Quem não tem Maria por mãe
não tem Deus por Pai
*Pe. David Francisquini
Imagine Maria
Santíssima, Mãe das mães, ao tomar conhecimento de que seu Filho se encontrava
prestes a partir para a vida pública. Ela que já experimentara a perda de seu
Filho em Jerusalém sabia bem o quanto lhe custara aquele distanciamento, pois caro
Christi est caro Mariae (a carne de Cristo é a carne de Maria). Agora o seu
divino Filho vai se ausentar para não mais voltar à casa de Sua Mãe.
Jesus havia completado 30 anos, e, nos desígnios de Deus
Pai, chegara o momento de semear a boa semente da palavra, pois Seu reino não
se circunscrevia à casa de Nazaré. José já havia falecido. O que poderia passar
naquele coração de Mãe a falta do Filho que partia para o campo de batalha do
apostolado e que terminaria a sua vida terrena pendurado numa Cruz?
Figuremos a sua solidão ao vê-Lo partir, acompanhando-O com
os olhos até que desaparecesse. Maria ficou só, pois havia chegado a hora. Jesus
tomou a direção do rio Jordão a fim de se encontrar com João Batista. Quando O
viu, João, maravilhado, exclamou: “Eis o Cordeiro de Deus, eis Aquele que tira
os pecados do mundo”.
Jesus pede o batismo, e João Batista reluta em
concedê-lo.
Argumenta que deveria ser ele batizado por Jesus e não o contrário.
Mas o divino Mestre insiste, pois fazia a vontade do Pai. Enquanto isto, Maria
passava rezando pelo Filho. Maria silenciosa e pensativa sabia que Jesus não Lhe
pertencia, pois deveria redimir o gênero humano. Acompanhava Ela com o coração tudo
o que o Seu filho fazia e por onde ia.
Poucas semanas depois de estar só, Maria foi convidada
para uma festa de casamento em Caná, pequena cidade da Galileia, distante a
duas horas de viagem de Nazaré. Os noivos eram íntimos amigos de Maria e teriam
manifestado grande alegria pela sua presença. Ademais, eles encontrariam n’Ela grande
apoio para o casamento e não queriam dar passo tão decisivo na vida sem a
presença d’Ela.
A festa já se desenrolava quando aparece o Seu filho
rodeado dos discípulos, maravilhados com tudo quanto Ele dizia. Jesus sabia que
Sua Mãe se achava ali, e trouxe os discípulos para conhecê-La, para mostrar o
papel de Maria no Reino de Deus, e, que Ele, qual prófugo, iniciava a pregação.
A ocasião era mais que propícia. De Maria Ele nascera e durante
30 anos Lhe foi submisso. Com o consentimento d’Ela, Jesus daria ali o início a
uma série de milagres na ordem da natureza, pois o primeiro milagre na ordem da
graça se dera por ocasião da visita de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel ao
santificar São João Batista ainda no ventre materno.
Cheia de graça e de virtudes, Maria não ficou indiferente
diante de um fato que poderia passar despercebido a muitos, mas muito constrangedor
aos anfitriões: a falta de vinho naquela festa nupcial. Ela sabia que o seu
Filho poderia resolver aquela questão que parecia sem solução.
Maria que ainda não havia presenciado milagre de
Jesus, com bondade de mãe, dirigiu-se ao
Filho, tomou-O pelas mãos e Lhe sussurrou aos ouvidos: “Eles não têm mais vinho”.
Cena simples e encantadora. O Filho que nada A nega, olha para Ela e diz:
“Mulher, que há entre Mim e Ti? Minha hora ainda não chegou”.
Palavras misteriosas, pois somente Maria conhece o Filho
que tem. Só Ela consegue penetrar e sentir as palpitações do Seu coração.
Portanto, aquelas palavras tiveram altíssimo significado. Ao chamá-La de mulher,
ressaltava o sexo feminino. Ao chamá-La de mulher, fazia-nos voltar aos
primórdios da humanidade, quando o livro Gêneses trata d’Aquela mulher ilustre,
nobre, excelente e destemida que esmaga a cabeça da serpente.
Faz-nos lembrar da mulher forte do Livro da Sabedoria que
com todo o zelo ornou a sua casa e nada lhe faltou. É a mulher forte, intrépida
e corajosa do Apocalipse. É a mulher que São João Evangelista relata se
encontrar no Calvário aos pés da Cruz em companhia das Santas Mulheres, e que
Jesus voltando-se para Ela disse: “Mulher, eis aí teu filho”, e voltando-se
para João: “Eis aí a tua Mãe”.
Não há Jesus sem Maria, nem Maria sem Jesus. O Jesus que
adoramos e seguimos é Jesus que sempre obedeceu, seguiu, respeitou e amou
Maria. Quem rejeita Maria, rejeita Jesus. Quando Jesus afirma: “Minha hora não
chegou”, Maria sabia que para Ela, toda hora é hora, ou seja, Seu Filho não
deixaria de atendê-La.
Prontamente foi dizer aos servos para acatar a tudo que
Ele ordenasse. Com efeito, Jesus quis ressaltar que o papel de Maria é
misterioso e eficiente. O Filho belo, cativante, elevado, nobre, verdadeiro
Deus e verdadeiro homem não poderia deixar de operar o milagre, mesmo que a
hora do Pai ainda não tivesse soado.
A mãe tem um poder de intercessão inigualável junto ao
filho. Assim procedendo, Maria contribuía para revelar o seu Filho ao mundo e
cooperar na elevação dos homens a Deus. De fato, Jesus atendeu ao pedido d’Ela
ao transformar a água em delicioso vinho, Seu primeiro milagre, e, seus
discípulos creram n’Ele.
Tal prodígio compete a Deus que é o Senhor dos elementos
da natureza. E Ele fez isto para iluminar a nossa inteligência para receber a
virtude da Fé, com a qual vamos acatar os Seus ensinamentos e a Sua vida. O
milagre não é contra a natureza, mas está acima dela. Não apresenta explicação
natural, o que o explica é o poder de Deus para confirmar o que ensina. Seu
objetivo é conduzir os homens à verdadeira doutrina e
religião instituída por Ele.
Eis o papel de Nossa Senhora por ocasião do primeiro
milagre de Jesus Cristo, aliás, feito com antecipação para atender ao pedido d’Ela.
Quem rompe com Nossa Senhora, rompe com Nosso Senhor Jesus Cristo, a segunda
pessoa da Santíssima Trindade. Quem não tem Maria por mãe não tem Deus por Pai.