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sábado, 20 de fevereiro de 2016

Outros eram os tempos, outros os ventos...

Pe. David Francisquini




             Ao analisar o cenário interno e externo da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana a partir de meados do século passado, um observador verificará que muita coisa mudou.
            Foram introduzidas reformas profundas na liturgia, na disciplina, no comportamento social através do ecumenismo, na teologia, na moral individual e familiar, na protelação da administração dos sacramentos do batismo, da crisma, da confissão e da comunhão.
            Não vou me ocupar das particularidades dessas transformações, mas apenas apontar as manobras sutis e cavilosas propostas por tantos agentes que operaram no silêncio e na noite, como salteadores e ladrões que se apoderam dos bens alheios. Houve, igualmente, silêncios enigmáticos, conscientes e premeditados, visando introduzir nos meios católicos ideias já condenadas por São Pio X em sua Encíclica Pascendi, no início do século XX.
            Como uma engrenagem bem azeitada, tais mudanças obedeceram a um processo desde a morte de São Pio X (1914). Os meios católicos foram sendo modificados paulatinamente, os expoentes contrários ao modernismo condenado por aquele Papa, foram afastados de seus cargos e substituídos por outros menos rigorosos e até defensores de doutrinas heterodoxas. O rigor doutrinário baixou até às capilaridades, pois mesmo os candidatos ao sacerdócio já se apresentavam aos seminários contagiados por ideias avessas à sã doutrina.
            O campo se encontrava descuidado e, portanto, apto para que nele grassassem as
Mons. Annibale Bugnini - Reformou a Semana Santa
no tempo de Pio XII e fez parte da comissão litúrgica
 na elaboração da Nova Missa  de Paulo VI
ervas daninhas como o joio e a cizânia. Em meados do século passado, os seminaristas que mais tarde tornar-se-iam párocos e bispos já se encontravam eivados dos princípios e das doutrinas da filosofia e da sociologia modernas, conduzindo-os consciente ou inconscientemente ao marxismo-leninismo então em voga. Cunharam até uma nova teologia para servir de caudal aos inovadores, chamada Teologia da Libertação.
            Pregadores começaram a silenciar verdades fundamentais sobre a salvação eterna, a negligenciar o ensino dos Mandamentos da Lei de Deus, as devoções populares como a recitação do terço, as coroações a Nossa Senhora, as procissões, para se ocuparem de temas temporais como o bem-estar das pessoas neste mundo, impregnando-as de ideias socialistas e até mesmo comunistas ao abordarem temas como fome, pobreza, minorias,  marginalizados. O reino de Deus deveria realizar-se aqui na Terra e agora.
            Como ocorreu esse minucioso e profundo trabalho revolucionário nas fileiras católicas e em todos os campos da cultura, da arte, da liturgia, dos costumes, nas maneiras de ser, no interior das famílias, no trato social, na economia, na política? No campo das ideias, houve a rejeição da filosofia aristotélico-tomista, cujo valor e grandeza haviam sido ressaltados por Leão XIII em razão de sua elevação e sublimidade, pois nem a fé podia esperar que a razão lhe conferisse mais argumentos.
Cardeal Augustin Bea-dedicou o resto de sua vida a
questões ecumenismo e inter-religiosos - primeiro 
Presidente do Secretariado para a Promoção da Unidade dos Cristãos
            Concomitante a isso não se ouvia mais a voz dos sinos, que deixaram de soar, de emitir os seus apelos, pois as sentinelas da casa do Senhor deixaram de vigiar e defender as ovelhas. Minguaram as missões, que pregavam as verdades eternas e sempre convidavam os fiéis à frequência dos sacramentos, ao afervoramento religioso e ao combate aos erros e aos vícios, além de proibir os católicos de procurar qualquer composição com seitas protestantes.
            Pouco a pouco, foram sendo introduzidos nos salões paroquiais divertimentos profanos como bailes e danças, com a finalidade de adquirir fundos para obras de assistência social. As músicas religiosas populares foram substituídas por outras de sabor protestante e mundano. Erodidos os bons costumes, a mentalidade e a espiritualidade de outrora se extinguiram. Verificou-se um abandono de todo o passado glorioso da Santa Igreja que remontava a Constantino e ao Concílio de Trento.
            O progresso dessa implacável revolução só foi possível devido às ideias luteranas que foram sendo introduzidas nos meios católicos, sempre apresentadas como perspectivas de modernizar a Igreja, de torná-la mais aberta, mais democrática e compreensiva em relação àqueles que recusavam — rejeitarão sempre, apesar de todas as concessões — os princípios emanados do supremo Magistério e a vida da Igreja verdadeira como um todo.
            Uma análise retrospectiva do desastre decorrente das medidas contemporizadoras da Hierarquia católica leva a concluir que os fiéis teriam reagido energicamente se desde o princípio tivessem compreendido para onde a Barca de Pedro estava sendo conduzida. Se, por exemplo, soubessem que a mentalidade herética de um Pelágio ou de um Jansênio voltaria a ter cidadania dentro da Igreja, não se confiando mais na graça, nos meios sobrenaturais e divinos, para se acreditar apenas nos próprios esforços.
            Fatos como o silêncio, a ausência de sacerdotes nas paróquias, leigos cada vez mais à frente das mesmas e dirigindo a comunidade religiosa, tendem a acentuar a ideia de que a presença do padre não é necessária, podendo ele aparecer apenas em certas ocasiões, pois o resto o leigo realiza. E, diante de tudo isso, conclui-se o quanto a Igreja se distanciou de seu passado santo e glorioso, quando o essencial se passava em torno do altar, na celebração da Missa, nas bênçãos do Santíssimo, nas festas do padroeiro…
            A igreja matriz irradiava a imagem de uma verdadeira família paroquial, um centro de onde emanava o bem, o fervor, a ortodoxia, a pureza de costumes; era o ponto monárquico de tudo. Por isso se chamava matriz, porque mãe de várias capelas que leigos bem formados não deixavam de frequentar a fim rezar e estudar a doutrina cristã. Outros eram os tempos, outros os ventos, outros os rumos: a glória de Deus e a salvação das almas.

