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sábado, 8 de setembro de 2018


Até quando, justo Senhor, Deus das vinganças? (II)

                                                                                           ♦  Padre David Francisquini 

No artigo anterior – Até quando, justo Senhor, Deus das vinganças? – prometi voltar ao assunto do aborto. Apenas para recordar um ponto importante, torno a citar Santo Agostinho, quando trata dos homens que se movem por amor a Deus e aqueles que se movem por amor egoístico, colocando entre este último o pretenso direito da mulher de decidir sobre o seu próprio corpo no caso do aborto.
Com efeito, é com interesse – e muita preocupação – que vimos acompanhando o desenrolar da ação (ADPF 442), proposta pelo Partido Socialismo e Liberdade – PSOL, pedindo a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. Não precisaria dizer que se tal proposta for aprovada, escancarará as portas da legislação brasileira para todo tipo de aborto.
Para esse Partido Socialista – na verdade comunista radical –, a lei em vigor viola os princípios fundamentais da dignidade da pessoa humana, da cidadania e da não discriminação, além de outros direitos como ‘liberdade’ e ‘igualdade’. Na minha formação sacerdotal estudei ciências naturais, ética, filosofia, sociologia e, é claro, teologia dogmática e moral, não sendo difícil, portanto, perceber a inconsistência desta ação.
Pela mesma razão, entendo a completa impossibilidade de juízes – máxime os da Suprema Corte – julgarem procedente a ação desse pequeno partido político libertário, que prega a liberdade para tudo e para todos, menos para o nascituro inocente e indefeso. É um verdadeiro absurdo sustentar o “direito fundamental da mulher” de tirar a vida de um ser gerado em seu próprio ventre, ainda que resultante de um pecado.
 Constitui uma gravíssima ofensa a Deus e à própria dignidade da mulher atribuir-lhe o direito de matar seu filho. Só num mundo muito decadente alguém ousaria sustentar o contrário. Se for admitido hoje o princípio de que se pode tirar a vida de uma pessoa inocente pelo simples fato de ela não ser desejada, assistiremos amanhã à matança de qualquer pessoa que venha a prejudicar o nosso egoísmo.  
Em passado recente, esta macabra história tornou-se realidade em inúmeras ditaduras, na Europa e em outras partes do mundo. Jesus Cristo ensinou que “haveis de chorar e de lamentar, enquanto o mundo há de se alegrar: vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em gozo”.
Quando está para dar à luz, a mulher sente-se preocupada. Mas sua aflição se transforma em alegria com o nascimento do filho. É a verdadeira imagem de Cristo ressurreto, que veio à luz no domingo da Ressurreição, pois a ordem natural não se contrapõe à ordem espiritual. Essa imagem empregada pelo Filho de Deus simboliza perfeitamente o ódio que seus inimigos tinham d’Ele, pois era inocente.
Mulher que sofreu aborto espontâneo
Cristo no seio da terra representa uma criança no ventre materno, e assim como Cristo ressurgiu dos mortos, assim a criança virá à luz do mundo. Há também na epístola de São Paulo aos efésios (cap. 5, 22-33), na qual ele trata da sublimidade do matrimônio, tal como a união de Cristo com a Igreja. Se o marido é a cabeça da mulher, Cristo é a cabeça da Igreja. Cristo ama a Igreja e se entrega a Ela para torná-La mais resplandecente e gloriosa.
Como Cristo ama a Igreja, assim o marido deve amar a sua esposa como se fosse o seu próprio corpo, porque ninguém aborreceu a sua própria carne. Antes, a nutre e dela cuida como Cristo procede em relação à sua Igreja, pois somos membros de seu Corpo Místico, de sua carne e de seus ossos. E o aborto é a violação do princípio da relação íntima existente entre Cristo e a Igreja, o esposo e a esposa. E mais. Enquanto São Paulo fala de luz, de santo, de imaculado e sem rugas, o aborto fala de destruição, de trevas, de morte e de corrupção.
O fruto do primeiro momento de um relacionamento entre um homem e uma mulher se chama embrião. Ele contém em grau pequeno um ser vital que não tardará a nascer homem ou mulher. Afirmar, em nome da dignidade da mulher, que ela pode eliminar a seu bel-prazer a vida de um filho gerado em seu ventre, contraria rotundamente os princípios mais elementares da racionalidade e da sanidade mental. O livro do Eclesiastes narra que o abortado é como algo que não conheceu a luz do sol, não teve o seu nome ilustrado entre os vivos; sobretudo, não foi levado à pia batismal.
Isaías, profeta, narra o horror daqueles que morrem na guerra pelo fio da espada, cujos corpos estendidos por terra são pisoteados pelos cavalos e pelos guerreiros, comparando-os aos abortados que não têm sepultura nem honra. Com efeito, a situação do abortado é pior que a do morto na guerra, sem lar, sem o aconchego da família nem sepultura. E o abortado foi morto por uma pena capital imposta por lei humana...
Ancorada em bons teólogos e no Catecismo da Santa Igreja, a moral católica nos ensina que só é lícito matar alguém em legítima defesa da própria vida ou numa guerra justa, ou ainda no cumprimento de uma execução penal ditada por um tribunal legitimamente constituído. Nenhuma autoridade, por mais soberana que imaginar se possa, poderá autorizar ou legitimar tal prática.
A expectativa dos brasileiros é a de que os juízes do Supremo Tribunal Federal julguem com reta consciência esta questão, não se deixando influenciar por pressões daqueles que defendem a cultura da morte, nem mesmo por alguma convicção ideológica própria que vá nesse sentido, mas que pautem seu voto na lei natural, na Lei de Deus e na Constituição brasileira, que garantem o direito à vida desde a concepção.
Em oração e sempre vigilantes, rogamos a Nossa Senhora Aparecida que proteja o Brasil do pecado do aborto, que brada aos céus e clama a Deus por vingança. Que os brasileiros sejam obedientes aos preceitos de Deus, que nunca desampara seus filhos.


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