Por que Jesus Cristo
ressuscitou?
Em alguma medida, muitos dos conhecimentos que nos
são transmitidos pela natureza podem explicar o mistério da ressurreição da
carne. Por exemplo, o nascer e o pôr do sol; o pintainho que sai do ovo; a
crisálida — uma imagem do homem no túmulo — onde a borboleta atinge os seus
dias antes de se lançar aos ares, reflete o homem ressuscitado. Tais símbolos
foram criados por Deus para que o homem os contemple e admita uma verdade
transcendente que é a ressurreição final.
Com efeito, ao ressuscitar, Cristo nos deu prova
insofismável de sua divindade, confirmando-nos na fé, fortalecendo-nos na
esperança, conduzindo-nos a uma vida mais perfeita, como afirma o Apóstolo São
Paulo quando nos convida a renunciar ao velho fermento, que é o “fermento da
malícia e da corrupção”. Se já ressuscitastes com Cristo, procurai as
coisas do alto e afeiçoai-vos às coisas do Céu, não mais às da Terra.
A Ressurreição de Cristo (1441), afresco de Fra Angélico no Convento de São Marcos (Florença) |
Por que Cristo ressuscitou gloriosamente? Porque a
sua ressurreição foi exemplar e a causa da nossa. Os santos, ao ressurgirem,
terão seus corpos glorificados, como diz o Apóstolo, pois semearam na tristeza
e ressuscitarão em glória. Se Cristo Nosso Senhor, submetido a todas aquelas
humilhações da paixão e morte, mereceu glória incomparável, foi para brilhar
aos olhos de todos aqueles que um dia ressuscitarão na mesma glória.
Sabemos pela teologia que a alma de Cristo — desde
o primeiro instante de sua concepção — vivia em perfeita contemplação da
divindade, vendo Deus face a face. Para que Cristo pudesse redimir o gênero
humano, foi necessária como que uma interrupção desta visão, a fim de evitar
que as alegrias decorrentes dela em sua alma não inundassem o seu próprio corpo
mortal. Foram como que suspensos os benefícios da contemplação beatífica.
A Transfiguração de Cristo (1440), afresco de Fra Angélico no Convento de São Marcos (Florença). |
Exceção houve na transfiguração ocorrida no monte
Tabor, quando os Apóstolos puderam contemplar a divindade de Jesus Cristo: “Não
conteis a ninguém o que vistes e ouvistes, até que o Filho do Homem ressuscite
dos mortos”. O corpo de Nosso Senhor foi tomado de um esplendor que superou
a luz do sol, pois o Filho de Deus, que havia assumido a humanidade enquanto
Deus, não reteve nem impediu que sua divindade se refletisse em seu corpo.
Quando apareceu aos Apóstolos — afirma Santo Tomás
de Aquino —, Ele agia à maneira de recipiente, emanando a auréola de seu corpo
glorificado que se funde à cor natural do corpo humano, assim como o vidro
colorido se torna resplandecente pela iluminação do sol, independendo de sua
cor. Cristo quis aparecer aos seus discípulos com a sua cor natural, para que
assim eles pudessem contemplá-Lo e serem confirmados na fé.
Assim como apareceu aos seus discípulos — diz a
Sagrada Escritura —, Cristo desvaneceu-se aos olhos deles pelo dom da
agilidade. Por esse dom Ele podia desaparecer, estando ainda presente ou
separando-se e pondo-se em outro lugar com a rapidez do pensamento, assim como
pela sutileza, que Lhe era intrínseca, pôde transpor a pedra do túmulo que O
continha e a porta fechada do Cenáculo, onde se encontravam os discípulos
reunidos.
Ora, todos esses acontecimentos depois da
ressurreição de Cristo se deram — a exemplo das cicatrizes conservadas em suas
divinas mãos e pés, bem como a do lado trespassado pela lança de Longino — para
demonstrar que aquele era o mesmo Cristo que havia sido crucificado, morto,
sepultado e que ali se encontrava vivo, glorioso e impassível, vencedor da
morte e do pecado para a glória do Pai e do seu santo Nome.
Tornou esplendorosa a justiça de Deus por meio da
obediência, que O levou a ser desprezado e objeto de opróbio pelo populacho — “Humilhou-se
a si mesmo, fez-se obediente até à morte e morte de Cruz, pelo que Deus também
O exaltou, e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes” (Fil. II
7-9).
Essa foi a gloriosa trajetória que Jesus Cristo
quis percorrer para nos fazer ressurgir do pecado mortal — que é a morte da
alma — para a vida da graça, por meio da penitência, sem protelação,
prontamente, como Cristo ressurgiu ao terceiro dia. E com o firme e perseverante
propósito de não mais pecar, com resolução de evitar tudo o que antes fora
ocasião de morte e de pecado, vida nova e de justiça em ordem à vida eterna.
Eis uma lição da ressurreição gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo.
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