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sábado, 30 de julho de 2022

É difícil hoje a vida do cristão

Padre David Francisquini


Os livros sagrados proclamam que a criatura, livre da corrupção, alcança a gloriosa liberdade dos filhos de Deus.  Apesar de gemer no peregrinar dessa vida, num vale de lágrimas, há uma possante eficácia de alcançar a graça, em conformidade com a providência Divina, pelo fato de  Nosso Senhor Jesus Cristo, filho de Deus encarnado, ter traçado o caminho da integridade ao determinar: “Se quiseres vir após mim, renuncia-te a ti mesmo, toma a tua cruz e segue-me”. Como? De que maneira? Simplesmente cumprindo sua santa lei, auxiliado pela graça oriundos dos sacramentos e  pela prática constante da oração.

“Christianus alter Christus”, o cristão é um outro Cristo. Muitas vezes, dores inenarráveis trespassam a alma dos seguidores fiéis. Essas amarguras, unidas aos indizíveis sofrimentos do Redentor Divino, servem para aplacar a maldade daqueles que têm sede de absurdos, de torpezas e de pecados, obtendo-lhes graças que não receberiam sem o mérito de “outros Cristos”, isto é, de outros cristãos, devotos e dedicados aos princípios imutáveis da Santa Igreja .

Deus é Pai e garante aos filhos, sofredores, que se mantiverem fiéis até o fim, a recompensa demasiadamente grande por todos os séculos. O apóstolo São Paulo afirma que combateu o bom combate e guardou a fé; estava-lhe, pois, garantida a compensação da coroa imarcescível, aquela que jamais perderá o esplendor ao fim da laboriosa missão de evangelizar.

Assim, entendemos a razão da dificuldade, que há atualmente na vida do cristão, sobretudo ao enfrentar o ambiente geral com atitudes e opiniões diferentes das que nele grassam. Dizer ‘não’ ao meio social, tão degradado moralmente, é um ato de coragem, de destemor e de não se deixar compactuar com as ideias revolucionárias. Ser cristão é pertencer à Igreja, e lutar por ela, com denodo e galhardia,  é coisa muito alta, mas também muito árdua e nobre.

Segundo recomenda o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, devemos pensar como a Igreja pensa, sentir como a Igreja sente, agir como a Igreja quer que procedamos em todas as circunstâncias de nossa vida. Isto supõe um senso católico real, uma pureza de costumes autêntica, uma piedade profunda e sincera. Com efeito, pertencemos à Igreja militante e devemos nessa qualidade lutar em defesa das leis e dos direitos de Deus, sobretudo quando mais generalizadamente vilipendiados.

Não podemos ficar indiferentes diante das ignomínias que todos os dias vêm se acumulando, como a imoralidade desenfreada e suas funestas consequências, a promiscuidade, a prática do aborto, os assassinatos, as revoltas, tudo visando à implantação da sociedade comunista e igualitária.

Olhemos para o Brasil! Revolucionários tentam controlar os destinos da nação, determinando rumos anticristãos, violando valores da família com igualdade de ‘gênero’, aborto, drogas, prostituição, violência e convulsão social. Tudo isso foi sendo lançado e divulgado aos poucos, em pequenas doses, nas mentes humanas, através das novelas, séries, filmes, até mesmo jogos e desenhos animados, considerados infantis, mas que trazem em si uma linguagem subliminar e manipuladora de mentalidades e pervertimento das tendências.

No horizonte podemos divisar a estrada rumo ao precipício, que conduziria os brasileiros à dolorosa situação de nossos irmãos cubanos, venezuelanos e argentinos. A partir do momento em que uma erva daninha viceje no tronco de uma árvore, ela começa a matá-la. Com a devida adaptação, o mesmo não acontece com as pessoas?