            O sacerdote estava compenetrado de seu dever sagrado como ministro do Altíssimo, de seu poder incomparável, por ter sido ordenado sacerdote segundo a ordem de Melquisedec. E sentindo-se capaz de combater o mal e seus agentes, de abrir as portas do Reino do Céu. É difícil aquilatar o poder que exerce neste mundo um padre inteiramente fiel à sua missão, pois ele se torna o sal que salga e a luz que ilumina.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Tal vida, tal morte

*Padre David Francisquini

Representação do Concílio de Trento
Em minha já longa vida sacerdotal, encontro-me com colegas de vocação aqui, ali e acolá. Isso constitui sempre ocasião para animadas conversas, em geral profundas e sérias, a respeito da Santa Igreja e de seus ministros. Mas, se de um lado há muita empatia, de outro há incompreensões que raiam à animosidade, sobretudo quando o assunto versa sobre a atual crise na Igreja.
Findas as conversas, nem por isso os temas nelas tratados, os aspectos psicológicos e as circunstâncias que as cercaram, desaparecem da memória. Eles voltam, com frequência com indagações sobre a natureza e a oportunidade do que se conversou, a maior ou menor cortesia e respeito havidos então no trato, a clareza e a lógica ou a falta delas ao expor as ideias, a coerência ou não dos argumentos apresentados, ou seja, um retrospecto ou balanço. 
Não pense o leitor que pelo fato de se tratar de sacerdotes, tais conversas sempre convirjam dentro de uma respeitável cordialidade para um ponto comum, que não poderia deixar de relacionar-se com a maior glória de Deus. No entanto, dada a relatividade de tudo em nossos dias, infelizmente isso de há muito deixou de ocorrer
O fato de se celebrar a missa tridentina promulgada pelo Concílio de Trento, de se
Representação do Concílio Vaticano I 
reportar ao concílio Vaticano I e a todo o passado da Igreja visando à salvação das almas, à glória de Deus e à luta em defesa dos princípios morais, já basta para provocar não poucas dissensões entre as pessoas do clero. E elas tendem a crescer quando aqueles que defendem esse passado santo e glorioso não abrem mão do uso da batina, do barrete ou do chapéu eclesiástico, da faixa e da manteleta, como foi sempre desejado pela Igreja.
Historicamente, a partir da década de 1950, acentuando-se nos anos 1960, as ideias heterodoxas e ambíguas no campo político, social e religioso começaram a grassar nos meios católicos. Além dos costumeiros disfarces, a admissão de princípios contraditórios, como a colocação lado a lado do erro e da verdade, não poderia deixar de gerar confusão entre os fiéis.
Mas não era só nos fiéis. Em uma conversa que certa vez tive com um padre idoso e experiente, bem formado intelectualmente, ele me disse que a parte essencial e mais importante da Santa Missa era o "tomai e comei"...
Retruquei-lhe de boa fé que tal não era o ensinamento da Igreja, pois a Consagração é a parte essencial da Missa, quando se realiza o sacrifício incruento do Calvário, sem o qual não haveria o "tomai e comei"... Com efeito, as palavras da Consagração, pronunciadas distintamente para o pão e para o vinho, renovam o santo sacrifício da cruz e são como que uma lâmina ou um punhal que traspassam a Vítima e A imolam misticamente.
Meu interlocutor se contrapôs, dizendo que isso remontava ao Concílio de Trento no combate aos protestantes. Respondi-lhe que há uma missa votiva às quintas-feiras, na qual se exalta Jesus Cristo Sumo e Eterno Sacerdote. Nela o padre lê texto da epístola aos Hebreus, falando de Cristo que não se glorificou a Si mesmo para se tornar pontífice, mas o fez Aquele que lhe falou: "Tu és meu Filho, hoje te gerei".

