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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Onde nasce a Luz, ali nasce a Fé

                                                                    *Pe. David Francisquini


Ao considerarmos a Gruta de Belém, não podemos deixar de perceber a união tão íntima entre Jesus e Maria. Ele enquanto Deus deu a vida a Maria, e Maria enquanto Mãe deu a vida a Jesus. Se Jesus Cristo se fez homem, o fez por Maria, escolhida por Ele para ser sua Mãe.
Como não se pode separar a luz e o calor do sol, assim também não se pode separar Jesus de sua celestial Mãe. No Presépio, ao receber a visita dos pastores de Belém, o Menino-Deus encontrava-se reclinado, envolto em panos, sob o olhar enlevado de Maria e José.
Os Reis Magos O encontraram sentado nos braços de Maria, um trono seguro e sem mácula.  Consumado o milagroso parto, veio à luz o Homem-Deus naquele presépio, pois não havia lugar para Ele em Belém. O Rei dos reis, nas dimensões de terna criança, estava nos braços de Maria e se alimentava de seu leite.
O Evangelho descreve o natal de Jesus, Belém de Judá – cidade de José e Maria, pertencentes à linhagem de David – e os dias de Herodes. Ao narrar sobre este último, quis assinalar que além de não pertencer à dinastia real de David, ele era um rei intruso, despótico e cruel.
O maior acontecimento da História havia se cumprido conforme a profecia de Daniel, depois das setenta semanas de anos acabados. Enquanto a nação Judaica era governada por Reis legítimos, Deus enviava Profetas para sanar os males que se acumulavam sobre o povo escolhido.
Lemos no Gênesis (49,16) que o cetro não será tirado de Judá, nem o príncipe de sua descendência, até a vinda d'Aquele que deve ser enviado – a esperança das nações. “Ele atará à vinha o Seu jumentinho e à videira, ó meu filho, a Sua jumenta. Lavará Sua túnica no vinho e Sua capa no sangue da uva. Os Seus olhos são mais formosos que o vinho, e os Seus dentes mais brancos do que o leite”.
São Mateus pergunta: “Onde está o Rei que acaba de nascer? Porque nós vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo. Ao ouvir isto, o rei Herodes turbou-se, e toda Jerusalém com ele. E convocando todos os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo, perguntou-lhes onde havia de nascer o Messias”.
E eles lhe disseram: em Belém de Judá, porque assim foi escrito pelo profeta: “E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe, que apascentará Israel meu povo”.
Enquanto os pastores são israelitas, os magos são gentios, ou seja, não pertencentes à raça do povo escolhido. Mas uns e outros se aproximaram de Nosso Senhor Jesus Cristo como pedra angular do edifício novo instaurado por Jesus Cristo, a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana.
Comenta Santo Agostinho que Jesus Cristo não quis se manifestar aos sábios e justos, mas a pastores rústicos e a representantes de povos que viviam nas trevas do paganismo ou da idolatria. Assim agiu para confundir os sábios e para que ninguém pudesse se ensoberbecer; e nem o débil desesperar-se por sua debilidade e fraqueza.
 Representando todas as nações descendentes de Noé e seguidos por grande comitiva, os Reis Magos ofereceram ao Menino-Deus ouro, incenso e mirra. Eles vieram do Oriente... No dizer de São João Crisóstomo, onde nasce a Luz, ali nasce a Fé.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011