Não uma erva, mas um câncer infectou a civilização cristã, forjadora da sociedade orgânica medieval, e a vem aniquilando progressivamente; ao corroer e carcomer de maneira incessante a ordem social e espiritual, produziu a crise de fé e moral que agora atinge seu ápice. Estas reflexões tomam particular relevância com o fato recente, relativo à infeliz família na qual um aborto foi praticamente forçado, mediante falseamento de narrativas estranhíssimas. Com desastrada atuação de autoridades judiciárias, puseram em xeque o valor da vida, dádiva de Deus a ser preservada desde o primeiro instante da concepção. Cada nova vida tem sua finalidade desejada por Deus, o que a torna imune a interferências criminosas alheias. Não é atribuído ao Estado, nem a quem quer que seja, o poder para interromper o curso normal da vida desde a concepção, e sobretudo na fase mais avançada de gestação. É direito inviolável da pessoa humana, não sendo permitido a ninguém, em nenhuma circunstância, interferir neste processo até o nascimento. Pois, vale mais obedecer ao Senhor da natureza, do que acatar determinações de homens, com suas leis perversas e seu querer injusto. Desconhecer as leis do Criador não é senão uma enorme iniquidade e criminosa presunção.

O Mandamento “não matarás” é transgredido sistematicamente nos hospitais onde tais práticas vão se tornando cada vez mais frequentes; qualquer forma de eliminação do nascituro contraria os planos eternos de Deus para cada ser humano criado. Não importa a forma como ele foi gerado, porque interferir numa vida é ir contra os planos do Criador.

É falacioso o argumento de justificação quando se trata de estupro. A criança não tem culpa no pecado de seus genitores. Se alguém tem de pagar, esse não é quem foi gerado, mas os que pecaram, por ação ou omissão, pela forma como foi concebida. Pensar o contrário leva diretamente à ideia criminosa contra o nascituro.

       Notícias capciosas dos meios de comunicação objetivaram ardilosamente chancelar um aborto para obter a anuência sentimental dos brasileiros, justificada por suposto estupro. Sabido é o repúdio de quase 90% da população a esse procedimento, pura trama da guerra psicológica revolucionária. Sem argumentos, sem fundamentos, apenas exploram o sentimentalismo, sem ater a racionalidade do homem.

sábado, 9 de julho de 2022

Quando a barba do vizinho arde...

 

Padre David Francisquini

 

Em contraste com o imenso apoio popular ao candidato anticomunista vencedor aqui, cuja reeleição se quer a todo custo impedir, aumenta a apreensão dos brasileiros com o rumo político dos países vizinhos, onde a manipulação midiática e a abstenção conduziram ao poder elementos da esquerda. Desenha-se um embate histórico no continente ibero-americano, cujo desfecho definirá o rumo de todo o Ocidente.

Senão vejamos: ao norte, Cuba, Nicarágua e Venezuela padecem há décadas sob a férula do socialismo mais radical, mantido ‘manu militari’; ao sul, por incompetência da direita, a Argentina recaiu nas garras da esquerda peronista, embora balance agora na incompetência ainda maior dos comunistas; a oeste, Bolívia, Peru e Chile são campos de batalha onde as táticas do Foro de São Paulo vêm prevalecendo; e agora foi a vez da Colômbia eleger presidente um ex-guerrilheiro cuja ‘conversão’ a ninguém convence.

O que levou os nossos irmãos sul-americanos a estas infelizes opções? Propensão a um masoquismo político/econômico? Não está mais do que demonstrado o fracasso do socialismo? Não chega ele sempre pela força ou por artimanhas, ou ainda por cumplicidades, em não menos suspeitas eleições?

Com efeito, há muito a demagogia marxista deixou de convencer a classe trabalhadora no tocante à luta de classes e outros pruridos igualitários; temos um bando de oportunistas com interesses escusos e plataformas embaralhadas, outros já ricos e grã-finos, e mais, artistas, apadrinhados por proteção escandalosa de governos, e a benevolência de uma imprensa totalmente infiltrada.

Os artífices desse sistema político/econômico antinatural ‘aparentaram’ abandonar as armas por mera estratégia política, para colher melhores dividendos junto aos incautos. Mas, quando julgam oportuno, recorrem a elas sem cerimônia, como na recente invasão da Rússia de Putin à Ucrânia.