De igual maneira, está dito em outro lugar: “Tu és sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedec”.  Lê-se ainda nas Sagradas Escrituras: “Na verdade, todo pontífice é escolhido entre os homens e constituído a favor dos homens como mediador nas coisas que dizem respeito a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. Sabe compadecer-se dos que estão na ignorância e no erro, porque também ele está cercado de fraqueza. Por isso, ele deve oferecer sacrifícios tanto pelos próprios pecados quanto pelos pecados do povo. Ninguém se apropria desta honra, senão somente aquele que é chamado por Deus, como Arão” (Hb. 5, 1-4).
Ao texto citado, o meu interlocutor disse que se tratava do Antigo Testamento... Respondi-lhe que a Igreja, ao colocar uma missa votiva todas as quintas-feiras do ano, passa a ser matéria de fé, mesmo que o texto do referido Apóstolo faça menção aos Hebreus, pois “lex orandi lex credendi”. Insisti sobre a questão da comunhão, tendo lhe deixado claro que a Missa não era uma ceia, mas um sacrifício propiciatório.
Outra conversa foi com um sacerdote também idoso, já bem próximo da morte, que levantou a questão das pessoas desajustadas na vida matrimonial, que se encontravam numa situação insolúvel. Segundo ele, a Igreja deveria rever a parte disciplinar concernente à matéria, a fim de resolver os casos em que as pessoas não podem receber os últimos sacramentos. Lembro-me de ter reportado a ele uma experiência de Santo Afonso de Ligório.
Moralista de renome, o santo se referiu ao caso de uma jovem que, estando para morrer, deu sinais de conversão e de mudança de vida. Ela manifestou então ao seu confessor o desejo de ver seu cúmplice, a fim de convencê-lo a abandonar o pecado e também mudar de vida. O confessor não se opôs e até insinuou a ela que, para se sair bem naquele propósito, fizesse tal obra de caridade para seu antigo companheiro.
Santo Afonso de Ligório
Aconteceu, porém, que, ao se deparar com o conluiado, a jovem se esqueceu de todos os bons propósitos e se voltou para ele com palavras carinhosas, dizendo-lhe que ia morrer, e, portanto, iria para o inferno, que estava certa disto, mas que não se importava em se condenar. E, assim fazendo, caiu morta. Santo Afonso conclui que, para quem se escraviza ao vício impuro, é muito difícil emendar-se e se converter a Deus de todo o coração.
            Santo Afonso ao pregar um retiro para sacerdotes comenta ainda o caso de um deles que levava vida de pecado, mas que se acostumara a celebrar naquele estado, contradizendo o ensinamento moral de que quem vive em pecado morre nesse estado – talis vita, finis ita. Ao celebrar a Missa no dia seguinte, quando ao pé do altar pronunciou a oração “Judica me Deus...”, ali mesmo morreu e foi julgado.