Ela te esmagará a cabeça

                                                                                                      *Pe. David Francisquini


No dia 8 de dezembro celebramos a tradicional festa da Imaculada Conceição de Maria, a Mãe de Deus, tendo Ela concebido por obra do Espírito Santo o Filho de Deus feito homem, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Os méritos de seu futuro Filho foram aplicados à Mãe antes mesmo de Ela O conceber e, por conseguinte, sem a nódoa do pecado original.
Em sua onipotência, Deus fez o homem do limo da terra, dando-lhe alma imortal. A partir deste fez a mulher, colocando sobre este primeiro casal toda a Sua predileção. E, para mais bem nobilitar a raça humana, quis participar dela pela Encarnação no ventre puríssimo de Maria. Coroou, assim, a obra da criação.
Como sabemos, esse primeiro casal foi infiel e não correspondeu aos planos do Criador. Mas nos Seus divinos e soberanos decretos, revelou Deus que dessa raça pecadora viria o futuro Salvador. Sua Mãe seria uma pedra de contradição que, como um terrível exército em ordem de batalha, esmagaria a cabeça da serpente infernal.
Porei inimizade entre ti e a Mulher, entre a tua descendência e a descendência d’Ela e Ela te esmagará a cabeça, e tu armarás traições ao Seu calcanhar.” Luta posta pelo próprio Deus, que a vem sustentando entre a raça bendita da Mulher e a raça maldita de satanás, entre os que são de Deus e os que são do demônio.
Luta que vem se avolumando no decorrer dos séculos. Nossa Senhora terça armas sem cessar com o demônio e seus sequazes. Sua vitória é garantida pelo próprio Deus, que A fez seu lugar-tenente na guerra contra o pecado, o demônio, o mundo enganador e a carne corrompida. Em Fátima, Ela mesma nos prometeu: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”. 
            Afinal, “quem é esta que surge como a aurora‚ bela como a lua‚ brilhante como o sol‚ temível como um exército em ordem de batalha?” (Cant 6‚ 8-10). Ao criar Maria, Deus onipotente A isentou da mácula original e fez n’Ela grandes maravilhas. Aquele que fez o Céu e a Terra resgatou da culpa da raça humana Aquela que seria a Mãe do Salvador livrando-a da culpa original. 
A Virgem Mãe de Deus está acima de todas as mulheres por ter virginalmente engendrado Aquele que os céus não podem conter. Eis a razão por que, ao criar Maria, Deus quis aplicar por antecipação os méritos de Cristo na Cruz, afastando d’Ela o pecado universal que maculara a raça humana. Só assim o Salvador poderia redimir os homens do pecado original.
Ao louvar Maria, o Anjo Gabriel diz: “Ave, oh cheia de graça!”. Como poderia ele dizer “plena de graça” se o pecado A tivesse maculado? Jamais! Em Maria nada falta. Deus A fez segundo os arcanos divinos A haviam concebido desde toda eternidade para ser a Mãe de Jesus Cristo, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
Ao oferecer os elementos de uma nova vida, a mulher é instrumento na mão de Deus. É Deus criando através dela. Assim também se dá com Maria ao gerar Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, por obra do Espírito Santo.
Não significa que Ela tenha gerado a divindade, pois o Filho foi gerado por via intelectiva desde toda a eternidade. Ao dar ao Filho os elementos para tornar-se homem, Maria se tornou Mãe de Deus. Por esta razão Ela não poderia ter a nódoa do pecado original, pois repugnaria à divindade tirar os elementos de sua humanidade de um ventre concebido no pecado.
Jesus Cristo veio ao mundo para destruir o cativeiro do pecado e da morte. Segundo afirmação de Santo Agostinho, Ele obteve o cetro da rainha das virgens que O concebeu – o rei da castidade – num seio virginal e puro onde Ele pudesse morar e dar-nos a entender que só um corpo puro e casto pode ser o templo de Deus.
           Antes de o sol nascer e deitar seus raios, já ilumina a Terra com um belo colorido. Antes de ser gerado e nascer, Jesus Cristo irradiou o esplendor da graça redimindo Maria, inocentando-A da culpa original, ostentando sobre Ela os raios da mais perfeita virtude, fazendo-A imaculada. Assim, sem mácula e com virtude perfeita Ele, veio ao mundo para realizar Sua missão redentora.

sábado, 26 de novembro de 2011

De Deus não se zomba!


De Deus não se zomba!


                                                                                          *Padre David Francisquini


Patrocinada pelo Ministério da Saúde, a experiência da distribuição gratuita de preservativos a estudantes do Ensino Médio em quatro capitais deverá ser estendida a 400 escolas públicas de todo o Brasil através da instalação de máquinas distribuidoras. A propósito e enquanto sacerdote, eu me julgo na obrigação de dizer uma palavra sobre o assunto.

Reporto-me a um dos modelos apontados pela Santa Igreja para a edificação de seus membros, São Pedro Julião Eymard, fundador da Congregação do Santíssimo Sacramento ou Sacramentinos. Como grande conhecedor de almas, ele considerou a transição da infância para a adolescência como a fase mais crítica da vida de um jovem, pois seu futuro dependerá do que ele foi nesse confronto decisivo da vida.