Também têm perdido nichos relevantes, destacando-se o ‘ensurdecedor’ silêncio da chamada esquerda católica, que de católica só tem o nome, a qual se mantém calada porque conquistou o grau máximo de rejeição popular. Uma bênção dos Céus, que devemos a causas remotas, localizadas nas profundezas da psicologia católica do povo.

O ex-guerrilheiro Gustavo Petro eleito
 presidente da Colômbia, devido à imensa
abstenção de eleitores

Este substrato discreto, mas fortíssimo, foi revigorado no século XX pela luta ideológica incansável, travada ao longo de seis décadas pelo Dr. Plinio Corrêa de Oliveira e suas organizações. Tal luta é continuada hoje por um pugilo de pensadores e homens de ação que seguem suas pegadas na defesa dos valores tradicionais da civilização cristã, com ênfase na família e na propriedade.

Via de regra, a conquista do poder no subcontinente vem se dando pelo apodrecimento moral da sociedade, seja pelas drogas, pelo crime e pela imoralidade, seja pelo banimento do catecismo para a infância e pela infiltração esquerdista no campo da educação, do primário à universidade.

Cumpre dizer que o nosso operariado está a quilômetros desse processo tenebroso, constituindo-se um dos segmentos mais saudáveis de nossa sociedade, aliás, fenômeno que vem acontecendo em âmbito mundial.

O que esperar para os próximos meses em nosso País, de modo especial no amado Rio de Janeiro? As forças do crime organizado, sempre desagregadoras, estão sempre de mãos dadas com a esquerda política e vêm constituindo uma espécie de casta privilegiada em favor da qual a nossa justiça coibiu a ação policial nos morros da cidade.

Tal liberdade resultou na presença inconteste de delinquentes armados impondo suas leis e arregimentando adeptos. Consequência: o Estado do Rio parece ter sido escolhido para palco de previsíveis batalhas cruentas que venham a ser planejadas pelas forças revolucionárias. Eu indago: com que objetivo? E respondo: a conquista do poder, obviamente!

O combate do atual governo às drogas e ao crime vem deixando muita gente desconcertada, gente que já tinha se enquistado nas classes dirigentes do País. A resposta vem com radicalização. Soubemos, pela imprensa, do ‘diálogo’ cabuloso entre o PCC e o PT; o ex-presidente, depois de ‘descondenado’, se põe em campanha ‘sui generis’.

Lula da Silva declara que viabilizou junto ao governo do PSDB a soltura de uma dezena de criminosos envolvidos no sequestro do empresário Abílio Diniz; defende abertamente o aborto e cumprimenta radicais blasfemos que profanaram uma igreja em plena Missa. Será por questões político-partidárias da esquerda?

Temos muitas razões para nos preocuparmos e prevenir o que ocorrerá até as eleições deste ano. Um dos fatos mais graves com os nossos irmãos sul-americanos foi o de simplesmente não terem comparecido às urnas, favorecendo candidatos da esquerda com mais de 50% de abstenção.

Ora, os esquerdistas não se abstêm. Enquanto sacerdote e pastor de almas, não estou pedindo que optem por tal ou tal candidato. Meu clamor é para que compareçam ao pleito, evitem desgraças como as dos vizinhos. E dirijo-me especialmente aos mais velhos, que a lei desobriga de votar. O voto veterano em 2022 poderá ser decisivo no pleito brasileiro.

O Brasil vem se mantendo numa situação ímpar. Basta ver que os homens do dinheiro internacional passaram a investir aqui, prenunciando um período de intensa atividade econômica, na contramão do resto do mundo; o custo de vida aumentou, como em todos os países, mas graças a Deus temos a segurança alimentar assegurada, além de sermos um povo generoso, acolhedor, disposto a passar e enfrentar momentaneamente por dificuldades em benefício das gerações futuras.

