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domingo, 29 de dezembro de 2013

 
 

                        *Pe. David Francisquini

            Noite de frio intenso em Belém. A cidade se encontrava envolta no burburinho preparatório do recenseamento convocado por César. Em vão, um casal discreto procurava acolhimento nas hospedarias, nem mesmo entre os parentes próximos, porquanto José e Maria desejassem lugar digno para o Natal do Criador do Céu e da terra.
            A natureza já se regozijava. Dela se exalava um perfume de agradável odor, ao passo que os corações dos homens de Belém se cerravam para Aquele que os enriqueceriam com Suas dádivas. Enquanto a noite avança, o incansável casal se depara ao longe com uma estrebaria, além de desconfortável, sem qualquer aconchego.
            O egoísmo e a dureza daquela gente fechavam as portas e os corações para o santo casal que, vigilante, aguardava o desejado das nações, o Rei dos reis, Aquele que viria tirar os pecados do mundo e beneficiar a humanidade inteira. Chega a noite ao seu ápice e o Sol do sol brilhou aos olhos extasiados de Maria e de José.
            Enquanto todos dormiam, os Anjos despertaram  os pastores na imensidão dos campos para lhes anunciar a grande alegria, extensiva a todo o povo: “Hoje vos nasceu, na cidade de David, o Salvador, que é o Cristo, o Senhor. E este é o sinal para vós: achareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura”.
            Natal, dia de alegria, de paz e de harmonia. Natal em que comemora o nascimento do Menino Jesus. Natal, dia de festa, de bênçãos e de calor humano. Natal cuja atmosfera se ilumina pelas graças d’Aquele que se uniu à natureza humana para trazer a Si a humanidade inteira. O Salvador veio ao mundo para a redenção de todos.
            Natal lembra bem estar, paz, inocência, brancura de alma. Deus-Menino, o pão da vida, vem à sua cidade que quer dizer a casa do pão. “Eu sou o maná que desci do Céu, que vossos pais comeram e, contudo morreram, mas quem comer deste pão viverá eternamente”. A Eucaristia e o Natal são um prolongamento de Cristo entre nós.
            Não há lugar onde se consagre o pão que sua substância não se transforme em Cristo. Qual lírio do campo, na manjedoura Jesus é adorado pelos anjos, pelos pastores e pelos reis. É o mesmo Deus de nossos sacrários. No instante mesmo em que o Anjo comunicava aos pastores a grande nova, toda a Milícia Celeste se uniu a ele em louvor a Deus, cantando: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade”.
            De boa vontade são aqueles que vivem em estado de graça, na amizade divina e no cumprimento de decálogo. Glória a Deus nas alturas é o que Cristo veio trazer à Terra ao fundar e instituir a Santa Igreja Católica, que é a Sua Igreja. Os céus se alegram e a terra inteira triunfa, pois Jesus veio a nós. E continua a vir no santo sacrifício da Missa.
            O nascimento do Filho de Deus em Belém foi previsto pelo profeta Miqueias. Na Palestina, subjugada pelos romanos imperava Roma na pessoa de César Augusto, que depois de ter vencido os inimigos se encontrava em grande paz. Ambicioso, decretou um recenseamento em todo o império, indo todos se alistar na sua cidade de origem.
            Da Casa de David, José e Maria foram a Belém. Viagem de quatro dias. Deus Pai dispôs as coisas para que o santo casal se dirigisse ao lugar onde a humanidade inteira procura hoje representar nas casas, nas igrejas, nos lares e nas cidades, o Presépio. Não apenas para prolongar, mas para perpetuar o grande acontecimento. 
            Ali, onde Maria deu à luz o divino Filho sem perder a virgindade, sem dor, num êxtase de elevação e nobreza. Maria tornou-se mãe do Filho de Deus conservando-se intacta através de um verdadeiro milagre. Sendo mãe, não deixou de ser virgem. Virgem antes, durante e depois do parto.
            Nossa Senhora percebeu não haver lugar para o seu Filho no coração empedernido daquele povo. A não ser uns poucos tocados pela graça como os Reis Magos e os pastores. Peçamos na noite de Natal ao Menino Jesus para sermos homens de boa vontade, unidos à Sagrada Família, aos reis Magos e aos pastores.
            Assim, glorificaremos a Deus.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013



Ai daquele por quem vêm os escândalos!

