Modas e os seus diktats
Padre David Francisquini
Não
deixa de ser curiosa a maneira como os meios de comunicação costumam tratar das
modas. Via de regra, eles se utilizam de uma linguagem evasiva como “Você já conhece as tendências da moda?”;
“Fique de olho nos desfiles e descubra
qual será a tendência...”; “Tendências
que vão bombar no próximo verão...”.
O
dicionário define tendência como uma disposição
natural que leva algo ou alguém a se mover em direção a outra coisa ou a outra
pessoa. Afirma também que os estilistas se baseiam em tendências universais.
Como
nos encontramos num processo revolucionário várias vezes secular, todo ele
feito por etapas, que tem por origem última em determinadas tendências
desordenadas, lutando por realizar-se, elas começam sempre por modificar as
mentalidades, as expressões artísticas e os costumes.
Com
efeito, tais tendências têm muito de natural, mas considerando o processo
revolucionário como o descreve Plinio Corrêa de Oliveira na sua obra-prima Revolução e Contra-Revolução, elas podem
ser facilmente induzidas, o que facilita a compreensão de onde elas vêm e para
onde elas vão.
Afinal,
quem dita tendências na moda? – As grandes grifes mundiais, ou seja, agentes
revolucionários, com desígnios escusos, na pretensão de abalar convicções,
costumes, modos de ser e de agir das pessoas que ainda prezam e vivem valores
herdados da civilização cristã.
Ainda
que tais grifes quisessem apenas vender, mas o que é a publicidade moderna
senão a exploração de um ou mais vícios capitais? Com tal objetivo, tais
agentes avaliam o panorama das psicologias das almas, com suas tendências,
contando sempre com o mecanismo dos vícios e das tendências desordenadas.
Com
que objetivo? – Destronar Nosso Senhor e colocar Satanás em um trono; liquidar
a boa ordem das coisas e preparar os gostos, os pendores, os humores para os
vícios. Modificar o estado temperamental, para que as pessoas vão se habituando
à cacofonia, ao mau gosto, a tudo quanto é desordenado; estimular os hábitos
imoderados e tendenciosos na maneira de se vestir, cores extravagantes sem
harmonia e beleza, a minimização das vestes rumo à nudez.
Trata-se
de uma ofensiva que, muitas vezes, tenta transtornar a ordem espiritual, com
desregramentos morais, para assim golpear a boa ordem no âmbito temporal. Ofensiva
satânica visando atacar a glória de Deus, tentando destruir a ordem espiritual
e temporal, sugerindo concessões ao mal.
Tudo
isso é feito por meio de devotados agentes que atuam de maneira inversa à dos
evangelizadores que edificaram a civilização cristã. É deprimente notar o
descaso com que as modas indecentes vão penetrando e se avolumando rumo ao
nudismo, em detrimento dos modos de se vestir do passado.
Mais
triste ainda é o desdém, a indiferença e a omissão cada vez maiores por parte
daqueles que deveriam ser o sal da terra e a luz do mundo, que permitem pessoas
indecorosas nos recintos sagrados e até mesmo aproximarem-se da mesa
eucarística.
Tudo
isso leva crer na existência de uma ação junto àqueles que deveriam ser o
baluarte da fé e da ortodoxia a fim de os levar a um pacto com o mundo,
permitindo a contaminação dos ambientes católicos com os erros modernos ao
cerrar os olhos para o uso de roupas masculinas pelas mulheres, dizendo que não
se deve incomodar com essas ninharias.
Porventura,
não sabem eles, com base em Santo Ambrósio e São Tomás de Aquino, ser o próprio
Deus quem vestiu as aves e os bichos, com penas e pelos? E que Ele mesmo
diferenciou o sexo de cada um?
Assim
Deus pôs no homem um princípio inteligente e volitivo, estabeleceu a
diferenciação entre homem e mulher e que cada um deve regrar os seus atos de
acordo com essa diferença, vestindo-se convenientemente, conforme a natureza de
cada sexo.
Diz
Santo Ambrósio: "Não se conserva a
castidade quando não se guarda a distinção dos sexos". Isto faz parte
de um princípio, estabelecido pelo próprio Deus, que tem como base a própria
natureza racional do homem e da mulher.
Daí,
lermos nas Escrituras que é abominável o homem que se veste como mulher e a
mulher como homem, porque é a transgressão da própria natureza.
Faz
parte da boa ordenação das coisas que o homem ao atingir um grau de civilização
e de progresso se dignifique em toda a sua plenitude na maneira de se vestir, nos
hábitos comportamentais condizentes ao seu fim nesta terra, qual seja conhecer,
amar e servir a Deus, preparando-se para a vida eterna.
O
que as ditas modas introduzem é uma depravação do próprio homem em sua
dignidade de ser racional e ontológico. Prepara-o para todas as aberrações conduzindo-o
ao caos, visto que semelhante conduta reflete a negação do próprio Deus.
Quando
o homem pecou no Paraíso terrestre, escondeu-se confuso e envergonhado de sua
nudez. Deus Pai, com a sua bondade, teceu-lhe uma veste e o cobriu, como quem
cobre as aves de penas, e os animais de pelos, e os campos de vegetação.
No
ambiente de permissivismo moral, a distinção de um sexo do outro, vai se
atenuando de tal forma que hoje se chega a fazer justificação da ideologia de
gênero, escancarando a negação da evidência que a natureza se encarregou de
estabelecer entre homem e mulher.
Diz
São Tomás de Aquino: "Que o vestuário exterior deve corresponder à
condição da pessoa, de conformidade do uso comum. Por isso, em si mesmo é
pecaminoso uma mulher trazer trajes viris ou inversamente. Sobretudo por que
pode ser causa de lascívia. O que a lei antiga expressamente proibia, porque os
gentios usavam desses travestimentos pela superstição da idolatria.”
O
igualitarismo constitui uma das características dominantes de hoje. Em nome da
igualdade vai se impondo ao homem o sentimento anticristão. A igualdade entre
os sexos representa uma das inúmeras manifestações de igualitarismo que leva a
negação de Deus e da religião, afastando as pessoas de sua própria
identidade.
Uma
instrução da Santa Sé, de 12-01-1930, afirma: "Muitas vezes, dada a
oportunidade, o Sumo Pontífice reprovou e condenou acerbamente a maneira
insolente de se vestir que se vai introduzindo entre as senhoras e jovens
católicas.
Esse modo de vestir, não só ofende o decoro feminino e a
modéstia, mas, o que é mais grave, vem em grave prejuízo dessas mesmas
mulheres; e, o que é pior, leva miseravelmente tantos outros à condenação
eterna.
Nada
mais lógico e forçoso que os bispos, assim como convém aos ministros de Cristo,
como se fossem uma só voz, oponham toda barreira a essa audácia e libertinagem
da moda, suportando com serenidade e coragem as zombarias e insultos que
receberam de espíritos malévolos por essa tomada de posição.
Os párocos
e pregadores, nas ocasiões que se oferecerem, conforme recomenda São Paulo,
"insistam, expliquem, increpem, exortem" para que as mulheres usem
vestes que irradiem o pudor e que sejam o ornamento e defesa da virtude, e
admoestem aos pais para que não deixem suas filhas usar vestes indecorosas.
Os
pais conscientes da obrigação gravíssima que tem de cuidar, em primeiro lugar,
da educação religiosa e moral dos filhos, fomentem, em seu espírito, por todos
os meios, quer pela palavra, quer pelo exemplo, o amor da virtude da modéstia e
da castidade".