Ai dos vencidos!
*Pe. David Francisquini
Os limites de meu mais recente artigo (Santo Agostinho, Bento XVI e Cuba)
fazem-me retornar hoje ao tema, a fim de expor mais algumas considerações que
considero oportunas. Tínhamos já visto que o regime cubano, porque
profundamente ditatorial e persecutório – e, sobretudo, por importar num pecado
coletivo e oficial –, é contrário à Revelação e ao Magistério da Igreja.
Com efeito, o Estado comunista cubano impõe leis que
propagam o amor livre, eliminam a família indissolúvel, instalam o divórcio e
promovem o aborto, além de facilitar toda sorte de aberração, por mais
antinatural que seja, como corromper a inocência das crianças e dos jovens ao
pregar a negação de Deus e da alma.
Uma das conseqüências imediatas dessa iniqüidade
coletiva é a criação de um ambiente nefasto e próprio a conduzir as pessoas a
cometerem pecados individualmente. Pois os maus exemplos instalados na
sociedade constituem matéria-prima para se esquecer de Deus, da fé e da
religião e de tudo que Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu em sua Paixão e Morte.
Ao negar os frutos da Paixão de Cristo – tão bem
assinalados por Santo Agostinho, conforme mostramos no artigo anterior – é a
sociedade cubana inteira que tenderá naturalmente a rolar precipício abaixo
rumo ao caos e à miséria. Ao proibir os cidadãos de cumprir seus deveres para
com Deus e para com o próximo, o Estado concorre em larga medida para a
perdição das almas.
O regime cubano
se encontra nos antípodas do ensinamento de Leão XIII quando nos fala sobre os
tempos áureos da Santa Igreja na Idade Média: “A filosofia dos Evangelhos governava os povos. E graças ao favor dos
príncipes e a proteção dos magistrados, havia entre a Igreja e o Estado uma
feliz concórdia e uma permuta amistosa de bons ofícios e por isso mesmo houve
um florescimento que artifício algum dos inimigos da Igreja pode negar e
subestimar”.
Diante da realidade vigente em Cuba, algum leitor
poderia me perguntar: – Qual deveria ser a atitude das autoridades
eclesiásticas? – Pactuar? – Recuar? – Ou seguir as pegadas dos mártires que
preferiram seguir as Leis de Deus à lei dos homens? A este hipotético leitor eu
respondo colocando inicialmente outra pergunta: – Afinal, o que pudemos
constatar de fato durante a viagem de Bento XVI a Cuba?
Tomamos conhecimento, entre outras coisas, de que o
Cardeal Ortega mandou a polícia prender os que reagiam contra o regime
castrista rezando no interior da Catedral de Havana... E o próprio Núncio
Apostólico se negou a receber aqueles que desejavam lhe expor, enquanto
representante do Pastor dos pastores, a situação desumana em que se encontram
na Ilha-cárcere...
Triste o paradoxo de pastores que entregam ao lobo
suas ovelhas! Como na época dos imperadores romanos, as ovelhas talvez ainda
possam exclamar “Vae victis!” (Ai dos vencidos!)