Missão de ensinar, guiar e santificar
Padre David Francisquini
Nada
mais consentâneo com a condição sacerdotal do que fazer uso da autoridade
divina das verdades reveladas para cumprir a missão de ensinar, guiar e
santificar as almas neste vale de lágrimas.
Com
efeito, a crise espiritual que assola o homem pós-moderno — qualificativo
utilizado para causar expectativa de “bons fluidos” — é a fonte de tantos
males. O ensinamento dos santos ao longo dos séculos consistiu em advertir e
instruir os fiéis a propósito da falta de vida interior e de ocupação com tudo
aquilo que norteia as almas, a fim de conduzi-las ao seu fim último, que é
Deus.
A
disposição dos evangelhos, abrindo e fechando o ano litúrgico, nos mostra a
importância desses ensinamentos: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação”
(Mt. 26, 41), para o qual as pessoas devem se ater sempre, já que a insistência
do inimigo infernal é contínua e implacável contra uma pessoa e mesmo povos
inteiros.
Não
é bem isto que vem acontecendo hoje, em todos os ambientes frequentados por nós?
Não é verdade que com suas artimanhas envolventes os asseclas infernais
dispersos pela Terra procuram levar-nos para o abismo, ora por meio de ideologias,
ora por manobras políticas ou falsas religiosidades? Fica, portanto, a
advertência: “Vigiai e orai”!
Eis
as maravilhosas afirmações da Escritura, sustentáculo da nossa fé, a nos
asseverar com as palavras de São Paulo: “Toda Escritura divinamente inspirada é útil
para ensinar, repreender, corrigir, formar na justiça, a fim de que o homem de
Deus seja perfeito, apto para toda boa obra” (II Tim. 3, 16-17).
Ademais,
é-nos imensamente vantajoso deixar-nos conduzir por Aquele que é o caminho, a
verdade e a vida: “(...) andai enquanto tendes luz, para que não vos
surpreendam as trevas; quem caminha nas trevas não sabe aonde vai. Enquanto
tendes luz, crede na luz para que sejais filhos da luz” (João 12. 35-36).
Reflita,
caro leitor(a), quão benfazejas são essas palavras nesses dias de tanta
perplexidade diante das crises que nos assolam, a fim de estabelecermos as
balizas do pensamento e o critério de nosso peregrinar pela terra. Podemos ver,
tanto no evangelho de São Mateus, quanto no de São Lucas, a narração do último
domingo do ano litúrgico, dos acontecimentos que se abateram sobre Jerusalém,
como prefigura de todas as épocas de crise.
Pode-se
constatar que, de crise em crise, a Igreja instituída por Cristo Nosso Senhor
chegou aos tempos atuais. Foram muitas e clamorosas tentativas de subverter sua
ordem e ensinamentos no decorrer das centúrias, mas a Santa Igreja preservou e
ensinou seus filhos, ministrando-lhes os sacramentos e mostrando-lhes os
caminhos da salvação eterna.
No
Ofício Divino, São Jerônimo comenta as palavras do evangelho, dizendo: “Quando
virdes a abominação da desolação no lugar santo predita pelo profeta Daniel,
quem ler entenda .”
Estas palavras se referem ao transtorno da fé que abalou os fundamentos do povo
judeu, abolindo o sacrifício e a oblação, deixando o templo desolado por ter
perdido a sua função.
Compreende-se,
portanto, por que Pilatos colocou no Templo as estátuas de César e de Adriano. Segundo
a Escritura, a abominação é chamada de ídolo, e a desolação é por ele ter sido
posto no templo desolado e deserto.
Alguém
ousaria contestar a semelhança com fatos do nosso cotidiano? Não é bem verdade
que assistimos hoje à introdução de ídolos e a realização de cultos idolátricos
no interior das nossas igrejas?
A história
recente nos traz à memória, por exemplo, o encontro interreligioso em Assis
(1986), acontecimento-símbolo da mentalidade nova que revolucionou o conceito
infalível da existência de uma só religião revelada, fora da qual não há salvação.
É dogma de fé!
Tem-se,
então, um pecado contra a fé, com uma agravante: a introdução de ídolos pagãos,
algo abominável diante de Deus, escândalo para incontáveis almas, transtorno da
ordem natural e divina que proclama o culto do verdadeiro Deus. Tais
acontecimentos, que significam um largo passo rumo à panreligião, constituem
uma ameaça cada vez maior para inúmeros fiéis.
Essas
considerações devem nos fazer temer as consequências da vida desregrada de
nossos dias, que abrange todos os campos da ação humana. Em todos eles os
critérios divinos são sistematicamente rejeitados.
Meditemos,
por exemplo, nesta advertência de Nosso Senhor, referindo-se aos tempos do
anticristo ou prefiguras dele que agem contra Deus, promovendo a desolação em
toda a terra: “Quando virdes estabelecida no lugar santo a abominação da desolação”
(Mt. 24, 15).
Ao
ler comentários feitos pelos Padres da Igreja, podemos adiantar-nos em outras
considerações que se aplicam bem aos dias atuais, como a introdução da
Pachamama no templo de Deus. São Luís Grignion de Montfort já predissera
profeticamente: “Vossa divina fé é transgredida, vosso evangelho desprezado; abandonada
vossa religião; torrentes de iniquidade inundam toda a terra, e
arrastam até os vossos servos; a terra toda está desolada; a impiedade está
sobre um trono; vosso santuário é profanado, e a abominação entrou até no lugar
santo.”
Aqueles
que buscam viver segundo a sã Doutrina de Nosso Senhor não devem descer às
coisas mais baixas pelo desejo mundano. “O que está no campo, não volte atrás para
tomar o seu manto”, isto é, não volte às preocupações antigas,
tornando a conviver no meio dos pecados passados, que manchavam seu corpo e
perdiam sua alma.
Daí
a importância da verdadeira fé, da boa orientação católica e da aquisição do
senso do discernimento a fim de conhecer o momento de fugir da abominação e se proteger
dos perigos de condenação eterna — “Então os habitantes da Judéia fujam para
os montes” (Mt. 24, 16).
Cumpre
salientar que ouvimos com frequência interpretações protestantes de textos
bíblicos atribuindo aos fatos trágicos, mas naturais, ou ainda da inter-relação
humana, como sinais da segunda vinda do Messias, muito embora se trate de algo
que sempre aconteceu na história do mundo. Estas são interpretações subjetivas.
Afinal,
a Igreja se assemelha ao sol, à lua e às estrelas. Seu brilho poderá fenecer um
tanto, em decorrência da violência inaudita de seus perseguidores e do apodrecimento
moral no campo religioso e civil, mas as portas do inferno não prevalecerão
contra Ela.
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