Reconciliação
impossível
Padre
David Francisquini
São
Tomás de Aquino ensina que nada chega à inteligência humana sem antes passar
pelos sentidos. Com efeito, a criação reflete as infinitas perfeições de Deus.
Pela contemplação devemos procurar compreender as perfeições postas em cada
coisa criada. No artigo anterior eu havia dado o exemplo do que
uma águia, por tudo aquilo que simboliza, é capaz de nos ensinar.
Hoje,
com mais um texto das Escrituras, cuja linguagem vem sempre revestida de múltiplos
e ricos significados e com as luzes do Espírito Santo, espero retirar alguns ensinamentos
ao mesmo tempo nobres e benfazejos que possam ser úteis a todos nós. Nobres,
pelo fato de saírem dos lábios divinos do Salvador; benfazejos, porque trazem expressiva
lição para a vida dos homens.
O
texto escolhido é o que segue: “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis
aos porcos as vossas pérolas, para que não suceda que eles as calquem com os
seus pés, voltando-se contra vós, e vos dilacerem” (Mt 3. 6).
Se
Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida, não há outro meio senão imitar os
seus divinos exemplos e pôr os nossos pés nas suas pegadas cheias de luz e
beleza. Se somos verdadeiramente cristãos, devemos ser imitadores e seguidores
de Cristo.
O
sacerdote tem uma vocação sublime neste Vale de Lágrimas, não podendo subtrair –
e muito menos ocultar – a missão salvadora de Cristo, o ideal a ser seguido.
Quando Jesus nos ensina o mandamento de amar os inimigos – perseguidores e
caluniadores – não nos aconselha a lhes comunicar os bens espirituais
indistintamente no que se refere à fé, pois eles são indignos.
Padre Pio dando a Sagrada Comunhão aos recém-casados |
Na
verdade, Deus concede aos justos e aos injustos os benefícios materiais e
carnais, mas não graças espirituais aos ímpios, a não ser que se arrependam e se
ponham em disposição para isso. Ademais, Nosso Senhor ensinou também que não se
deve colocar vinho novo em odres velhos. Logo, enganam-se aqueles que querem a
todo custo aproximar da mesa eucarística os divorciados e recasados sem exigir
deles mudança de vida.
Encontram-se
na verdade revelada, portanto com fonte nas Escrituras Sagradas, ensinamentos que
contrariam cabalmente a posição de certas autoridades eclesiásticas no sentido
de deixar aproximar da mesa eucarística pessoas que não se encontram em estado
de graça e na amizade com Deus.
São
Paulo, em carta aos Coríntios, aconselha cada um a examinar-se a si mesmo antes
de se aproximar dessa mesa, pois se o fizer indignamente tornar-se-á réu do
Corpo e do Sangue do Senhor.
Sobre
o texto bíblico referido acima, costuma-se indagar o significado das palavras santos,
cães, pérolas e porcos. Santo é aquilo que não pode ser corrompido e
aquele que tentar corromper se torna ímpio. Pérolas são todos os bens
espirituais de maior estima. Ainda que possa parecer uma mesma coisa, chama-se
de santo o que não se deve corromper, e de pérola aquilo que não
se deve desprezar, segundo Santo Agostinho.
As
verdades são ministradas para aqueles que têm reta intenção, entendimento e
percebem que os ensinamentos revelados são nobres. No hino da festa de Corpus
Christi, afirma o Doutor Angélico: “Eis o pão que os anjos comem, transformado
em pão do homem; os filhos O consomem: não seja lançado aos cães”.
Os
cães são aqueles que voltam ao vômito, isto é, que ensinando erros
condenados pelo ensinamento revelado, aconselham, permitem e por vezes fazem
questão de introduzir pessoas indignas na mesa eucarística e na frequência dos
outros sacramentos. Os porcos são os que ainda não se voltaram para a
verdade revelada, mas estão habituados à lama dos vícios, dos prazeres, da
ganância. Ao dizer pérolas, algo de muito sublime e nobre, são aqueles
que, por falta de retidão, não acatam nem apreciam o seu valor e nobreza, pois
não têm fé e não seguem a retidão natural.
Tanto
os cães quanto os porcos não têm fé, e desejam continuar na vida avessa à Lei
divina, procurando justificá-la. Não podemos conciliar a verdade e o erro, a
virtude e o vício, a luz e as trevas. Santo Agostinho afirma "que se
alguém não pode compreender por causa da sua condição sórdida, devemos limpá-lo
na medida do possível, seja por palavras, seja por obras”.
Ao
panorama político, religioso, social e econômico do cenário brasileiro pode se aplicar
a parábola dos cães e dos porcos. Do mesmo modo, pela malícia e perversidade
com que a esquerda católica vem disseminando ideias de um suposto bem-estar
socialista, tentando apagar na mentalidade dos fiéis a noção de erro e de
verdade por meio de um relativismo religioso.
O
plano puramente social tomou lugar preeminente no diz respeito à fé e à
religião. O endurecimento dos corações dos católicos esquerdistas persiste em querer
levar o Brasil a renegar as tradições hauridas de seus missionários e colonizadores.
Muitas pessoas se negam a abrir seus corações para as verdades sobrenaturais e
preferem não ouvir. Por sua ingratidão e insensibilidade, repugna-lhes ouvir
palavras de verdade, tornando-se ávidas de ouvir fábulas engenhosas e mentiras
propostas pelo ideário comuno-socialista.
Tal
insensibilidade ao ouvir os apelos de Fátima – a Mãe de Deus alertando que a
Rússia espalharia os seus erros pelo mundo – é proveniente da malícia da
vontade, da culpa do próprio arbítrio, pois os homens fecharam os ouvidos ao apelo
celestial para a oração e a penitência.
Ao comentar a dureza de coração dos homens, São João
Crisóstomo diz que eles seriam imediatamente curados, caso se convertessem. Não
são outras as palavras de Nossa Senhora em Fátima ao pedir oração, penitência e
emenda de vida. Não devem aproximar-se da mesa eucarística aqueles que não têm
condições de receber dignamente os sacramentos.
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