Guerrilheiros do ELN celebraram a vitória
 do novo presidente colombiano, Gustavo Petro
Não permitamos que se dê um passo rumo ao precipício, sob pena de mais tarde termos de pedir o nosso Brasil de volta... Não permitamos que a nossa bandeira de verde se torne vermelha, como anseia a esquerda... Evitemo-lo a qualquer custo e sirvamos ao mesmo tempo de exemplo para que os nossos irmãos sul-americanos possam sair o quanto antes do abismo no qual nunca deveriam ter caído.

 Os melhores analistas isentos, dos poucos que ainda restaram, garantem que o lado para o qual pender este gigante que não é mais adormecido, irá o maior contingente de população católica do mundo, não sem propósito denominado outrora o Novo Mundo, Terra de Santa Cruz.

Que Nossa Senhora Aparecida, nossa Padroeira e Rainha, a Quem a Princesa Isabel recomendou o trono em sua eventual ausência, nos conduza ao fortalecimento de nossa fé e confiança, como já vem fazendo, nessa imensa e ingente tarefa.

sábado, 11 de junho de 2022

Senhor, por que pareceis dormir?

 

Padre David Francisquini


No último domingo, dia 5 de junho, cinquenta dias depois da Páscoa, a Santa Igreja celebrou a grande festa da descida do Espírito Santo sobre a Virgem Maria e os Apóstolos reunidos no Cenáculo. Trata-se de uma das datas mais importantes do calendário litúrgico, juntamente com a Páscoa e o Natal.

O termo “Pentecostes” vem do grego pentēkostḗ, que significa “quinquagésimo”, em referência aos 50 dias que se sucedem à Páscoa. No Antigo Testamento, o Pentecostes era celebrado apenas pelos judeus, no fim da última colheita do ano, como forma de agradecer a Deus pela comida. É também conhecida como celebração da Lei de Deus, em memória do dia em que Moisés recebeu as Tábuas com as Leis Sagradas.

Essa festividade aconteceu especificamente na primeira Páscoa depois de o povo de Israel sair da escravidão do Egito e receber os Dez Mandamentos enviados por Deus. Mas, no Antigo Testamento, o dia de Pentecostes é citado com outros nomes, tais como ‘Festa da Colheita ou Sega’ (Êxodo 23.16), ‘Festa das Semanas’ (Deuteronômio 34.22) e ‘Dia das Primícias dos Frutos’ (Números 28.26).

No Novo Testamento, a comemoração de Pentecostes é citada no livro dos Atos dos Apóstolos, no capítulo 2, quando narra o momento em que os apóstolos receberam os dons do Espírito Santo: “Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (Atos dos Apóstolos 2:1-4).

Os fiéis católicos sabem que a festa do divino Espírito Santo é comemorada com toda solenidade e se estende por oito dias. Tão importante é este tempo, que os domingos seguintes estão concatenados entre si e são chamados ‘domingos depois de Pentecostes’. A importância dessa solenidade se acentuou a partir do século IV, e conferiu à Igreja o valor do batismo e da crisma administrados aos catecúmenos na vigília de Pentecostes para aqueles que não os receberam no Sábado Santo.

Com o fato histórico descrito nos Atos dos Apóstolos, fica estabelecida a promulgação solene da verdadeira Igreja de Jesus Cristo, que se dá na difusão do evangelho e administração do Batismo. As línguas de fogo sobre os apóstolos indicam a difusão da verdadeira fé e da palavra de Cristo contidas nos evangelhos e nas epístolas: Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28, 19).  A Igreja, esposa de Jesus Cristo, se inicia pelo esplendor e grandeza desta ação no mundo no dia desta solenidade, onde se encontrava reunidos os discípulos do Senhor.

 Com a descida retumbante do Divino Paraclito sobre os apóstolos, estes se tornaram instrumentos eficazes da graça para transmitir em toda a face da terra a doutrina ensinada por seu Divino Mestre. Não é de estranhar que a vinda do Espírito Santo no Cenáculo deu-se com grande estrondo; com um vento impetuoso e a aparição de destacadas línguas de fogo sobre todos os que se encontravam no recinto sagrado, onde Jesus Cristo instituiu a Eucaristia e o Sacerdócio católico. Todos ouviram em seus próprios idiomas, com enorme fascínio, o que os apóstolos falavam sobre as maravilhas de Deus.

