O relojoeiro, o relógio e a hora de Deus
Padre David Francisquini
Não
há quem não tenha perplexidades em relação ao estilo de vida a que somos
obrigados a viver. Não se detém para elevar a mente a Deus, pensar como se vive,
quem nos impôs ou nos impõe este corre-corre no qual nunca encontramos tempo
para nos dedicar àquilo que realmente importa. Às vezes penso que diante de
Deus o mundo moderno é uma máquina para distrair o homem de seu verdadeiro fim,
no mais das vezes coadjuvado pela maldade inata, em decorrência de nosso pecado
original.
Com tais
pensamentos me veio a lembrança a fábula do bom relojoeiro que, tendo feito um
belo e artístico relógio o pôs à prova, ou seja, experimentar se além de seu engenho
e arte ali aplicado ela atenderia o fim para a qual foi realizada, isto é,
marcar o tempo em horas, minutos e segundos. Mas o seu relógio, por um capricho
qualquer, contrariando os planos de seu idealizador, se negou a cumprir a
missão.
E quem
ficou ‘provado’ foi o relojoeiro, que perplexo se perguntou de que lhe servia
um relógio que não marca as horas, mas, por condescendência, ainda o deixou num
bom lugar em seu ateliê. Se isso aconteceu com um relógio, figuremos obra do
Criador que tudo fez perfeito, ordenado, para que cada criatura atendesse retamente
o seu fim, em harmonia com o universo, concorrendo ao mesmo tempo para refletir
as Suas perfeições infinitas.
Entre
as criaturas, o homem moldado à imagem e semelhança do Criador, colocado num
lugar ímpar do universo, porque além da matéria ele é também espírito, ou seja,
um resumo do próprio universo. Para entendermos isto é fundamental considerar
algumas noções básicas, como saber que todo ser tem uma finalidade única,
simplesmente por ser criatura.
Se
os homens agissem retamente, cumprindo com o fim para os quais foram criados, procurariam
edificar uma sociedade que amasse perfeitamente a Deus. Historicamente isso
aconteceu. Foi durante o tempo em que desabrochou a doce primavera da fé, nos
séculos XII e XIII, ou seja, na Idade Média. Aliás, os homens não faziam mais do
que a sua obrigação de atender o seu fim, e tinham o cêntuplo nessa vida, pois eram
felizes.
Como
se tornou diferente o homem moderno que vive como se Deus não existisse e até O
negando ou mesmo blasfemando contra Ele, quando não O declarando morto. Como o
relógio da fábula, o homem também movido por um capricho consciente e,
portanto, culposo, se negou e se nega no mais das vezes a cumprir o fim para o
qual foi criado. Consequência: Além de ser infeliz na terra o será ainda mais na
eternidade.
Bastaria
o Catecismo para mostrar o valor do homem. Ele ensina que fomos criados para
conhecer, amar e servir o nosso Deus neste mundo, e depois, como prêmio, termos
o céu por toda a eternidade. Com efeito, não faz sentido que seres racionais e
possuidores de uma alma imortal, honrados com a encarnação do Filho de Deus,
dignificados com o Seu precioso Sangue se rebelem contra o seu Criador, mas é o
que aconteceu com os nossos pais de quem somos herdeiros.
Numa
palavra, o homem foi criado para um fim sublime, ou seja, para a glória de
Deus, cada qual no estado de vida que escolheu por vocação divina. Foi-lhe
pedido apenas que fizesse a vontade do Criador, cumprindo a sua Lei, os Mandamentos.
Assim procedendo ele teria paz e prosperidade como a conheceram os medievais. Hoje,
ao negar obediência e submissão a Deus ele só pode encontrar desolação e
aflição de espírito, o que lhe traz imensa infelicidade.
Pintura representando uma cidade medieval |
Orgulhoso
e sensual, o homem hodierno não se move senão para caminhar em direção contrária
às apontadas por Deus, assemelhando-se ao relógio do conto, ou ainda pior,
aquela outra criatura que, ao receber a prova, lançou um brado de revolta, o “non serviam”, o não servirei, que ecoará por toda eternidade. Isso pode-se
passar com o indivíduo como nos grandes acontecimentos como nessa boçal
agressão da Rússia à Ucrânia.
Com
efeito, qualquer conflito na política internacional atual causa grande inquietação
em todo o orbe, não apenas em razão dos danos financeiros e econômicos, mas o
receio de serem utilizados armamentos atômicos. Com efeito, a injusta invasão da
Ucrânia pela Rússia causa não poucas apreensões. Nesse contexto, é oportuno
recordar que Deus se utiliza dos nossos desvarios para punir a própria humanidade.
Mais
do que nunca podemos entender por que Nossa Senhora em Fátima se referiu duas
vezes à Rússia em suas aparições em Portugal. Aliás pouco antes de o comunismo
se implantar lá. A primeira, enquanto sendo flagelo de Deus para castigar os
homens que se afastaram dos ensinamentos de seu Filho e da Igreja. A segunda,
foi a referência à conversão da Rússia, seguida pelo triunfo de seu Imaculado
Coração.
O que
salta aos olhos é que tanto a crise interna que assola a Igreja quanto a tensão
internacional crítica entre as nações parecem anunciar que uma iminente guerra
se espalhará pelo mundo, pois Putin não se contentará em escravizar apenas mais
uma nação, mas seguramente dará azo às suas pretensões expansionistas de
caráter revolucionário, partindo para outras aventuras. Além dele, temos a
China, aliada do neocomunismo russo, que também constitui outra ameaça. Ainda
agora o mundo padeceu e ainda padece com os efeitos do vírus proveniente de
lá...
Por
outro lado, com atos de fé e heroísmo, a Ucrânia diz ‘não’ ao globalismo neocomunista
de Putin, com a sua mentirosa defesa da família e de outros valores
tradicionais da nossa fé. Tanto o globalismo dele quanto o globalismo liberal
do Ocidente estão direcionados ao mundo socialista, igualitário e ateu da
república universal.
cidade ucraniana de Mariupol |
Rezemos,
pois, a fim de que estejamos convertidos e preparados para o desfecho dos
acontecimentos trágicos que já se realizam, bem como os que se prenunciam por
vias dolorosas, porém necessárias, como necessária é a intervenção de Deus
sobre este mundo que entronizou a impiedade. Será a realização das promessas de
Nossa Senhora, a hora de Deus.
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