingo, 29 de dezembro de 2013

 
 

                        *Pe. David Francisquini

            Noite de frio intenso em Belém. A cidade se encontrava envolta no burburinho preparatório do recenseamento convocado por César. Em vão, um casal discreto procurava acolhimento nas hospedarias, nem mesmo entre os parentes próximos, porquanto José e Maria desejassem lugar digno para o Natal do Criador do Céu e da terra.
            A natureza já se regozijava. Dela se exalava um perfume de agradável odor, ao passo que os corações dos homens de Belém se cerravam para Aquele que os enriqueceriam com Suas dádivas. Enquanto a noite avança, o incansável casal se depara ao longe com uma estrebaria, além de desconfortável, sem qualquer aconchego.
            O egoísmo e a dureza daquela gente fechavam as portas e os corações para o santo casal que, vigilante, aguardava o desejado das nações, o Rei dos reis, Aquele que viria tirar os pecados do mundo e beneficiar a humanidade inteira. Chega a noite ao seu ápice e o Sol do sol brilhou aos olhos extasiados de Maria e de José.
            Enquanto todos dormiam, os Anjos despertaram  os pastores na imensidão dos campos para lhes anunciar a grande alegria, extensiva a todo o povo: “Hoje vos nasceu, na cidade de David, o Salvador, que é o Cristo, o Senhor. E este é o sinal para vós: achareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura”.
            Natal, dia de alegria, de paz e de harmonia. Natal em que comemora o nascimento do Menino Jesus. Natal, dia de festa, de bênçãos e de calor humano. Natal cuja atmosfera se ilumina pelas graças d’Aquele que se uniu à natureza humana para trazer a Si a humanidade inteira. O Salvador veio ao mundo para a redenção de todos.
            Natal lembra bem estar, paz, inocência, brancura de alma. Deus-Menino, o pão da vida, vem à sua cidade que quer dizer a casa do pão. “Eu sou o maná que desci do Céu, que vossos pais comeram e, contudo morreram, mas quem comer deste pão viverá eternamente”. A Eucaristia e o Natal são um prolongamento de Cristo entre nós.
            Não há lugar onde se consagre o pão que sua substância não se transforme em Cristo. Qual lírio do campo, na manjedoura Jesus é adorado pelos anjos, pelos pastores e pelos reis. É o mesmo Deus de nossos sacrários. No instante mesmo em que o Anjo comunicava aos pastores a grande nova, toda a Milícia Celeste se uniu a ele em louvor a Deus, cantando: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade”.
            De boa vontade são aqueles que vivem em estado de graça, na amizade divina e no cumprimento de decálogo. Glória a Deus nas alturas é o que Cristo veio trazer à Terra ao fundar e instituir a Santa Igreja Católica, que é a Sua Igreja. Os céus se alegram e a terra inteira triunfa, pois Jesus veio a nós. E continua a vir no santo sacrifício da Missa.
            O nascimento do Filho de Deus em Belém foi previsto pelo profeta Miqueias. Na Palestina, subjugada pelos romanos imperava Roma na pessoa de César Augusto, que depois de ter vencido os inimigos se encontrava em grande paz. Ambicioso, decretou um recenseamento em todo o império, indo todos se alistar na sua cidade de origem.
            Da Casa de David, José e Maria foram a Belém. Viagem de quatro dias. Deus Pai dispôs as coisas para que o santo casal se dirigisse ao lugar onde a humanidade inteira procura hoje representar nas casas, nas igrejas, nos lares e nas cidades, o Presépio. Não apenas para prolongar, mas para perpetuar o grande acontecimento. 
            Ali, onde Maria deu à luz o divino Filho sem perder a virgindade, sem dor, num êxtase de elevação e nobreza. Maria tornou-se mãe do Filho de Deus conservando-se intacta através de um verdadeiro milagre. Sendo mãe, não deixou de ser virgem. Virgem antes, durante e depois do parto.
            Nossa Senhora percebeu não haver lugar para o seu Filho no coração empedernido daquele povo. A não ser uns poucos tocados pela graça como os Reis Magos e os pastores. Peçamos na noite de Natal ao Menino Jesus para sermos homens de boa vontade, unidos à Sagrada Família, aos reis Magos e aos pastores.
            Assim, glorificaremos a Deus.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013



Ai daquele por quem vêm os escândalos!