São Luís Grignion de Montfort, no Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, descreve a relação entre o grande acontecimento de Pentecostes e os pregoeiros do Reino de Maria. Fundamenta ele que a ação de Maria no Cenáculo sobre os apóstolos seria semelhante à graça que receberão aqueles que lutarão pela vitória indelével da Igreja em uma era inteiramente marial, pulverizando o processo revolucionário multissecular desencadeado há séculos com o declínio da Cristandade.

Este grande santo francês, que viveu no século XVIII, num momento em que o movimento revolucionário grassava fortemente em toda a França, não por acaso lançou, com um brado pungente, os seus justos e zelosos anseios de ver restabelecida a ordem universal de outros tempos, fazendo ecoar os anseios do salmista: Levante-se Deus, e sejam dispersados os seus inimigos (Sl. 67, 1-2); Erguei-vos, Senhor, por que pareceis dormir? Erguei-Vos.

Acalentava São Luís Grignion no mais profundo de sua alma, o ideal profético de instauração de uma civilização ainda mais aperfeiçoada do que a de outrora. Segundo os perenes ensinamentos daquela que é Mãe e Mestra da verdade, a Santa Igreja Católica Apostólica Romana ensina, guia, governa, santifica e define as verdades de Fé com vistas à salvação eterna dos homens, em todos os séculos.

Ao se referir ao reino profetizado por ele, São Luís fala que nessa era marial as almas estarão embebidas do amor de Deus, e serão instrumentos do Espírito Santo para constituir uma era de fogo na qual a face da terra será renovada pela ação da Santa Igreja. Convém ressaltar o relacionamento existente entre Maria e os apóstolos, unidos em oração no Cenáculo, pois Maria é o elo entre a Igreja e Deus, pois sendo Mãe de Jesus Cristo, tornou-se a Mãe da Igreja.

De fato, o Espírito Santo operou uma transformação naquelas almas, que passaram a difundir as verdades ensinadas por Nosso Senhor. Pela fé, não somente temos certeza na promessa divina de que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, mas confiamos que algo extraordinário ocorrerá nos tempos atuais, diante da crise na qual Ela se encontra.

De tal modo extraordinário, que é impensável instaurar o Reino de Maria sem a ocorrência de uma ação extraordinária do Espírito Santo sobre as almas. Como pela ação de Maria no Cenáculo foi possível a vinda do Espírito Santo, assim também será em nossos dias, para que os escolhidos sejam verdadeiros condutores para a difusão da verdadeira civilização em toda a face da terra, em que Cristo será o centro e o rei da sociedade temporal e espiritual.

sábado, 14 de maio de 2022

Cuidemos do nosso maior tesouro


Padre David Francisquini


Imaginemos que um chefe de família ficasse sabendo que um ladrão planeja entrar em sua casa. Que precauções deveria ele tomar? Continuar a pensar que nada acontecerá, ou ficar vigilante as 24 horas do dia? Claro, ficar vigilante. Com efeito, esta é a questão paradigmática posta pelo Divino Mestre nas páginas dos Santos Evangelhos.

Se a vigilância é necessária para defender bens materiais, com muito mais razão deve ser ela exercida – com todos os meios legais à sua disposição – para prevenir qualquer urdidura contra a Casa de Deus, o santuário do Deus vivo, conforme São Paulo.

Sendo nosso corpo templo do Espírito Santo, devemos ser ainda muito mais zelosos em defendê-lo. E a maneira mais perfeita de o fazer é identificar de antemão o ladrão, denunciá-lo, criar todo tipo de impedimento para que ele sequer se aproxime de nós.

Muitas pessoas há que se dizem católicas, possuidoras de uma conduta irrepreensível aos olhos de observadores menos argutos, mas que tudo fazem para arrombar e roubar os tesouros de Deus nas almas verdadeiramente fiéis.

Sobre esses agentes satânicos, já alertava o Apóstolo (Tim 3, 5), ou ainda aqueles que Nosso Senhor mesmo descreveu quando dizia: "Virão a vós revestidos de peles de ovelhas, e serão lobos carniceiros" (Mt. 7, 15).