Sirvam tais lições aos leitores de que há maneiras de ser, de comportar-se e de viver pelas quais o próprio pecador procura justificar a sua conduta, passando com isso a defender erros, vícios, pecados, procedimentos que vão paulatinamente obscurecendo sua inteligência e endurecendo sua vontade, até ele passar a defender heresias, ainda que camufladas. Lembremo-nos da máxima: Tal vida, tal morte.

sábado, 9 de janeiro de 2016


Maria e José: corte e serviço régios


*Padre David Francisquini


São Pedro Julião Eymard comenta que Deus Pai, ao enviar seu Filho à Terra, quis fazê-lo com honra, pois Ele é digno de toda honra e de todo louvor. Por isso Lhe preparou uma corte e um serviço régios. Deus desejava que seu Filho encontrasse recepção digna e gloriosa, se não aos olhos do mundo, pelo menos aos seus próprios olhos.

A corte do Filho de Deus compõe-se de Maria e de José. Com efeito, São Bernardino de Siena afirma que Maria foi a mais nobre das criaturas que jamais houve e haverá. São Mateus mostra que Ela é descendente de catorze Patriarcas, catorze Reis e catorze Príncipes. Também em São José desfechou toda a dignidade patriarcal, régia e principesca.

Jesus, Maria e José constituem o mais luminoso exemplo de vida e de instituição familiar, civil e religiosa. Ao lermos nos Santos Evangelhos e nos escritos dos Santos o que a piedade popular convencionou chamar com toda propriedade de Sagrada Família, podemos tirar lições profundas que à maneira de farol nos servem de guia em meio à tempestade.

Sim, em meio à procela que se abate hoje sobre os verdadeiros seguidores de Jesus Cristo, pois até Ele foi odiado no seu Presépio e ameaçado de morte, a ponto de a Sagrada Família se vir obrigada a buscar refúgio no Egito. “Que José tomasse o Menino e partisse para o Egito”, porque Herodes O procurava para matá-Lo.

Quando o anjo apareceu, José dormia, distante dos cuidados da terra e das preocupações mundanas. Somente ele, como chefe da casa, era digno de gozar das visões do alto. O embaixador celeste então lhe diz: “Levanta-te, toma o menino e a Sua Mãe”. Com estas palavras, o anjo reconhece outro título de Maria: Mãede Jesus, que é Deus.

Como chefe da família de Nazaré, José se apresenta incumbido de preservar os fundamentos de sua família, e com isto torna-se exemplo para todos os casais.

Ao levar Jesus e Maria para o Egito, José cumpria o que estava escrito na Escritura: do Egito chamei meu Filho. O próprio Jesus teve de fugir de seu povo para se abrigar junto a outro povo que outrora fora perseguidor dos hebreus. Assim agindo, José levava um remédio para curar os males que afligiram o Egito, como as dez pragas.

Nosso Senhor levou a luz para esses povos que estavam submersos nas trevas. José, ao partir com Jesus e Maria, saiu durante a noite, no meio das trevas. Ao voltar para a Judéia, ele o fez durante o dia porque aquelas preocupações haviam passado.

Como pai adotivo e esposo de Maria, competia a São José por direito conduzir o Menino Deus a diversas regiões, prefigurando os apóstolos que deveriam levá-Lo ao o mundo inteiro por meio da pregação. São Lucas descreve a ida do Menino, aos 12 anos de idade, com os pais a Jerusalém, ocasião em que se manifestou n’Ele a sabedoria.

Tendo a sabedoria se manifestado no Menino, e com ela a expressão da universalidade das coisas e dos tempos, a luz de Cristo chegou a todos os lugares em todos os tempos. Acabada a festa, o Menino deixou-se ficar em Jerusalém.

Ele quis assim Se ocultar, não para contrariar seus pais e deixá-los preocupados, mas para fazer a vontade do Padre Eterno. Sendo Jesus o Filho de Deus, objeto de tanto cuidado por parte de seus pais, como pôde ter sido esquecido? Cabe, porém, ressaltar o costume que há entre os judeus de que os homens e as mulheres podiam ir em comitivas distintas, enquanto os meninos podiam ir com o pai ou com a mãe.

Após três dias que pareceram uma eternidade, Jesus e Maria encontraram por fim seu Divino Filho. Ele estava no Templo, sentado entre os Doutores da Lei, que ora O escutavam, ora Lhe perguntavam, pasmos com a Sua sabedoria.

Maria manifesta a dor que sentia em seu coração: Teu pai e eu te procurávamos aflitos. E Ele disse:Não sabias que devo me preocupar com as coisas que são de Meu Pai? Para dar a entender que há em Jesus duas naturezas distintas: a divina e a humana.

