Onde
está o teu tesouro?
*Pe. David Francisquini
Células
constitutivas da sociedade, as famílias funcionam como um termômetro dela.
Quando estão sadias, a sociedade se ordena. Quando não, o corpo social fica
comprometido, com reflexos em todos os campos da atividade do homem, da
religião à economia.
Assim,
o grau de decadência da sociedade atual pode ser avaliado em função da situação
das famílias que a constituem. De tal modo elas se distanciaram da formação
recebida de seus antepassados que romperam com a estabilidade perene dentro das
mutações normais das coisas. Romperam com aquilo que é imutável no mundo que
muda, ou seja, a tradição.
Em
sua obra-prima Revolução e Contra-Revolução, Plinio Corrêa de
Oliveira afirma que a crise do homem contemporâneo tem sua raiz nos problemas
de alma mais profundos. E ao apontar para a amplitude da Revolução, o autor
mostra que ela visa destruir toda uma ordem de coisas legítima a fim de
substituí-la por uma situação ilegítima.
Ao sacramentar o matrimônio, Jesus Cristo abriu para os esposos
uma via de santidade, na qual o fim natural da multiplicação da espécie humana
foi elevado a um objetivo ainda mais nobre: o da geração de membros para o seu
Corpo Místico. Por isso, a verdadeira composição da sociedade tem por base a
união familiar indissolúvel entre o homem e a mulher.
Mas
essa indissolubilidade está profundamente abalada, como também a educação
religiosa e moral dos filhos. Devido ao hedonismo de nossos dias e de leis cada
vez mais socialistas, a finalidade primordial do matrimônio – a procriação e
educação da prole – não é mais levada em conta, levando à fragmentação da
estabilidade e do equilíbrio da instituição familiar.
Hoje
os filhos não mais aprendem com seus pais a se dirigirem a Deus, pois muitas
vezes sequer são batizados. Como uma sociedade que não reza poderá alcançar as
graças de Deus? Enquanto as igrejas estão vazias, os estádios, os shoppings
centers, os bancos, as repartições públicas regurgitam de gente: “onde está
o teu tesouro, aí está o teu coração”.
A
ausência dos pais, especialmente da mãe, no ambiente doméstico, tem contribuído
para corromper a sua autoridade junto aos filhos. As crianças são afastadas do
aconchego materno e da vida de família e colocadas em creches, onde não raro
seguem uma cartilha socialista, aprendendo vícios, passando a ter sede precoce
de liberdade e independência.
Em
vez de cultivar as mais sólidas virtudes e princípios que regerão suas vidas,
as crianças são educadas para a intemperança, o desequilíbrio e o desajuste. Na
realidade, apenas nos braços de uma mãe extremosa aprendem elas amar a Deus e
ao próximo, a regrar os seus instintos. Quando os pais as entregarem à
sociedade, elas saberão se comportar no convívio social.
Quando
se elimina Deus do centro da vida humana, tudo perde a razão de ser. Se a
sociedade se encontra hoje pervertida e erodida, é porque o conjunto das
famílias abandonou a moral, a religião, até mesmo a lei natural. Quando isso
acontece, ela cai nas mãos de políticos aventureiros, demagogos e inescrupulosos,
oriundos eles mesmos de famílias e de colégios que os corromperam e
doutrinaram.
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