Deus dos exércitos,
vinde em nosso socorro!
♦ Padre
David Francisquini *
Nas
Sagradas Escrituras — de modo particular no Novo Testamento — são variadas e
empolgantes as parábolas que servem de ensinamento para a alma cristã. Suas
incontáveis lições representam um farol para a vida, que nos encanta e anima.
Os conceitos e figuras utilizados por Nosso Senhor, na maioria das vezes,
são da vida campestre. Por exemplo, o pai de família que ao romper da aurora
sai para contratar operários para a sua vinha.
Tocante
também é a parábola do semeador que plantou a boa semente em seu campo; da
figueira que não produzia frutos; da árvore boa que dá bons frutos e da árvore
má que dá maus frutos. Por trás dessas parábolas, Cristo Nosso Senhor nos
ensina a entender a luta entre o bem e o mal, entre a verdade e o erro, entre a
virtude e o vício. É a luz do farol divino a guiar os homens em meio às trevas
deste vale de lágrimas.
Numa
recente viagem de ônibus tive ocasião de contemplar lindas plantações
emolduradas por uma vegetação caprichosa. A variedade do panorama era
encantadora, podendo-se distinguir ali a mão do homem enquanto jardineiro de
Deus. Lição dignificante e empreendedora do camponês que se dispôs a lutar pela
prosperidade daquelas terras semeando nelas a boa semente, sem descuidar das
ervas daninhas que sempre lhe disputam a luz. Estampava-se naquela paisagem uma
lição para a vida. Do lado de fora, a exuberância e a vitalidade das plantas;
de dentro, a perversidade dos que se esforçam para arrastar as almas na direção
do mal.
Uma
digressão esclarecedora. Lembro-me da vida simples de um padre de aldeia que
passeava pelos campos e se pôs a rezar. De repente, encontrou-se com um caçador
acompanhado por um lindo cão. O padre era São João Maria Vianney, o Santo Cura
d’Ars [imagem ao lado], que o cumprimenta elogiando a beleza do cachorro, e, ao
mesmo tempo, lhe dirige palavras para conquistar o seu coração. Se o cão é tão
belo assim, a sua alma deveria ser ainda mais bela, pois é imagem de Deus. O
caçador cai de joelhos e faz a sua confissão.
A
viagem prosseguia normalmente e minha mente peregrinava por essas
considerações. Uma das características de nossos dias é que as trevas quase que
circundaram a luz. As belezas criadas estão obnubiladas pela feiura da desordem
e do pecado. Não há um momento, uma circunstância, um lugar em que não somos
surpreendidos pelo trabalho sistemático e onipresente realizado pelo demônio
através de seus asseclas revolucionários a fim de perder as almas.
Dentro
do ônibus, as atenções dos passageiros se voltavam para as telas onde era
projetado um filme fazendo a apologia do feio, do cacofônico, do monstruoso, de
cenas desequilibradas e grotescas. Tratava-se de um desenho animado em que uma
figura representava o mal e se jactava não apenas de propagá-lo, mas de
encarnar o mal, aliás, para contentamento de quase todos!
Naquela
representação, eu percebia o mundo da desordem, além de certa euforia em
contrariar a beleza posta por Deus na criação. Por uma associação de imagens
lembrei-me de outro cenário, quando celebrava a Santa Missa num vilarejo.
Do
cânon até à consagração os pássaros orquestraram uma linda e emocionante
sinfonia, como se estivessem honrando o Santíssimo Sacramento que se tornava
presente na Hóstia Consagrada, numa espécie de manifestação de união entre a
natureza e o Criador. Seria uma luz de esperança de um futuro melhor com a
vitória da Santa Igreja e da civilização cristã?
Enquanto
a natureza canta e louva a presença de Jesus Eucarístico, os adversários da
Igreja conspiram contra toda e qualquer ideia de Deus e de sacralidade no
mundo. Pode-se compreender perfeitamente por que os monges contemplavam os
pássaros e ouviam seus cânticos para compor as músicas gregorianas.