Buscam e encontram o Menino no Templo, para amá-Lo e seguir os Seus ensinamentos. Saindo do Templo, encontramo-Lo no lar de Nazaré, levando a vida como um filho exemplar, ensinando-nos a humildade e a obediência, pois a obediência é o fundamento da vida cristã.

Assim se resume o restante da vida de Jesus na casa de Nazaré. Na obediência aos pais, ensinava a todos os homens que todo aquele que se aperfeiçoa na vida da graça e da virtude deve abraçar a obediência como meio infalível de se chegar ao bem. Ele se submeteu humilde e respeitosamente ao trabalho corporal.



Embora honestos e justos, seus pais eram pobres e tinham de buscar sustento para a vida com o próprio suor. E Jesus tomava parte nos trabalhos de seus pais obedecendo-lhes em tudo. A propósito, disse Santo Agostinho: “o jugo de Nosso Senhor tem asas que nos elevam acima da terra”.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

DEIXAI VIR A MIM AS CRIANCINHAS. MAS AI DE QUEM AS ESCANDALIZAR!

*Padre David Francisquini

Ao contemplar o Natal do Menino Jesus, vem-nos ao espírito uma atmosfera repleta de luz, bondade, ternura e elevação. A gruta, que outrora fora uma estrebaria, transformou-se no centro dos corações dos homens, pois foi ali que Deus se tornou menino para fazer parte da natureza humana e elevá-la ao mais alto grau, ao ápice da criação.
Um Deus que se faz criança – frágil, delicada, terna, nobre e real, pois é da dinastia de David – torna-se herdeiro de um trono, pois nasceu para reinar na sociedade, nos reinos, nas leis, na magistratura, nos governos e nos corações, alçando os homens à dignidade de seus filhos. Foi Ele quem disse que ninguém pode amar mais os seus do que quem dá a vida por eles.
Jesus é um lírio no campo, com todo o seu perfume e alvura. Por isso os anjos cantam no Céu a melodia que ouvimos na noite de Natal: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”. Enquanto Ele se une às criaturas racionais, os benefícios do Deus-menino são estendidos a todos os seres animados e inanimados, mas, sobretudo, aos homens.
Certamente os pastores levaram suas crianças para adorá-Lo e oferecer-Lhe presentes. Em sua vida pública Jesus exclamou: "Deixai vir a mim as criancinhas, pois delas é o reino do céu". E também: "Quem escandalizar uma dessas criancinhas que creem em mim melhor lhe fora que atassem uma pedra de moinho e lhe atirassem nas profundezas do mar, pois os seus anjos veem a face do meu Pai que está no céu".
Natal! Como não pensar no Menino Jesus, na primeira Comunhão das crianças? Aquele que nasceu na gruta de Belém se torna nossa comida e bebida em nossos altares. Aquele que se reclinou no presépio quer se reclinar nos corações de todas as crianças que já completaram o uso da razão, mais ou menos aos sete anos, como ordenou o Papa São Pio X.
Para se entender melhor o Natal e a Eucaristia, bem como o amor que Cristo depositava nas crianças por causa de sua inocência e humildade, convém expor as palavras do próprio decreto que as admite à primeira Comunhão:
"As páginas do Santo Evangelho manifestam às claras o singular amor que Jesus Cristo teve aos meninos, durante os dias da sua vida mortal. Era suas delícias estar no meio deles; costumava impor-lhes as mãos, abraçava-os e abençoava-os. Levou a mal que os seus discípulos os apartassem dele, repreendendo-os com aquelas graves palavras: deixai que os meninos venham a mim, e não os proibais, pois deles é o reino de Deus (Mc 10, 13. 14. 16)”.
E continua: “E quanto estimava a sua inocência e a candura de suas almas, bem o manifestou quando, chamando a um menino, disse a seus discípulos: Na verdade vos digo, se não vos fizerdes como meninos, não entrareis no reino dos céus. Todo aquele que se humilhar como este menino, este é o maior no reino dos céus: e aquele que receber um menino tal como estes em meu nome, a Mim é que recebe (Mt 18, 3. 4. 5)".
Em confirmação ao que ensinou o Papa São Pio X, será citado o texto: "O centenário do decreto Quam singulari é uma oportunidade providencial para lembrar e insistir em que as crianças tomem a primeira comunhão tão logo atinjam a idade da razão, que hoje parece até ter-se antecipado. Não é recomendável, portanto, a prática cada vez mais comum de aumentar a idade para a primeira comunhão. Pelo contrário: é preciso antecipá-la ainda mais".
Essas palavras textuais são de autoria do cardeal Antonio Llovera Cañizares, então Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, e foram publicadas no  L'Osservatore Romano,  no dia 8 de agosto de 2010. Em 2005, o cardeal Dario Castrillón Hoyos, Prefeito da Congregação para o Clero, declarou por ocasião do Ano da eucaristia:
Não são poucos os que, ao lado de São Pio X, estão convictos de que essa prática de levar as crianças a terem acesso à primeira comunhão a partir da idade de sete anos trouxe à Igreja grandes graças. Não nos devemos esquecer, além de tudo, de que na Igreja primitiva o sacramento da eucaristia era administrado aos recém-nascidos, logo depois do batismo, sob a espécie de poucas gotas de vinho. Permitir que as crianças possam receber Jesus eucarístico o mais cedo possível foi, por muitos séculos, um dos pontos firmes da pastoral para os menores da Igreja, costume restaurado por São Pio X em sua época, e louvado por seus sucessores".
No Cânon 914 do Código de Direito Canônico é estabelecida a obrigação dos pais e