Ao não se deixar capitular pelos impulsos sexuais, a personalidade fica para sempre impregnada pela alegria de ter vencido aquela primeira batalha da vida. Falando certa vez para um público jovem, aquele santo francês assegurou: Se vedes em mim decisão e coragem, é porque eu soube vencer tal ímpeto da paixão e isso se expressa em minha própria voz.

         Com efeito, nada rompe mais a personalidade de um moço do que se enveredar pelo caminho tortuoso da impureza. São Paulo nos advertiu: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba. Aquilo que o homem semear, isto também colherá: aquele que semeia na sua carne, da carne colherá corrupção; mas o que semeia no espírito, colherá do espírito a vida eterna.

“Andai segundo o espírito e não satisfazei o desejo da carne. Efetivamente, a carne tem desejos contrários ao espírito e o espírito desejos contrários à carne; essas coisas são contrárias entre si para que não façais tudo aquilo que quereis... As obras da carne são manifestas: o adultério, a fornicação, a impureza, a luxúria...”.

         Existe um princípio regulador da função sexual que se obtém apenas dentro do matrimônio legítimo, pois só este proporciona o verdadeiro sentido de sua retidão moral no relacionamento homem e mulher. Não havendo tal formalidade, as relações sexuais se tornam imorais e, portanto, constituem sempre e em qualquer circunstância, pecado mortal inescusável.

Os defensores das relações pré-matrimoniais costumam alegar como obstáculos para a realização do casamento a prazo longo ou curto, as dificuldades para a obtenção de uma casa, a compra de móveis, a necessidade de conservar o amor, o desabafo do organismo, problemas de saúde, ou ainda a necessidade de maior conhecimento recíproco.

Contudo, tais alegações são feitas para abafar a própria consciência, pois como não querem ter filhos – para eles a grande tragédia da vida –, procuram eliminar todos os entraves que os impedem de se relacionarem e, ao mesmo tempo, gozarem de reputação ilibada perante a sociedade. Outra corrente quer fazer deste relacionamento uma coisa tão banal que julga ser melhor trazê-lo para a luz do dia.

Espero mostrar brevemente que os preservativos não vão solucionar os problemas dos jovens, mas agravá-los. Nosso governo, ao promover tal iniciativa, está semeando a cizânia no campo primaveril de nossa juventude. Contudo, a sociedade não tardará a colher o fruto desse infausto trabalho.


De Deus não se zomba! (II)

                                                                                         Padre David Francisquini

Ao comentar o infausto ensaio do governo brasileiro de promover a distribuição de preservativos a estudantes de Ensino Médio, mostramos que em vez de resolver o problema dos jovens, tal medida somente os agravará. Ressalto de passagem que “experiências” do gênero são sempre levadas a cabo em nome da “ciência”, a qual fica assim desvirtuada de seu sentido original, tornando-se uma palavra-talismã.

É, pois, ancorado na nova religião da “ciência e na técnica” que o Estado interfere em tudo, legisla e tenta regular a conduta do cidadão em campos nunca antes imaginados, para assim “redimir” os homens e a sociedade de todos os seus males presentes e futuros. Para citar um exemplo, lembro aos leitores a ridícula “lei da palmada”...
A propósito, acabo de ler estarrecedora notícia publicada no The Telegraph, de Londres, segundo a qual 38% da população da União Européia sofrem de distúrbios mentais e doenças cerebrais. O jornal inglês se baseia num estudo do Colégio Europeu de Neuro-psicofarmacologia. Para os estudiosos, as desordens mentais se tornam o maior desafio à saúde na Europa do século XXI.

Comentando a referida notícia, Luís Dufaur (http://www.ipco.org.br/home/) afirma que a causa desses males pode bem estar na tentativa de construir uma super-organização em bases puramente materiais que ignoram – e até hostilizam – o lado espiritual e a religião do homem. E indaga: “Não será uma das causas mais profundas desses desarranjos mentais?”.

Atentar contra os fundamentos cristãos da civilização constitui um dos maiores fatores de enlouquecimento. O pior é quando tal ataque é perpetrado metodicamente pelo Estado em nome da ciência. No caso concreto da distribuição de preservativos a estudantes, a iniciativa conta com o auxílio de pesquisadores de dois órgãos da ONU.
O cuidado com os jovens deve começar pelos pais e ser complementado pelos professores. É na juventude que se forma o caráter, o qual, por sua vez, influenciará no destino de cada um. Os pensamentos se transformarão em palavras, as palavras em atos, e estes em hábitos que formarão ou deformarão seu modo de ser.