*Pe. David Francisquini

        
Diante da revolução cultural que vem carcomendo o tecido social, dir-se-ia que até a inocência infantil tem seus dias contados, se Deus não intervier para fazer cessar o curso dos acontecimentos.    Um dos meios ao nosso alcance para contrarrestar tal revolução consiste em elevarmos nossa mente a Deus pedindo-Lhe que intervenha, e ao mesmo tempo procurar nos elevar até Ele pela contemplação das obras da Criação.
            Por exemplo, no campo, onde o homem tem mais contato com a natureza, não há um só momento em que a ordem das
coisas que o rodeiam deixem de conduzi-lo a Deus. Enquanto a chuva tudo reverdece e o sol – sem o qual as coisas não seriam senão o que elas são – difunde o seu calor por toda a parte, outro calor anima os corações: a vida da graça.
            Assistido por ela, o homem transcende e contempla ora o sol, ora a lua, ora as estrelas, e se vive junto ao litoral, admira a imensidão em movimento das águas do mar que não cessam de proclamar a grandeza e a beleza do Criador. Há pouco, ao viajar pelo interior do Paraná, deparei-me com um bando de crianças a brincar num canteiro que me era familiar.
            Minha mais antiga lembrança desse canteiro remonta ao dia em que me dirigia para o seminário, acompanhado de meu venerando pai. Começava eu a trilhar os caminhos da vida dando ouvido à minha vocação sacerdotal. Como sacerdote, caminhando rumo ao ocaso da vida, eu pude enlevado contemplar a cena das referidas crianças, que empinavam papagaios.
         Tem razão Gilberto Amado ao dizer que “empinar papagaio é bom brinquedo, pois obriga a criança a olhar para o Céu”.
Enquanto uns empinavam suas pipas, outros meninos – numa espécie de torcida – erguiam as mãos até as colocarem juntas, como se estivessem em oração e com os olhos fixos no céu.
            Aquele pulsar, a louçania das crianças não era senão luz reflexa da inocência que reverbera diante do maravilhoso.   Nada nos eleva a Deus com tanta força do que a contemplação do belo e do épico, pois temos plasmado na alma os transcendentais do ser. Enquanto filhas de Deus, as crianças O louvam por possuir tais atributos de forma absoluta.
            Será que essas crianças espelhariam a mesma felicidade de situação e o mesmo brilho diante de um computador com jogos enaltecendo o feio, o violento, o monstruoso, o imoral, ou ao som de cacofonias? Elas louvariam assim a Deus? Ou estariam matando a inocência dentro de suas almas e com isso se distanciando d’Ele?
            Por oportuno, recordemos o ensinamento de Nosso Senhor
Jesus Cristo ao dizer em tom de carinho e atenção aos pequeninos: “Deixai vir a Mim as crianças, porque delas é o Reino dos Céus. Quem se tornar simples e humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos Céus”.
              E prossegue: “É impossível que não haja escândalos, mas ai daquele por quem eles vêm! Melhor seria que se lhe atasse em volta do pescoço uma pedra de moinho e que fosse lançado ao mar, do que levar para o mal a um só destes pequeninos”. 
             O que nos deixa perplexos mesmo é assistirmos hoje, inermes, a muitos dignitários eclesiásticos desprezando o bom, o belo, o artístico, pois recusar tais valores significa negar a inocência que nos convida à transcendência, e, através dela, a elevar os nossos corações a Deus. Resta-nos, contudo, a potente arma da oração!

domingo, 10 de novembro de 2013


Um escândalo, uma contradição, um erro

*Pe. David Francisquini

 

            Vimos em artigo precedente que regular o comportamento humano pela sensibilidade equivale recusar a inteligência que iluminada pela fé pode conhecer verdades superiores como as reveladas pelo próprio Deus. Eis a razão pela qual Caim foi censurado, pois foi lhe dito que possuía as rédeas nas mãos para dominar os seus instintos animais.
            Lastreado em ensinamentos do Papa Pio IX, tratamos ainda do bom entendimento entre a inteligência e a fé, além de das relações entre ciência e religião, concluindo que a ciência não pode dominar nem prescrever o que se deve crer e aceitar em matéria religiosa.
            Acenamos ainda para a teoria modernista ao afirmar que a contínua transformação de tudo obriga a Igreja a se adaptar à realidade dos fatos do tempo, não podendo condenar seus erros e vícios, procedimento este que vem causando enorme prejuízo à grei de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Por que Deus censurou Caim?
            *Pe. David Francisquini
            Porque possui alma imortal o homem é dotado de inteligência e vontade. Enquanto a razão tem por objeto próprio a verdade, e não o erro e a mentira, a vontade deve visar o bem. Por sua vez, os sentimentos devem acatar os ditames de uma e de outra.
            Pautar a conduta humana por sua faculdade sentimental e romântica seria negar a sua racionalidade, pois é através da razão que o homem regula seus sentimentos e emoções. Deus censurou Caim ao lhe dizer que ele possuía as rédeas nas mãos para dominar seus instintos animais.
            Enquanto os irracionais são dotados de forças instintivas e cegas que os impulsionam à natural procura de seu bem, o homem, para nortear sua conduta, precisa das faculdades da inteligência e da vontade, além da regra moral consubstanciada nos Dez Mandamentos da Lei de Deus. 
            Através da inteligência, o homem conhece as realidades visíveis e mesmo as invisíveis, e iluminado pela fé pode conhecer realidades mais altas, como as verdades reveladas por Deus segundo as Escrituras e a Tradição e transmitidas pelo Magistério multissecular da Santa Igreja Católica Romana.

 Os sinos não tocam mais

 
 
                     Pe. David Francisquini

 
      Ombro a ombro com Pio IX encontra-se a personalidade imponente e categórica de São Pio X. Ambos os papas representam uma unidade de pensamento e ação como timoneiros da barca de Pedro ao proclamarem alto e bom som o princípio do absoluto sobre o relativismo religioso e moral.
         O bem moral deve prevalecer sobre todas as coisas porque o ser humano foi criado para Deus. Em sua encíclica “Sobre a Liberdade Humana”, Leão XIII ensina que a Igreja Católica, única detentora da verdade, é também a única defensora da doutrina da liberdade como da simplicidade, espiritualidade e imortalidade da alma humana. 
         Com a proteção da liberdade, a Igreja tem salvado da ruína este grande bem do homem. Enquanto os seres irracionais obedecem a instintos e são impelidos para aquilo que lhes é útil, ou seja, a defesa e conservação da vida, o homem dotado de razão e vontade -- advindas de sua alma espiritual -- é senhor de seus atos.
         Quanto aos bens naturais, compete a ele escolher o que lhe parece viável, mas na ordem moral, sua finalidade última é Deus. Portanto, o homem simples e espiritual procura a verdade e o bem moral. Depois da Revelação, a Igreja Católica é meio necessário para se salvar. O fiel deve fugir dos erros e das falsas religiões.