Até quando, justo
Senhor, Deus das vinganças?
♦ Padre
David Francisquini
“Abyssus
abyssum invocat”, ou seja, um abismo chama outro abismo, como está expresso no
Salmo 42,7 para nos ensinar que uma falta cometida predispõe o pecador a
cometer outras mais graves. Assim, a avalanche crescente de pecados e de crimes
prepara o ambiente psicológico para outros ainda mais hediondos, como o
infanticídio que vem grassando por todo o mundo com a prática indiscriminada do
aborto.
O
frenesi nas tentativas de descriminalizar o crime do aborto através de
legislações facciosas se deve em grande medida a essa situação moral em que nos
encontramos, sendo incontáveis as organizações públicas e privadas dedicadas a
promover o infanticídio — ONU, ONGs, governantes, legisladores, magistrados
ativistas —, às quais não faltam imensos recursos financeiros e midiáticos…
Com
efeito, há uma sistemática e monumental propaganda no sentido de se criar uma
mentalidade cada vez mais favorável ao aborto. Essa maneira de pensar difundida
pela mídia parece revestir-se de tal direito, que nos recentes debates
propostos em audiência pública no Supremo Tribunal Federal se pretendeu
tratar-se de obrigação do Estado legalizar o aborto para garantir aos
profissionais da área o livre exercício de sua profissão, transformando o crime
hediondo em mera questão de saúde.
Para
facilitar os seus objetivos, defensores do aborto levantam objeções — como se
fossem de consciência — e procuram impor à sociedade a sua agenda com recursos
feitos ao Judiciário por partidos de esquerda, como acabou de se passar com a
ADPF 442 do PSOL junto ao STF. São pessoas que não se importam com a Lei de
Deus nem com o pensamento do nosso povo, o qual repudia este crime que
brada aos céus e clama a Deus por vingança.
Com
o paulatino aparelhamento do Estado, tais práticas criminosas são defendidas
por movimentos como “Católicas” pelo direito de decidir — que de católicas
não têm nada —, por representantes da igreja luterana, como a pastora Lusmarina
Campos, que falsamente “lastreada” na Bíblia se posiciona favoravelmente ao
crime do aborto, ou ainda por certa mídia e até mesmo pela OMS (Organização
Mundial da Saúde).
O
princípio moral (e ético) — válido, portanto, para todos os tempos e todos os
lugares — é
A ministra do STF, Rosa Weber, dirigiu as audiências públicas no STF a respeito da descriminalização do aborto — a cruel execução de inocentes— até a 12ª semana de gestação. |
Ser
católica e favorável ao aborto são termos incompatíveis, irreconciliáveis como
a luz e as trevas, o dia e a noite, a verdade e o erro. Não há católica com
direito de decidir a favor do aborto. Tal entidade utiliza o nome de “católica”
apenas para causar confusão e, nas águas turvas, obter alguma influência na
sociedade ao produzir a impressão de que na Igreja há uma corrente que defende
o aborto, de modo a parecer que os católicos se encontram divididos. A
fundadora desse movimento, Frances Kissling, é uma ex-freira que diz nunca ter
sido católica (cfr. Catecismo Contra o Aborto, 3ª edição. pág. 55).
As
pessoas que se manifestam defensoras dessa prática criminosa procuram
subterfúgios para impor a sua agenda revolucionária através de considerações
sentimentais, alegando a contaminação da mulher diante de uma gravidez
indesejada, condições de pobreza em que a criança irá viver, e assim por
diante. Alegam ainda que a legalização do aborto tirará a inibição da mulher de
recorrer ao Estado, em vez de praticá-lo na clandestinidade.
Ao
contrário, essas mesmas pessoas nunca ressaltam as consequências do aborto na
psicologia das mulheres que o praticam, como a consciência culpada e outros
traumas insanáveis que carregarão para o resto de suas vidas. Quanto mais
sofismas apresentados pelos defensores de sua prática, mais complicada se torna
a situação, pois o ensinamento da Igreja diz que o demônio é o pai da mentira,
e, desde o início, é homicida, conforme São João. Foi o demônio que incitou
Caim a matar seu irmão Abel e por isso atraiu sobre si a maldição de Deus.
Herodes - A matança dos Inocentes |
O
aborto é resultado de um homicídio voluntário, e tanto quem o faz como quem o
legaliza atrai sobre si igualmente a maldição divina. Santo Agostinho descreve
a humanidade em duas cidades, a Cidade de Deus e a cidade dos homens, guiadas
ou por amor de Deus ou por amor egoístico. O direito de decidir
sobre o próprio corpo se fundamenta apenas no egoísmo humano, incapaz de
se imolar pelo filho e ávido em satisfazer suas próprias paixões, enquanto os
habitantes da Cidade de Deus não se movem por amor de si mesmo, mas
por dedicação à vontade do Criador.
Se o
Brasil oficializar a matança dos inocentes pela legalização do aborto, a
gravidade do pecado aumentará, pois passará a ser um pecado coletivo, isto é,
de o Brasil adotar enquanto nação uma prática criminosa que clama a Deus por
vingança. Com base nos ensinamentos de Santo Agostinho, as nações não irão para
o Céu nem para o Inferno, mas serão castigadas ou premiadas nesta Terra por
suas obras.
Voltarei
brevemente ao tema.
(*) Sacerdote da Igreja do
Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira (RJ).