O que nossas autoridades semearem nas escolas, a sociedade colherá no final do ciclo. A imoralidade vem ceifando mais vidas que a própria guerra e está na origem da violência, da criminalidade, do desajuste familiar e das separações; está na raiz da pior das epidemias, além de um incontável número de doenças. Através dos frutos pode-se saber se as sementes têm sido boas ou não.

Enquanto sacerdote, eu me reporto ao ensinamento da Igreja, que condena a liberação do sexo na adolescência, ou mesmo antes do matrimônio: “Bem aventurados os puros de coração porque possuirão o reino dos céus.” A união carnal só pode ser legítima quando se estabelece uma definitiva comunidade de vida entre um homem e uma mulher.

As relações sexuais pré-matrimoniais excluem, o mais das vezes, a prole e o que se apresenta como amor conjugal não pode se desenvolver como deveria, ou seja, num amor paterno e materno.

Caso eventualmente se desenvolva será em prejuízo dos filhos, que se verão privados da convivência estável da qual havia de poder realizar-se como convém e encontrar o caminho e os meios necessários para se integrarem na sociedade. (Declaração da Santa Sé nº 7).

sábado, 5 de novembro de 2011

A semente em terra fértil (II)

                                                                              *Pe. David Francisquini

Em recente artigo – A semente em terra fértil – tive ocasião de salientar a têmpera do homem do campo, formada primordialmente pela contemplação e reflexão. Hoje volto ao tema entrevendo uma montanha que se eleva no seu panorama. Ela estará sempre como uma bússola a nortear sua imaginação cheia de princípios, ainda que incipientes, sobre as virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade. 
A partir daquele mirante, o camponês poderá analisar o que acontece ao seu redor como uma chuva mansa que cai sobre a relva e ressoa harmonias às quais ele poderá associar as dádivas e as bênçãos de Deus sobre ele, sua família e seu campo. Enquanto a vegetação se beneficia da água, ele agradecerá a Deus, o Pai de todos, que faz chover sobre os justos e os injustos.
Enquanto os pássaros em revoada se põem a cantar, o camponês pensará no céu, nos anjos e nos santos, que numa homenagem perene louvam a Deus. Ao ver um passarinho apanhar um inseto e com ele alimentar seus filhotes, o camponês se lembrará de Deus que o ajuda sempre a alimentar seus filhos e educá-los para a vida.
De quando em quando, ele ouve um mugido do gado pastando, e se lembrará de Deus, bendizendo-O no fundo de seu coração por não se ter esquecido dele nas labutas diárias. Enquanto os cães ladram durante a noite, ele é levado a pensar nas sentinelas que Deus lhe deu como vigia para si, sua família e seu patrimônio.
 Na iminência ou mesmo durante uma tempestade com relâmpagos e trovões, ele poderá se recordar da justiça divina que premia os bons e castiga os maus. O temor de Deus, início da sabedoria, o levará a fazer propósitos firmes de abandonar o erro e o pecado e não transgredir mais os mandamentos divinos.
Não nos esqueçamos de que o homem do campo também padece das conseqüências do pecado original; o que o diferencia dos outros em nossos dias é o fato de ele se encontrar no habitat que lhe é próprio. Com efeito, ao contemplar a natureza, ele se lembrará da vida perfeita e incriada, ou seja, do próprio Deus que é o Pai da vida, d’Aquele que distribuiu seus bens sem medidas.
Não é sem motivo que o camponês reza o Pai Nosso, oração perfeita composta pelo próprio Homem-Deus. Não é sem motivo que ele não deixa de rezar a Ave-Maria à Mãe das mães. Enquanto reza ele reflete, e seu pensamento o leva a voar para uma região longínqua, ao dia de sua morte terrena e de seu encontro com Deus.
Se o seu caráter se tornar indomável, ninguém conseguirá dobrá-lo, devido à sua fé e ao seu amor a Deus. Enquanto ele estiver na terra, não há outro sentido senão o de passar seus dias amando e glorificando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. O que continuará na terra será o seu exemplo, o seu valor de luta e de intrepidez.
Tais considerações nos fazem reportar à Escritura Sagrada, com Deus sujeitando o homem a tirar da terra o seu sustento com trabalhos árduos todos os dias de sua vida. Se assim o fez, foi de Pai para filho, pois entre espinhos e abrolhos seu herdeiro formará o caráter ao comer o pão com o suor de seu rosto, até que volte à terra da qual ele foi formado.