*Pe. David Francisquini

        
Diante da revolução cultural que vem carcomendo o tecido social, dir-se-ia que até a inocência infantil tem seus dias contados, se Deus não intervier para fazer cessar o curso dos acontecimentos.    Um dos meios ao nosso alcance para contrarrestar tal revolução consiste em elevarmos nossa mente a Deus pedindo-Lhe que intervenha, e ao mesmo tempo procurar nos elevar até Ele pela contemplação das obras da Criação.
            Por exemplo, no campo, onde o homem tem mais contato com a natureza, não há um só momento em que a ordem das
coisas que o rodeiam deixem de conduzi-lo a Deus. Enquanto a chuva tudo reverdece e o sol – sem o qual as coisas não seriam senão o que elas são – difunde o seu calor por toda a parte, outro calor anima os corações: a vida da graça.
            Assistido por ela, o homem transcende e contempla ora o sol, ora a lua, ora as estrelas, e se vive junto ao litoral, admira a imensidão em movimento das águas do mar que não cessam de proclamar a grandeza e a beleza do Criador. Há pouco, ao viajar pelo interior do Paraná, deparei-me com um bando de crianças a brincar num canteiro que me era familiar.
            Minha mais antiga lembrança desse canteiro remonta ao dia em que me dirigia para o seminário, acompanhado de meu venerando pai. Começava eu a trilhar os caminhos da vida dando ouvido à minha vocação sacerdotal. Como sacerdote, caminhando rumo ao ocaso da vida, eu pude enlevado contemplar a cena das referidas crianças, que empinavam papagaios.
         Tem razão Gilberto Amado ao dizer que “empinar papagaio é bom brinquedo, pois obriga a criança a olhar para o Céu”.
Enquanto uns empinavam suas pipas, outros meninos – numa espécie de torcida – erguiam as mãos até as colocarem juntas, como se estivessem em oração e com os olhos fixos no céu.
            Aquele pulsar, a louçania das crianças não era senão luz reflexa da inocência que reverbera diante do maravilhoso.   Nada nos eleva a Deus com tanta força do que a contemplação do belo e do épico, pois temos plasmado na alma os transcendentais do ser. Enquanto filhas de Deus, as crianças O louvam por possuir tais atributos de forma absoluta.
            Será que essas crianças espelhariam a mesma felicidade de situação e o mesmo brilho diante de um computador com jogos enaltecendo o feio, o violento, o monstruoso, o imoral, ou ao som de cacofonias? Elas louvariam assim a Deus? Ou estariam matando a inocência dentro de suas almas e com isso se distanciando d’Ele?
            Por oportuno, recordemos o ensinamento de Nosso Senhor
Jesus Cristo ao dizer em tom de carinho e atenção aos pequeninos: “Deixai vir a Mim as crianças, porque delas é o Reino dos Céus. Quem se tornar simples e humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos Céus”.
              E prossegue: “É impossível que não haja escândalos, mas ai daquele por quem eles vêm! Melhor seria que se lhe atasse em volta do pescoço uma pedra de moinho e que fosse lançado ao mar, do que levar para o mal a um só destes pequeninos”. 
             O que nos deixa perplexos mesmo é assistirmos hoje, inermes, a muitos dignitários eclesiásticos desprezando o bom, o belo, o artístico, pois recusar tais valores significa negar a inocência que nos convida à transcendência, e, através dela, a elevar os nossos corações a Deus. Resta-nos, contudo, a potente arma da oração!