do pároco de cuidar para que as crianças, ao atingirem o uso da razão, se preparem convenientemente, a fim de se nutrirem o quanto antes desse alimento divino, após a confissão sacramental.  
Antecipar o máximo possível a idade para admissão das crianças pequenas à primeira comunhão e, por conseguinte, aos outros sacramentos. De um lado, pode ser a reafirmação do primado da graça, e de outro, pode evitar que os pais e as crianças percebam como um pedágio os longos anos de catequese preparatória. Diante da quantidade cada vez maior de adolescentes que se afastaram da prática cristã, não seria melhor confiar mais na graça que nos meios humanos? E não seria também melhor esperar que, mesmo que se afastem – o filho mais jovem da parábola evangélica também se afastou –, a memória dos sacramentos continue neles como uma coisa boa, e não como um esforço cansativo semelhante ao pagamento de um pedágio?”(Cfr. Paolo Mattei, in "Por toda parte a Igreja de Cristo se difunde graças a crianças santas")
Na memória do jovem da parábola, a casa do pai, ainda que distante, continuava a ser um lugar bom, ao qual de alguma forma ele sempre poderia regressar. Palavras de Santo Agostinho reconfortam tal esperança: "Quacumque in parvulis sanctis Ecclesia Christi diffunditur / Por toda parte, a Igreja de Cristo se difunde graças às crianças santas".
É extraordinário ressaltar a importância da comunhão para as crianças, no momento em que uma crise sem precedentes abala a sociedade, sobretudo a família, e transtorna os costumes morais.
Não menos urgente é preocupar-se com as crianças instituindo uma pastoral que não as afaste da comunhão, mas pelo contrário as atraia, pois aí estão as drogas, a criminalidade infantil, a prostituição, os maus exemplos, entre os quais os divertimentos eletrônicos e o acesso rápido à tecnologia da comunicação.
É mais fácil hoje a criança cair nas garras do demônio do que nos séculos XIX e XX,
pois os meios de perdição infantil estão a um click de computador. A única solução é a sagrada eucaristia, Jesus que se torna criança e quer para Si as crianças, antes que elas caiam nas garras de satanás.

O progressismo, ao afastar as crianças da Primeira Comunhão, ao aumentar a idade para que elas se aproximem da sagrada mesa, as perde para o mundo moderno. Devemos comemorar o Natal de Nosso Senhor nesta perspectiva, procurando o tribunal da confissão, a mesa da Eucaristia e, colocar em evidência como centro de toda a vida cristã paroquial, a eucaristia e a devoção à Nossa Senhora.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Maria Imaculada, obra-prima de Deus