Tais pessoas costumam deixar tristes e dolorosas recordações por onde passam, por serem perturbadoras da boa ordem estabelecida por Deus. Inimigos da Cruz de Cristo, elas semeiam discórdias, mentiras e cismas, a fim de golpear a unidade católica. Hábil no uso de palavras nocivas, são como flechas envenenadas arremessadas com destreza.

Afinal, que inimigo é esse? Os Livros Sagrados nos advertem que tempo viria em que as pessoas não suportariam mais a sã doutrina, mas se entregariam a ouvir fábulas; em lugar de verdadeiros mestres procurariam mestres conforme às suas paixões, e, assim, afastariam os ouvidos da verdade. (Cfr.II Tim. 4, 3-4).

Mas isso acontece nos presentes dias?  Na realidade, a inimizade entre os filhos da luz e os filhos das trevas é eterna, mas pode ser mais premente em determinados períodos históricos, como acontece em nossos dias. Esta terrível realidade exige de nós um espírito aberto para aceitar os tesouros doutrinários da Igreja, e uma inflexível confiança na sua indefectibilidade.

São João nos aconselha a tomar distância desses inimigos, não os receber em nossas casas, nem mesmo saudá-los, pois quem os saúda participa das suas más obras, e ipso facto comete pecado, tornando-se filho de satanás (cfr. II Jo 9, 11 e I Jo 3, 8).


Pessoas perniciosas introduziram-se hoje entre nós. Elas tudo fazem para eliminar de nossas almas o nome de Deus e de sua Santa Igreja, prometendo o que não têm e nunca terão, ou seja, uma pretensa felicidade sem Deus, como já alertava o profeta Isaías:

"Ó meu povo, teus dirigentes te desencaminham e devastam a via que segues” (Is. 3, 13). Mas todo desvario traz amargas consequências. Por isto, esses que alimentam o falso desejo e trabalham com a intenção de construir uma civilização de bem-estar sem Deus, encontrarão inexoravelmente a ruína mais completa no tempo e na eternidade.

Somente unidos a Nosso Senhor Jesus Cristo encontraremos a felicidade neste mundo. Na Encíclica Pascendi Dominici Gregis, São Pio X, o grande Papa antimodernista do século passado, denunciou a infiltração dos inimigos na Santa Igreja, demonstrando que os fautores do erro já não devem ser procurados entre os inimigos declarados, pois eles se ocultam no próprio seio da Igreja.

Por demais doloroso que seja reconhecer que a relação dos membros da hierarquia eclesiástica com os fiéis não são atualmente as mais desejáveis – em larga medida por causa de escândalos de pessoas consagradas –, assiste aos fiéis o legítimo direito de se manifestarem respeitosamente em defesa da causa católica.

Os meios católicos estão há várias décadas infiltrados por lobos travestidos de ovelhas visando estraçalhar o rebanho de Cristo. Mas Deus sempre suscitou entre os católicos espíritos vigilantes, corajosos e militantes que defendessem os princípios cristãos diante de ensinamentos errôneos que foram grassando no seio da santa Igreja ao longo da História. O exemplo mais recente e paradigmático foi o grande Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.

Se um chefe de família, no afã de proteger seus bens materiais, deve ser prudente e criterioso, para afastar os lobos que visam saquear o rebanho de Cristo, devemos ser corajosos e combatentes.

Façamos a nossa parte. Lutemos até o último hausto de nossas vidas, e Deus nos dará a vitória por meio de sua e nossa Mãe Santíssima. E, como prêmio, prometeu-nos uma recompensa demasiadamente grande.

*Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria - Cardoso Moreira-RJ

domingo, 17 de abril de 2022

 SANTA PÁSCOA! Tende confiança, pois “o resto voltará!”

Padre David Francisquini

 

Depois da crucifixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, para redimir o pecado dos homens e reabrir as portas do Céu, toda a Terra foi coberta por densas trevas, a tristeza e a desolação contagiaram os povos, liquidando com tudo o que restava de ordem. É o que poderíamos esperar depois da ignominiosa morte do Homem-Deus.