Pelo
contrário, entende-se também por que os maus, ao observarem tudo isso, procedem
de modo contrário, com a intenção clara de negar a Deus e homenagear o demônio
por meio da desordem e da cacofonia, sobretudo visando corromper as crianças e
os jovens, o futuro e a esperança da Igreja.
Há
um trabalho sistemático, metódico e persistente para implantar o caos, a
desarmonia e a intemperança, pois só assim se perde a Sabedoria divina,
reguladora dos atos humanos. Sonho, aventura, espírito de luta e de cruzada,
militância por um ideal, tudo isso é indispensável aos revolucionários quebrar
o mais cedo possível nas crianças através de brinquedos monstruosos, músicas,
vestes e de certos desenhos animados.
Jesus
Cristo foi justo ao ensinar sobre a incomensurável gravidade do escândalo feito
a um pequenino que em sua inocência e simplicidade crê n’Ele. Ai daquele que o
escandalizar! Ser-lhe-ia melhor amarrar-se à mó de um moinho e se lançar nas
profundezas do mar.
Não
resta dúvida, aquilo que o canto dos pássaros, o verde dos campos, o brilho de
um dia ensolarado, a gota de orvalho a brilhar ao sol nos faz lembrar… Eis a
inocência da criança, cujos esplendores gritam dentro dela como um príncipe
dentro de um castelo, com desejos de cruzados prestes a se lançarem no campo de
batalha e que o demônio tenta destruir com seus símbolos macabros.
Os
nobres sentimentos de uma alma de escol como a de Plinio Corrêa de Oliveira
estão presentes na oração que ele compôs suplicando a Nossa Senhora a
restauração da inocência primeva, na qual quem a reza diz sentir-se tocado por
uma saudade indizível, saudade da época em que era amado por Ela na atmosfera
primaveril de sua vida espiritual, bem como do paraíso em que vivia sua alma
pela grande comunicação que tinha com a Santíssima Virgem e que a Revolução
queria destruir.
Observando-se
a História, há fatos gloriosos no campo do bem ao lado de acontecimentos
desastrosos provocados pelos agentes da Revolução. Com efeito, não houve
decadência maior do que aquela iniciada no final da Idade Média, uma crise sem
precedentes não apenas na esfera social, mas também de decadência moral, que
culminou com o Concílio Vaticano II.
Vem-nos
à memória o que se passou com o povo judeu, com o qual Deus operava maravilhas,
fazendo cair dos céus o maná, alimento finíssimo e de encantadora alvura,
símbolo da eucaristia, ou ainda operando o milagre de transpor o Mar Vermelho a
pé enxuto. Apesar dessa especial predileção, esse povo pecou contra o seu Deus,
levando à morte seu filho unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Não
obstante todos os feitos gloriosos da Igreja, a crise hodierna atingiu grau
surpreendente. Mas não nos esqueçamos da advertência das Escrituras, de que os
israelitas não creram nas maravilhas e pecaram, mas que seus dias passaram como
um sopro e seus anos acabaram depressa, pois não guardaram a aliança feita com
Deus e não quiseram andar segundo a sua lei.
Esqueceram-se
dos benefícios e das maravilhas que Deus fez à vista deles. Sem dúvida,
os pecados atraem a justiça divina. Um processo revolucionário desencadeado
pelas paixões do orgulho e da sensualidade para destruir os valores da civilização
cristã atingiu o seu auge, mas terá o seu fim. Invoquemos a ajuda de Deus e de
Nossa Senhora para que esse processo seja destroçado o quanto antes, e
alcancemos assim a vitória do seu Imaculado Coração:
“Tu
que estás sentado sobre os Querubins, manifesta-te, mostra o teu poder e vem
para nos salvar. Ó Deus, converte-nos, mostra-nos o teu rosto e seremos salvos.
Fizeste de nós um objeto de disputa para nossos vizinhos e os nossos inimigos
zombaram de nós. Deus dos exércitos restaura-nos, mostra-nos o teu rosto e
seremos salvos” (Sl 79).