Padre David Francisquini



Ao considerar o universo em sua unidade e variedade, em sua perfeição e esplendor, em sua hierarquia harmônica e matizada, não se pode deixar de admirar nas criaturas a grandeza sem medida de uma ordem perfeita e equilibrada. Na sua simplicidade e alvura, o lírio, por exemplo, foi enaltecido pelo divino Salvador, quando disse que nem Salomão em toda a sua pompa e majestade se vestiu como um deles.
O sol no seu esplendor faz as criaturas ser aquilo que elas são: um encanto inigualável para o próprio Criador, para os anjos e para os homens.  A gota de orvalho, que não existiria ou não seria vista sem a luz, constitui um pequeno mundo de maravilhas, sobretudo quando repousam sobre graciosas e coloridas pétalas de rosa, que nenhuma troca amistosa de cortesias emula em beleza, leveza e graça. O cristal puro e alvo, atravessado pelos raios do sol é capaz de transformar um ambiente num mundo de fadas. Assim Deus, na sua infinita sabedoria, criou o mundo para cercar o homem de perfeições e de maravilhas que fossem luzes reflexas d’Ele e assim tributar-Lhe as devidas homenagens. Em outro patamar da hierarquia encontram-se as pedras preciosas e semipreciosas, como o jaspe, a esmeralda, a ametista, o brilhante, entre outras.




 Entre os metais, o ouro e a prata são símbolos que refletem realidades superiores, mais altas, mais nobres e distintas. Em seguida, podemos contemplar as flores, as plantas, os arbustos e as árvores. Em outro escalão as aves, os pássaros e tudo que enaltece a Deus e proclama a Sua magnificência dentro desta ordem inexcedível. Há, entretanto, algo mais além, pois tal ordem foi posta por Deus para refletir a Sua obra-prima, Maria Santíssima.



Para utilizar linguagem figurada e simbólica, a Mãe de Deus é um oceano de perfeições e de graças por ser Ela quem é. O grande devoto de Nossa Senhora, São Luís Maria Grignion de Montfort, ao descrevê-La assim se expressou: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e chamou-as Maria. Este grande Deus tem um tesouro, um depósito riquíssimo, onde encerrou tudo que há de belo, brilhante, raro e precioso, até seu próprio Filho; e este tesouro imenso é Maria, que os anjos chamam o tesouro do Senhor, e de cuja plenitude os homens se enriquecem”.


Convém ressaltar que Cristo, por ser Deus, não podia ter pecado original. Maria Santíssima foi isenta do pecado por um especial privilégio outorgado pelo próprio Deus, por ter sido eleita para d’Ele se tornar Mãe. Ao agir assim, a Santíssima Trindade fez o caminho inverso da primeira mulher que introduziu o pecado no Mundo por sua desobediência, dispondo que Maria fosse o contrário dessa mulher ao inocentá-La e isentá-La da nódoa do pecado original. O que Eva perdeu por orgulho e desobediência, Maria conquistou pela sua humildade e obediência, merecendo que o próprio Deus fizesse n’Ela maravilhas.
O Anjo Gabriel chamou-a de “cheia de graças” e Santa Isabel, de “bendita entre todas as mulheres”. A inteligência de Maria não se ofuscou, sua vontade não se enfraqueceu, e Ela nunca teve inclinação para o mal. Maria conquistou todas as graças e se tornou agradável a Deus. E pelo privilégio singular de ter sido concebida sem pecado, nasceu imaculada – portanto, com o direito, por nascimento e por conquista, à prerrogativa perfeita de ser Mãe de Deus, para que seu Filho redimisse o gênero humano das consequências do pecado original.
Após afirmar que todos pecaram em Adão, São Paulo sustenta com fundamento que, na vontade de Adão, como chefe e cabeça do gênero humano, estavam todas as vontades. Maria Santíssima, pertencendo à raça humana, pertenceu a uma raça pecadora, mas sem ter jamais pecado, pois Deus, por privilégio singular, A preservou no primeiro instante de contrair a nódoa original, já que era predestinada a ser a Mãe do Salvador do mundo. Repugna ao próprio Deus conviver e ser gerado por uma mãe pecadora, pois Jesus Cristo deveria ser a coroa e a perfeição de todas as criaturas.

Por isso a iconografia representa Maria Santíssima esmagando a serpente infernal e tendo os braços abertos para indicar que Ela trouxe o Autor da graça, o Redentor divino que nos deu a redenção e abriu as portas do Céu. No dia 8 de dezembro, o Papa Pio IX proclamou solenemente o dogma de sua Imaculada Conceição. Com estas palavras presto o meu tributo filial à Mãe de Deus, pedindo-lhe que vele por todos os leitores.