Melhor fora que não tivesse nascido
Pe. David Francisquini
Nessa mesma epístola São Paulo fala sobre um seu discípulo de
nome Alexandre, o Latoeiro, que diante dos sofrimentos e perseguições movidos
pelo Imperador Nero, o abandonou nas vias do bom combate para se tornar seu
perseguidor. E mais tarde, em Roma, ainda tentou interferir no julgamento de
seu antigo mestre, causando-lhe muitos males e dores. Seguindo os ensinamentos
de Nosso Senhor, São Paulo não deixou de repreender o seu antigo prosélito
Alexandre ao informar a Timóteo de que este latoeiro pagaria no Senhor por
aqueles malefícios.
Na existência dos grandes homens, quantos são aqueles que não
cumprem com o dever de justiça negando-lhes reconhecimento e ajuda; quantos
iniciam essa via épica com entusiasmo, mas não perseveram por acharem
demasiadamente pesada a cruz que lhes pesa sobre os ombros; quantos desses não
se contentam apenas em abandonar a obra começada, mas passam a prejudicar e a
perseguir aqueles que quiseram lhes fazer o bem, chamando-os para as vias do
heroísmo e da santidade. O grande exemplo da História foi o de Judas
Iscariotes…
Quantos Latoeiros passaram pelos caminhos de profetas, de
monarcas, de guerreiros, de desbravadores e de santos! Se isso acontece em
relação aos homens, ocorre igualmente com instituições como a Santa Igreja
Católica e o Estado, como a História vem registrando. Tomemos o Brasil. Ninguém
de boa-fé pode negar a sua grande vocação no concerto das nações, agora e para
os séculos vindouros. Ao lado de muito bons brasileiros que perseguem e lutam
por este ideal, quantas traições e tramas para pôr em xeque os destinos do
País! Com certeza, eles também pagarão no Senhor não apenas pelo que deixaram
de fazer, mas principalmente pelos malefícios causados.
Na atual quadra em que o Brasil se encontra — ainda padecendo
as consequências de décadas de governos esquerdistas que se empenharam em
desviá-lo de sua providencial missão, agravadas pelos males da pandemia chinesa
e pela instrumentalização inescrupulosa que numerosos políticos vêm fazendo
dela —, quanta indiferença, quantos não cumprem sua obrigação de filhos,
quantos começam e abandonam o seu dever e, o mais infamante, quantos tramam e
lutam para prejudicá-lo! Uma coisa é certa: todos pagarão junto a Deus pelo mal
que promovem ou pelo bem que omitem de fazer pelo País nas vias de uma
civilização cristã.
É ainda São Paulo o nosso ponto de referência, pois na sua
primeira defesa ante o Tribunal Romano, todos os que teriam podido defendê-lo não
o fizeram. E não ficou apenas aí. Aparece o latoeiro Alexandre para difamá-lo e
acusá-lo junto àquele tribunal pagão. Guardando as devidas proporções, o Brasil
se encontra numa situação semelhante, pois dentre os brasileiros que deveriam
se levantar numa só voz para defendê-lo, vemos, pelo contrário, os que o
perseguem buscando quebrar a moralidade nas famílias, destruir a Fé e os bons
costumes.
Para nos entendermos bem, recordemos o que Josafá, Rei de
Judá, disse ao estabelecer Juízes em todas as cidades do reino, recomendando e
ordenando as responsabilidades que iriam exercer: “Vede o que fazeis,
porque não exerceis a justiça do homem, mas sim a do Senhor; tudo o que
julgardes, recairá sobre vós. O temor do Senhor esteja convosco. Fazei todas as
coisas com diligência, porque no Senhor nosso Deus não há iniquidade, nem
acepção de pessoas, nem cobiça de dádivas”.
Excelente conselho que nos dá o Rei de Judá no encaminhamento
das causas judiciais. O Catecismo Romano da Igreja Católica alerta sobre a
ideologia totalitária que defende um critério objetivo sem referência do bem e
do mal, expondo assim a salvação das almas. Ressalta ainda que a missão da
Igreja ao respeitar a ordem política tem como objetivo defender os direitos
fundamentais do homem e o seu destino eterno. Não havendo justiça, como se
cumprirá o que determina a vontade de Deus? Como haverá ordem e harmonia nas
classes sociais sem a observância do ordenamento jurídico?
A Lei natural é a reta razão gravada nos corações das
pessoas, que tendem a rejeitar o mal e operar o bem. Deus, ao criar o homem,
criou-o para um fim supremo, eterno. Gravou em seu coração leis que se aplicam
a todos os povos, em todos os lugares e em todas as épocas; leis que determinam
e estabelecem a regra da justiça, ao dar a cada qual o que lhe pertence. É um
direito inalienável, estabelecido pelo próprio Deus. E ai daquele que não
julgar com os critérios da moral eterna! Talvez se pudesse dizer dele o que São
Mateus escreveu sobre Judas: melhor fora que não tivesse nascido.