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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

As aves do céu e os lírios dos campos


Pe. David Francisquini
 

 

Já revelei em outras ocasiões aos meus leitores o apreço que tenho pela vida campestre, a qual sempre nos remete à contemplação da arquitetonia do universo e aos ensinamentos de Jesus Cristo que estão contidos nas páginas dos Santos Evangelhos. Basta pensar na descrição tão poética quanto apropriada sobre as aves do céu e os lírios do campo.
Com a força física que lhe é própria, o homem prepara a terra e lança a semente, na esperança de tirar do seu trabalho o alimento material de cada dia. Com a sua força da vontade, ele deve procurar com afinco a luz, para entender a realidade mais profunda contida nas Sagradas Letras, haurindo assim sustento espiritual ao longo da vida terrena.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012


O cristão é outro Cristo


*Pe. David Francisquini


            A doutrina católica ensina há dois mil anos que christianus alter Christus. Com efeito, ao nos encontrarmos na amizade com Deus, isto é, em estado de graça, temos uma vida nova, toda divina, vida sobrenatural com todas as riquezas das virtudes e dons que nos elevam e nos fazem participar da vida própria e natural em Deus.
Vida participativa, portanto: divinae consortes naturae, ou seja, consorte, uma união que se nos dá pela graça com a natureza divina. Portanto, o próprio Deus habita em nós, tornando-nos templo do Espírito Santo, morada da Santíssima Trindade, no dizer de São Paulo.
Vivendo e cooperando com a graça e as virtudes infusas haverá um desenvolvimento e uma união da criatura com o Criador que poderá atingir alto grau de perfeição, preparando-nos para a vida eterna. As tribulações, os sofrimentos da vida presente não se comparam com a vida vindoura.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012


Limpar a poeira e tirar o mofo (II)

Pe. David Francisquini

Em recente artigo com o título em epígrafe, procurei analisar a causa mais profunda da baldeação em massa de católicos das hostes da Santa Igreja Católica Apostólica Romana para os renques protestantes, conforme as estatísticas e segundo podemos observar em nossa volta. Ao retornar ao tema, convido o leitor para considerarmos juntos alguns momentos da vida religiosa antes do Concílio Vaticano II.
No Paraná, onde eu cursava o seminário, ouvi no sermão de uma Sexta-feira Santa o bispo alertar os fiéis sobre a ação dos protestantes, que à época percorriam as cidades de sua diocese batendo de casa em casa, a fim de lançar dúvidas e sementes da cizânia na cabeça das pessoas.

Esses disseminadores da divisão entre as fileiras católicas não tiveram ambiente para continuar seu proselitismo e acabaram por deixar a diocese. Para reconforto dos fiéis, esse mesmo hierarca organizava as tradicionais associações religiosas femininas e masculinas, e não raras vezes promovia, em torno da catedral diocesana, manifestações públicas com a presença de todas elas revestidas de suas respectivas insígnias.
Com entusiasmo, ouvi um zeloso padre contar-me ter feito um debate público com os protestantes, mostrando-lhes não terem conhecimento de Deus nem dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. As crianças de sua paróquia sabiam mais sobre os ensinamentos divinos que os seus dirigentes.
            Creio que falta hoje aos meus colegas do clero o espírito polêmico e militante da Santa Igreja Católica. Julgo oportuno trazer a lume o que diz São Pedro na sua primeira epístola, a fim de esclarecer a responsabilidade do ministério sacerdotal:
           “Apascentai o rebanho que Deus vos confiou, velando sobre ele, não por constrangimento, porém, espontaneamente, conforme a vontade de Deus; não por um ganho vergonhoso, porém, por dedicação. Não vos porteis como senhores sobre a herança [de Deus], porém, tornando-vos um exemplo para o rebanho do íntimo do coração. E quando aparecer o príncipe dos pastores vós obtereis a coroa incorruptível da glória; e vós também, ó jovens, submetei-vos aos mais velhos” (1Petr. 5, 1-11).
Podemos apalpar nessas santas palavras o reflexo e o esplendor com que o guia de almas deve se dedicar em função da vocação para a qual foi chamado. Aplica-se aqui a parábola do mau administrador que dissipou os bens de seu senhor, pois ao conceder o pão da verdade e da verdadeira doutrina, o sacerdote é na verdade o administrador dos mistérios de Deus.
Ademais, ele administra as águas que jorram dos sacramentos e das cerimônias religiosas realizadas com sacralidade. Ele é o bom exemplo de conduta digna e santa do seu estado sacerdotal; ele promove e cultiva a recitação do Rosário; ele santifica no momento solene da bênção do Santíssimo Sacramento; ele instrui na religião; ele entoa hinos e joga o incenso de bom odor a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Com rituais que mais se assemelham ao protestantismo – sem falar dos escândalos nos meios católicos – sacerdotes há que acabam preparando o espírito dos fiéis para aceitar a doutrina errada. Ora pregam pouco a devoção a Nossa Senhora; ora descuram da água benta e das devoções externas, como o uso da medalha de São Bento e da Medalha Milagrosa; ora não arranjam tempo para atender devidamente às confissões e preparar as instruções religiosas; ora enfim, omitem o dever de falar de Deus e da alma, do prêmio e do castigo, da mudança de vida e do combate aos trajes modernos e imorais que pervertem os costumes das famílias e invadem até os ambientes religiosos.
O que mais estarrece são as heresias e a perseguição àqueles sacerdotes que querem portar a sua batina e celebrar o rito tradicional da missa tridentina, o qual nunca foi proibido, como afirma Bento XVI no Motu Próprio Summorum Pontificum.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012