Do Santo Sepulcro ressurge a primeira claridade de esperança. As almas fiéis que o rodeavam para prestar as últimas homenagens a Nosso Senhor, pressentiam que algo de maravilhoso estava para acontecer. Junto àquela tumba, que aparentemente havia selado a derrota do Divino Redentor, eles presenciaram a glória triunfadora de Sua ressurreição.

Com efeito, como diz São Paulo, se Ele não tivesse ressuscitado, a nossa fé seria vã. Os anjos cantaram “glória a Deus nas alturas”. As trevas se dissiparam. A natureza inteira se rejubilou com a luz emanada daquele Corpo glorioso. Jesus Cristo realmente ressuscitou como triunfador da morte e do pecado. Tendo cumprido a vontade de Deus Pai, reabriu as portas dos céus aos justos.

Apesar de a notícia do enorme prodígio ter corrido como um raio, muitos discípulos ainda andavam tristes com a morte de Cristo — após ter sido entregue à soldadesca romana pelos magistrados e sacerdotes judeus —, pois a alegria da Sua ressurreição não havia ainda inundado os seus corações.

Tinham uma fé incompleta e não conheciam verdadeiramente quem era Jesus. Uns achavam que fosse um profeta com grande poder, que restauraria o reino temporal de Israel. Outros, confusos e perplexos, prestavam atenção nos acontecimentos sem entender o que se passava.

Foi necessário que Cristo morresse e ressuscitasse dos mortos para manifestar que Ele era Deus. Sendo já o terceiro dia de sua morte na Cruz, não havia mais razão para que não se conhecesse tudo o que havia se passado em Jerusalém com o Filho de Deus desde a traição do infame Judas Iscariotes.

Quando as santas mulheres chegaram pela manhã de domingo, não encontraram mais o corpo de Jesus na sepultura. Seguiu-se o anúncio do anjo de que Ele não se encontrava mais lá, mas havia ressuscitado dentre os mortos. O que parecia uma derrota, foi a confirmação na fé dos discípulos — a vitória de Cristo sobre seus inimigos —, e todos creram n’Ele depois de manifestar assim a Sua divindade.

É uma prefigura da paixão que nestes dias de trevas sofre a Santa Igreja, corpo místico de Cristo, contra a qual todos os agentes infernais conspiram e desferem golpes, mas Ela segue com vida plena nos fiéis que depositam suas certezas em Jesus Cristo vencedor e triunfador.

Poucos são os que realmente amam a Santa Igreja e estão dispostos a tudo suportar e resistir em sua honrosa defesa, bem como de tomar a iniciativa da luta a fim de que Ela seja restaurada de modo ainda mais excelente do que foi outrora, sempre segundo a lei e a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas aqueles que têm verdadeira devoção a Nossa Senhora recebem d’Ela o inestimável dom da fé, da pureza, e da bravura para lutar. Deus lhes dará a vitória.

Se correspondermos a esse dom, estaremos juntos daquelas almas privilegiadas que viram, testemunharam e registraram para os pósteros aquele momento, talvez o maior acontecimento da História: Jesus Cristo saindo vitorioso de seu sepulcro. Assim como Nossa Senhora nos deu o exemplo de nunca duvidar, Ela nos ensina e alenta a nunca desanimar nas vias da confiança.

Devemos, portanto, confiar contra todas as aparências em sentido contrário, de que junto d’Ela haveremos de encontrar forças e adquirir a certeza de que o bem não está sepultado para sempre, mas que residuum revertetur — o resto voltará, segundo Isaías. Dos escombros e das cinzas da civilização atual surgirá o Reino de Maria, com o fulgor de Cristo no momento de Sua ressurreição.

Espero que todos os fiéis e leitores tenham uma Santa e feliz Páscoa, na alegria de saber e confiar, com uma confiança sem limites, na promessa de que as portas do inferno jamais prevalecerão contra a Igreja.