domingo, 9 de outubro de 2011

A semente em terra fértil



                                                                                                      *Pe. David Francisquini


Ao percorrer o território de minha paróquia venho me defrontando com problemas que à primeira vista parecem sem solução. A sociedade dita moderna torna cada vez mais inviável a formação religiosa e moral de seus membros. Ninguém, ou quase tanto, sabe rezar as mais elementares orações do cristão.
Como a misericórdia de Deus nunca deixa de assistir os seus filhos – no caso concreto, pároco e paroquianos – de repente, a luz da graça toca o fundo da alma de certos pecadores, dando-lhes a confiança de que um dia triunfarão. A partir dali, um padre experiente percebe a solução aflorar como a semente lançada em terra fértil.
Se de um lado o ambiente religioso propicia felicidade de situação ao ministro de Deus, este precisa de outro lado esperar – muitas vezes anos a fio – o momento da graça para dizer a determinadas pessoas as verdades necessárias ao seu progresso espiritual visando o seu bem na terra e sua eternidade no céu.
Referi-me acima à semente lançada em terra fértil. Com efeito, a figura do lavrador na sua jornada diária pode simbolizar a ação de outro agricultor, ou seja, daquele que trabalha na seara do Senhor. Ainda que seja pertinaz e acurado no trabalho, ele aguarda preocupado que a semente germine e frutifique.
Em seu campo o agricultor se orienta ora pela chuva, ora pelo bom tempo, ora pelo vento, ora enfim por outros pontos de referência sempre ao alcance de sua observação e que o acompanham no seu afanoso trabalho. Na paróquia, cercado de embaraços e atropelos, o sacerdote fica às vezes como um cultivador cego e paralítico.
Nesse momento de aridez, resta-lhe o melhor dos instrumentos de apostolado que é a oração, o jejum e a penitência para levar a cabo a sua árdua tarefa de salvar as almas. É com espírito de fé e determinação que ele imita os Apóstolos que evangelizaram o mundo em cumprimento do mandamento de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Hoje os campos de minha região – Norte fluminense – encontram-se quase vazios e as cidades cada vez mais cheias. Um problema social? – Sim. Contudo, não nos basta tal constatação sociológica. O bom senso mostra que o homem do campo pode viver mais próximo de Deus que um citadino.
Oportunidades não lhe faltam para a oração e a reflexão. E também para a ação: como todo bom semeador, na medida em que cultiva a boa semente, vai arrancando a cizânia e as ervas daninhas. Tudo isso ele faz com a calma própria da vida camponesa, o que lhe remete a transcender e pensar em Deus e em sua alma.
Nessa lide constante para se manter e se enriquecer, ele deve lutar para extirpar de si as raízes do mal e as suas más tendências, as inclinações desordenadas que o convidam diuturnamente a transgredir as leis de Deus e da Igreja. O fruto dessa luta corresponderá à sua têmpera e ao seu valor.
Somam-se a esses valores a cultura adquirida, o espírito de luta, o senhorio, pois quem cultiva a terra se eleva a um patamar mais alto e mais nobre do que aquele que administra bens de terceiros, como acontece de modo quase generalizado nas cidades, onde a maior parte das pessoas trabalha em negócios de terceiros.
O homem do campo se forma pela meditação e reflexão. Tudo nele se reporta a Deus, à religião, à fé, à sua alma, ao seu futuro. Ao mesmo tempo em que amealha riquezas, se eleva e se enobrece com o seu trabalho, ele não desvia os seus passos da freqüência aos sacramentos e assim se prepara para o céu.
Não é nesse amontoado de prédios, de casarios, de favelas, que mais parecem ninhos de pombo – aliás, “campo fértil” para a proliferação das drogas, da promiscuidade, da limitação de filhos, da violência, da embriaguez, da ociosidade e da criminalidade – que o homem irá pensar em Deus e santificar-se.