Limpar a poeira e tirar o mofo I
Pe. David Francisquini

 
A propósito de recentes estatísticas apontando o crescimento das facções protestantes em detrimento da religião católica, recordo-me que no final da década 1960 um jornalista muito arguto e pouco fiel à nossa santa fé chegou a afirmar que o Brasil não tardaria a se transformar no maior país ex-católico do mundo.
À época, eu cursava o Seminário Menor no Paraná e já podia perceber a transformação paulatina e persistente nos meios católicos através de sacerdotes ditos progressistas. Com ou sem pretexto, eles compareciam no Seminário a fim de fazer reuniões, acenando sempre para uma mentalidade nova a contrarrestar valores então vigentes, qualificados não sem alguma malícia de “empoeirados” ou cobertos de mofo.
Por ser conservadora, a diretoria do referido seminário começou a sofrer pressão de um órgão do Vaticano e do episcopado paranaense para se adaptar aos novos tempos, sob pena de abandonar aquela casa de formação sacerdotal. Seu ex-reitor deve possuir em seus arquivos os documentos que exigiam a sua cabeça e a dos demais sacerdotes que o coadjuvavam.
A diocese tinha cerca de cem seminaristas menores, doze mil congregados marianos e filhas de Maria, além de outras associações de leigos. Um sacerdote aggiornato do Rio Grande do Sul, encarregado pelo bispo, visitava uma a uma dessas associações, sempre propondo limpar a poeira e tirar o mofo através da modernização, mesmo que precisasse desautorar o sacerdote que dirigia as referidas associações.
Num ambiente assim hostil ao ensino tradicional, surgiu uma nova liturgia. O altar do santo sacrifício da Missa foi substituído por uma mesinha de frente para o povo, músicas profanas foram introduzidas nas celebrações, o espírito religioso dos fiéis cedeu lugar a uma mentalidade mundana, e muitas vezes se parodiavam os protestantes. Já no Seminário Maior em Curitiba, presenciei e ouvi de um sacerdote no sermão a apologia do protestantismo ao afirmar que a Igreja havia mudado sua posição.
            À noite daquele mesmo dia, com a presença de todos os seminaristas, católicos e protestantes se reuniram numa igreja da capital paranaense. No púlpito se revezavam padres e pastores. Houve padres que ousaram defender o fim do celibato. A partir daí, muitos sacerdotes passaram a sofrer de um mal que ficou conhecido como “crise de identidade”, outros ainda lamentavelmente abandonavam o sacerdócio em decorrência das novidades surgidas a partir do Concílio Vaticano II.
Para os avisados a notícia da redução do número de católicos no Brasil não chega a surpreender, pois o ambiente vinha sendo amplamente preparado, como se pode observar na leitura do livro “Em defesa da Ação Católica”, de Plinio Corrêa de Oliveira. Nessa obra, escrita em 1943, o autor mostra a mudança não apenas de comportamento, mas igualmente de doutrina, a partir de uma ala modernista que se tornou atuante já na década de 1930, não respeitando os tradicionais ensinamentos da Santa Igreja.
Às vezes me pergunto se o clero brasileiro, sobretudo o episcopado, está realmente preocupado com a defecção e apostasia dos católicos que passam a engordar as fileiras do protestantismo. Fala-se muito em ecumenismo nos meios católicos, mas como o clero teria deixado escapar tantas ovelhas de seu rebanho? São os católicos que estão fazendo proselitismo para esvaziar os ambientes das seitas protestantes, ou são estas que se aproveitam da decadência religiosa e do clero? Como fica o dogma de que fora da Igreja não há salvação?
            Essas perguntas me vêm ao espírito ao imaginar a situação alarmante daqueles que apostataram ao renegar a fé recebida no santo batismo. Qual teria sido a causa mais profunda desse abandono em massa – um terço dos católicos – da fé no único Deus verdadeiro e da religião única e verdadeira desse mesmo Deus que é a Santa Igreja Católica Apostólica Romana? Para responder tais interrogações, precisamos analisar a vida religiosa antes do Concílio Vaticano II, assunto que fica para um próximo artigo.