Padre David Francisquini
Por pouco que analise o panorama político
brasileiro nos seus desdobramentos político, psicológico e moral, o observador
fica perplexo com a envergadura do programa do PT. É dele uma síntese o Plano Nacional de Direitos Humanos – 3,
promulgado no fim do governo Lula. A
extensão e a radicalidade desse Plano são tais, que a sua aplicação equivaleria
à destruição da alma do Brasil.
Um leitor desavisado talvez não perceba
que o PNDH-3 faz parte de uma revolução com “R” maiúsculo, que pretende
desmantelar a sociedade desde os seus fundamentos, como o direito de
propriedade, a família e os valores morais multisseculares que regem e governam
uma organização social sadia.
Com a deterioração dos costumes e da
maneira de pensar, de querer e de sentir, é a libertinagem que grassa através
do amor livre e da rejeição da honra; é a descaracterização de um povo plasmado
pela civilização e pela cultura católica, de cuja feliz conjunção de raças e
circunstância nasceu a brasilidade.
Mas o povo está deixando de ser
brasileiro por ação dessa Revolução? Ouso afirmar que sim, pois a meta deste
processo é atingir o homem no seu próprio ser, desequilibrando-o paulatinamente,
em contraposição às virtudes cardeais, sobretudo a da temperança, que regula e
equilibra as suas paixões desordenadas.
Essa Revolução é imposta através da introdução
de desenhos animados, de brinquedos eletrônicos, de certos aplicativos, quando não
dos próprios celulares, até a exacerbação da criança, que perderá a calma, a
disciplina, o bem-estar, a obediência, o acatamento, o respeito, a reflexão, a
admiração, entre tantas virtudes. Mas, afinal, a criança não ganha nada com
isso? – Ela se empanzina de egoísmo, só encontrando satisfação em si mesma.
A criança vai se tornando desatenta a
tudo, alheia aos deveres, aos compromissos assumidos ou a assumir, ao próprio
ambiente e aos circunstantes, pela incapacidade de prestar atenção em algo que
não seja ela mesma. Passa a viver na agitação e no frenesi, portanto longe de
seguir a axiologia rumo à perfeição, ou seja, os compromissos para com Deus, para
com o próximo e para consigo mesma.
Há um trabalho sistemático para descaracterizar
a identidade infantil desde a mais tenra idade e com isso descristianizar a criança,
sobretudo pela intemperança, como dissemos acima. Em contraposição aos germes
ou às sementes que, obedecendo à boa ordem criada e desejada por Deus, vão
desabrochando aos poucos e conduzindo a criança rumo ao seu amadurecimento.
Não seria exatamente para quebrar
psicologicamente as pessoas de amanhã que os revolucionários pretendem introduzir
desde o berço a maldita igualdade de gênero? Em certo sentido, parece-me pior a
atitude daqueles que se silenciam diante disso, quando deveriam clamar e mesmo
promover uma cruzada de ideias para impedi-lo.
É
muito triste, por exemplo, ver pessoas do clero irmanadas com esquerdistas revolucionários
e colaborando com esse processo de aniquilação do homem de amanhã. É oportuno recordar
a frase ameaçadora de Jesus Cristo: Quem escandalizar
um desses pequeninos, melhor fora que se amarrasse uma pedra de moinho ao
pescoço e se arremessasse ao fundo do mar.
Todas as sociedades dignas deste nome
nasceram e desabrocharam lastreadas na unidade familiar, constituída por um
homem e uma mulher no casamento indissolúvel. Entre os bens do matrimônio,
ocupa primeiro lugar a prole, pela própria ordem natural das coisas. Quem fugir
deste parâmetro estará contrariando a vontade de Deus e da Igreja.
Hoje, as Secretarias de Saúde estão abarrotadas
de preservativos, contraceptivos, além dos meios de esterilização. Ora, num lar
onde seja introduzida qualquer depravação da ordem natural, se estará violando necessariamente
as leis da caridade e da justiça. Numa palavra, a perversão do matrimônio traduzida
num ato destituído da virtude geradora faz dos cônjuges réus de culpa grave.
Mas o divórcio não poderia dissolver a ligação
que vincula o homem à mulher até a morte? – Com efeito, rompido este laço, não
haverá lugar para os filhos, pois não tendo eles culpa e sendo frágeis e
vulneráveis, constituem um obstáculo difícil de transpor para a separação e a
busca de uma aventura.
Contudo, a mentalidade materialista,
para não dizer marxista, de nossos governantes, pela sua própria concepção
ateia do universo, não valoriza a família, nem a fragilidade das crianças, nem
mesmo a sua educação ou o apoio e a confiança que só os pais podem oferecer aos
filhos.
A separação dos pais representa uma
espécie de morte dos mais íntimos e delicados sentimentos que os filhos possam depositar
em seus pais, um golpe mortal, portanto, na psicologia e na moral deles.
Enquanto sacerdote já amadurecido pelos anos, quantos exemplos já se me
depararam ao longo da vida!
Dentro do lar, a criança vê Deus na
autoridade do pai, enquanto na mãe, pela sua bondade, dedicação e desinteresse,
ela vê a Igreja e Nossa Senhora. Nesse ambiente sacral, a criança aprende a amar
a Deus e a Maria Santíssima, a respeitar e acatar as autoridades constituídas.
Afinal, não será esta a razão diabólica para se acabar com a família? – Eis uma
das grandes metas do PT no Brasil de hoje.
Sem falar do aborto, do pseudo-casamento
entre pessoas do mesmo sexo, do incentivo à prostituição, da descriminalização
das drogas, da violência, dos maus hábitos, da contínua decadência dos
ambientes, dos maus exemplos da classe política, enfim, de tudo o que leva à derrocada
da sociedade hierárquica e sacral estabelecida por Deus.
O caos em que se acha afundado o Brasil
não é senão o resultado dessa crise religiosa e moral, da qual o PT é, a uma só
vez, o fruto péssimo e o grande propulsor.